domingo, 17 de novembro de 2013

Purê de Banana da Terra

O melhor purê de banana da terra que eu já comi é o do restaurante da Livraria da Travessa de Ipanema. Ainda não consegui fazer igual, mas, pesquisando e misturando receitas na Internet, consigo fazer um purê de banana da terra que eu acho bem gostoso.

Esta receita é uma mistura de uma receita que peguei no Cybercook com outra que encontrei no Tudo Gostoso.

Ingredientes:
  • 3 bananas da terra maduras
  • 200g de creme de leite
  • 100g de queijo parmesão ralado
  • 1 colher (de café) de sal
  • 1 colher (de café) de pimenta branca (mas já fiz com pimenta do reino e funcionou também)

Preparo:
  1. Picar as bananas em rodelas.
  2. Cozinhar as bananas em fogo médio, acrescentando água aos poucos pra ajudar a amolecer e a não queimar.
  3. Quando as bananas estiverem desmanchando (pode ir ajudando a desmanchar, amassando com uma colher de madeira enquanto elas cozinham), acrescentar o creme de leite, o queijo ralado, o sal e a pimenta.
  4. Misture tudo até o purê ficar com uma aparência homogênea. Se achar que ele ficou muito mole, lembre que a consistência ainda vai engrossar um pouco depois que você tirar do fogo.
  5. Antes de tirar o purê do fogo, pode provar um tiquinho para ver se está a seu gosto ou se você ainda quer acrescentar um pouquinho de sal, pimenta ou queijo. Se as bananas não estiverem maduras o suficiente, você pode até acrescentar uma pitada ou duas de açúcar.

Recomendo servir com um filé bem temperado para combinar o gosto puxado para o doce do purê com o salgado da carne.

sábado, 16 de novembro de 2013

A Entidade

Hoje estou assistindo "A Entidade", um filme até agora bastante assustador (tanto que estou escrevendo no blog para manter meus olhos afastados da tela). A história, até agora, é a seguinte: uma família composta de pai, mãe e dois filhos se muda para uma casa onde recentemente ocorreu um crime ainda não resolvido pela polícia, porque o pai (Ellison) é um escritor especializado em crimes não solucionados. Infelizmente, depois do sucesso estrondoso do primeiro livro, no qual ele descobriu pistas que a polícia tinha deixado passar, Ellison não deu muita sorte com os dois casos seguintes. O xerife, que passa para uma visita civilizada mas nada amigável no dia da mudança, comenta inclusive que um dos livros dele prejudicou a investigação, possibilitando a fuga do criminoso. A esposa de Ellison (Tracy) também não está particularmente empolgada com esses projetos (leia-se: já avisou que se eles tiverem problemas nesta cidade como tiveram em outras onde ele foi para escrever, ela pega as crianças e vai para a casa da irmã). Ela pergunta a Ellison se essa casa para onde eles se mudaram é a mesma onde o crime ocorreu e ele mente que não. Beleza de casamento, construído sobre uma base sólida de mentiras que podem ser descobertas na primeira conversa com os vizinhos.

Logo na primeira noite, Ellison demonstra suas qualidades de pai de família exemplar quando encontra no sótão da nova casa primeiro um escorpião (que ele mata) e depois uma caixa contendo a filmagem do assassinato de quatro dos cinco moradores anteriores (uma das meninas ainda está desaparecida) e não pega a mulher e as crianças e dá o fora dali. Em primeiro lugar, o escorpião: onde há um, pode haver outros e amanhã pode ser a sua filha pequena, e não você, a encontrar um deles. Em segundo lugar: droga, Ellison, como é que você acha que os filmes entraram na casa? O sótão estava vazio com exceção da caixa com as fitas, a polícia teria visto quando encontraram os corpos se o assassino tivesse deixado os filmes na casa no mesmo dia em que cometeu o crime. Entendeu ou quer que eu desenhe?


São várias fitas em formato Super 8 e cada uma começa com um vídeo caseiro mostrando um momento de lazer de uma família com dois ou três filhos e termina com o assassinato de todos os membros da família (menos uma das crianças: em cada família fica faltando uma criança). Ellison chega a pegar o telefone para ligar para a polícia, mas pensa no seu primeiro (e único) best-seller e decide resolver sozinho o mistério do assassino serial de famílias com dois ou três filhos na mesma faixa etária dos seus. Um plano bom desses não tem como dar errado, né?

Ao mesmo tempo, o filho mais velho (Trevor, 12 anos) começa a sofrer de novo dos terrores noturnos que o afligiam quando era mais novo. Ellison, em suas andanças pela casa de madrugada, encontra algumas vezes o garoto bem no meio de uma crise. Ainda não ficou claro se isso vai ser relevante para a trama ou se é só um artifício para produzir mais sustos durante o filme.

Lá pela terceira fita, Ellison nota uma figura que aparece em todos os filmes, que é algo entre o assassino do filme "Pânico" e V, de "V de Vingança". Ele começa a filmar a imagem da projeção das fitas para poder usar aqueles recursos super ultra mega modernos de edição de vídeo que os computadores têm nos filmes, como pausar e ampliar a imagem de uma cena filmada em um ambiente escuro e alterar a luz e o contraste até conseguir ler o título de um livro largado no canto da imagem. Só coisa trivial, do tipo que dá pra fazer com o Windows Media Player.

No meio da brincadeira, ele começa a escutar ruídos de coisas pesadas se movimentando no sótão, todas as luzes da casa se apagam e, como ele possui um super computador com recursos de edição de vídeo que beiram a magia mas aparentemente não tem lanterna em casa, Ellison vai investigar a origem do barulho iluminando o caminho com a luz do flash do celular.

No sótão, Ellison encontra a tampa da caixa das fitas e, debaixo dela, uma cobra. Ao contrário do escorpião, a cobra entra por uma fresta na parede antes que ele consiga matá-la, mas longe dos olhos, longe do coração: no instante em que a cobra está fora de vista, Ellison deixa ela pra lá e vai investigar os desenhos na parte de dentro da tampa da caixa. Os desenhos representam cada um dos assassinatos que estão nas fitas, com direito a legenda com o nome de cada vítima e de um personagem sempre identificado como Bicho-Papão. Escutando mais barulhos, Ellison larga a tampa e vai investigar a outra extremidade do sótão, mas no meio do caminho o chão cede debaixo dos seus pés e ele vai cair no andar de baixo. Sempre muito profissional, Ellison ainda tem tempo de virar a câmera do celular em sua direção e não a solta nem enquanto está se agarrando à borda do buraco no chão do sótão, lutando para não cair.

Corta para: Tracy olhando enquanto um paramédico termina de enfaixar a perna do Ellison e informa que o sangramento parou, mas que ele devia ir para o hospital para ver se vai precisar de pontos. Ellison, muito macho, não quer ir para hospital nenhum; assim, enquanto Tracy leva o paramédico até a porta, o policial que veio junto com ele vai com Ellison olhar o buraco pelo qual ele caiu do sótão. Eles falam sobre o escorpião que ele encontrou no primeiro dia, o policial aventa a possibilidade de o que ele escutou terem sido esquilos (gigantescos esquilos mutantes, aparentemente), nenhum dos dois vai até o sótão de onde o barulho efetivamente veio, e o policial, antes de ir embora, confessa que é fanzaço do Ellison e pede um autógrafo. Ele também comenta que em todos os livros do Ellison sempre tem um agradecimento "ao policial Fulano de Tal, da polícia local" pela sua ajuda, e se oferece para ser o "policial Fulano de Tal" da investigação atual, por isso Ellison pede para ele descobrir o que puder sobre os crimes cujas fitas ele encontrou. O policial Fulano de Tal topa fazer isso (escondido do seu chefe) e vai embora feliz da vida deixando Ellison e sua família na casa com cobras e escorpiões no sótão e visitada ocasionalmente por um maníaco assassino.

Alguns dias depois, Ellison está no seu escritório, trabalhando no computador com várias janelas abertas, inclusive uma que mostra a imagem congelada de um dos vídeos ampliada para mostrar o tal mascarado misterioso, quando o policial Fulano de Tal telefona com a informação que ele pediu. Enquanto Ellison está distraído olhando para o outro lado, a imagem do mascarado se mexe na tela e olha diretamente pra ele, mas, quando Ellison se vira de novo para tela, já voltou para sua posição original. Momento sem susto, mas bastante assustador. Em seguida, Ellison muda o foco para outra janela, mostrando o vídeo que ele gravou de si mesmo quando estava caindo do sótão para o andar de baixo e desta vez, em câmera lenta, consegue ver várias mãos pequenas (do tamanho de mãos de crianças, agora que eu penso nisso) agarrando-o e puxando-o para baixo. Ellison leva um baita susto e baixa a tampa no notebook de um golpe só, mas isso não o impede de passar mais uma noite com a família nessa casa.

E aqui eu preciso enfatizar: este NÃO é um daqueles filmes de terror em que as pessoas estão isoladas em uma casa no meio do nada, todos os carros estão quebrados e os celulares não funcionam. Nada impede Ellison de pegar a família e dar o fora dali na hora em que ele quiser: inclusive, uma das coisas que é dita logo no início do filme é que eles estão apertados de dinheiro justamente porque ainda não conseguiram vender a casa anterior, então não é como se eles não tivessem para onde ir.

