segunda-feira, 3 de junho de 2013

Gente Que Faz (Média)

Eu não sei fazer média com as pessoas e, para ser franca, não tenho vontade de aprender.

Um dos motivos é, sem dúvida, o fato de que sofro de inabilidade social aguda. Não sei se é uma má-formação congênita da minha personalidade ou se foi algum vírus ao qual fui exposta na infância junto com o da catapora e o da caxumba: o fato é que o meu índice de MPM (Meter os Pés pelas Mãos) é altíssimo, muito acima do razoável.

O outro motivo de eu não saber fazer média são as tentativas dolorosamente óbvias de fazer média que eu testemunho todos os dias. Cada vez que eu presencio uma dessas cenas lamentáveis, a parte do meu cérebro que deveria ser responsável por fazer média diminui mais um pouco.

Pode parecer estranho uma analista de requisitos que não sabe fazer média, mas a verdade chocante é que a maioria dos clientes reage bastante bem a competência e respeito. Para quem não tem essas duas características nas doses necessárias, fazer média pode parecer uma boa alternativa, mas a pessoa tem que ser muito boa nisso para ser capaz de fazer média sem parecer que está fazendo média. E ser muito bom nisso significa, entre outras coisas, não se valer de nenhuma das seguintes técnicas:

Técnica: Amor à Primeira Vista

É uma maneira clássica de fazer média. Você foi apresentado à pessoa, trocaram meia dúzia de palavras e, na próxima vez que se vêem, você reage como se fosse seu melhor amigo que você não vê há anos.

Por que não é uma boa ideia?

Pra começo de conversa, há o fato óbvio de que a outra pessoa dificilmente vai ser idiota de acreditar que você, um quase desconhecido, está assim tão feliz por vê-la, o que quer dizer que essa estratégia só funciona com gente muito burra ou muito egocêntrica.

Outro risco inerente a essa estratégia é o fato de que, como vocês mal se conhecem, na hora H você pode esquecer alguma informação crucial como, por exemplo... o nome da pessoa. Sim, já vi isso acontecer mais de uma vez e foi horrível: o fazedor de média abrindo aquele sorrisão de comercial de pasta de dente e exclamando "Olha quem está aqui, o meu amigo..." AimeuDeusqualemesmoonomedele?

"E agora? Já estou prolongando esse abraço há 15 minutos e ainda não consegui lembrar do nome dela..."

Estratégia alternativa:

Preste atenção ao que a pessoa disser quando vocês se conhecerem e use essa informação para demonstrar um interesse simpático (e comedido) da próxima vez que se encontrarem. "E aí, foi tudo bem na prova?" "Como foi a viagem?" "Seu pé está melhor?". Dá um pouco mais de trabalho, porque você vai precisar efetivamente ouvir a pessoa, mas o resultado é melhor e a chance de passar vergonha é bem menor.

Técnica: O Político

Técnica bastante popular entre fazedores de média corporativos. Não sei por quê, mas só a vejo ser utilizada por homens.

O fazedor de média político chega no trabalho e vai de mesa em mesa cumprimentando um por um. Pelo nome. Com um aperto de mão (para os homens) ou um beijo (para as moças). Todo santo dia.

Variações dessa técnica incluem um beijo na mão acompanhado de um olhar profundo do tipo "este sou eu te seduzindo".

Por que não é uma boa ideia? 

Porque você esteve com essas pessoas há menos de 24 horas: você não teve tempo de sentir saudade delas. Você provavelmente nem pensou nelas nas 15 horas que passaram separados, até porque pelo menos umas 6 dessas 15 horas você passou dormindo.

Um bom-dia geral e um sorriso deixam todo mundo feliz sem interromper o trabalho de ninguém. Porque é basicamente só isso que o fazedor de média político consegue: fazer todo mundo parar o que está fazendo para dar atenção a ele.

