segunda-feira, 25 de julho de 2016

Pipoca Para os Pombos

Mais uma história da série "Meus Sobrinhos São Uma Peça".

Meu sobrinho sempre adorou pipoca, desde pequenininho. Mas, sendo pequenininho, ao ir pela rua comendo pipoca muitas vezes deixava cair um pouco no chão. Para evitar que ele catasse a pipoca do chão e comesse, minha irmã sempre dizia: "Deixa, essa fica pro pombo comer".

Um belo dia, quando ele tinha uns três ou quatro anos de idade (não mais do que isso porque o irmão mais novo ainda não vinha para o parque com a gente), estávamos eu e minha mãe com ele no Parque Museu da República. Lá pelas tantas ele pediu pipoca e nós compramos, só que nesse dia ele tropeçou e deixou cair não algumas pipocas, mas o saco mesmo no chão.

A criança olhou daquele monte de pipoca no chão (o saco ainda estava pela metade quando o acidente aconteceu) para uns pombos que estavam ali por perto fazendo seja lá o que for que os pombos fazem em suas horas vagas e, sem titubear, chamou:

— Pombo! Almoço!

Os pombos, para surpresa de ninguém exceto o menino, nem olharam para o lado dele e continuaram cuidando da própria vida. Vendo aquilo, meu sobrinho pensou um pouco e concluiu:

— Eles não estão entendo porque eu não estou falando a língua deles.

E, mudando com fluência de português para pombês, chamou de novo:

— Ruurrrr, rurr, ruuurr!

O melhor de tudo foi que justamente nessa hora os pombos resolveram se interessar pela pipoca e voaram pra lá, deixando a criança empolgadíssima com a convicção de que sabia se comunicar com os animais.

"O sotaque é forte, mas a gramática é impecável."
Image cortesy of FidlerJanMorguefile

domingo, 24 de julho de 2016

Stranger Things Ep. 0101

Hoje assisti o primeiro capítulo de Stranger Things. Como é uma serie da Netflix e, consequentemente, todos os episódios da temporada já estão disponíveis, vou ter que correr para alcançar os amigos que já começaram a assistir, sob o risco de escutar um eventual spoiler deixado escapar no meio de uma conversa. Mas a vida é assim.

Em primeiro lugar, quero deixar claro que este não é um resumo do episódio, nem uma crítica, nem muito menos uma transcrição. São apenas alguns comentários que eu tive vontade de registrar no blog. Alegrias de ser a dona do blog: posso publicar qualquer bobagem que eu quiser. Ou seja, se você não assistiu o episódio, este post não vai te ajudar em nada no sentido de saber o que aconteceu.

Dito isso, informo que até nova ordem qualquer criatura humanoide não identificada que aparecer no seriado se chama Demogorgon (pronuncia-se "demogórgon", de nada) em homenagem ao monstro que apareceu no RPG que os meninos estavam jogando no início do episódio e que pegou o personagem do Will no jogo.

Sobre a cena inicial no laboratório: eu a-do-ro cena em que a pessoa entra correndo no elevador fugindo de alguma coisa que ainda não está à vista da câmera e passam-se aqueles segundos tensos em que a pessoa já apertou o botão, mas a porta do elevador ainda não fechou. A câmera fica mostrando só o ponto de vista dessa pessoa, olhando de dentro do elevador para o corredor do lado de fora e torcendo para a porta do elevador fechar a tempo, antes que seja lá o que for que a estava perseguindo apareça e a alcance. Não estou sendo sarcástica, não: esse tipo de cena funciona super bem pra mim. Ponto pro seriado por ter incluído uma logo no primeiro episódio.

Corta para a cena em que o Will chega em casa, fugindo do Demogorgon (de verdade, não do RPG), espia pela janela e vê o Demogorgon chegando: tive que voltar a cena duas vezes para poder enxergar o que ele tinha visto. Fica a dica para quem não quis voltar o filme ou voltou e mesmo assim não enxergou nada: a silhueta do Demogorgon vindo em direção à casa é visível no espaço entre as roupas penduradas no varal em frente à janela.