Mais tarde, naquela noite (ou em outra, não dá para saber), Ellison acorda no meio da noite e encontra no seu escritório o filme do assassinato mais recente sendo projetado na tela em formato Super 8 e simultaneamente sendo exibido na tela do seu computador na versão digital. Finalmente convencido de que tem alguma coisa muito errada acontecendo ali, Ellison volta para o quarto, acorda Tracy, juntos eles tiram as crianças da cama, colocam tudo o que dá para carregar no porta-malas do carro e vão passar a noite em um hotel enquanto resolvem o que fazer... aha, brincadeirinha! Claro que não! Ele desliga o projetor e o vídeo e, enquanto está olhando pela janela, pensativo, vê alguém ou alguma coisa espreitando do meio dos arbustos no jardim. Ou, pelo menos, pensa que vê: quando ele esfrega os olhos e olha de novo, não há mais nada lá. Nosso herói então se arma com... huahahuahuaha, peraí, desculpa, me engasguei. Ele se arma com um... hahahuaha, não, sério, eu consigo fazer isso! Ele... hahuahuahahua, tá, tudo bem, agora vai: ele se arma com seu incrível Bastão de Beisebol e sai para o jardim às escuras procurar o serial killer que talvez esteja espreitando em algum lugar lá fora. Ah, mas olha só, dessa vez ele achou a lanterna! Puxa, me sinto muito mais tranquila agora.

Quando ele chega lá, alarme falso: era só o Trevor tendo outra das suas crises de terrores noturnos. Gente, assassinos maníacos à parte, vamos começar a trancar as portas dessa casa à noite antes que esse garoto sofra um acidente?

Depois de deixar o Trevor com a mãe, Ellison dá uma desculpa pra voltar lá fora e pegar o bastão de beisebol, já que ele continua não querendo contar para ela as coisas estranhas que têm acontecido. Ou talvez porque caiu em si e percebeu o ridículo que foi levar um bastão de beisebol para se defender de um cara que já imobilizou e matou cinco famílias... Enfim: lá fora, junto ao seu bastão Ellison dá de cara com um cachorro saído Deus sabe de onde rosnando para ele. Enquanto tenta alcançar o bastão sem provocar o cachorro a atacá-lo, ele não nota os cinco vultos infantis que estão atrás dele. Já o cachorro aparentemente os vê e, bem mais esperto que Ellison, dá meia volta e cai fora dali. Os vultos desaparecem antes que Ellison os veja e ele volta para dentro de casa e para Tracy, que, mesmo não sabendo metade do que ele sabe, implora para que ele desista do livro e saia daquela casa com a família. Ellison, no entanto, não quer nem ouvir falar de desistir do livro, que ele insiste que vai ser genial, muito melhor do que o seu outro grande sucesso, e não para de falar de best-sellers, de prêmios e de essa ser a sua grande chance, e me lembra um pouco Jack Torrance em "O Iluminado", exceto pelo fato de que eles NÃO estão isolados do resto do mundo em um hotel deserto isolado pela neve, e Ellison poderia perfeitamente despachar a família para algum lugar seguro e continuar escrevendo de um motel se ele faz tanta questão assim de continuar a porcaria do livro.

Tracy finalmente, concorda, chorosa, e dali a alguns dias o policial Fulano de Tal volta trazendo mais informação sobre os crimes. Ele e Ellison conversam sobre a possibilidade de estarem lidando com um serial killer: dado o espaço de tempo entre os crimes, o assassino teria que ter atualmente pelo menos sessenta e poucos anos, mas Ellison aponta o fato de que todas as vítimas, embora estivessem conscientes no momento da morte, primeiro foram drogadas e imobilizadas. Assim, raciocina ele, o assassino pode muito bem ser alguém bem mais fraco do que as suas vítimas, como uma pessoa idosa. Ou, acrescento eu, uma criança.

Ele mostra ainda ao policial Fulano de Tal as fotos de alguns símbolos encontrados nos locais dos crimes e este sugere que ele converse com um professor universitário que costuma atuar como consultor da polícia na investigação de crimes com elementos de ocultismo.

Durante a conversa (via Skype ou assemelhado) entre Ellison e o Professor Jonas, eu meio que estava esperando que alguém aparecesse e matasse o professor durante a conversa, por isso confesso que levei um susto quando alguém passou por trás dele na tela (uma assistente ou esposa, aparentemente). Uma variação interessante e bem mais sutil e elegante do gato que pula de repente de dentro do armário.

Resumo da conversa entre os dois: o símbolo que Ellison viu no local dos crimes é o símbolo de uma divindade da antiga Babilônia: Bughuul, o devorador de crianças. Ainda bem que você não tem nenhuma criança na casa, né, Ellison? Ellison?

A seguir: mais uma noite em que Ellison acorda para encontrar o filme do assassinato mais recente sendo projetado no escritório vazio. Desta vez, ele não perde tempo e pega logo seu cobertorzinho, ahn, quer dizer, bastão de beisebol e sai pela casa investigando, mas não percebe que a casa está pululando de crianças-zumbis que se escondem sempre que ele se vira para olhar. Ao voltar para o escritório e encontrar ligado o projetor que ele acabou de desligar, Ellison vai de quarto em quarto checar como estão os filhos, e faz isso tão bem que nem percebe que na parede do quarto da filha caçula estão pintados a mesma cena de assassinato que passa sem parar no escritório e o rosto do assassino/Bicho-Papão/Bughuul. Não percebe também que, embora a menina (Ashley) esteja deitada na cama com as costas voltadas para a porta, ela está bem acordada e bem apavorada, olhando para a menina-zumbi que está sentada no chão do quarto colocando os dedos sobre os lábios como quem pede silêncio.

Ellison então, demonstrando que está finalmente começando a levar a situação a sério, confere as trancas das portas e janelas da casa, senta no sofá com o bastão de beisebol no colo e... pega no sono, só acordando no dia seguinte, com a luz do sol entrando pela janela. E eu até ia fazer mais um comentário sarcástico sobre isso, mas não pausei o filme e, enquanto eu digitava isso começou a cena seguinte, na qual o policial Fulano de Tal tem seu momento de glória no filme, com uma fala que merece ser imortalizada neste blog (tanto que agora, sim, pausei o filme para transcrever a cena com calma).

Ellison o chama para ir novamente até a sua casa e começa a sondar se alguém alguma vez comentou algum comportamento estranho dos moradores anteriores da casa. O policial Fulano de Tal percebe que está acontecendo alguma coisa que Ellison não está contando para ele e que, o que quer que seja, Ellison também não contou para Tracy. E é então que a ficha cai: ele coloca com todo o cuidado sua xícara de café sobre a mesa, olha em volta como que para se certificar de que Tracy não está por perto e pergunta se ela sabe que está morando na mesma casa onde o crime ocorreu. Ellison faz que não com a cabeça e o policial Fulano de Tal tem o que só pode ser descrito como um momento facepalm, e dá aquele riso nervoso que a gente dá quando nos faltam palavras para descrever o tamanho da encrenca em que está o imbecil com quem estamos conversando.

"Oh, that is a conversation that I would not wanna be around for."
"Ah, essa é uma conversa que eu não gostaria de estar por perto para presenciar."

Ah, que é isso, policial Fulano de Tal! Fica, filma e coloca no YouTube que é sucesso garantido.

Enfim, o fato é que os moradores anteriores nunca reportaram nada de estranho, ninguém nunca reclamou deles e o único conselho do policial Fulano de Tal é que Ellison saia mais de casa. Que, coincidentemente, é praticamente o mesmo conselho que eu daria, exceto que eu substituiria "sair mais" por "sair e não voltar mais". Enfim, semântica.

Pra sorte do policial Fulano de Tal, ele não está ali na cena seguinte, em que Ellison e Tracy confrontam Ashley por causa de um desenho que ela fez na parede do corredor e a menina diz que ela ia fazer na parede do quarto (onde ela tem permissão de pintar), mas que Stephanie não queria que fosse lá porque era onde antes era o quarto do irmão. Tracy pergunta quem é Stephanie e Ashley responde que é a menina que vivia ali antes deles, sobre quem o pai está escrevendo. Oh-oh.

E, porque Tracy e Ellison vão discutir no quarto deles, não há ninguém por perto para testemunhar o momento em que ela faz a pergunta que está na mente dos espectadores desde o início do filme: "Você achou que eu não ia descobrir?". E, numa demonstração do tipo de retórica brilhante que fez dele o autor bem sucedido de um best seller e dois fiascos, Ellison argumenta que eles não estão morando na cena do crime porque o crime não ocorreu dentro de casa, e sim no quintal. Surpreendentemente, Tracy não se impressiona com essa resposta sagaz, mas também não pega as crianças e vai para a casa da irmã, como tinha ameaçado fazer no início do filme. Ah, Tracy...

