domingo, 30 de dezembro de 2012

Sumaj Inty Nan

Prosseguindo com a minha proposta de comprar CDs de músicos de rua, na semana passada eu comprei o CD "Louvores ao Senhor - volume 3", do grupo equatoriano Sumaj Inty Nan, que estava tocando na esquina da Rua Gonçalves Dias com a Rua do Rosário na hora do almoço.

Não foi fácil obter informações sobre o grupo com base no e-mail de contato apenas, por isso espero ter escrito o nome corretamente (também encontrei as grafias Sumaj Inti Nan, Sumaj Inti Ñan e Sumaj Inty Ñan). Além disso, eles tinham vários CDs diferentes, mas na hora não prestei atenção em qual estava comprando, pois meu interesse era no trabalho do grupo, e não em uma música em especial. Assim, acabei sem entender a escolha do repertório para índios equatorianos que se apresentam vestindo o que para mim, na minha total ignorância sobre as tradições e folclore do Equador, pareciam roupas típicas.

Se as músicas fossem em espanhol ou no idioma nativo deles (que, confesso, não sei qual é), eu não diria nada, pois sei que existem cristãos também entre a população indígena. O fato de serem músicas em português, no entanto, me faz pensar mais em alguém dizendo: "Pessoal, divulgar a nossa cultura e as nossas tradições é muito bacana e coisa e tal, mas a gente também precisa pagar as contas: vamos incluir no repertório também alguma coisa mais popular."

Enfim, antes hinos cristãos do que funk: as músicas escolhidas são muito bonitas e o grupo faz um bom trabalho com elas (apesar de precisarem urgentemente de alguém que faça a correção do português, cheio de erros, da capa e da contracapa). Tocar, sem voz, música que foi composta com letra e melodia é um risco, porque a melodia tende a ficar repetitiva sem a letra, mas acho que eles se saíram bastante bem tanto na escolha das músicas quanto na sua execução. Comparei algumas das músicas com os originais disponíveis no YouTube e vi que eles não se arriscaram, mantendo os arranjos originais, mas funcionou bem: o CD é muito gostoso de escutar, mesmo para mim que só conhecia a primeira música.

Vou ficar atenta para ver se os encontro de novo pela cidade, para me informar mais e, se possível, comprar um CD com músicas mais representativas do trabalho que eles mostram na rua.


Faixas preferidas:
01 - Eu Navegarei
03 - Deus É Fiel
04 - Espírito Santo
15 - Sabor de Mel

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Conhecimento Comum

Há umas três semanas atrás eu escrevi sobre teoria dos jogos, um assunto pelo qual eu tenho muito interesse, mais particularmente sobre o problema conhecido como Dilema do Prisioneiro. Naquele post eu comentei os prós e contras de cada possível estratégia, sempre considerando a premissa original de que cada prisioneiro tem que tomar sua decisão sem conhecer a decisão do outro. Partindo desta premissa, e não levando em conta nenhum outro interesse que não o interesse de cada prisioneiro em diminuir a própria pena, testemunhar contra o outro prisioneiro é a Estratégia Dominante.


Essa estratégia tem um porém. Por um lado, se o Prisioneiro A testemunhar e o Prisioneiro B ficar em silêncio, o Prisioneiro A realmente fica com a melhor solução possível, que é ser libertado; no entanto, se o Prisioneiro B também testemunhar, o Prisioneiro A fica não com a segunda melhor solução (sentença de 1 ano), e sim com a terceira melhor opção (5 anos). Assim, ao usar a estratégia dominante, um prisioneiro tem 50% de chances de ser libertado, caso o outro opte por ficar em silêncio, e 50% de chances de pegar 5 anos de cadeia, caso o outro também escolha testemunhar (e, caso os dois façam essa mesma análise da situação, é isso que vai acontecer). 

Mesmo que os dois prisioneiros pudessem se comunicar, ou se tivessem combinado previamente uma estratégia para o caso de serem capturados, seria impossível chegar a um acordo em que os dois fossem libertados. Seria possível, porém, chegar a um acordo em que ambos recebessem uma pena de 1 ano (a segunda melhor solução). Assim, ao invés de uma estratégia "cada um por si" em que cada um teria 50% de chances de conseguir a melhor solução e 50% de chances de conseguir a terceira melhor, eles poderiam escolher uma estratégia em que ambos teriam a garantia de conseguir a segunda melhor solução. Ao adotar esta estratégia de colaboração, os prisioneiros estariam trocando a possibilidade de uma solução ótima pela certeza de uma solução boa. É uma boa estratégia para quem prefere correr menos riscos, ou para situações em que os dois se importam um com o outro o suficiente para um não querer prejudicar o outro, mas não o suficiente para estarem dispostos a se sacrificar um pelo outro.