Durante a abertura da série, a música me lembrou a da abertura de Arquivo X. Não a melodia principal, mas aquela [guitarra? baixo? sei lá] de fundo. E aquele logo eu tenho certeza absoluta que me lembra o de algum outro seriado, mas não consigo por nada no mundo me lembrar qual é. Quando lembrar, atualizo aqui.

Coisas acontecem, mais coisas acontecem e aí chegamos à cena em que a Nancy e o Steve estão se agarrando no banheiro. E eu sei que isso não é relevante para a estória nem nada, mas durante toda a cena eu não conseguia parar de pensar que: (1) é difícil pensar em um lugar menos romântico/sexy do que um banheiro público e (2) eles estavam no banheiro feminino ou masculino? De um modo ou de outro, uns dos dois teve que dar um jeito de, num corredor cheio de alunos indo de lá pra cá, entrar no banheiro do sexo oposto sem chamar atenção. E torcer pra não entrar ninguém enquanto os dois estavam lá. Em suma, por que eles tinham que ficar ali e não no corredor, no pátio, no estacionamento, na quadra de esportes, em qualquer ambiente unissex, ou seja, em absolutamente qualquer outro lugar da escola?

Mas que seja: vamos em frente. Mais tarde, na delegacia, a Flo informa o xerife sobre o roubo dos anões de jardim primeiro para só depois dizer que há uma criança desaparecida. Sério, Flo?

"Prioridades."
© Fotoember | Dreamstime.com - Garden Gnomes In A Garden Of A House At Engelberg Photo

E, finalmente, na cena do jantar, tudo bem a mãe do Will se irritar com o marido e levantar da mesa deixando o prato pela metade, mas, minha senhora, precisava carregar a criança junto? O prato da Holly ainda estava cheio que eu vi.

E são esses os meus comentários: eu avisei que era só bobagem. Muito obrigada pela atenção de todos.

sábado, 16 de julho de 2016

Esmalte Rosa Clarinho

Diálogo real ocorrido na semana passada em um salão de beleza no Centro do Rio. Deixei para marcar hora na manicure muito em cima da hora, por isso a profissional que sempre me atende não tinha mais horário vago e eu precisei ir a outro salão na hora do almoço.

Manicure: Que cor você vai querer?

Eu: Algum rosa clarinho.

Manicure: Nude?

Não, rapazes, a manicure não estava me propondo enviar fotos dela nua: Nude é uma cor de esmalte que é quase cor de pele, dando a impressão de que a unha está "nua", sem esmalte.

Eu: Não, rosa.

Manicure: Rosa forte?

Eu: Não, forte não.

Manicure: Bege?

Eu: Não, rosa.

Manicure (já impaciente): Tá, mas que tom de rosa?

Eu: Clarinho.

Manicure: Transparente?

Eu: É.
(nem precisava ser transparente, mas achei melhor concordar antes que ela me oferecesse um Pink Vigarista — sim, existe essa cor de esmalte)

Manicure (me mostrando um esmalte rosa claro, opaco): Esse?

Eu (só querendo que aquilo acabasse pra eu poder ir almoçar): Sim!

Fica aqui, então, a dica para os que, como essa manicure, têm dificuldade com o conceito de "esmalte rosa clarinho". É rosa. E é clarinho.

Espero ter ajudado.

domingo, 3 de julho de 2016

A Outra Televisão

Há um mês atrás, a televisão da sala pifou e foi preciso comprar outra. Depois de pesquisar os preços na Internet, optamos por um modelo da Samsung à venda no site das Casas Bahia, onde tudo correu muito bem até a hora de pagar: após informar os dados do cartão de crédito e tentar concluir a transação, foi exibida uma mensagem dizendo que o número do cartão era inválido. Digita de novo, tenta outro cartão, mesma mensagem: "Número do cartão inválido". Lá pela quarta ou quinta tentativa, já no terceiro cartão de crédito, desisti. Encontrei o mesmo modelo praticamente pelo mesmo preço no site do Shoptime, fiz a compra sem maiores incidentes e não pensei mais no assunto.