Mais uma vez, Ellison acorda no meio da noite com o barulho do projetor, mas, quando ele chega ao escritório, o projetor não está lá. A escada que leva ao sótão está abaixada e, quando Ellison sobe, encontra o projetor ligado e as cinco crianças-zumbis assistindo a um filme. Todas se viram na direção dele e colocam um dedo sobre os lábios, pedindo silêncio, enquanto o Bughull aparece, primeiro na tela e depois ao vivo e a cores, dando um susto no Ellison e em mim também. Eu estou confortavelmente instalada no sofá, mas Ellison estava de pé na escada do sótão e cai no corredor, seguido pela caixa com as fitas e pelo projetor, aparentemente jogados lá de cima. Ele pega tudo, leva para a churrasqueira no quintal e bota fogo. Quando Tracy sai de casa e pergunta o que está acontecendo, ele finalmente diz as palavras mágicas: "Você estava certa, vir para cá foi um erro: pegue as crianças, vamos sair daqui."

Eles saem de carro, chegam a ser parados pelo xerife no caminho, mas é só procedimento padrão: ele pede para ver a carteira de motorista e os documentos do carro, diz que eles estavam indo muito rápido e, quando Ellison diz que eles estão deixando a cidade, até pergunta se algum morador criou problemas para eles. Mesmo não gostando de Ellison e dos livros que ele escreve, o xerife não quer que a cidade dele apareça no próximo livro como um bando de intolerantes que expulsou o escritor da cidade. Mas Ellison diz que não vai haver mais livro nenhum, por isso o xerife os deixa ir com uma advertência para ficarem abaixo do limite de velocidade pelo menos enquanto estiverem dentro da sua jurisdição.

Corta para eles se mudando de volta para o que eu presumo que seja a casa antiga e que não é bem uma casa, e sim uma mansão. Falaram tanto sobre o quanto estavam apertados financeiramente, mas aparentemente é que nem pobre de novela da Globo, que vive sem dinheiro mas nunca repete roupa.

No dia da mudança Ellison recebe duas ligações do policial Fulano de Tal (que ele não atende) e um e-mail do Professor Jonas, com quem ele faz um videochat  no qual o professor conta que existem poucas imagens de Bughuul justamente porque antigamente se acreditava que essas imagens permitiriam que Bughuul viesse para esta dimensão, possuísse pessoas (normalmente crianças) para obrigá-las a fazer alguma coisa horrenda e até as levasse com ele de volta para a sua própria dimensão.

Depois dessa conversa, que deixa Ellison bastante perturbado, ele vai para o sótão guardar umas caixas e encontra... tcharam! A mesma caixa que encontrou na outra casa, com o projetor e as fitas que queimou, além de um envelope no qual está escrito "Finais estendidos", contendo trechos adicionais de filme, tipo cenas que foram cortadas do final. Ele está no processo de juntar os trechos novos às fitas originais quando o policial Fulano de Tal liga de novo e dessa vez ele atende. As notícias são as piores possíveis: analisando a sequência dos crimes e os lugares onde cada família morou, o policial Fulano de Tal descobriu que cada família morou na casa onde a família anterior foi morta. E cada uma foi assassinada justamente após se mudar da casa onde a família anterior foi morta, ou seja, foi justamente ao fugir da casa que o destino da família de Ellison foi selado. Oops.

Ellison assiste a "versão estendida" dos filmes e desta vez ele vê, depois de cada assassinato, a criança que desapareceu aparecer na cena, se virar para a câmera e fazer o já conhecido sinal de silêncio. Depois de assistir a última cena, ele toma uma xícara de café preparada (e devidamente batizada) por Ashley, desmaia e acorda depois, amarrado e amordaçado no chão da sala, junto com Tracy e Trevor, momentos antes de todos serem mortos por Ashley a golpes de machado. Depois de cobrir as paredes da casa de pinturas a dedo feitas com o sangue da família, Ashley complementa o desenho na tampa da caixa com essas três novas mortes e se posta diante da tela onde está sendo projetado um filme em que as cinco crianças anteriores estão reunidas em um corredor, olhando para a câmera, ou seja, diretamente para Ashley. De repente, todas fogem corredor adentro e Bughuul está atrás de Ashley. Ele a pega no colo, e na cena seguinte, os dois estão dentro do filme ainda sendo projetado. Ele segue corredor adentro com ela nos braços, corta para a caixa agora contendo um rolo de filme a mais, eu estou começando a respeitar esse filme apesar das suas falhas e... BUH! A cara do Bughuul aparece ocupando a tela inteira para um último susto barato. Ai, ai. Tem gente que não sabe parar enquanto está vencendo.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Prémio Multishow de Humor - Temp. 1 - Eliminatória

Estou assistindo a primeira temporada do Prêmio Multishow de Humor. A temporada já acabou (não sei se vai haver uma segunda), mas está inteira disponível pelo Now, e hoje terminei de assistir a etapa eliminatória, que comento hoje. Vinte e quatro candidatos se apresentaram ao longo de seis episódios, cada um com três minutos para impressionar os jurados e o público da melhor maneira que pudesse. O júri a cada noite era composto por quatro integrantes fixos (Natália Klein, Sérgio Mallandro, Miá Mello e Fernando Caruso) e um jurado convidado.

Teve de tudo um pouco: muito stand up comedy, alguns esquetes, um pouco de humor físico (não curto), alguma imitações (curto menos ainda), uns poucos números musicais e até um mágico. A qualidade também variou de um extremo ao outro do espectro: desde momentos quase fisicamente dolorosos de vergonha alheia (que não vou comentar aqui porque se apresentar em um concurso de humor exige uma coragem que eu jamais teria e que deve ser respeitada) até números que me fizeram gargalhar. Como disse, vou comentar somente os meus candidatos preferidos, a quem agradeço aqui pelas boas gargalhadas.

Cristiane Santos (Episódio 2)

Logo de cara, não parecia que ia me impressionar, mas isso só tornou mais engraçado o que aconteceu a seguir, pois me pegou completamente de surpresa quando engrenou na comédia e arrasou. Apresentou duas "táticas pra escapar de assalto" originais, fugindo do lugar comum (ou eu sou muito desinformada e não conhecia, sei lá). Mas achei ótima. Pra não dar nota 10 assim tão fácil, concordo com o Caruso em que podia ter limado a dança pra gente ter mais tempo de apreciar a comédia. Cristiane, se você se apresentar aqui no Rio me chama que eu vou te assistir.

Ana Sauwen (Episódio 4)

A Ana se apresentou num dia péssimo, mas ela teria se destacado independente de quem fosse a concorrência. Ana, se você algum dia entrar neste blog: sou sua fã. Ri do início ao fim quando assisti sua apresentação pela primeira vez e ri de novo quando assisti pela segunda vez para escrever este post.

Com talento e bom gosto, a Ana conseguiu me fazer dar gargalhadas com um tipo de comédia no qual eu normalmente não acho graça porque me dá aflição. Geralmente eu fico agoniada com cenas em que o protagonista sofre tentando fazer um bom trabalho e acaba humilhado porque dá tudo errado, mas dei gargalhadas com a apresentação da Ana. Não houve nenhuma piada que eu achasse sem graça ou mesmo fraquinha, a interpretação foi ótima, o timing foi perfeito e o humor físico foi usado na medida exata para enriquecer a comédia sem virar pastelão (um estilo que, pessoalmente, eu não curto). Mesmo a piada do sal, que eu percebi chegando antes de ela acontecer, me fez rir assim mesmo: eu comecei a rir antes, quando percebi o que ia acontecer, e continuei rindo quando aconteceu. E a cena final... gente, o que foi aquela cena final? Novamente, timing perfeito: tanto o suspense da preparação da cena quanto a sua própria execução duraram o tempo certo para aproveitar a piada ao máximo sem passar do ponto em que viraria enrolação.

Diana Behrens (Episódio 5)

Eu perdi algumas piadas porque a Diana falava tão rápido que algumas vezes eu literalmente não entendi o que ela estava dizendo. Sei que fazia parte porque a personagem era mesmo pra ser muito acelerada, quase surtada, mas é uma pena porque a interpretação dela foi muito boa e o texto era ótimo, por isso tenho certeza de que teria rido das partes que eu perdi tanto quanto ri das partes que entendi. Mesmo assim, me diverti muito: ri várias vezes e com gosto, o que compensou com folga as duas ou três falas que eu perdi. Menção especial para o figurino e a maquiagem, perfeitos e que enriqueceram o esquete.

Então, é isso: Cristiane, Ana e Diana. Independente do resultado do Prêmio Multishow, considero as três as melhores comediantes que se apresentaram nessa primeira edição e espero ter a oportunidade de ver as três novamente em outras apresentações fora do programa.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Caminhada em Defesa da Vida

No sábado (05/10) eu participei da Caminhada em Defesa da Vida, no Centro. Tenho passado ao largo dessa discussão no Facebook, que não é exatamente a mídia ideal para discussões sérias; agora, no entanto, já que vou postar as fotos, aproveito para esclarecer alguns pontos caso haja alguém que ainda não conhecia a minha posição nesse assunto. Economiza tempo se quiserem discutir isso mais tarde.

1) Não, o aborto não é uma questão de saúde pública. O saneamento básico é uma questão de saúde pública. A dengue é uma questão de saúde pública. Sim, mulheres morrem em consequência de abortos clandestinos mal-feitos. Mas "esta lei prejudica quem quer descumpri-la" não é argumento. Ladrões também morrem em tiroteios e perseguições policiais: nem por isso o roubo vai ser legalizado. Por que? Porque roubar é errado. Se você quer defender a legalização do aborto, mostre que o aborto não é errado, e não que desobedecer a lei traz consequências negativas: esse é o objetivo da lei.