Obviamente, essa estratégia depende do quanto um prisioneiro confia no outro, já que, mesmo que eles combinem uma estratégia juntos, cada um vai cumprir (ou não) a sua parte do acordo separadamente. Mas existe um outro conceito importante de teoria dos jogos que precisa ser levado em conta ao escolher-se uma estratégia: o conceito de Conhecimento Comum.

Conhecimento comum é mais do que algo que as duas partes sabem: é algo que uma parte sabe, a outra parte também, e uma sabe que a outra sabe. No exemplo dos dois prisioneiros, mesmo um confiando no outro, para que a colaboração seja possível, é necessário que:
  1. Os dois conheçam essa estratégia e suas vantagens. Se um dos dois não souber que podem diminuir o risco adotando uma estratégia de colaboração, este vai adotar a estratégia dominante e adeus, colaboração.
  2. Cada um saiba que o outro também sabe disso. Mesmo sabendo que a estratégia de colaboração oferece menos risco, se um prisioneiro não souber que o outro também sabe disso, ele vai assumir que o outro vai adotar a estratégia dominante (testemunhar) e, para se defender, vai testemunhar também. Novamente, adeus colaboração.
Assim, para que os dois prisioneiros colaborem, é preciso que as vantagens da estratégia de colaboração sejam conhecimento comum. Caso contrário, um deles (ou ambos) vai ter que assumir o risco e torcer para o outro saber o mesmo que ele.

Espero não ter feito uma confusão danada com esse negócio de "eu sei que você sabe que eu sei que você sabe etc". Na próxima vez que eu escrever sobre teoria dos jogos, vou falar mais sobre isso.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Meus Pequenos Artistas

Mostrei aos meus sobrinhos a minha historinha publicada na Internet e eles resolveram fazer suas próprias artes também. Assim, da Tijuca para o mundo, Roberto (4 anos) e Sabrina (6 anos):

Roberto

Sabrina

sábado, 15 de dezembro de 2012

Colorama

Eu adoro o trabalho dos músicos de rua. Dou dinheiro com prazer, porque acho o máximo eu estar na rua cuidando da minha vida, indo almoçar ou voltando do trabalho, e me deparar com alguém tocando um instrumento, cantando, colorindo o cinza do Centro da cidade com música.

Dou dinheiro sem ver isso como esmola, mas como o pagamento pelo serviço prestado de tornar meu dia mais bonito e como incentivo para não desistir, se não da música como carreira, pelo menos da música como arte e como exercício para a mente e para o espírito.

Daí outro dia pensei que, já que vou dar dinheiro, posso bem desembolsar um pouco mais e comprar o CD que muitos desses artistas de rua vendem. Levo algo comigo além da satisfação de ter contribuído e ainda vejo o rosto do artista se iluminar com o reconhecimento do seu trabalho.

E é assim que estou escutando, enquanto escrevo este post, o álbum Colorama, da dupla espanhola de mesmo nome. As primeiras duas músicas que escutei não me agradaram: deixei o CD de lado, mas acabei voltando a ele mais tarde, meio por teimosia. Não sei se meu ouvido acostumou, se meu estado de espírito hoje está mais receptivo ou se só dei azar com as duas primeiras músicas, mas, embora realmente não faça muito o meu estilo, hoje estou apreciando mais as músicas.

Minha impressão é que a gaita asturiana é muito estridente para o meu ouvido e o djembe africano não é encorpado o suficiente para absorver e suavizar as arestas da melodia da gaita. (Obs. Desnecessário dizer que estou inventando esses "termos técnicos" numa tentativa de descrever a minha experiência auditiva, né?). As faixas das quais mais gostei são justamente aquelas em que a melodia chega a notas um pouco mais graves (não muito mais graves, porque não dá mesmo) e o djembe está mais presente. Ainda acho que o trabalho deles se beneficiaria de mais um ou dois instrumentos para fazer um contraponto à dureza da gaita asturiana.

De qualquer modo, as músicas me parecem bem executadas: se estão fugindo da melodia original, não tenho como saber, mas em nenhum momento escutei aquela desafinação dissonante que fere o ouvido.

Na última faixa (Roxu), a gaita foi substituída por um instrumento não identificado mas definitivamente da família das flautas que foi uma surpresa muito bem-vinda. Só lamento não ter tido a oportunidade de escutar esse instrumento junto com a gaita: poderia, talvez, ser aquele instrumento cuja falta eu senti nas outras faixas para equilibrar a estridência da gaita asturiana.


