sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Móvel de Inox, Barraco de Inox - a Treta da Alezzia

Se você ainda não ouviu falar da mais recente treta polêmica envolvendo a loja de móveis Alezzia, ou se ouviu falar mas não entendeu nada, hoje é o seu dia de sorte porque eu vou explicar tudo bem mastigadinho e ainda vou oferecer, de brinde, a minha opinião sobre o assunto. É praticamente uma Black Friday da treta!

Antes de começar a contar a história, porém, já vou logo avisando que não vou colocar link para as páginas envolvidas pelo seguinte motivo: esta é, essencialmente, uma batalha de cliques, curtidas e avaliações virtuais e como, na minha opinião, todos os envolvidos estão, em maior ou menor grau, errados, eu não estou aqui pra ficar dando ainda mais moral pra esses doidos.

Dito isso, senta aí que vai começar a Hora da História.

"Era uma vez, em uma terra tão. tão distante chamada Tretalândia..."
© Highwaystarz | Dreamstime.com - Group Of Pre School Children Listening To Teacher Reading Story Photo

Tudo começou no dia 12 de dezembro, quando o dono da loja de móveis Alezzia fez um comentário infeliz em um grupo de discussão do Facebook chamado Behance Brasil, cujo público é constituído por gente que trabalha ou se interessa por design gráfico, desenho industrial, arquitetura, fotografia, web design e afins.

No seu post, o camarada afirmou que praticamente não havia trabalhos de design gráfico de qualidade feitos por mulheres e lançou a pergunta: essa falta de representatividade seria por acaso devido ao fato de que homens são melhores designers que as mulheres?

"Meu post vai ser bem legal e todo mundo vai curtir e vão me coroar rei da Internet."
© Gaudilab | Dreamstime.com - In The Shot Man's Hands Working On Computer Photo

Daí, já viu, né? Escreveu, clicou no botão de Enviar, um, dois, três e já: começou a treta. As mulheres do grupo não gostaram do post sem noção e responderam. Muitas reclamaram, postaram links para seus próprios trabalhos ou de outras mulheres, homens também postaram dando seu apoio às colegas de profissão, até que o assunto se esgotou naturalm... hahaha, claro que não, né? Aqui é a Internet, amor, o assunto não se esgota enquanto não houver pelo menos uma ameaça de morte, uma comparação com Hitler e com o nazismo e cinco hashtags novos.

Dentre todas as mulheres ofendidas, uma resolveu levar o assunto para além do grupo de discussão e até a página da empresa do indivíduo. Chegando lá, ela descobriu que o cara, na verdade, é super a favor da participação das mulheres no design gráfico. Especialmente se a participação da mulher for posar de maiô cavado empoleirada em cima de um móvel. Estratégia brilhante de marketing, né? Posso até imaginar os homens entrando no site, olhando as fotos e pensando, "puxa, fiquei um tempão aqui secando a menina, agora tenho que pelo menos comprar uma cadeira."

A moça ofendida então riu muito, concluiu que com uma propaganda ruim dessas o cara já é o seu próprio pior inimigo, deixou o assunto pra lá e foi cuidar da própria vida. Ou melhor, isso é o que eu teria feito. Ela, não. Ela resolveu bater boca com o cara na própria página da empresa dele, na frente de todos os funcionários e clientes. Um cara elegante desses, com toda a classe que já tinha demonstrado no post original e na campanha de marketing da sua empresa, claro que deu uma resposta adulta e madura do tipo "o que vem de baixo não me atinge".

É que nem quando você estava na escola e tinha duas crianças batendo boca durante o recreio. Se ninguém interviesse a tempo, chegava a hora em que um dos dois dizia alguma coisa e aquele colega quizumbeiro gritava lá de trás: "Iiiiih! Se fosse comigo, eu não deixava!" Quando isso acontece, ferrou: não tem mais volta. Essa hora, no caso, foi quando a moça disse que ia fazer propaganda negativa da empresa pra todo mundo que ela conhecia, incentivando todos a entrarem na página da empresa e darem uma estrela, a nota mais baixa possível.

"Bri-ga! Bri-ga! Bri-ga!"
© Luislouro | Dreamstime.com - Kid's Fight Photo

E aí eu pergunto, com toda a seriedade: em um momento de crise como este que o país vive, com empresas fechando, contratos não sendo renovados e gente sendo demitida aos montes, vale a pena você prejudicar uma empresa inteira, com todos os seus funcionários e fornecedores, só porque o dono é um sem noção qualquer? Eu sou a primeira a concordar que o comentário sobre o talento feminino (ou, no caso, a falta dele) foi desnecessário e que as propagandas são bem toscas, sim. Mas, gente, na atual conjuntura, quantas pessoas estão podendo se dar ao luxo de só trabalhar em empresas cujos donos compartilham de seus valores? Os funcionários, fornecedores e todos os demais que dependem dessa empresa não estão (que eu saiba) compactuando com exploração de mão de obra infantil, tráfico de pessoas ou lavagem de dinheiro. É justo eles se ferrarem junto com o dono da empresa?

Mas, como eu disse, depois do "iiiiih!" não tem mais volta. Ao escutar a ameaça, o camarada não apenas não recuou como ainda mandou um "du-vi-de-ó-dó" na cara da moça: disse que se ela conseguisse fazer a avaliação da empresa baixar até chegar a 1,1 ganharia R$ 10.000,00 em cupons da loja.

Foi nesse momento que a briga saiu do pátio do recreio e adentrou o território das brigas de torcida.

Onde tudo é sempre resolvido na base do diálogo.
© Bidermann | Dreamstime.com - Hooligans Photo

Quando a nossa amiga designer (vocês estão lembrados, né, que todo esse barraco começou com um comentário sobre a qualidade do trabalho das mulheres que trabalham com design gráfico) começou a fazer campanha contra a empresa, as avaliações negativas começaram a chover e a nota da empresa, a cair.

Antes que a nota chegasse à marca fatídica de 1,1, a empresa contra-atacou dizendo que, se não chegar a 1,1 até 31/01/2017, eles farão uma doação (também em cupons da loja) à AACD - Associação de Assistência à Criança Deficiente (entidade essa, diga-se de passagem, que entrou de gaiata nessa história e por isso merece ter o link para sua página divulgado aqui). E tem mais: a doação será tão maior quanto mais alta seja a nota da empresa. Ou seja, se você der qualquer nota menor do que a máxima para a empresa talvez as criancinhas deficientes venham a receber menos ajuda do que poderiam ter recebido se você tivesse dado cinco estrelas. Seu monstro.

"E depois vão me dar o Prêmio Nobel da Paz e fazer um filme sobre mim."
© Gaudilab | Dreamstime.com - In The Shot Man's Hands Working On Computer Photo

Resultado: agora, além de um monte de gente dando nota 1 para a empresa sem nunca ter visto um único produto deles, só para fazer a nota cair até 1,1 e conclamando todo mundo que conhece a fazer o mesmo contra a exploração da sexualidade feminina, tem também outro tanto de gente dando nota 5 para uma empresa da qual até ontem nunca tinha ouvido falar só para fazer a nota chegar a 4,6, e conclamando todo mundo que conhece a fazer o mesmo contra a ditadura do politicamente correto. Ou seja, se você pretendia comprar móveis na Alezzia pode esquecer a avaliação do consumidor na página da empresa porque aquilo ali não serve pra mais nada. E nem pense em consultar os comentários na página, que está uma praça de guerra, com qualquer discussão sobre a qualidade dos serviços e dos produtos soterrada sob camadas e mais camadas e mais camadas de bate-boca.