2) "Ah, mas eu queria ver se você estivesse nesta ou naquela situação, se ainda ia manter a mesma posição!" Você quer saber se eu adapto as minhas convicções às circunstâncias de modo que elas fiquem a meu favor? Não, não é assim que convicções funcionam. Seria ótimo se sempre quiséssemos fazer a coisa certa, mas somos humanos e frequentemente nos encontramos na posição de ter que escolher entre o que gostaríamos de fazer e o que acreditamos ser correto.


3) Não adianta discutir o trauma do estupro, a qualidade de vida de uma criança deficiente ou as condições financeiras de uma família e ignorar a questão muito mais básica de quando começa a vida. Quem acredita que a vida começa na concepção não vai aceitar nenhum argumento a favor do aborto pelo mesmo motivo que não aceitaria nenhum argumento a favor do assassinato de um bebê de 6 meses. Da mesma forma, espero que quem é a favor do aborto (e não do assassinato de um bebê de 6 meses), o seja porque está muito seguro sobre o momento em que passa a existir um ser humano dentro do ventre da mãe. Se não há um ser humano, não há assassinato. Se, pelo contrário, existe ali um ser humano e a sua vida lhe é tirada, não vejo que outro nome dar, independente de quais sejam os motivos que levam à decisão do aborto. Nenhuma discussão sobre o aborto é séria se não começar nesse ponto.


segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Depois de Longa Ausência

Este é o primeiro texto que eu publico no blog em dois meses. Nesse meio tempo, não morri, não sofri nenhum acidente, não casei nem me separei, não sofri nenhuma grande perda, não me mudei de cidade. Resumindo, não tive nenhum motivo em especial para essa ausência de dois meses. Comecei alguns posts que estão na seção Rascunhos esperando para ser concluídos, mas por um motivo ou por outro não concluí nenhum e, assim, não publiquei.

Admito que me senti mal algumas vezes por estar deixando o blog assim, abandonado. A tendência de quem entra em um blog e vê que ele não é atualizado há mais de um mês é não voltar mais e, embora eu não tenha planos particularmente ambiciosos para este blog, é sempre legal quando alguém lê, e, especialmente, quando comenta algo que eu escrevi. Por outro lado, me recuso terminantemente a escrever movida por um sentimento de obrigação em um blog que eu administro sozinha, no qual escrevo de graça e que foi criado com o intuito principal de dar voz àquilo que eu penso sem precisar submeter meus amigos às minhas diatribes.

Moral da história: o blog não morreu, só andou meio parado e, se você está lendo isto, significa que ou resolveu voltar aqui pra ver se o hiato já tinha acabado ou chegou agora e nem vivenciou este hiato de dois meses. De um modo ou de outro, seja bem-vindo(a), sinta-se em casa, não repare a bagunça.

Para tornar o post mais interessante, a foto de uma garoupa gigante, tirada no uShaka Marine World, em Durban (África do Sul).

terça-feira, 23 de julho de 2013

Mensagem Para Você

De vez em quando eu invento umas modas. Este blog é uma delas. Um livro que eu comecei a escrever este ano é outra. Meu álbum "Do lado de fora do Jardim Zoológico" no Facebook. Minha conta no Instagram. A mais recente é o álbum intitulado "Mensagem Para Você", composto somente de fotos de caixas de correio. Não sei dizer bem o motivo de eu ter escolhido este tema. Eu gosto muito de andar, bater perna a esmo, descobrindo ruas e caminhos. Outra das minhas invenções de moda, eu acho. E nessas minhas andanças, observo as coisas: não sei por quê, comecei a reparar nas caixas de correio. Os diferentes modelos, tamanhos e cores. E assim surgiu este álbum, da conjunção de vários hobbies meus: caminhadas, fotografia, coleções.

Para evitar complicações, eu procuro enquadrar a caixa de correio de modo a não fotografar nada que possa identificar a casa ou edifício, e só fotografo caixas que possam ser vistas do lado de fora do prédio (por exemplo, se a caixa estiver atrás da grade do prédio, eu não fotografo). Também já deixei de fotografar algumas caixas bem diferentes e interessantes que estavam posicionadas de maneira tal que poderia dar a impressão que eu estava fotografando o interior do prédio.

O resultado não são imagens para mudar a sua vida, mas é divertido procurar novas caixas para minha coleção. Além disso, eu passei a reparar mais nos detalhes e na beleza de algumas dessas caixas, e qualquer atividade que traga mais beleza para a vida já vale a pena só por isso.


segunda-feira, 22 de julho de 2013

O Tempo e a Nossa Percepção


Minha Mãe É Uma Peça

Hoje (ontem, porque já passa de meia-noite: eu sempre acabo postando depois de meia-noite) saí de casa com a intenção de assistir "Meu Malvado Favorito 2". Como eu queria assistir com som original, fui ao site AdoroCinema descobrir onde está passando a versão legendada.

Abre parênteses para falar da minha profunda aversão a filmes dublados. A interpretação de um ator não é composta só de gestos e expressões faciais: o tom de voz também é super importante e, em um filme dublado não apenas se perde parte da interpretação dos atores, mas, pior ainda, cada personagem vira uma composição dos gestos e expressões faciais de um ator com a entonação de outro ator, que, ao invés de interpretar o personagem X, precisa interpretar o ator Y interpretando o personagem X.

No caso de animações, esse problema não existe, e eu até assisto versões dubladas algumas vezes, apesar de saber que vou perder algumas piadas, já que a tradução muitas vezes é péssima. E nem adianta colocar a culpa nas limitações de ter que encaixar o texto no tempo do filme. Tem tradutor que é ruim mesmo: já peguei erros de tradução grosseiros em legendas, mas pelo menos eu tinha o som original para comparar e saber qual era o texto correto. Quando o filme é em outro idioma que não o inglês ou o espanhol, não tem jeito, fico refém do tradutor, mas, tendo a opção de escutar o som original, sempre dou preferência.

Outro problema é quando o filme é uma sequência e eu já assisti o filme anterior com o som original: aí fica impossível eu me concentrar escutando aquela voz "errada" saindo da boca de um personagem conhecido. Isso se torna um problema mesmo quando a versão que eu escutei primeiro foi a versão dublada: eu desisti de assistir às temporadas mais recentes d'Os Simpsons depois que o dublador do Homer por quase vinte temporadas foi substituído.

Por último, mas de modo algum menos importante: gente, é o STEVE CARELL! Sou fã desse homem demais da conta, de jeito nenhum que eu ia perder o Gru interpretado por ele!

Fecha parênteses.

Enfim, no AdoroCinema os filmes dublados estão indicados como tal, por isso, eu, boba que sou, acreditei que, se não estava indicado que era dublado, era legendado.


Acreditei e me dei mal. Nos cinemas mais próximos da minha casa só tinha versão dublada, mas em Botafogo tinha a versão legendada (ou pelo menos era o que eu pensava). Cheguei na bilheteria do Espaço Itaú de Cinema toda toda só pra descobrir que só estava passando a versão dublada. Pelo menos descobri antes de comprar o ingresso que, para a versão 3D, deve ser caro pra caramba...

E aí, como o título desse post indica, fui assistir "Minha Mãe É Uma Peça". E tenho a dizer que... detestei o filme. Pronto, falei! Todo mundo que me falou desse filme elogiou, as críticas têm sido favoráveis, o elenco é de primeira linha, todos talentosos e engraçados, mas eu só assisti até o fim pra poder reclamar sem ninguém me dizer que eu parei de assistir justamente quando ia começar a melhor parte.

Achei a D. Hermínia (a mãe do título) uma pessoa horrível, mal-educada, inconveniente e, principalmente, uma péssima mãe, do tipo que humilha os filhos em público, fala mal do pai e da madrasta e só se "comunica" com gritos e xingamentos. Ah, mas é uma comédia, alguns argumentarão. É verdade, e eu não tenho problema nenhum com personagens cômicos que, na vida real, seriam pessoas horríveis. Assisti a todos os episódios de "Seinfeld", uma série em que os quatro protagonistas são tão egoístas que no episódio final são presos após terem testemunhado um assalto e, além de não terem ajudado nem chamado a polícia, ainda terem filmado tudo enquanto riam e debochavam da vítima. Existe, no entanto, uma diferença crucial entre George Constanza empurrando crianças e derrubando velhinhas quando as velas de um bolo de aniversário infantil provocam um princípio de incêndio e a D. Hermínia gritando com a filha adolescente no supermercado, dizendo que ela esbarrou e derrubou os produtos de uma prateleira porque é gorda demais. A diferença é que ninguém espera que a gente simpatize com o George. Ele é um ser humano horrível e um idiota e o público se acaba de rir com os seus esquemas e as suas tramoias que sempre dão errado no fim. A D. Hermínia passa o filme todo ofendendo e agredindo verbalmente a família, o ex-marido e os vizinhos em flashbacks que remontam à infância dos filhos, e se espera que o público perdoe tudo porque, faltando quinze minutos para acabar o filme, ela dá uma entrevista emocionada dizendo que mãe sofre muito e tudo o que faz é por amor, e nos valorizem porque nós não estaremos aqui para sempre.