Não tenho nada para acrescentar aqui, não: é só que esse foi um dos resultados da pesquisa por "shaking hands" e, gente, tem como não amar esta foto?
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Estratégia alternativa: 

Dê um bom-dia geral, bem animado se você for uma dessas pessoas felizes que acordam de bem com a vida. Se a sala é grande, pode ir repetindo a saudação por todas as baias pelas quais passar, mas não obrigue seus colegas a responder e, pelo amor de tudo o que é bom e justo no mundo, não reclame que o bom-dia deles foi muito desanimado. Você não é apresentador de programa de auditório nem recreador de festa infantil.

Pare para conversar com aqueles para quem você efetivamente tem algo a dizer mas, se eles estiverem com aquela cara de "preciso terminar isso para apresentar em uma reunião daqui a meia hora, me deixa em paz pelo amor de Deus", se manque e caia fora.

Uma grande vantagem dessa estratégia alternativa é que, caso você tenha se desentendido com um colega recentemente, ou se vocês simplesmente não se dão mesmo, você não precisa escolher entre ser abertamente hostil ao falar com tudo mundo e virar a cara para ele e ser escandalosamente falso ao dar um bom-dia carinhoso e pessoal pra quem sabe muito bem o que você pensa dele.

Técnica: Sou Seu Fã

Essa técnica é popular tanto com fazedores de média quanto com puxa-sacos. É importante fazer a distinção porque todo puxa-saco é fazedor de média, mas nem todo fazedor de média é puxa-saco.

A técnica consiste em enaltecer as qualidades, reais ou imaginárias, do outro, sempre que surge uma oportunidade. Ou mesmo que ela não surja: o importante é lembrar sempre o quanto ele é inteligente, íntegro, vital para o projeto, cidadão modelo, pai/mãe exemplar.

Por que não é uma boa ideia? 

Assim como no caso do "Amor à Primeira Vista", sempre haverá aqueles tão burros e/ou egocêntricos que acreditarão em qualquer coisa que massageie o seu ego. Com os demais, há que usar cautela com os elogios, até mesmo com os elogios sinceros. Por mais maravilhosa que uma pessoa seja, existe hora e local para dizer isso. E existe uma quantidade máxima de vezes que dá para fazer o mesmo elogio antes que o ouvinte tenha vontade de gritar: "Tá bom, já entendi!"

Isso é particularmente delicado quando você está pedindo alguma coisa à pessoa sendo elogiada. Não há maneira melhor de estragar um elogio do que emendar com um pedido de favor. Você está sendo tão sutil quanto uma criança escondida atrás da cortina com os pezinhos aparecendo. Tão sutil quanto e bem menos bonitinho.

"Eu sou o mestre dos disfarces! MUAHAHAHAHAHA!"
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Estratégia alternativa: 

Elogio é bom e todo mundo gosta. Elogie, elogie sempre. Mas espere a pessoa te dar motivo para elogiar. Seja específico. Ao invés de apresentar o novo membro da equipe como "O" cara que vai resolver todos os problemas, parabenize-o publicamente pelo contrato enorme que ele fechou, ou pelo sistema que ele entregou sem erro. Ao invés de dizer "você é uma mãe maravilhosa", diga que ficou impressionado com a forma com que ela lidou com determinada situação delicada. Quando você não consegue pensar em nenhum motivo concreto para elogiar, é um bom momento para repensar a ideia de fazer o elogio.

Fazer média: talvez você seja mesmo tão bom nisso quanto acha que é. Talvez ninguém nem perceba que você está só fazendo média. Talvez essas mesmas estratégias que eu citei funcionem direitinho com as pessoas com quem você faz média. É. Pode ser. Mas tenha em mente as palavras de Abraham Lincoln:
"Você pode enganar algumas pessoas o tempo todo ou todas as pessoas durante algum tempo, mas você não pode enganar todas as pessoas o tempo todo."
E lembre-se que, para aquelas pessoas a quem você não está enganando, você é só um marmanjo com uma panela na cabeça, dando risadinhas e se achando o máximo.

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