Ou melhor, não pensei mais no assunto até aparecerem duas cobranças na fatura do cartão de crédito, uma de cada loja. Surpresa, fui vasculhar a caixa de entrada do Gmail e, realmente, perdida no meio de anúncios da coleção outono de lojas em que fiz compras uma vez há dez anos atrás, códigos de desconto de restaurantes e e-mails de recuperação de senha estava um e-mail das Casas Bahia informando que meu pagamento tinha sido aprovado, com número do cartão inválido e tudo.

"Esse conceito de número de cartão de crédito válido ou inválido é uma imposição da sociedade patriarcal, opressora e heteronormativa. Nós, das Casas Bahia, acreditamos que quem decide se o número é válido ou não é o próprio cartão de crédito."

Liguei, então, para as Casas Bahia e expliquei o que tinha acontecido. Trabalhando com TI há mais ou menos 5.268 anos, não fiquei exatamente surpresa quando a atendente me disse que, no sistema que ela estava consultando, o pedido ainda estava em aprovação de crédito. Como em qualquer empresa tipicamente zoneada, que acha que avanço tecnológico se mede pela quantidade de sistemas utilizados e não pela integração e qualidade dos ditos sistemas, é claro que a informação sobre a minha [tentativa de] compra estava espalhada e replicada em mais de um sistema. O sistema que enviou o e-mail de confirmação informando que o meu pedido tinha sido aprovado não é o mesmo sistema que o pessoal do atendimento consulta, os dois sistemas lêem a mesma informação em locais diferentes e, quando o sistema de vendas online deu seja qual for a pane que deu quando exibiu a mensagem de número do cartão inválido, foram gravados dois valores diferentes para a mesma informação.

O que me irritou realmente foi aquela resposta padrão que as centrais de atendimento gostam de usar pra ver se o cliente desiste e pára de encher o saco deles: a senhora liga de novo daqui a alguns dias pra ver se o status do pedido no sistema mudou para aí, sim, cancelar o pedido. Essa resposta é prima daquela outra: "O sistema está fora do ar; ligue novamente mais tarde".

Então, só pra esclarecer: eu ligo mais tarde para o mesmo número, para falar com um dos muitos atendentes intercambiáveis, e dizer a mesma coisa que eu já falei para o atendente atual. A única diferença é o que o atendente em questão vai fazer com a informação que eu dei. Já deu pra entender onde está o problema? Não haveria necessidade de eu repetir a minha parte da interação ipsis litteris se o processo de atendimento simplesmente contemplasse o fato de que existe vida fora do sistema. Bastaria o processo prever a possibilidade de a atendente registrar tudo o que eu disse em um campo de texto livre no sistema, no Bloco de Notas do Windows ou em uma folha de papel almaço e, assim que fosse possível, cancelar o pedido ou encaminhar a solicitação para o setor responsável.

"Olha a requisição do cliente chegando!"
© Shannon Fagan | Dreamstime.com - Hand holding paper airplane in office

Tanto reclamei que a atendente transferiu a ligação para a supervisora, que continuou repetindo a mesma ladainha até a hora em que eu ameacei colocar as Casas Bahia na justiça se aquela cobrança não sumisse da fatura do cartão de crédito antes da data de vencimento do cartão. Aí ela lembrou que há um endereço de e-mail para o qual eu podia encaminhar a fatura do cartão com a cobrança indevida. Que moça prestativa, né? Um pouco esquecida, é verdade, mas nada que uma menção a um processo judicial não resolva.

"Eu amo nossos clientes! <3 <3 <3"
Image courtesy of stockimages @ FreeDigitalPhotos.net

Alguns minutos depois, sem nem esperar que eu mandasse o e-mail, já me enviaram um e-mail me lembrando do procedimento pra cancelar a compra. Sabe como é, pra não correr o risco de eu esquecer e, distraidamente, ligar para o PROCON.

Me senti amada.

Já que eles tinham pedido com tanta educação, enviei a fatura do cartão e contei a história toda de novo, incluindo o número do pedido, o protocolo de atendimento da ligação e os nomes da atendente e da supervisora com quem tinha falado. Avisei a todo mundo em casa e ao porteiro do prédio para não receber nenhum pacote que as Casas Bahia entregassem, minha mãe notificou a administradora do cartão de crédito (tínhamos feito a compra no cartão dela) e tudo foi resolvido. Certo? Claro! As Casas Bahia me garantiram que sim!