Apesar do inegável talento dos atores e de algumas piadas boas, o filme não me fez sair do cinema com a alma lavada de riso como acontece com boas comédias, mas com vontade de sair logo dali e me afastar daquela história e daquela gente e com mais vontade do que nunca de passar duas horas com Gru, Margo, Edith e Agnes.

sábado, 20 de julho de 2013

Desistir É Preciso

"The One with Phoebe's Cookies" é um episódio da sétima temporada de Friends no qual, entre outras coisas que acontecem, Rachel tenta ensinar Joey a velejar. A coisa não dá certo, em parte por causa da imaturidade e total falta de concentração dele, mas também por causa da falta de paciência dela. À medida que a aula avança, ela vai ficando cada vez mais irritada e ele, mais frustrado, até que ele finalmente perde a paciência e diz que desiste de aprender a velejar. Rachel, indignada, exclama "Você não pode desistir! Um Green jamais desiste!", e Joey replica "Eu não sou um Green, eu sou um Tribianni! Tribiannis desistem!". Nesta hora, Rachel (que é, ela sim, uma Green) cai em si e percebe que estava agindo como seu pai agiu quando a ensinou a velejar, pede desculpas a Joey, os dois fazem as pazes e tudo acaba bem.

Quem não assistiu esse episódio, deveria assistir (esse e todos os outros episódios de Friends), porque ele é muito engraçado. Podem ir, o blog ainda vai estar aqui quando vocês terminarem. Para os que já assistiram ou são teimosos e não vão assistir (azar de vocês), o tema deste post é o seguinte: para muitas pessoas, a palavra "desistir" é sinônimo de fraqueza. Falar em desistir se tornou tabu, coisa de gente acomodada, fracassada. Vencedores não desistem. Vale lembrar, no entanto, que "Insista, não desista." era um antigo slogan da Loteria Federal. Jogo a dinheiro é um bom exemplo de como às vezes desistir é a opção mais sensata. Troque o que sobrou das suas fichas por dinheiro, assuma o prejuízo e volte para casa enquanto você ainda tem dinheiro para o táxi. Às vezes a gente perde. Ponto. Não confunda perseverança com teimosia cega.

Às vezes se desiste também porque se chega à conclusão que a vitória, se e quando alcançada, seria uma vitória de Pirro. Esse termo ("vitória de Pirro") se refere a duas batalhas que o exército grego venceu contra os romanos no século III a.C., ao fim das quais o exército grego, apesar de vitorioso, tinha sofrido baixas tão graves que o Rei Pirro afirmou que outra vitória daquelas seria a sua ruína. Às vezes desistir significa simplesmente que a pessoa chegou à conclusão que a energia necessária para vencer aquela batalha pode ser melhor empregada em outras causas. Saiba escolher as suas batalhas. Independente do que os livros de auto-ajuda, os seminários de crescimento pessoal e as mensagens compartilhadas no Facebook digam, você não vai ganhar 100% das batalhas, então dê-se o direito de guardar suas forças para aquelas que valem a pena.

Por último, mas não menos importante, às vezes as pessoas desistem simplesmente porque mudam de ideia. Aquilo que há seis meses atrás era essencial de repente deixou de ser. As pessoas mudam, novos objetivos surgem, prioridades mudam, rotas alternativas se apresentam, e não é vergonha nenhuma desistir de um objetivo porque surgiu uma possibilidade melhor ou mais simples ou mais acessível. A vida não é uma competição: ninguém está anotando os pontos e atribuindo pontuação mais alta aos objetivos mais difíceis.

Há motivos para lutar e motivos para desistir. O que quer que você esteja fazendo, certifique-se de que seja pelos motivos certos.

(Yarik Mishin @ stock.xchng)

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Três Frases de Efeito Que a Gente Devia Parar de Usar

Certas frases caem no gosto popular porque são maneiras simples, diretas e geralmente espirituosas de dizer alguma coisa. Às vezes fazem referência a filmes, músicas, eventos ou, nos tempos atuais, a memes. Às vezes rimam. Às vezes são engraçadas. Às vezes até são verdadeiras.

O problema é quando a frase soa tão bem que a gente deixa de prestar atenção no significado dela. E aí se vê dizendo coisas como:

Se você quiser alguma coisa bem feita, faça você mesmo.

Esse é um ditado popular bastante antigo. Quando dito na primeira pessoa do singular ("se eu quiser alguma coisa bem feita, tenho que fazer eu mesmo(a)"), significa que ninguém faz nada direito, só eu. É meio ofensivo para com a pessoa com quem eu estou falando, mas, sei lá, vai que seja verdade: pode estar sendo dito no contexto de uma bronca, quando a outra pessoa acabou de entregar um produto bem mal-acabado, um serviço bem porco.

A versão mais comum, no entanto, é "se você quiser alguma coisa bem feita, faça você mesmo". Ou seja, se eu digo isso, estou dizendo que ninguém faz nada direito, nem eu! Pior, a fase implica que quando a pessoa (eu inclusive) é o "você" da frase, aquele que quer a coisa bem feita, ela faz. O problema é quando outra pessoa é o "você": aí dane-se, se quiser bem-feito faça você mesmo! Ou seja, não é incompetência, é má vontade mesmo.

"Ah, melhor não, eu provavelmente iria fazer errado, mesmo..."
(markyjay @ stock.xchng)

Então... é isso que você quer sair anunciando por aí? É esse o tipo de pessoa que você é? Se é, parabéns pela sinceridade, mas talvez seja um bom momento pra rever os seus valores.

O chato é uma pessoa que, se você pergunta "Tudo bem?", te responde.

O autor dessa frase é o Oswaldo Montenegro, mas ela caiu na boca do povo e hoje mesmo quem nunca escutou Bandolins repete. Eu acho essa frase deprimente. Sei que existe gente que fala demais, que aluga o ouvido alheio, que se recusa a ir embora não importa quantas dicas o outro dê para indicar que está ocupado demais para conversar naquele momento. Mas me parece que, se você não quer ou não pode parar para escutar uma pessoa, não deveria perguntar "Tudo bem?" só para parecer simpático; dê só um bom dia / boa tarde / boa noite básico e vá cuidar da sua vida. Ah, mas e se mesmo assim a pessoa for atrás de você pra contar cada detalhe excruciante da vida dela? Aí já são outros quinhentos. O que me incomoda é essa frase especificamente, que dá a entender que, se alguém faz uma pergunta em cuja resposta não está interessado, o inconveniente é o outro que acreditou e respondeu. Se não queria saber, por que perguntou?

"Não, não, você entendeu errado: o objetivo era EU me sentir bem comigo mesma, e não você."
(David Castillo Dominici @ FreeDigitalPhotos.net)

O monólogo em que o Oswaldo Montenegro apresenta esta frase faz parte da introdução da música "O Chato", e nele ele argumenta que "Tudo bem?" não é uma pergunta. Conversa fiada. "Bom dia" não é uma pergunta. "Oi" não é uma pergunta. "Tudo bem?" é uma pergunta. E se você perguntou o que não queria saber, não coloque a culpa nos outros depois.

Onde há fumaça, há fogo.

Esta pérola anda de mãos dadas com "O povo aumenta, mas não inventa", e é de uma cara de pau que chega a ser chocante. Sério? O povo não inventa? O povo é composto de 100% de gente digna e honesta que nunca, jamais inventaria uma história falsa para desmoralizar alguém de quem não gosta ou para ficar melhor na fita do que a concorrência?

Além de isso não ser verdade e qualquer pessoa com mais de dez anos de idade saber disso, existe o fato de que muitas vezes o povo não apenas aumenta, mas distorce de tal forma a história original que o resultado final não tem senão uma tênue semelhança com ela.

"É claro que eles estão tendo um caso! Você não ouviu ele dizer  'Saúde!' quando ela espirrou?"
(Stuart Miles @ FreeDigitalPhotos.net)

Quando eu vejo alguém usar essa frase, o que eu escuto é "Ah, mas falar mal dos outros é tão divertido! Se eu for agir como um adulto responsável vai perder toda a graça!"

Onde há fumaça pode até haver fogo, mas você já está crescidinho o suficiente para saber que fogo pode ser tanto um incêndio criminoso quanto uma fogueira com um grupo de bandeirantes em volta assando marshmallows. Pelo menos assuma que você não tem a menor ideia se o que está dizendo é verdade ou não, mas adora falar mal dos outros.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Bazar Tem Quem Queira

Hoje começa uma parceria entre este blog e o Bazar Tem Quem Queira, iniciativa de uma amiga cujo dia aparentemente tem 36 horas, já que ela consegue ter um emprego em tempo integral, manter um bazar virtual e um blog, organizar bazares "presenciais" periódicos, escrever um livro, colaborar de vez em quanto em outros sites de moda e ainda ter uma vida social. Ufa! Já fiquei cansada só de falar.

O site é uma graça, tem um layout super clean e fácil de usar, está sempre fazendo sorteios e promoções e as compras podem ser feitas no próprio site ou pelo Mercado Livre, através de depósito bancário, PayPal ou PagSeguro.