"Jesus amado, eu não perguntei se feminista raspa a perna ou não: eu só quero saber se eles entregam no prazo!..."
© Dolgachov | Dreamstime.com - Stressed Woman With Computer Photo

E, pra ficar ainda mais bacana, a cereja do bolo: a briga já chegou na página da AACD também, onde agora tem um bando de doidos exigindo da entidade um posicionamento a respeito da treta. Ou seja, os caras estão ali vivendo de doação e o povo querendo que eles decidam se vão ou não aceitar dinheiro com base no posicionamento sócio-político-econômico do doador.

"Você tem certeza? Porque esse dinheiro tinha caído no esterco e..." "A GENTE LAVA!"
© Elnur | Dreamstime.com - Young Businesswoman Photo

Moral da história: está todo mundo errado. Menos você, AACD: você é legal.

E olha só que beleza: dá pra doar pra AACD sem gastar nadinha nem entrar nessa guerra de avaliações: é só cadastrar a nota fiscal daquele produto que você comprou em São Paulo (seja na loja física ou online).

E deixa os doidos se matarem lá na página da Alezzia.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

WoW - Echeyaki

Já comentei antes aqui no blog que eu gosto de jogar World of Warcraft, e disse também que eu gosto da experiência de role play do jogo, procurando agir como o personagem agiria e não simplesmente correndo de um lado para o outro e acumulando XP.

Parênteses rápido para esclarecer a quem não joga esse tipo de jogo que role play quer dizer representar o papel do seu personagem no jogo, ou seja, agir como (por exemplo) um bruxo orc recém-chegado à cidade de Orgrimmar e não como uma pessoa do século 21 cujo avatar no jogo é um bruxo orc. E XP é a abreviatura de eXperience Points (pontos de experiência), que são o que faz com que o jogador vá subindo de nível no jogo. Fecha parênteses.

Essa maneira de jogar (com ênfase no role play) é, na minha opinião, mais divertida, mas pode também tornar o jogo mais difícil. Por exemplo, eu desabilito certos marcadores que podem ser exibidos no mapa indicando a direção em que o personagem deve ir para executar determinada missão e procuro me basear somente nas orientações dadas pelos outros personagens, nas placas no caminho e no próprio mapa. Em alguns casos, isso não é difícil porque as orientações são simples, como "saia da cidade pela saída norte e siga pela estrada até o rio", mas em outros casos a coisa fica meio complicada. Assim, deixo aqui registradas as orientações para encontrar o covil de Echeyaki, sempre respeitando a estória para quem está perdido mas, como eu, prefere receber sua ajuda dentro do clima do jogo.

Essa é uma missão da Horda (outro parênteses para dizer que o universo de World of Warcraft tem duas facções: a Horda e a Aliança) de nível relativamente baixo e que me deu bastante dor de cabeça porque as instruções para encontrar o covil do rei dos felinos da savana são bem pouco precisas.

"Seu covil fica a noroeste, na face norte de uma pequena montanha, entre ossos de kodos gigantes."

Dois problemas com essas instruções. Em primeiro lugar, essa missão é recebida quando se está no acampamento da Encruzilhada que, como já dá para imaginar pelo nome, tem saídas nas quatro direções. E, como o acampamento fica nos Sertões Setentrionais, uma região cheia de montanhas, dá para encontrar uma pequena montanha tanto saindo pela saída Norte e depois virando para Oeste quanto saindo pela saída Oeste e depois virando para Norte. Na verdade, dá para encontrar uma pequena montanha praticamente em qualquer lugar dos Sertões Setentrionais. Ah, mas aí é só procurar os ossos de kodos gigantes, a pessoa imagina. Pois é, mas aí vem a segunda questão. Os kodos são bicharrocos imensos, então eu imaginei um lugar com ossos de kodos gigantes como uma espécie de cemitério de elefantes, com esqueletos de vários kodos espalhados pra tudo quanto é lado. Nada parecido com a imagem abaixo.

Covil de Echeyaki

Assim, seguem as minhas instruções para quem ainda não esteve lá ou para quem, como eu, teve o maior trabalhão pra achar da primeira vez, daí criou um personagem novo, tinha esquecido o caminho e teve o maior trabalhão de novo.

Saia da Encruzilhada pela saída Norte e pegue a Estrada do Sol em direção ao Vale Gris. Assim que passar pela saída para Durotar (à direita), saia da estrada e siga na direção oeste até chegar no pé de uma montanha. Vá ladeando essa montanha em direção ao Norte até chegar ao covil de Echeyaki. Atenção: Se você chegar no Acampamento Brumedo, dê meia-volta porque já passou do lugar!

O resto agora é com o seu personagem. Força e honra. Pela Horda!

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Jess Recebe o Manual de Transformação da Cinderela

Depois de um longo hiato, vamos a mais um capítulo de "A Sociedade Cinderela". No capítulo 3 ocorreu a cerimônia de iniciação de Jess nessa Sociedade da qual nós (e a propria Jess) só sabemos até agora o nome e o fato de que suas integrantes são "a nova face das mulheres", cuja liderança trará "a aurora de uma nova era".

No dia seguinte ao da cerimônia de iniciação, Jess, depois de passar parte da manhã com a mãe pintando o quarto dos gêmeos, como prometido, volta ao Moinho com Sarah Jane. Jess está empolgadíssima porque, depois da cerimônia da véspera, Sarah Jane conversou com ela sobre as transformações supremas de vida que a Sociedade Cinderela realiza. E o primeiro item da lista do seu programa de transformação é...  um guarda-roupa novo. Óbvio.

"Então, a gente já está mudando o mundo?" "Mudando quem? Ah, é, o mundo! Claro, claro..."
Image courtesy of nenetus at FreeDigitalPhotos.net.

Mas, antes que Jess possa passar por essa etapa essencial da sua transformação, ela e Sarah Jane vão ao Moinho, cuja proprietária, descobrimos agora, é Audrey London, uma top model australiana que lançou sua própria franquia de lanchonetes super badaladas porque, convenhamos, até pra ser simpatizante da Sociedade Cinderela é preciso ser linda, popular e bem-sucedida.

Claro que Jess, que já está completamente atordoada com o fato de que duas líderes de torcida da mesma equipe que ela a tratam "como uma pessoa normal", mal consegue balbuciar o seu pedido quando chega a sua vez de ser atendida pela top model em pessoa, muito embora ela própria diga que Audrey faz questão de estar presente e participar da operação da lanchonete, sendo comum encontrá-la atendendo clientes. O que levanta sérias dúvidas sobre o seu status de top model, mas deixa pra lá.

Enfim, Jess consegue gaguejar seu pedido sem fazer vergonha, recebe seu café (grátis e com espuma personalizada com a figura de um sapatinho de cristal depois que Sarah Jane a apresenta como membro da Sociedade Cinderela) e as duas se sentam com suas bebidas. Antes de deixá-las, Audrey transmite para Sarah Jane a informação de que "havia quatorze no Campo ontem à noite", o que aparentemente, é o dobro do que costumava haver antes, mas, quando Jess pergunta quatorze o quê, Sarah Jane apenas diz "pessoas". Certo.