Ele fez o sinal de polegar pra cima. Ninguém mentiria fazendo o sinal de polegar pra cima.

Pela quantidade de erros de português da mensagem, fica claro que ela foi escrita por um ser humano. Um ser humano que ficou de recuperação e passou com média mínima em Português em todos os anos de sua vida escolar até eventualmente abandonar os estudos, mas, ainda assim, um ser humano. Ou seja, alguém nas Casas Bahia leu a minha mensagem e está ciente da situação.

Algumas horas depois de este e-mail chegar, chegou também a televisão das Casas Bahia, mas eles já tinham avisado que ela estava com a transportadora e que era só não receber a entrega, então, tudo sob controle, né? Não aceitamos a televisão das Casas Bahia, no dia seguinte a do Shoptime chegou, tudo em paz no céu e na terra.

Até que, uma semana depois, este e-mail chegou.


Então, deixa eu ver se eu entendi. No dia 30/05, o pedido já estava com a transportadora. Mesmo que eu não acredite na palavra do baianinho do terceiro e-mail, o fato é que o pedido já tinha saído do depósito, já que tentaram entregar aqui em casa. Por outro lado, de acordo com este quarto e-mail que as Casas Bahia enviaram, foi só no dia 05/06 que a televisão foi embalada e encaminhada para a transportadora junto com uma versão impressa da nota fiscal. Então, se ela não estava com a transportadora no dia 30, quem foi que bateu na porta da minha casa com uma televisão de 48 polegadas debaixo do braço???

"A fada das televisões, boba! Quem mais poderia ser?"
© Kapu | Dreamstime.com - Fairy Photo

Vamos ao site das Casas Bahia resolver esse mistério consultando o histórico do suposto pedido da televisão. O desempate vai ser feito pela data que estiver lá.

Ah, droga.

Certo. A nota fiscal, então foi emitida no dia 26/05 e a televisão já estava com a transportadora no dia 27. Ainda assim, a tentativa de entrega feita no dia 30 aparentemente não foi feita pelas Casas Bahia, que só foi fazer a sua tentativa dois dias depois, em 01/06: puxa vida, se eu soubesse que no dia 30 era a fada das televisões, tinha recebido!

Na mesma data e hora (05/06/2016 20:49) do e-mail da nota fiscal chegaram também duas cópias do e-mail abaixo, me convencendo de vez que as Casas Bahia operam em uma fenda no continuum espaço-tempo.


É isso aí. No dia 05/06 o pedido foi coletado pela transportadora para chegar até o dia 01/06. Nada de estranho aí.

Enfim, datas à parte, a televisão nova já estava instalada e funcionando e o pagamento das Casas Bahia já tinha sido removido do cartão de crédito, então deixei pra lá e fui cuidar da minha vida. Até que...

"Dificuldades na região da entrega." "Bem, na verdade o cliente se recusou a receber o produto." "Tecnicamente, a recusa em receber o produto ocorreu na região da entrega. E foi uma dificuldade, certo?" "Sim." "Dificuldades na região de entrega." 

Lembra daquele pessoal super simpático do Serviço de Atendimento ao Cliente? Que me mandou um e-mail no dia 30/05 dizendo que bastava eu me recusar a receber o produto para que ele fosse devolvido ao centro de distribuição, a recusa de recebimento, registrada e o pagamento, estornado? Que disse, no mesmo e-mail, que se eu estivesse satisfeita com a resolução do meu contato não era necessário responder ao e-mail pois o atendimento seria finalizado automaticamente? Pois é.

Esse e-mail, por sinal, foi enviado não uma vez, mas duas. E mais recentemente, na semana passada, ligaram aqui pra casa, mas num horário em que eu não estava em casa. Também recebi duas ligações no celular que caíram quando eu atendi e que podem ou não ter sido das Casas Bahia, tentando a todo custo me fazer receber a bendita televisão.

Não sei quanto a vocês, mas para mim aquele slogan "Dedicação total a você" está adquirindo um tom menos de comprometimento com a satisfação do cliente e mais de ex obcecado com você que não aceita que a relação acabou.

"Bom dia! Viemos entregar a televisão."
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