Nove entre dez mulheres (e alguns homens) se identificam com aquela imagem clássica da mulher parada diante de um guarda-roupa cheio, exclamando: "Não tenho nada para vestir!". Quem já passou por isso entende que é possível ter um monte de roupas e de repente odiar todas elas. E se substituir o guarda-roupa todo de uma tacada só não é possível, vender aquilo que não usa mais e comprar peças novas pelo mesmo preço é uma ótima alternativa.


sábado, 13 de julho de 2013

Cinco Principais Causas de Morte no Mundo


Os dados divulgados pela OMS mencionam ingestão de leite com manga como uma das cinco principais causas de morte? Não, claro que não. Ainda assim, tecnicamente o que o gráfico diz é verdade: se somarmos a quantidade de mortes por ingestão de leite com manga com a quantidade de mortes por doença cardíaca isquêmica, a quantidade de 7,25 milhões de mortes não se altera e continua correspondendo a 32% das mortes no mundo.

Moral da história: não adianta decorar números se você não souber do que está falando.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Diálogos Possíveis

Mais um exercício feito com o gerador aleatório de palavras:

  • rib (costela)
  • help (ajuda)
  • mess (confusão)

Esta é uma obra de ficção: qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.

8h30 (Metrô, Estação Cinelândia)

— Não é possível! — reclamou Maurício. — A gente já está parado aqui há uns dez minutos, pelo menos!

— Olha pelo lado bom: quem sabe a gente chega atrasado e perde a reunião do Horácio? — Carla passou para o ombro esquerdo a bolsa pesada e massageou o ombro direito fazendo uma careta de dor.

— Nem me lembra disso, — Maurício suspirou. — Já basta a reunião de condomínio que eu tive ontem. Acredita que eu estou há dois meses tentando fazer o condomínio pagar pela infiltração no meu banheiro? O barbará da minha coluna...

— Ah, finalmente! — Carla exclamou aliviada quando o metrô começou a se movimentar novamente. — Achei que a gente ia ter que descer aqui e ir a pé!

— É... — Maurício concordou com um sorriso amarelo. Ele chegou a abrir a boca para recomeçar a contar a história do vazamento no barbará e a infiltração no seu banheiro, mas acabou deixando pra lá. Era uma história comprida e eles já iam saltar na próxima estação, mesmo...

10h00 (bebedouro em frente à sala de reunião)

— Até que não demorou muito, — André comentou, enchendo seu copo de água. — Pros padrões do Horácio, — ele acrescentou com um sorriso malicioso após se certificar que o gerente não estava mais por perto.

— Graças a Deus! — Maurício amassou o copo que tinha acabado de esvaziar e jogou-o no lixo.

— Ei, — André lembrou, — no sábado vai ter futebol, você vai?

— Desta vez não vai dar, tenho que ficar em casa esperando o camarada que vai pintar meu banheiro. Uma encheção de saco, — Maurício continuou enquanto os dois prosseguiam pelo corredor de volta às suas mesas. — O barbará da minha coluna estava com um vazamento e...

— O seu pintor é bom? — André perguntou. — Trabalha direitinho, deixa tudo arrumado depois?

— Acho que sim, — disse Maurício. — Foi a Paula que me indicou.

— Me dá o telefone dele, — pediu André. — Preciso mandar pintar o quarto das crianças e o último que eu contratei até pintava bem, mas não cobriu os móveis direito, pingou tinta no sofá, a Vânia deu um ataque, uma confusão só!

— Dou sim, — disse Maurício. — Não sei se tenho o telefone dele aqui comigo, mas em casa eu tenho com certeza, amanhã te dou.

— Show, — André sorriu, dando-lhe um tapa nas costas. — Obrigado!

— Tudo bem, — Maurício ainda hesitou, parado na frente da mesa do colega, mas o outro já estava se sentando, estendendo a mão para o telefone que tocava, por isso ele acabou só acenando com a cabeça e voltando para sua própria mesa.

12:05 (elevador)

— Desce!

Maurício apertou o botão para impedir que as portas do elevador se fechassem, dando tempo à colega de apressar o passo e entrar no elevador junto com ele.

— Obrigada, — Juliana agradeceu com um sorriso enquanto as portas do elevador se fechavam e ele começava o lento trajeto rumo ao térreo. — Que milagre, conseguir lugar nesse elevador! Normalmente eu subo até o décimo-quinto andar para depois descer.

— E vai piorar, — comentou Maurício. — O administrador do condomínio subiu no elevador junto comigo hoje de manhã: ele falou que vão trocar o outro elevador, por isso vamos passar algum tempo com um elevador só.

— Ah, que ótimo, — Juliana suspirou. — É porque não é ele que usa a porcaria desses elevadores todo santo dia! No meu prédio é a mesma coisa, — ela continuou, irritada. — Quem administra o condomínio é uma empresa: é verdade que eles são bastante corretos com a questão de custos, mas, para conseguir os melhores preços, sacrificam os moradores, criando soluções totalmente inconvenientes para nós que estamos ali todos os dias.

— Pimenta nos olhos dos outros, né?

— Exatamente! — Juliana concordou enfaticamente, dando um passo atrás quando as portas do elevador se abriram no sétimo andar e mais duas pessoas entraram.

— Lá no meu prédio, temos um síndico que também é morador, — Maurício disse. — Então quando se trata de alguma questão que afeta todos os moradores, ele até que se mexe rápido. Mas agora eu estou com uma infiltração no meu banheiro por causa de...

— Ah, infiltração é um pesadelo! — Juliana exclamou. — No ano passado tive esse problema por causa do apartamento de cima: demorei pra perceber porque a infiltração começou atrás dos armários da cozinha, foi um horror.

— Essa do meu apartamento é por causa de um vazamento no barbará...

As portas se abriram no térreo e Juliana o interrompeu, já saindo do elevador:

— Preciso correr, tenho que passar no banco. Você está indo no almoço da Bárbara?

— Vou, — Maurício disse, apontando para um grupo de colegas que estava na frente do prédio, esperando pelos retardatários. — Você não vai?

— Ah, não, — disse Juliana, — já falei com ela de manhã. Vocês vão naquele lugar da costela no bafo: lá é muito caro, este mês não estou podendo. Bom, vou indo, — ela prosseguiu, se afastando. — Bom almoço pra vocês!

— Pra você também, — disse Maurício, indo se juntar aos colegas.

16:40 (copa)

— Ainda tem café? — Maurício perguntou sem muita esperança ao entrar na copa.

— Você deu sorte, — disse Olavo. — Está no fim, mas acho que ainda dá para um copo. Não está muito bom, não, — ele avisou enquanto o colega se servia. — A Dona Vera saiu mais cedo hoje: foi a Helô que fez esse café.

— Serve, — disse Maurício, colocando açúcar no seu café. — Estou com uma daquelas dores de cabeça de falta de cafeína.

— Sei como é, — Olavo concordou com a cabeça.

Os dois rapazes tomaram seu café em silêncio, cada um pensando nos seus próprios assuntos, até que Olavo se lembrou:

— A sua gerência já migrou pro sistema novo, né?

— Desde o mês passado.

— E você está conseguindo importar as planilhas normalmente?

— No começo foi meio enrolado, — Maurício disse, jogando no lixo o copo que acabara de usar. Mas agora acho que eu já peguei o jeito da coisa. Por que, você está precisando de ajuda?

— Acho que estou ficando velho, — riu Olavo. — Você tem tempo de ver o que estou fazendo pra me mostrar o que estou fazendo de errado?

— Claro. Eu vou só responder uns e-mails e depois passo na sua mesa.

Os dois lançaram olhares pouco animados na direção da porta, mas nenhum dos dois se levantou.

— Dá meia-noite, mas não dá seis horas, — Olavo suspirou.

— Quando eu penso que ainda vou chegar em casa e ter que bater na porta do síndico pra tentar resolver o problema da infiltração... — Maurício se lamentou. — Contei pra você, né, do vazamento no barbará da minha coluna? Deu infiltração no meu banheiro e... — ele parou de falar quando foi interrompido pelo toque do celular do colega.

— Fala, meu camarada! — Olavo saudou após ver o nome no display do celular. — Acredita que ainda não tive tempo de ligar pro advogado? Eu sei, eu sei... Mas é fogo, né!

Maurício se levantou e esticou as costas enquanto Olavo continuava a ligação que, aparentemente, ainda ia demorar um pouco, e saiu da copa com um aceno para o colega.

19h30 (casa)

Maurício levantou os olhos do seu prato e ponderou a ideia que lhe ocorrera. Era esquisito, mas...

"Dane-se," ele concluiu, dando de ombros. "Estou na minha casa, faço o que eu bem entender."

— Estou começando a achar que eu vou ter que resolver esse problema com o condomínio na justiça. É um absurdo essa omissão deles depois que já foi dado o laudo de que a infiltração foi causada pelo vazamento no barbará.

Ele comeu mais uma garfada de macarrão e prosseguiu, gesticulando com o garfo em direção à cadeira vazia do outro lado da mesa:

— Tenho que me lembrar de pedir ao pintor um recibo depois do serviço, para poder comprovar diante do juiz a despesa que tive por conta desse vazamento.

