domingo, 9 de abril de 2017

Geografia de Uma História de Amor

Há algum tempo alguém compartilhou no Facebook um artigo que continha uma série de estatísticas sobre livros, mais especificamente sobre o perfil dos autores em relação ao perfil dos leitores. O artigo falava sobre mulheres lendo livros escritos por homens e negros lendo livros escritos por brancos e nessa altura eu comecei a perder o interesse porque eu adoro ler e não tenho a menor intenção de deixar que essas picuinhas de "nós x eles" se intrometam em uma atividade que me faz tão feliz.

Alguns homens escrevem livros maravilhosos e algumas mulheres escrevem livros maravilhosos. Pessoas de todas as etnias, nacionalidades, culturas e religiões escrevem livros maravilhosos e, se eu não posso ler todos, quero pelo menos ler o maior número possível deles. Ao invés de reclamar que este ou aquele grupo não recebe a devida atenção, é muito mais eficaz dar a devida atenção a essas pessoas incríveis e à sua capacidade de nos transportar para outros universos e nos fazer sonhar, rir e chorar.

Por outro lado, eu adoro gráficos, estatísticas e qualquer outra forma que números assumam. E essa história toda me deu a ideia de começar a cadastrar os livros que li, pela curiosidade de ver o que isso mostraria. E aí, pra ficar ainda mais legal, eu descobri que o Google Drive tem uma opção incrível de gráfico chamada "Mapa", que colore os países de acordo com a sua pontuação. Por exemplo, no mapa abaixo os países cujos escritores foram mais lidos por mim são os de verde mais escuro, depois os de tons mais claros de verde, amarelo, vermelho claro até chegar ao vermelho escuro.

Se funcionar tudo direitinho, este mapa deve ir sendo atualizado automaticamente à medida que eu for cadastrando mais livros e autores, assim como o gráfico abaixo dele, onde os autores estão separados por sexo. Eu cheguei a considerar brevemente a ideia de separar por etnia, mas logo percebi que, além de dar uma trabalheira infernal para colher a informação, a proposta é impraticável. Nem os especialistas da área se entendem quanto a isso, eu é que não vou me meter a mexer nesse vespeiro.

Então, é isso: a separação é por nacionalidade, ficando negros e brancos, filhos de imigrantes de primeira, segunda e enésima geração todos no mesmo grupo, e para quem não gostar eu posso fornecer os dados brutos e estejam à vontade para criar seus próprios gráficos a partir deles.

Este é, portanto, o mapa da minha história de amor com a palavra escrita. É um trabalho em andamento e não pretendo que termine nunca. Ainda não terminei nem de cadastrar os livros passados, e os futuros vão continuar vindo.

ATENÇÃO: Alerta de recomendação de livros maravilhosos à frente. De nada.

Já neste resultado parcial, algumas coisas interessantes (pra mim) vieram à tona. Por exemplo, que Morris West, autor de, entre outros, A Filha do SilêncioO Advogado do Diabo, não era americano como eu pensava e sim australiano. Que, apesar de algumas experiências tão ruins com a literatura indiana que me levaram a achar que eu não gostava de nenhum livro de lá, eu já li, sim, alguns livros de autores indianos dos quais eu gostei muito, como O Tigre Branco, A Doçura do MundoUm Lugar Para Todos. Descobri ainda que a Condessa de Ségur, autora de uma coleção de livros infantis que eu adorava quando era criança, não era francesa, mas russa e casada com um conde francês (daí o de Ségur) e que Maria Gripe, autora de Josefina, outro livro infantil, era, imaginem só, sueca.

O fato de que a maioria dos livros que eu já li até hoje foi escrita por americanos, britânicos e brasileiros não me surpreendeu considerando que essas três nacionalidades representam a maioria esmagadora do que chega às livrarias brasileiras. Neste aspecto os leitores digitais representam uma virada de jogo formidável: apesar de ainda ser preciso esperar pela tradução dos livros, só pelo fato de serem removidos da equação os custos de produção, transporte e armazenamento do livro físico já ficou muito mais fácil para o leitor ter acesso às obras de escritores fantásticos como o israelense Etgar Keret (De Repente, Uma Batida na Porta, Sete Anos Bons), a malaia Yangsze Choo (A Noiva Fantasma), os alemães Sascha Arango (A Verdade e Outras Mentiras) e Frank Schatzing (O Cardume), a sueca Katarina Bivald (A Livraria dos Finais Felizes), o suíço Joël Dicker (O Livro dos Baltimore, A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert), a japonesa Natsuo Kirino (Grotescas, Do Outro Lado) e a chinesa Xinran (As Filhas Sem Nome).