Kyra e Mel se juntam a elas e também ficam chocadas com a revelação de que agora são quatorze, enquanto Jess e os leitores continuam acompanhando a conversa com cara de bobos. Antes que Jess possa pedir mais informações, Mark e Ben, os namorados de Sarah Jane e Kyra, respectivamente, chegam e se juntam a elas na mesa, e todas as preocupações são esquecidas. Mark e Ben são, obviamente, fortes, bonitos e descolados, porque Deus não permita que uma garota linda, inteligente e popular namore um cara feio. As Cindies têm bom coração, mas pra tudo há um limite, né? Depois de algum tempo, Ryan também chega e, milagrosamente, dessa vez Jess não derruba nada, não esbarra em ninguém nem fala nenhuma bobagem.

Depois que os três rapazes vão embora, Sarah Jane, Kyra, Jess e Mel vão para o quartel-general da Sociedade Cinderela, localizado em uma área super secreta dentro do Moinho, acessível somente depois que Sarah Jane passa um cartão magnético, digita dois códigos de segurança diferentes,  e... alguém aí assistia Agente 86?



Pois é. Mais ou menos por aí.

Finalmente, elas chegam ao QG, onde encontram Gaby preparando a reunião de orientação para as recém-iniciadas, que agora, finalmente, vão descobrir a que exatamente se refere o tal chamado que elas aceitaram durante a cerimônia da madrugada anterior.

Depois que todas as garotas chegam, Gaby se apresenta como a "Presidente Alfa" para o próximo ano, que irá dirigir as reuniões de nível Alfa e preparar as Cindies desse nível para o próximo passo na Irmandade. Geralmente alfa é o nível mais alto e não o inicial, mas isso deve ser só para pessoas pouco iluminadas como eu. É por essas e outras que ninguém nunca me convidou para fazer parte da Sociedade Cinderela.

Gaby conduz todas por um tour pelo quartel-general e cada nova Cindy recebe seu manual super secreto que não pode nunca, jamais, de jeito algum cair nas mãos dos não iniciados: o MTC - Manual de Transformação da Cinderela. E eu desafio alguém a escutar as palavras "transformação da Cinderela" e não visualizar esta cena:



Para crescente agonia de Jess, que não vê a hora de acabar a falação e começar o Bibbidi-Bobbidi-Boo, Gaby segue explicando sobre os níveis Alfa, Beta, Gama e Delta da Sociedade Cinderela, bem como da divisão do mundo em Cindies, Malvadas e Joviais. Basicamente, a missão dos membros da Sociedade Cinderela é combater o mal e proteger as Joviais, que são basicamente pessoas comuns que não sabem da existência dos outros dois grupos e que precisam da ajuda das Cindies para não se tornarem vítimas e/ou massa de manobra nas mãos das Malvadas.

E agora eu estou aqui sentada diante do computador, tentando organizar meus pensamentos para melhor expressar a quantidade de aspectos no mínimo duvidosos desse mundo em que a Sociedade Cinderela está inserida.

Por exemplo, as Malvadas (como as meias-irmãs malvadas da Cinderela). De acordo com a Gaby, o que caracteriza as Malvadas é o seu estilo de vida superficial, imediatista e irresponsável. Muito sexo casual, bebidas, às vezes drogas e até mesmo pequenos crimes. Não é bem a descrição de uma cidadã modelo, mas também não parece exatamente uma ameaça à sociedade, né? Essa é basicamente a descrição de qualquer adolescente sem juízo que não tem disciplina em casa. Na verdade, se a Sociedade Cinderela quisesse mesmo mudar o mundo, deveria estar trabalhando justamente com essas meninas enquanto elas ainda estão em idade de formação do caráter. Mas, ao invés disso, o que temos são adultos (porque certamente não são alunas de ensino médio que estão bancando e organizando esse quartel-general) incentivando adolescentes a ver suas colegas de escola encrenqueiras como suas antagonistas na batalha para a qual estão sendo treinadas. As palavras grifadas são literalmente as que são usadas no livro.

Porque se há uma coisa que está faltando na vida de uma garota de classe média-alta de 16 anos, é um pouco mais de drama.

"Eu sabia. Existe uma conspiração mundial contra pessoas como eu. Eu não vou ser feliz NUNCA."
© Mettus | Dreamstime.com - Girl In Sad Condition Photo

Já as Joviais (forma abreviada de Jovens Normais), apesar de terem, segundo a Gaby, "a força e habilidade para causar um grande impacto", pelo visto não são muito espertas, pois têm que ser protegidas pelas Cindies para não serem manipuladas pelas Malvadas. Note-se que essa proteção não inclui revelar para uma Jovial a existência dessas duas sociedades secretas (sim, porque as Malvadas também têm a sua própria organização): isso provavelmente seria demais para as pobres cabecinhas das Joviais, que não conseguiriam processar tanta complexidade. Ou a pessoa que escreveu o MTC nunca ouviu falar que conhecimento é poder, ou então ela não acha conveniente dar poder demais para as Joviais. Por que será, hem?

Agora, se você está se perguntando onde entram nesse esquema os homens e as mulheres que já passaram da idade de serem chamadas de Jovens Normais, vai ter que esperar mais um pouco porque eles não são importantes o suficiente para serem mencionados logo assim na primeira reunião.

E, pra encerrar, o mistério do número 14: todo ano, a Sociedade Cinderela recebe sete novas iniciadas e a organização das Malvadas (cujo nome eu já estou ansiosa para descobrir) faz o mesmo. E eu me pergunto: será que, lá no início, os fundadores das duas organizações combinaram? "Então tá: cada um só pode convidar sete meninas por ano. Combinado? Jura pela mãe mortinha?". O problema é que esse ano as Malvadas resolveram que dane-se o combinado, vamos convidar quatorze meninas e quero ver quem vai impedir.

"Será que a gente precisava avisar pras meninas da Sociedade Cinderela que estamos mudando o combinado?" "Amiga, acorda: nós somos as Malvadas!"
© BrainsilDreamstime.com - Group Of Girls Studying Photo

E é isso aí: 19% do livro já foi e Jess ainda não teve a renovação do seu guarda-roupa e nós ainda não descobrimos qual é a "nova face das mulheres", mas pelo menos o quarto dos gêmeos foi pintado, então este capítulo não foi um desperdício completo de tempo.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Zabelê, Zumbi, Besouro

Em homenagem às minhas iminentes férias, das quais eu pretendo passar pelo menos metade isolada do resto da humanidade e em contato com a natureza, vou escrever hoje um breve comentário sobre os dois primeiros versos da música “Linda Juventude”, que são alvo frequente de gozação não de todo merecida.

Dá play e vai tocando a música enquanto eu explico.


Zabelê, zumbi, besouro.
A palavra zumbi aqui não se refere a um morto-vivo, mas ao modo imperativo afirmativo do verbo zumbir. “Zumbi, besouro.” é como “Cantai, passarinho.” Nada de errado aí.

Já zabelê, ao contrário do que alguns pensam, não é uma palavra inventada, e sim o nome de uma ave nativa do Nordeste brasileiro. Também é o nome de uma cidade da Paraíba, mas eu acho que a ave combina mais com o resto da música, então deixa a ave mesmo. E, apesar de o zabelê não acrescentar nenhuma informação à frase “zumbi, besouro”, acredito que ele esteja aqui apenas pela aliteração, figura de linguagem (para quem não se lembra das aulas de português do ensino fundamental) caracterizada pela repetição de sons consonantais.

"Muito prazer, eu sou um zabelê."
Image courtesy of Manuel Anastácio @ Wikimedia Commons

Vespa fabricando mel.
Revelação bombástica aqui: vespa fabrica mel, sim. É um mel mais escuro e mais amargo do que o fabricado pelas abelhas e que, por isso, normalmente não é consumido pelos seres humanos, mas é comestível e não deixa de ser mel.