Maurício prosseguiu falando para a sala vazia, contando a sua conversa com o síndico mais cedo e falando sobre o seu sentimento de frustração ao lidar com uma pessoa assim. Não era a mesma coisa que falar com um ouvinte solidário e interessado, mas pelo menos ele se sentia melhor contando sua história até o fim sem ser interrompido.

Alvimann @ morgueFile

sábado, 29 de junho de 2013

As Estrelas e as Coisas Que Escrevemos Nelas

Estou lendo atualmente "A Peculiar Tristeza Guardada num Bolo de Limão", da escritora inglesa Aimee Bender. Estou gostando bastante do livro: há algum tempo eu não lia uma história de realismo fantástico, que é um estilo que eu acho muito interessante e difícil de escrever bem. O realismo tem regras bem definidas e a fantasia cria suas próprias regras: o realismo fantástico se apóia no delicado equilíbrio entre os dois.

Uma das cenas que mais impressão me causaram é, ironicamente talvez, uma cena sem nenhum elemento fantástico na qual a mãe da protagonista e narradora conta para ela como ela e o marido (pai da menina) se conheceram. A mãe conta que foi a uma venda de garagem promovida por aquele que viria a ser seu marido e o amigo com quem ele dividia o apartamento. Ela estava procurando por um banquinho com assento forrado de veludo; os rapazes não tinham nenhum banquinho assim, mas um deles, encantado com a moça, arrumou uma lista de outras vendas de garagem acontecendo naquele dia nos arredores e se ofereceu para acompanhá-la na busca do banquinho desejado. Ao mesmo tempo, e sem que ela soubesse, ele deixou o amigo encarregado de providenciar um forro de veludo para o assento de um banquinho que eles tinham em casa. No fim do dia, não tendo encontrado um banquinho como ela queria nas casas por onde passaram, os dois retornaram à casa dele para que ela pudesse pegar o seu carro, estacionado ali perto, e ele sugeriu que eles dessem mais uma olhada, porque quem sabe alguém não teria passado por lá e feito, ao invés de uma compra, uma troca? Chegando lá, o amigo, já preparado, contou a história combinada: alguém tinha passado por lá e trocado, que feliz coincidência, um banquinho com assento forrado de veludo pela torradeira deles! A moça comprou o banquinho, feliz da vida, aceitou o convite do rapaz para sair mais tarde, eles começaram a namorar e ela só veio a saber da verdade na festa do seu casamento, quando o tal amigo contou toda a história, incluindo todos os serviços domésticos que o rapaz apaixonado tinha concordado em fazer em troca daquela ajuda para conseguir o primeiro encontro.

O que me impressionou foi o ressentimento velado que a filha percebeu na expressão da mãe quando esta contava a história, a contrariedade por ter descoberto que aquilo que ela tinha interpretado como um sinal, a ação do destino aproximando os dois, tinham sido na verdade o gesto de um rapaz que tinha ficado tão encantado com a moça linda e engraçada que ele conheceu que tinha se disposto a gastar  seu dinheiro reembolsando o amigo pelo banquinho e a se comprometer, desorganizado que era, a passar a manter a casa sempre em ordem em troca da colaboração do amigo. A única mentira, se é que se pode chamar assim, que ele tinha contado para ela, tinha sido deixá-la pensar que aquele banquinho tinha aparecido ali por acaso (ou por obra do destino) e não contar que ele o tinha comprado especialmente para ela, para que ela ficasse feliz e ele tivesse uma chance de sair com ela.

Eu fico pensando nas pessoas que, como essa moça, procuram sinais em acontecimentos corriqueiros do dia a dia. Por que eu considero essa prática uma péssima ideia? Pra começo de conversa, porque, em uma única manhã, acontecem um milhão de coisas com qualquer pessoa. Se a pessoa for procurar sinais em tudo o que acontece, metade desses sinais vai dizer pra ela fazer uma coisa e a outra metade vai dizer pra não fazer. Acordou com o barulho de uma batida bem debaixo da sua janela? Sinal de que não deve ir trabalhar de carro hoje. Reportagem sobre assalto em ônibus no jornal? Sinal de que deve ir de carro. Não acha a chave do carro? Sinal de que não deve ir de carro. Pega um casaco que não usava há um tempão e, no bolso dele, encontra o controle remoto reserva da porta da garagem que achava que tinha perdido? Sinal de que deve ir de carro. Chega na garagem e vê que o carro do vizinho está prendendo o seu? Sinal de que não deve ir de carro. E por aí vai. Como saber o que é sinal e o que não é?

Além disso, praticamente qualquer coisa pode ser interpretada da maneira que você quiser; então, como saber se aquele sinal de que você deve fazer justamente aquilo que está com vontade de fazer não é só uma coincidência na qual você está enxergando o que quer enxergar? Por outro lado, também não dá pra ver em tudo o que acontece um sinal de que você não deve fazer o que está com vontade de fazer: não é possível que você seja um ser humano tão horrível assim, que só tem vontade de fazer o que não deve!

Não estou dizendo que ninguém na história da humanidade jamais tenha recebido ou irá receber um sinal indicando o caminho a seguir. No dia em que você dobrar uma esquina e der de cara com um anjo ou com uma moita de sarça em chamas que arde mas não é consumida pelo fogo, pelo amor de Deus, acredite: você está recebendo um sinal! Seja o que for que a voz te disser pra fazer, faça! Mas, até lá, você acha realmente que Deus iria interferir no livre arbítrio do responsável pela programação da rádio pra ele tocar justamente a música que te lembra daquela pessoa só pra te dar um sinal de que você deve ligar pra ela? Ou ir contra todas as leis da física fazendo a chave do carro cair do seu bolso pra te mostrar que você deve ir pro trabalho de ônibus hoje? E eu digo "interferir no livre arbítrio" e "ir contra as leis da física" porque só dá pra contar como um sinal se essas coisas não iam acontecer e Deus (ou o universo, ou o destino, ou seja o que for em que você acredite) interferiu diretamente para fazer com que elas acontecessem. Senão é fácil: eu levanto de manhã, pego um copo de leite na geladeira, derramo em cima de cada uma das minhas blusas sociais, declaro que é um sinal de que não é para eu ir trabalhar hoje, volto pra cama e durmo até meio-dia.

Pense em como seria o mundo se Deus fosse atender a todo mundo que espera um sinal para saber se deve mudar de emprego, comprar um carro, casar, viajar pra praia, viajar pras montanhas, fazer vestibular, pintar o cabelo, terminar o namoro. Pra cada pessoa que pede um sinal, há outra que tem que parar o que está fazendo e fazer uma coisa que não pretendia só para ser o sinal solicitado. Já pensou que inferno seria ser vizinho de um mosteiro, com todos aqueles monges pedindo orientação divina todos os dias?

Eu, pessoalmente, acredito que, se você quer que Deus ilumine o seu caminho e te mostre o que Ele quer de você, o melhor jeito de conseguir isso ainda é o tradicional: peça, em oração, que Ele te ilumine e depois use a inteligência que Ele te deu pra chegar a uma conclusão, sozinho ou com a ajuda de pessoas em quem você confia. Escute a sua intuição: ela não é uma influência alienígena nem vem do espaço sideral. Muitas vezes a gente vê e escuta coisas que a nossa mente consciente não registra, mas que ficam armazenadas em algum cantinho do subconsciente e geram aquela sensação indefinível de que tem alguma coisa errada ou de que as coisas não são o que parecem ser. Acredite: o fato de que você tem inteligência e bom senso é um sinal de que Deus quer que você os use.

By Henryk Kowalewski (http://www.ccd.neostrada.pl/HTM/Merope.htm) [CC-BY-SA-2.5], via Wikimedia Commons

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Uma Noite Qualquer

Tanta coisa para escrever, livros que eu li, meus pontos do Claro Clube que foram finalmente devolvidos, a PEC 37 derrubada, os desdobramentos das manifestações populares, problemas com o Santander, diatribes mil... Mas como eu não quero escrever sobre nada agora e ao mesmo tempo tenho vontade de escrever, opto por um exercício de relaxamento mental, exercitando outras áreas do cérebro ao brincar um pouco mais com a ficção.

Comecei procurando um gerador de assunto aleatório: em português não achei nenhum (mas também não procurei muito, não, senão o relaxamento mental ia pro vinagre), mas achei um interessante no site Creativity Games.

Pedi três palavras e recebi estas:
  • rocking chair (cadeira de balanço)
  • vegetable (legume)
  • leg (perna)

Obs. Como uma palavra pode ter vários significados, coloquei aqui só o significado que usei.

Esta é uma obra de ficção: qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.

— Mãe, eu não gosto de batata doce!

— Isso não é batata doce, Luiza, é batata baroa.

— Eu não gosto de batata baroa!

Helena suspirou. Todo jantar era a mesma coisa; ela imaginou as duas dali a vinte anos, a filha já adulta, formada na faculdade, franzindo o nariz e empurrando a comida no prato, e elas tendo aquela mesma conversa todas as noites.

— Luiza, você conhece a regra: pelo menos um legume.

— Milho é legume? — a menina perguntou, esperançosa.

— Não, amor, milho não é legume. Milho é... — Helena olhou para o marido do outro lado da mesa, buscando ajuda — Milho é o quê, Pedro?

— Cereal, — ele respondeu sem erguer os olhos do smartphone.