Faixas preferidas:
4 - La Gaita num la viendo
5 - Entermedios y Marcha (particularmente a segunda parte)
11 - Roxu

domingo, 9 de dezembro de 2012

Fazendo Arte

Na semana passada, no dia em que o Niemeyer morreu, um amigo meu postou no Facebook dizendo que queria fazer uma homenagem no blog dele: tinha uma ideia pra uma tirinha, mas precisava de alguém que desenhasse.

E eu, que estou em plena crise existencial de "não consigo ver o fruto do meu trabalho e não estou tendo oportunidade de agregar valor", consegui resistir por 40 minutos, talvez, desde a hora em que vi o post até a hora em que respondi, por fora muito blasé, mas, por dentro, balançando a mão no ar e gritando "me escolhe, me escolhe!".

O Leo, meu amigo e dono do blog em questão, cujo link estou colocando mas cujo nome não vou escrever aqui porque, Leo, te adoro, mas TENHO VERGONHA DE MENCIONAR O NOME DO SEU BLOG #prontofalei... Enfim, o Leo me mandou o roteiro da tirinha, eu comprei canetas novas especialmente para a tarefa me sentindo "a" cartunista profissional e, muitos esboços depois, mandei pra ele à meia-noite o resultado dos meus esforços. Com o coração na mão, claro! Quando escrevi no e-mail que, se ele detestasse e preferisse abortar o projeto, não haveria estresse entre nós, estava sendo 100% sincera, mas daí a eu não me importar de ver meu primeiro "filho" ser rejeitado vai uma distância enorme!


Felizmente, não precisei exercitar minha maturidade e auto-controle neste caso (não tenho muito de nenhum dos dois, então é sempre bom economizar), porque o Leo gostou, agradeceu muito, elogiou e publicou na mesma hora.

E eu não sei se haverá outros depois desse ou se minha carreira de desenhista começou e acabou aqui, mas foi muito gostoso ver meu trabalho elogiado e publicado e, bom... as canetas agora eu já tenho, né?

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O Dilema do Prisioneiro

Eu acho teoria dos jogos um assunto fascinante. Tive meu primeiro contato com o assunto através de um livro cujo nome agora me escapa, porque a história em si não me causou muita impressão. O livro era de ficção, mas tinha uma cena logo no início em que um dos personagens explicava para o outro o Dilema do Prisioneiro, e foi o suficiente para eu me interessar pelo assunto. A teoria dos jogos é utilizada na análise de situações estratégicas em que os participantes têm que escolher um dentre vários possíveis cursos de ação e tomar decisões tentando chegar ao melhor resultado possível. Ou seja, praticamente qualquer situação com mais de um participante envolvido. O termo "jogo", nesse caso, se refere não a uma atividade recreativa e sim a qualquer situação em que um indivíduo tem que tomar decisões sabendo que suas escolhas irão influenciar um resultado final mais ou menos favorável para ele (inclusive, claro, jogos recreativos).

Alguns anos depois, eu descobri o Open Yale Courses. A Universidade de Yale disponibiliza online vários cursos super interessantes e entre eles, pra minha alegria, um de Teoria dos Jogos oferecido pelo Departamento de Economia. Trata-se de cursos que são presenciais para os alunos da universidade e que são disponibilizados de forma gratuita para o público em geral no site da universidade. Apesar de não darem direito a nenhum tipo de certificado ou crédito para os alunos ouvintes, os cursos são ministrados levando em conta o público online: o professor sabe que existe gente assistindo o curso à distância e dá todo o curso se dirigindo a essas pessoas tanto quanto aos alunos presentes em sala de aula. É possível assistir (e baixar) todas as aulas (vídeo, áudio, transcrições das aulas e todo o material escrito fornecido para os alunos do curso presencial): até o que o professor escreve no quadro é fotografado e disponibilizado de forma organizada para os alunos ouvintes. A única coisa que não dá pra fazer é tirar dúvidas com o professor ou entregar os trabalhos para avaliação.