Moral da história: a música não é, na minha humilde opinião, nenhuma maravilha, mas tem muita música pior e indefensável por aí praticamente implorando para ser zoada. E era só isso que eu queria dizer: obrigada pela atenção de todos.

domingo, 2 de outubro de 2016

She's Not That Into You, Microsoft

Como eu já comentei antes aqui no blog, no ano passado eu fiz o upgrade do Windows 8 para o Windows 10 no meu computador. Esse ano, depois de muita relutância devido a vários problemas que eu tive com o Windows 10 (a impressora sem fio, por exemplo, nunca mais foi a mesma), finalmente fiz o upgrade do sistema operacional no notebook também. Como o notebook é mais antigo e mesmo antes do upgrade já era bem menos veloz do que o seu irmão mais novo e mais robusto, estou no meio de um processo de desinstalar aplicativos antigos e pouco usados e rever configurações para melhorar o seu desempenho sob a nova gestão.

Um dos passos desse processo foi a desinstalação do OneDrive, o serviço de armazenamento em nuvem que a Microsoft quer porque quer me convencer a usar, usando a sua tradicional técnica de instalar o aplicativo e habilitar o serviço durante a instalação do Windows e dificultar ao máximo a sua desinstalação.

Microsoft, senta aqui e deixa eu te explicar uma coisa. Eu uso Windows desde sempre. Comprei minha primeira licença de Windows 98 literalmente no século passado e venho pagando por todos os upgrades desde então. Mas termina aí o nosso envolvimento: eu uso o LibreOffice, acesso meus e-mails no Google via webmail, meus arquivos pessoais estão no Google Drive e os de trabalho, no DropBox. Essa relação seria muito mais tranquila se você apenas aceitasse o fato de que ela não vai ficar mais séria do que isso, e mexer nas configurações do meu computador à minha revelia não está ajudando em nada no sentido de me fazer mudar de ideia.

Enfim, voltando ao assunto da desinstalação do OneDrive. Com a ajuda do pessoal do TechMundo (link do artigo completo no fim deste), descobri como removê-lo do meu computador. E estou registrando aqui no blog, como já fiz com outras dicas sobre tecnologia, porque este blog funciona, entre outras coisas, como uma forma de eu armazenar para rápido acesso informação que está espalhada pela web e da qual eu posso precisar de novo algum dia. E também para compartilhar com os outros. Mas principalmente pra mim.

Passo 1. No prompt de comando (acessável pressionando as teclas Windows + R), execute o seguinte comando:

taskkill /f /im OneDrive.exet

Assim, qualquer processo do OneDrive que esteja sendo executado no momento será interrompido para você poder fazer a desinstalação em paz.

Passo 2. Ainda no prompt de comando, execute um desses dois comandos:

%SystemRoot%\System32\OneDriveSetup.exe /uninstall (se a sua versão do Windows for 32 bits)

%SystemRoot%\SysWOW64\OneDriveSetup.exe /uninstall (se for a versão 64 bits)

Se você não tiver certeza de qual é a sua versão, não faz mal: tente qualquer uma e, se não for a correta, o Windows vai exibir uma mensagem dizendo que a pasta não foi encontrada. Por eliminação, agora você sabe que é a outra.

A remoção do OneDrive não demora nem um minuto e, quando for concluída, não é exibida nenhuma mensagem, provavelmente porque o Windows 10 ficou magoado e não quer falar com você agora. Não se preocupe, ele supera.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Pipoca Para os Pombos

Mais uma história da série "Meus Sobrinhos São Uma Peça".

Meu sobrinho sempre adorou pipoca, desde pequenininho. Mas, sendo pequenininho, ao ir pela rua comendo pipoca muitas vezes deixava cair um pouco no chão. Para evitar que ele catasse a pipoca do chão e comesse, minha irmã sempre dizia: "Deixa, essa fica pro pombo comer".

Um belo dia, quando ele tinha uns três ou quatro anos de idade (não mais do que isso porque o irmão mais novo ainda não vinha para o parque com a gente), estávamos eu e minha mãe com ele no Parque Museu da República. Lá pelas tantas ele pediu pipoca e nós compramos, só que nesse dia ele tropeçou e deixou cair não algumas pipocas, mas o saco mesmo no chão.

A criança olhou daquele monte de pipoca no chão (o saco ainda estava pela metade quando o acidente aconteceu) para uns pombos que estavam ali por perto fazendo seja lá o que for que os pombos fazem em suas horas vagas e, sem titubear, chamou:

— Pombo! Almoço!

Os pombos, para surpresa de ninguém exceto o menino, nem olharam para o lado dele e continuaram cuidando da própria vida. Vendo aquilo, meu sobrinho pensou um pouco e concluiu:

— Eles não estão entendo porque eu não estou falando a língua deles.

E, mudando com fluência de português para pombês, chamou de novo:

— Ruurrrr, rurr, ruuurr!

O melhor de tudo foi que justamente nessa hora os pombos resolveram se interessar pela pipoca e voaram pra lá, deixando a criança empolgadíssima com a convicção de que sabia se comunicar com os animais.

"O sotaque é forte, mas a gramática é impecável."
Image cortesy of FidlerJanMorguefile

domingo, 24 de julho de 2016

Stranger Things Ep. 0101

Hoje assisti o primeiro capítulo de Stranger Things. Como é uma serie da Netflix e, consequentemente, todos os episódios da temporada já estão disponíveis, vou ter que correr para alcançar os amigos que já começaram a assistir, sob o risco de escutar um eventual spoiler deixado escapar no meio de uma conversa. Mas a vida é assim.

Em primeiro lugar, quero deixar claro que este não é um resumo do episódio, nem uma crítica, nem muito menos uma transcrição. São apenas alguns comentários que eu tive vontade de registrar no blog. Alegrias de ser a dona do blog: posso publicar qualquer bobagem que eu quiser. Ou seja, se você não assistiu o episódio, este post não vai te ajudar em nada no sentido de saber o que aconteceu.

Dito isso, informo que até nova ordem qualquer criatura humanoide não identificada que aparecer no seriado se chama Demogorgon (pronuncia-se "demogórgon", de nada) em homenagem ao monstro que apareceu no RPG que os meninos estavam jogando no início do episódio e que pegou o personagem do Will no jogo.

Sobre a cena inicial no laboratório: eu a-do-ro cena em que a pessoa entra correndo no elevador fugindo de alguma coisa que ainda não está à vista da câmera e passam-se aqueles segundos tensos em que a pessoa já apertou o botão, mas a porta do elevador ainda não fechou. A câmera fica mostrando só o ponto de vista dessa pessoa, olhando de dentro do elevador para o corredor do lado de fora e torcendo para a porta do elevador fechar a tempo, antes que seja lá o que for que a estava perseguindo apareça e a alcance. Não estou sendo sarcástica, não: esse tipo de cena funciona super bem pra mim. Ponto pro seriado por ter incluído uma logo no primeiro episódio.

Corta para a cena em que o Will chega em casa, fugindo do Demogorgon (de verdade, não do RPG), espia pela janela e vê o Demogorgon chegando: tive que voltar a cena duas vezes para poder enxergar o que ele tinha visto. Fica a dica para quem não quis voltar o filme ou voltou e mesmo assim não enxergou nada: a silhueta do Demogorgon vindo em direção à casa é visível no espaço entre as roupas penduradas no varal em frente à janela.

Durante a abertura da série, a música me lembrou a da abertura de Arquivo X. Não a melodia principal, mas aquela [guitarra? baixo? sei lá] de fundo. E aquele logo eu tenho certeza absoluta que me lembra o de algum outro seriado, mas não consigo por nada no mundo me lembrar qual é. Quando lembrar, atualizo aqui.

Coisas acontecem, mais coisas acontecem e aí chegamos à cena em que a Nancy e o Steve estão se agarrando no banheiro. E eu sei que isso não é relevante para a estória nem nada, mas durante toda a cena eu não conseguia parar de pensar que: (1) é difícil pensar em um lugar menos romântico/sexy do que um banheiro público e (2) eles estavam no banheiro feminino ou masculino? De um modo ou de outro, uns dos dois teve que dar um jeito de, num corredor cheio de alunos indo de lá pra cá, entrar no banheiro do sexo oposto sem chamar atenção. E torcer pra não entrar ninguém enquanto os dois estavam lá. Em suma, por que eles tinham que ficar ali e não no corredor, no pátio, no estacionamento, na quadra de esportes, em qualquer ambiente unissex, ou seja, em absolutamente qualquer outro lugar da escola?

Mas que seja: vamos em frente. Mais tarde, na delegacia, a Flo informa o xerife sobre o roubo dos anões de jardim primeiro para só depois dizer que há uma criança desaparecida. Sério, Flo?

"Prioridades."
© Fotoember | Dreamstime.com - Garden Gnomes In A Garden Of A House At Engelberg Photo

E, finalmente, na cena do jantar, tudo bem a mãe do Will se irritar com o marido e levantar da mesa deixando o prato pela metade, mas, minha senhora, precisava carregar a criança junto? O prato da Holly ainda estava cheio que eu vi.

E são esses os meus comentários: eu avisei que era só bobagem. Muito obrigada pela atenção de todos.

sábado, 16 de julho de 2016

Esmalte Rosa Clarinho

Diálogo real ocorrido na semana passada em um salão de beleza no Centro do Rio. Deixei para marcar hora na manicure muito em cima da hora, por isso a profissional que sempre me atende não tinha mais horário vago e eu precisei ir a outro salão na hora do almoço.

Manicure: Que cor você vai querer?

Eu: Algum rosa clarinho.

Manicure: Nude?

Não, rapazes, a manicure não estava me propondo enviar fotos dela nua: Nude é uma cor de esmalte que é quase cor de pele, dando a impressão de que a unha está "nua", sem esmalte.

Eu: Não, rosa.

Manicure: Rosa forte?

Eu: Não, forte não.

Manicure: Bege?

Eu: Não, rosa.

Manicure (já impaciente): Tá, mas que tom de rosa?

Eu: Clarinho.

Manicure: Transparente?

Eu: É.
(nem precisava ser transparente, mas achei melhor concordar antes que ela me oferecesse um Pink Vigarista — sim, existe essa cor de esmalte)

Manicure (me mostrando um esmalte rosa claro, opaco): Esse?

Eu (só querendo que aquilo acabasse pra eu poder ir almoçar): Sim!

Fica aqui, então, a dica para os que, como essa manicure, têm dificuldade com o conceito de "esmalte rosa clarinho". É rosa. E é clarinho.

Espero ter ajudado.

domingo, 3 de julho de 2016

A Outra Televisão

Há um mês atrás, a televisão da sala pifou e foi preciso comprar outra. Depois de pesquisar os preços na Internet, optamos por um modelo da Samsung à venda no site das Casas Bahia, onde tudo correu muito bem até a hora de pagar: após informar os dados do cartão de crédito e tentar concluir a transação, foi exibida uma mensagem dizendo que o número do cartão era inválido. Digita de novo, tenta outro cartão, mesma mensagem: "Número do cartão inválido". Lá pela quarta ou quinta tentativa, já no terceiro cartão de crédito, desisti. Encontrei o mesmo modelo praticamente pelo mesmo preço no site do Shoptime, fiz a compra sem maiores incidentes e não pensei mais no assunto.

Ou melhor, não pensei mais no assunto até aparecerem duas cobranças na fatura do cartão de crédito, uma de cada loja. Surpresa, fui vasculhar a caixa de entrada do Gmail e, realmente, perdida no meio de anúncios da coleção outono de lojas em que fiz compras uma vez há dez anos atrás, códigos de desconto de restaurantes e e-mails de recuperação de senha estava um e-mail das Casas Bahia informando que meu pagamento tinha sido aprovado, com número do cartão inválido e tudo.

"Esse conceito de número de cartão de crédito válido ou inválido é uma imposição da sociedade patriarcal, opressora e heteronormativa. Nós, das Casas Bahia, acreditamos que quem decide se o número é válido ou não é o próprio cartão de crédito."

Liguei, então, para as Casas Bahia e expliquei o que tinha acontecido. Trabalhando com TI há mais ou menos 5.268 anos, não fiquei exatamente surpresa quando a atendente me disse que, no sistema que ela estava consultando, o pedido ainda estava em aprovação de crédito. Como em qualquer empresa tipicamente zoneada, que acha que avanço tecnológico se mede pela quantidade de sistemas utilizados e não pela integração e qualidade dos ditos sistemas, é claro que a informação sobre a minha [tentativa de] compra estava espalhada e replicada em mais de um sistema. O sistema que enviou o e-mail de confirmação informando que o meu pedido tinha sido aprovado não é o mesmo sistema que o pessoal do atendimento consulta, os dois sistemas lêem a mesma informação em locais diferentes e, quando o sistema de vendas online deu seja qual for a pane que deu quando exibiu a mensagem de número do cartão inválido, foram gravados dois valores diferentes para a mesma informação.

O que me irritou realmente foi aquela resposta padrão que as centrais de atendimento gostam de usar pra ver se o cliente desiste e pára de encher o saco deles: a senhora liga de novo daqui a alguns dias pra ver se o status do pedido no sistema mudou para aí, sim, cancelar o pedido. Essa resposta é prima daquela outra: "O sistema está fora do ar; ligue novamente mais tarde".

Então, só pra esclarecer: eu ligo mais tarde para o mesmo número, para falar com um dos muitos atendentes intercambiáveis, e dizer a mesma coisa que eu já falei para o atendente atual. A única diferença é o que o atendente em questão vai fazer com a informação que eu dei. Já deu pra entender onde está o problema? Não haveria necessidade de eu repetir a minha parte da interação ipsis litteris se o processo de atendimento simplesmente contemplasse o fato de que existe vida fora do sistema. Bastaria o processo prever a possibilidade de a atendente registrar tudo o que eu disse em um campo de texto livre no sistema, no Bloco de Notas do Windows ou em uma folha de papel almaço e, assim que fosse possível, cancelar o pedido ou encaminhar a solicitação para o setor responsável.

"Olha a requisição do cliente chegando!"
© Shannon Fagan | Dreamstime.com - Hand holding paper airplane in office

Tanto reclamei que a atendente transferiu a ligação para a supervisora, que continuou repetindo a mesma ladainha até a hora em que eu ameacei colocar as Casas Bahia na justiça se aquela cobrança não sumisse da fatura do cartão de crédito antes da data de vencimento do cartão. Aí ela lembrou que há um endereço de e-mail para o qual eu podia encaminhar a fatura do cartão com a cobrança indevida. Que moça prestativa, né? Um pouco esquecida, é verdade, mas nada que uma menção a um processo judicial não resolva.