Enfim, voltando ao Dilema do Prisioneiro. A representação clássica desse problema é a seguinte:

Existem dois prisioneiros: Prisioneiro A e Prisioneiro B. Eles são colocados em celas separadas e sem possibilidade de comunicação um com o outro, e a ambos é oferecido o mesmo acordo: se um deles testemunhar contra o outro e o outro permanecer calado, o que testemunhou será libertado e o que ficou em silêncio será condenado a 10 anos de cadeia. Se os dois ficarem em silêncio, cada um será condenado a 1 ano de cadeia. Se ambos testemunharem um contra o outro, cada um será condenado a 5 anos de cadeia. Como os prisioneiros estão incomunicáveis, cada um vai ter que tomar a sua decisão sem saber qual a decisão que o outro vai tomar, daí o dilema. Os números podem variar, mas a ideia, essencialmente, é esta:


Analisando o problema de forma 100% egoísta, o Prisioneiro A pensa: "Cinco anos é melhor do que dez, e ser libertado é melhor do que um ano. Independente do que o Prisioneiro B faça, a melhor opção para mim é testemunhar contra ele." Em teoria dos jogos, diz-se que, neste caso, testemunhar contra o outro prisioneiro é a Estratégia Dominante.

Estratégia dominante é aquela que trará o melhor resultado para quem a adotar, independente do que a outra parte faça. Neste caso, se B testemunhar contra A, A vai obter um resultado melhor se testemunhar contra ele (5 anos de cadeia ao invés de 10) e, se B ficar calado, A também vai obter um resultado melhor testemunhando contra ele (ser libertado ao invés de pegar 1 ano de cadeia). E a recíproca é verdadeira: quer A testemunhe contra B, quer fique calado, B obterá um resultado melhor testemunhando contra ele. Desta forma, um testemunha contra o outro e ambos pegam 5 anos de cadeia cada um.

Para determinar que uma estratégia é a estratégia dominante, no entanto, é essencial definir o que é significa "melhor resultado" para o jogador. Se estivermos simplesmente comparando números (5 < 10 e 0 < 1), testemunhar contra o outro prisioneiro é sem dúvida a estratégia dominante, mas, ao aplicar esse problema ao mundo real, outras variáveis são introduzidas.

A análise inicial do problema foi feita considerando que a única preocupação de cada prisioneiro é receber a pena mais curta possível ou, de preferência, ser libertado imediatamente: as implicações dessa estratégia para o outro prisioneiro são irrelevantes. Neste caso, testemunhar contra outro prisioneiro é sem dúvida a estratégia dominante. Quantificando os resultados, temos:


Agora, se incluirmos na equação o peso de testemunhar contra outra pessoa, sabendo que isso fará com que ela vá para a cadeia, os resultados mudam.

Se, para o Prisioneiro A, a ideia de se beneficiar prejudicando o Prisioneiro B causa muita angústia e sentimento de culpa, a pontuação da estratégia "testemunhar contra o outro" diminui, pois a culpa por aumentar a pena do outro diminui a satisfação de diminuir a própria pena. Se a culpa neste caso valer 10 pontos negativos, a estratégia dominante para o Prisioneiro A passa a ser ficar em silêncio: a indulgência prometida por colaborar com a polícia não compensa a culpa que ele vai sentir por ter prejudicado o Prisioneiro B.


No outro extremo do espectro, temos o Prisioneiro B com tanta raiva do Prisioneiro A que o fato de estar aumentando a sua sentença é um bônus na satisfação de estar diminuindo a própria. Com isso, a pontuação da estratégia "testemunhar contra o outro" aumenta. No exemplo abaixo, a satisfação por prejudicar o outro vale 5 pontos.


Outros aspectos cruciais a considerar são as interações futuras entre os prisioneiros (um dia o prisioneiro que pegou a pena maior vai sair da cadeia e encontrar aquele que o entregou) e como a decisão de testemunhar ou não contra outro prisioneiro vai influenciar a reputação de cada um. Às vezes vale a pena abrir mão de uma vantagem imediata para ganhar a confiança e/ou o respeito da outra parte, tornando mais fáceis as interações futuras. Quando um vendedor alerta o cliente que o produto que ele está prestes a comprar tem um similar mais barato e igualmente eficaz, ele está diminuindo a sua comissão na venda atual, mas pode estar garantindo comissões futuras se a sua honestidade servir para fidelizar o cliente. Por outro lado, a fidelização do cliente pode ter uma pontuação baixa se comparada com a comissão da venda atual se o vendedor estiver com a corda no pescoço para atingir a meta de vendas do mês.

O importante é entender que, para tomar uma decisão, saber quais serão as consequências de cada possível estratégia é essencial, mas não mais essencial do que saber qual é a "pontuação" de cada alternativa para o jogador. O que para uma pessoa é um preço alto demais para pagar, para outra é um sacrifício que vale a pena e vice-versa.

Quando eu tiver paciência de escrever mais sobre o assunto, vou continuar esse post falando sobre colaboração.