"Eu amo nossos clientes! <3 <3 <3"
Image courtesy of stockimages @ FreeDigitalPhotos.net

Alguns minutos depois, sem nem esperar que eu mandasse o e-mail, já me enviaram um e-mail me lembrando do procedimento pra cancelar a compra. Sabe como é, pra não correr o risco de eu esquecer e, distraidamente, ligar para o PROCON.

Me senti amada.

Já que eles tinham pedido com tanta educação, enviei a fatura do cartão e contei a história toda de novo, incluindo o número do pedido, o protocolo de atendimento da ligação e os nomes da atendente e da supervisora com quem tinha falado. Avisei a todo mundo em casa e ao porteiro do prédio para não receber nenhum pacote que as Casas Bahia entregassem, minha mãe notificou a administradora do cartão de crédito (tínhamos feito a compra no cartão dela) e tudo foi resolvido. Certo? Claro! As Casas Bahia me garantiram que sim!

Ele fez o sinal de polegar pra cima. Ninguém mentiria fazendo o sinal de polegar pra cima.

Pela quantidade de erros de português da mensagem, fica claro que ela foi escrita por um ser humano. Um ser humano que ficou de recuperação e passou com média mínima em Português em todos os anos de sua vida escolar até eventualmente abandonar os estudos, mas, ainda assim, um ser humano. Ou seja, alguém nas Casas Bahia leu a minha mensagem e está ciente da situação.

Algumas horas depois de este e-mail chegar, chegou também a televisão das Casas Bahia, mas eles já tinham avisado que ela estava com a transportadora e que era só não receber a entrega, então, tudo sob controle, né? Não aceitamos a televisão das Casas Bahia, no dia seguinte a do Shoptime chegou, tudo em paz no céu e na terra.

Até que, uma semana depois, este e-mail chegou.


Então, deixa eu ver se eu entendi. No dia 30/05, o pedido já estava com a transportadora. Mesmo que eu não acredite na palavra do baianinho do terceiro e-mail, o fato é que o pedido já tinha saído do depósito, já que tentaram entregar aqui em casa. Por outro lado, de acordo com este quarto e-mail que as Casas Bahia enviaram, foi só no dia 05/06 que a televisão foi embalada e encaminhada para a transportadora junto com uma versão impressa da nota fiscal. Então, se ela não estava com a transportadora no dia 30, quem foi que bateu na porta da minha casa com uma televisão de 48 polegadas debaixo do braço???

"A fada das televisões, boba! Quem mais poderia ser?"
© Kapu | Dreamstime.com - Fairy Photo

Vamos ao site das Casas Bahia resolver esse mistério consultando o histórico do suposto pedido da televisão. O desempate vai ser feito pela data que estiver lá.

Ah, droga.

Certo. A nota fiscal, então foi emitida no dia 26/05 e a televisão já estava com a transportadora no dia 27. Ainda assim, a tentativa de entrega feita no dia 30 aparentemente não foi feita pelas Casas Bahia, que só foi fazer a sua tentativa dois dias depois, em 01/06: puxa vida, se eu soubesse que no dia 30 era a fada das televisões, tinha recebido!

Na mesma data e hora (05/06/2016 20:49) do e-mail da nota fiscal chegaram também duas cópias do e-mail abaixo, me convencendo de vez que as Casas Bahia operam em uma fenda no continuum espaço-tempo.


É isso aí. No dia 05/06 o pedido foi coletado pela transportadora para chegar até o dia 01/06. Nada de estranho aí.

Enfim, datas à parte, a televisão nova já estava instalada e funcionando e o pagamento das Casas Bahia já tinha sido removido do cartão de crédito, então deixei pra lá e fui cuidar da minha vida. Até que...

"Dificuldades na região da entrega." "Bem, na verdade o cliente se recusou a receber o produto." "Tecnicamente, a recusa em receber o produto ocorreu na região da entrega. E foi uma dificuldade, certo?" "Sim." "Dificuldades na região de entrega." 

Lembra daquele pessoal super simpático do Serviço de Atendimento ao Cliente? Que me mandou um e-mail no dia 30/05 dizendo que bastava eu me recusar a receber o produto para que ele fosse devolvido ao centro de distribuição, a recusa de recebimento, registrada e o pagamento, estornado? Que disse, no mesmo e-mail, que se eu estivesse satisfeita com a resolução do meu contato não era necessário responder ao e-mail pois o atendimento seria finalizado automaticamente? Pois é.

Esse e-mail, por sinal, foi enviado não uma vez, mas duas. E mais recentemente, na semana passada, ligaram aqui pra casa, mas num horário em que eu não estava em casa. Também recebi duas ligações no celular que caíram quando eu atendi e que podem ou não ter sido das Casas Bahia, tentando a todo custo me fazer receber a bendita televisão.

Não sei quanto a vocês, mas para mim aquele slogan "Dedicação total a você" está adquirindo um tom menos de comprometimento com a satisfação do cliente e mais de ex obcecado com você que não aceita que a relação acabou.

"Bom dia! Viemos entregar a televisão."
© Ljupco | Dreamstime.com - Scared Young Woman Lying In Bed Photo

terça-feira, 21 de junho de 2016

O Papelzinho Marrom

Quem já conhece a piada do menino que achou um papelzinho marrom na rua pode pular este parágrafo. Quem não conhece, leia sabendo que essa é uma piada idiota que crianças de dez anos de idade contam para zoar os amiguinhos. A piada pode ter muitas variações, mas sempre começa assim: um menino achou um papelzinho marrom na rua. Como ele não sabia ler, levou o papel para a escola e perguntou à professora o que estava escrito. A professora olhou o papel e gritou, horrorizada: "Você não tem vergonha de mostrar isso para a sua professora? Vá já para a sala do diretor!". Chegando na sala do diretor, o menino explicou porque tinha sido mandado para lá. O diretor pediu para ver o tal papelzinho e a cena se repetiu, desta vez com o menino sendo expulso da escola e mandado para casa. O papelzinho marrom foi então passando de mão em mão e com ele o menino, sempre deixando o adulto responsável horrorizado e sem nunca ninguém dizer ao menino o que de tão terrível estava escrito no tal papel. Depois de muitas variações da mesma cena, o menino está em um navio em alto mar a caminho do exílio (eu sei, eu sei, mas, lembrem-se: piada contada por crianças de dez anos de idade...). A bordo do navio ele conhece uma moça muito simpática que o ensina a ler. Finalmente, tendo aprendido a ler, o menino procura um local reservado no convés do navio para ler o papelzinho marrom e descobrir o seu misterioso conteúdo. Cheio de empolgação, ele abre o papelzinho e... sopra um vento que arranca o papel de suas mãos e o carrega para o mar, perdido para sempre. Fim. Eu avisei que era uma piada idiota. E olha que eu contei a versão condensada: nos meus tempos de garota, a gente esticava a saga do menino ao máximo, já que o objetivo era deixar o ouvinte o mais desesperado de curiosidade possível antes de chegar ao final anticlimático.

Hoje eu assisti um filme assim: Don't Blink. A premissa até que é interessante: dez amigos vão para um resort nas montanhas no meio do nada, mas, chegando lá, encontram o local deserto, com vários objetos espalhados pelo local como se os seus donos tivessem simplesmente desaparecido de repente. Há mesas postas no restaurante do hotel com comida esfriando nos pratos, uma panela no fogo na cozinha, torneiras abertas nos chalés, uma mamadeira cheia caída dentro de um bebê conforto, um barco com uma vara de pescar boiando no meio do lago. Lago esse, por sinal, que está congelado apesar de isso não condizer com a temperatura ambiente nem com a época do ano. Eles também constatam que não há nenhum animal na região, nem mesmo passarinhos ou insetos. Intrigante, né? E aí, enquanto eles estão discutindo o que fazer, uma das moças some. E, enquanto eles estão procurando por ela, um dos rapazes também some. E é como a piada do menino que achou um papelzinho marrom na rua: a trama não evolui, são só variações da mesma cena se repetindo até só sobrar uma das moças. Duas pessoas podem estar sentadas lado a lado no sofá: é só uma desviar os olhos por um segundo que a outra pode sumir sem deixar rastros.

Quase no fim do filme, quando só restam quatro pessoas, um dos primeiros a sumir chega a reaparecer dizendo que não se lembra de nada, mas isso não dá em nada, já que ele some de novo sem chegar a dar nenhuma informação nova. No fim, a única moça que sobrou consegue ligar para a emergência e chegam a polícia, os bombeiros, a guarda costeira e os escoteiros. E, enquanto ela está sentada no banco de trás de uma viatura esperando para ser levada para casa, fecha os olhos, baixa a cabeça por um instante e, quando a ergue de novo, todos os policiais, paramédicos, bombeiros etc à sua volta desapareceram. Apavorada, ela fica encarando seu próprio reflexo no espelho retrovisor do carro e repetindo para si mesma "não pisque, não pisque". E então sopra um vento que arranca o papel de suas mãos e o carrega para o mar, perdido para sempre ela pisca e some também.

E é por isso que não se deve deixar que crianças de dez anos de idade escrevam e dirijam filmes de suspense.

"Ha! Te peguei!"
© Santos06 | Dreamstime.com - Young Boy Pointing At You Photo

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Cadê o Memento?

Eu tenho seis sobrinhos lindos, inteligentes e fofos que, como toda criança linda, inteligente e fofa, são uma fonte inesgotável de histórias adoráveis e/ou divertidas. Para não me tornar aquela tia chata que só tem um assunto, eu criei uma regra para mim mesma quando estou com meus amigos: tenho direito a só uma história por evento. Não importa se, desde a última vez em que estive com aquele grupo de amigos, meus sobrinhos fizeram duas dúzias de coisas engraçadinhas: se eu estiver com vontade de contar um caso, vou contar só um que eu considerar o melhor de todos e fim de assunto.

Já neste blog, entra quem quer e lê quem quer, então eu posso contar quantos casos eu quiser, sempre que eu quiser. E hoje, conversando sobre nem me lembro mais qual assunto, me lembrei da história do memento.

Uma das minhas sobrinhas (cujo nome será omitido porque ela sabe quem é, mas os colegas de escola, amigos e inimigos não precisam saber a não ser que ela queira contar) tinha na época uns três anos de idade. A família estava reunida na casa da minha irmã (tia dela e mãe de dois meninos) e eu passei por algum motivo no quarto onde as crianças estavam brincando. Minha sobrinha me perguntou então: "Cadê o memento?".

E aí? O que seria "memento"? Pedi pra repetir, tentei adivinhar, tudo em vão. Nem me lembro mais quais palavras usei: o que parece com "memento"? Jumento? Fermento? Já deu pra ver que não passei nem perto, né? A criança ainda tentou ajudar a tia obtusa, dando exemplos: "Memento! Bobô, lolão...". A coisa só piorava.

Nesta hora, meu sobrinho, nem um ano mais velho que a pequena, que estava brincando ali perto, resolveu interferir e resolver a questão de uma vez. Sem nem interromper o que estava fazendo, apontou: "Os instrumentos estão naquela caixa."

E é isso. Memento era instrumento, bobô era tambor e lolão era violão. Simples assim. A criança foi brincar, feliz da vida, e a tia perdeu um pouquinho mais de moral naquele dia por não ser capaz de entender uma coisa tão óbvia.

Memento.
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domingo, 19 de junho de 2016

Moça, Você Não É Minha Irmã

De uns tempos pra cá, têm aparecido na minha linha do tempo do Facebook, através de compartilhamentos, comentários e curtidas de amigos, postagens de algumas páginas das quais até então eu nunca tinha ouvido falar, como "Moça, Você É Machista" e "Moça, Não Sou Obrigada a Ser Feminista", entre outras. Graças a um cuidadoso trabalho de refinamento de conteúdo de minha parte, ocultando uma postagem aqui, bloqueando uma página ali, já não aparece mais tanta bobagem na minha linha do tempo, mas já li o suficiente para considerar necessário explicar que:

1. Aqui não tem sororidade nenhuma, não.

Moças feministas, a gente nem se conhece. Não sei qual é a posição de vocês em relação ao aborto, a pena de morte, a redução da maioridade penal, o impeachment da Dilma ou a cassação do Eduardo Cunha. Aliás, não sei nem se vocês falam "presidente" ou "presidenta". Não sei se vocês furam fila, estacionam na vaga de deficientes sem ter direito, usam carteira de estudante falsificada para pagar meia, seguem a LeiSecaRJ no Twitter pra poder beber e dirigir à vontade. Então, não, não sou irmã de ninguém só porque também tem útero. E digo mais: se tiver os mesmos valores que eu, com ou sem útero, já está aprovado. Me alio alegremente a ele contra o resto do mundo.

2. Empoderada é uma palavra tosca demais.

Empoderada me lembra duas palavras: "empoeirada" e "emparedada". Nenhuma das duas tem uma conotação positiva. Além de ser feia, essa palavra é apenas o aportuguesamento de "empowered", importada dos Estados Unidos; ou melhor, trazida escondida no fundo da mala depois de jogar fora a embalagem e a nota fiscal pra não pagar imposto. Pelo amor de Deus, abre um dicionário e vai aprender uma palavra nova em português ao invés de ficar inventando coisa tosca.

3. Homem se escreve com "H".

Há quem use a palavra "ômi" (ex. "ômi fazendo omice" — meu Deus, acho que perdi uns 5 pontos de QI só por escrever isso!) pra distinguir os homens que são machistas dos que não são, ou homens feministas de falsos feministas, ou... Olha, não interessa. Pára, que tá feio. Todos são homens e o fato de alguns não prestarem não tem absolutamente nada a ver com o cromossomo Y. A humanidade é assim: vem em todos os modelos e cores, variando do santo ao calhorda. E isso vale tanto para homens quanto para mulheres.

Finalmente, encerro esse texto com as palavras do imortal filósofo:

"Enquanto isso, a louça, né? Tá toda na pia."

© Wawritto | Dreamstime.com - Dirty dishes in the sink

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Desembarque Pelo Lado Direito

Na semana passada, eu fui pela primeira vez a um evento da Fábrica das Peças, um grupo que curte jogos de tabuleiro e se reúne às quartas-feiras à noite na praça de alimentação do Shopping Nova América para jogar. Foi ótimo, os organizadores do evento são super simpáticos, um dos criadores do Space Cantina estava lá divulgando o jogo, que é bem legal, e o local é de fácil acesso para quem está perto de uma estação do metrô, já que a saída da estação Del Castilho é ligada diretamente à entrada do shopping. O único detalhe que dificulta um pouco é que, bom, a estação Del Castilho é uma estação da Linha 2, né? E a Linha 2 do Metrô Rio às 19h de um dia de semana... não é exatamente uma alegria. Não é que não dê pra ir: dá, sim. Mas é preciso estar disposto a encarar o metrô cheio e saber que nem sempre vai dar pra entrar no primeiro que passar (se ele estiver estupidamente lotado, é melhor esperar um próximo que venha "só" cheio pra caramba). E eu digo isso não só pelo desconforto que é o metrô estupidamente lotado, mas também pelo fato de que, dependendo da estação na qual você pegar o metrô, pode ser que você entre por uma porta e tenha que desembarcar por outra, do outro lado do vagão. E, se o metrô estiver estupidamente lotado, aquela outra porta que está a dois passos de distância poderia muito bem estar no metrô de Nova York, considerando as suas chances de chegar até ela.

Mesmo em um vagão "só" cheio pra caramba, esse negócio de entrar pela porta do lado esquerdo e sair pela porta do lado direito (ou vice-versa) se torna mais complicado do que precisaria ser pelo fato de que, a não ser que você seja um usuário frequente que já aprendeu qual lado do vagão abre em cada estação, só vai descobrir de que lado vai desembarcar (e, consequentemente, para qual lado do vagão deve ir se dirigindo para estar próximo das portas quando elas se abrirem) quando o metrô já estiver chegando na sua estação. O que tende a ser um problema quando entre você e as referidas portas há 5.256 pessoas que adorariam dar licença pra você se elas ao menos tivessem para onde ir para sair do seu caminho.

"A gente faz assim: a senhora sobe no colo dessa moça simpática de blusa cinza, aí vocês dois, que são magrinhos, sentam juntos lugar dela e o rapaz de azul... Que foi? Por que vocês estão me olhando desse jeito engraçado?"
Hemeroskopion | Dreamstime.com - Crowded Buenos Aires Subway Photo)

Por isso eu resolvi prestar um serviço de utilidade pública e registrar, pelo menos no trajeto Carioca – Del Castilho, de que lado as portas do vagão se abrem em cada estação, para ninguém ter que fazer como eu fiz: ficar bem no meio do vagão até o último instante para só começar a me movimentar quando a gravação anunciou a minha estação.

Carioca: Desembarque pelo lado direito
(Sim, eu sei que a porta também abre do lado esquerdo, mas essa é para o pessoal que vai entrar: a porta abre antes do lado direito justamente para todo mundo poder desembarcar antes de o povo que está na estação começar a entrar, então, colabore, certo?)

Uruguaiana: Desembarque pelo lado direito

Presidente Vargas: Desembarque pelo lado direito

Central: Desembarque pelo lado esquerdo

Cidade Nova: Desembarque pelo lado esquerdo

São Cristóvão: Desembarque pelo lado direito

Maracanã: Desembarque pelo lado esquerdo

Triagem: Desembarque pelo lado direito

Maria da Graça: Desembarque pelo lado direito

Del Castilho: Desembarque pelo lado direito

domingo, 22 de maio de 2016

Procura-se um Amor que Goste de Zumbis

Há uns dez anos atrás, eu assisti uma comédia romântica chamada "Procura-se um Amor que Goste de Cachorros". Logo no início do filme, a protagonista está no mercado querendo comprar um peito de frango, mas o funcionário que a atende fica tentando convencê-la a comprar um frango inteiro, até que ela perde a paciência e exclama que é divorciada e janta sozinha, geralmente em pé e encostada na bancada da pia, portanto não precisa de tanto frango. O funcionário, assustado, pára de tentar contrariar a doida e, dito e feito, a cena seguinte é aquela clássica cena melancólica da moça em pé na cozinha, encostada na bancada da pia e comendo sua refeição solitária. A três passos de distância da mesa de jantar, diga-se de passagem.

Violino para tocar uma música bem triste.
Image courtesy of Pong at FreeDigitalPhotos.net

E aí, vejam só que coisa: eu assisti o filme há tanto tempo, já não me lembro mais de quase nada dele, mas dessa parte eu não esqueci. Pra começo de conversa: de onde vem essa ideia de representar pessoas solitárias fazendo as refeições em pé na cozinha, encostadas na pia? Alguém faz isso na vida real? Qualquer um que já tenha ido a um almoço ou jantar com mais convidados do que lugares à mesa e foi um dos que ficaram sentados no sofá equilibrando o prato sobre os joelhos sabe quão descômodo é; agora imagina fazer isso em pé, segurando o prato com uma mão e um talher com a outra! De cara, não dá pra usar garfo e faca, então comida que precisa ser cortada nem pensar, né? E tudo bem que a etiqueta manda que não se use a faca para ajudar a empurrar a comida mas, convenhamos, se você está comendo em pé na cozinha com o prato na mão a etiqueta já foi pro vinagre faz tempo. Aproveita, inclusive, pra limpar a boca na manga da camisa porque não vai sobrar mão livre pra pegar o guardanapo.

Mas, tudo bem, vamos admitir que essa pobre pessoa solitária é extremamente ágil e tira de letra esse negócio de comer com um talher só enquanto equilibra o prato com a mão esquerda. Ainda assim, por que ficar em pé no meio da cozinha? Por que não sentar, que é mais confortável? Se está em pé pra comer em cima da pia de modo que alguma comida que eventualmente caia do prato não vá parar no chão, será possível que a pessoa está tão desgostosa com a vida que não consegue se animar nem a botar uma toalha na mesa? Ou um jogo americano, ou um pano de prato... até o jornal de ontem serve! Qualquer coisa pra poder apoiar o prato na mesa e usar as duas mãos pra comer.
Outra coisa: por que na cozinha? Criatura, você está sozinha em casa: isso significa que você tem, literalmente, todos os cômodos da casa à sua disposição! Por que jantar na cozinha quando a sala está a alguns passos de distância? Na sala tem televisão, tem mesa com cadeiras, tem sofá, tem um monte de coisas que vão tornar a experiência no mínimo mais confortável. Você pode sentar à mesa de jantar, no sofá, na poltrona ou de pernas cruzadas no chão. Pode comer lendo um livro, jornal ou revista de fofoca, vendo televisão ou navegando na Internet. Pode comer de pijama, de roupão, com seu vestido de casamento ou com fantasia de Branca de Neve. Não tem ninguém em casa pra te julgar. Se você faz tanta questão de incorporar um estereótipo forever alone, pelo menos escolhe um mais confortável: ao invés de comer em pé ao lado da pia, vai comer pizza esparramada no sofá de pijama e vendo televisão.

"Às vezes eu me pergunto se sou um fracasso. Aí lembro que tem gente que come em pé na cozinha."
© Erwinova | Dreamstime.com - Eating Pizza Photo

Enfim, avança o filme, chegamos no fim da estória: a moça, agora com namorado, volta ao mercado e o mesmo funcionário, reconhecendo-a, pergunta: "Um peito de frango?". E ela, sorridente e enroscada com o seu novo amor, responde que não: desta vez vai querer três frangos inteiros, seis costelas de porco e um pernil de cordeiro. Porque... amar dá fome? Muita fome? Muita, muita fome? Porque, veja bem: antes, um frango inteiro era demais só pra ela e agora os dois juntos dão conta de mais de dez vezes essa quantidade de carne. E isso considerando que ele coma na casa dela todo dia. Que sexo selvagem é esse que esses dois estão fazendo pra dar essa fome toda?

Pode ser também que eles agora, como casal, comecem a oferecer vários jantares que antes ela não podia dar porque... sei lá, não tinha amigos? De repente ela não arrumou só um namorado: adquiriu um combo que vem com namorado, amigos e um freezer pra guardar essa carne toda. Pode ser, né?

Bom, é isso: só queria compartilhar a minha perplexidade e deixar registrado que eu gosto de cachorro, mas, se só puder escolher uma coisa, prefiro um amor que goste de jogar Zombicide.