— Milho é cereal, — Helena repetiu, voltando-se novamente para a filha, — não é legume. Toma, — ela ofereceu, pescando um pedaço de cenoura na travessa, — come cenoura, você gosta de cenoura.

— Não gosto nada.

— Como não gosta? Ontem mesmo você comeu... Pedro! — Helena exclamou, exasperada, e algo no tom da sua voz fez com que o marido despregasse os olhos do smartphone e voltasse sua atenção para a batalha de vontades sendo travada entre as duas mulheres da sua vida.

— Você tem que escolher um, Luluca, — ele disse para a filha, o apelido carinhoso amenizando a entonação severa. — Batata baroa, cenoura ou mandioca.

— Mandioca, — a menina disse sem hesitação, e Helena prontamente colocou dois pedaços de mandioca no seu prato, o alívio por ver a questão resolvida sem drama mesclado com uma ponta de exasperação porque a teimosia da filha parecia ser direcionada sempre a ela e nunca ao pai.

"Pra ele tudo é fácil," ela pensou, ressentida, empurrando a batata baroa no seu próprio prato com uma expressão de contrariedade que o marido teve o bom senso de não comentar que era idêntica à da filha.

O resto do jantar transcorreu sem maiores incidentes. Pedro pegou novamente o telefone e terminou de ler o e-mail que o sócio havia enviado, mas depois disso colocou o aparelho de lado até o fim da refeição. Luiza, já completamente esquecida da discussão, tagarelou sem parar até a hora da sobremesa, contando, entre uma garfada e outra (e, às vezes, durante elas) sobre os ensaios para a festa junina da escola, uma briga ocorrida entre dois coleguinhas e a professora nova que estava substituindo a tia Adriana, de licença médica com uma perna quebrada.

Mais tarde naquela noite, Helena saía do banho quando escutou a voz do marido e a da filha vindo da sala, onde os dois assistiam a um DVD.

— Sua mãe está no banho, deixa que eu leio...

— Não, papai, — a menina interrompeu, — você não sabe!

— Como, não sei? — Pedro disse, rindo, entrando no quarto atrás da filha. — Eu sei ler, sim!

— Você não sabe ler a história da Chapeuzinho Vermelho, — ela declarou, caminhando decidida em direção à mãe assim que a viu abrir a porta do banheiro da suíte. — Você não faz as vozes direito; a mamãe é que sabe!

— Eu faço o Lobo Mau muito bem! — o pai protestou, fingindo indignação, mas a pequena não se comoveu e agarrou a mão da mãe.

— Vem, mamãe, — ela chamou, puxando a mão de Helena — Chapeuzinho Vermelho!

— Você não sabe fazer a vovozinha, — Helena disse ao marido com um sorriso enquanto pegava a filha no colo e a carregava para fora do quarto.

— Não sabe! — Luíza declarou com convicção, sacudindo um dedinho gorducho na direção do pai por cima do ombro da mãe.

Helena deu uma última espiada na direção do marido, que piscou um olho para ela antes de se acomodar para ler o jornal, e saiu do quarto com a filha nos braços. No quarto da menina, Helena se acomodou na cadeira de balanço que tinha sido da sua avó, restaurada com carinho quando a filha tinha nascido, e aconchegou a pequena em seu colo, macia e quentinha no pijama de flanela cor de rosa.

Luíza combateu valentemente o sono até o fim da história preferida, mas já estava cabeceando, os olhos semi-cerrados, quando o caçador finalmente resgatou Chapeuzinho Vermelho e a vovó das garras do Lobo Mau. Quando Helena se levantou com cuidado e carregou a menina para a cama, ela murmurou já de olhinhos fechados:

— Só você sabe, mamãe. Só você.

Glenn Gallimore @ Stockvault.net

segunda-feira, 24 de junho de 2013

No Escuro

Recentemente eu li "No Escuro", primeiro livro da escritora inglesa Elizabeth Hayne. Gostei bastante do livro: a autora utiliza de forma inteligente o recurso de contar, de forma paralela, duas histórias ocorridas em tempos diferentes. Em 2004, a história de Cathy começa num estado de euforia e vai aos poucos desandando até chegar ao fundo do poço; paralelamente, em 2007, Catherine, como agora é conhecida, começa o livro prisioneira dos transtornos psicológicos resultantes do trauma que sofreu na sua "vida anterior" mas, com esforço e determinação, vai aos poucos reconstruindo sua vida, ou melhor, construindo para si uma vida nova em substituição àquela que foi destruída em 2004.

O fato de que o leitor está vendo na Catherine de 2007 o resultado do estrago que o ex-namorado Lee fez na Cathy de 2004 sem dúvida o ajuda a enxergar os sinais de perigo à medida que ela se envolve com ele. O leitor tem uma visão privilegiada porque conhece o futuro, ao contrário de Cathy e de seus amigos. Mais do que isso, porém, o livro mostra como, mesmo depois que Cathy já percebeu que Lee está longe de ser o homem ideal que aparentava ser quando ela o conheceu, seus amigos não entendem como ela pode reclamar de um homem tão bom e tão apaixonado e chegam a censurá-la por não lhe dar o devido valor. Neste ponto, tanto Cathy quanto o leitor enxergam Lee como ele verdadeiramente é, e chega a dar aflição a maneira como seus amigos simplesmente não entendem o que ela está tentando explicar.

Além do fato de que Lee interpreta com maestria e muito charme o papel de namorado dedicado na frente das outras pessoas, contribui muito para o isolamento de Cathy a dificuldade que ela mesma encontra em apontar o que exatamente torna a situação tão ruim quanto ela diz. Isso não acontece porque ela não seja íntima das pessoas com as quais quer conversar ou tenha dificuldade de se expressar.

O problema é que a situação de Cathy não é auto-explicativa. Certas situações dispensam explicações: quando alguém diz "Meu pai morreu", "Minha esposa me deixou", "Estou com câncer", numa única frase já ficou estabelecida a gravidade da situação. Qualquer coisa que a pessoa diga depois disso não é justificativa, é desabafo: não é necessária nenhuma outra evidência de que a situação é grave e a angústia que a pessoa sente é justificada.

Há, por outro lado, algumas situações que não podem ser resumidas em uma única frase. Nem em duas, nem em três. Relacionamentos abusivos não são o único exemplo desse tipo de situação, mas podem ser um bom exemplo. Quando Cathy busca o apoio dos amigos, o que ela tem para apontar como evidência de que o relacionamento com Lee está lhe fazendo mal são coisas que, fora de contexto, não parecem tão terríveis. Não vou nem tentar descrever aqui, porque o resultado seria o mesmo: para fazer o leitor entender o que Cathy passou, a autora gasta quase cem páginas narrando a relação dela com Lee desde o dia em que se conheceram até a primeira agressão física explícita. Elizabeth Hayne traça o caminho percorrido ao longo desses quatro meses e meio da relação passo a passo, gesto a gesto. Isoladamente e fora de contexto, os atos de crueldade que vão se acumulando não causam nem de longe o mesmo impacto que tiveram sobre Cathy, que os vivenciou dentro do contexto de uma relação abusiva.

Assim, para justificar, aos olhos dos amigos, a necessidade premente de terminar com Lee e tirá-lo da sua vida, Cathy precisaria relembrar cada um daqueles momentos que aos poucos foram transformando seu relacionamento em uma masmorra. O ouvinte precisaria ter disponibilidade para sentar com ela e escutá-la narrar cada um dentre as dezenas de gestos de agressão psicológica, descrevendo o tom de voz, o olhar, o clima da situação, até que a soma de tudo demonstrasse que, sim, ela estava em um relacionamento abusivo e precisava de ajuda para sair dele antes que fosse tarde demais. Esse amigo precisaria ainda ser capaz de escutá-la com a mente aberta, sem interrompê-la na altura da quinta história para dizer que "todo relacionamento é assim mesmo, a gente sempre precisa ceder em alguma coisa" e "certamente também há coisas que você faz que não agradam a ele".

Além disso, mesmo para falar com essa pessoa tão disponível e tão compreensiva, não é pouca coisa o fato de que Cathy teria que reviver no tempo de duração de uma única conversa meses de abuso emocional. É uma dose super concentrada de dor que dá para fazer qualquer um desistir antes mesmo de começar, ainda mais quando somada a isso está a pressão de precisar convencer o outro e fazer por merecer o seu "direito" de estar angustiada.

A história de Cathy, como já seria de se esperar, não tem um final feliz. A história de Catherine tem, porque ela conta com pessoas que acreditam nela e a apoiam, mas também pela força que ela encontra em si mesma para juntar os cacos do que se despedaçou e construir algo novo, e da confiança que advém dessa força recém-descoberta. Mesmo com sua percepção da realidade abalada pelo estresse pós-traumático e um transtorno obsessivo compulsivo adquirido na convivência com um homem que controlava cada minuto do seu dia e cada aspecto da sua vida, só quando Catherine consegue (re)conquistar o direito de acreditar em si mesma e na sua capacidade de julgamento, ela consegue superar o que aconteceu.
 
© Joseasreyes | Dreamstime Stock Photos & Stock Free Images
 

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Sinto Sua Falta

Pra variar e pra me distrair um pouco de tudo o que está acontecendo hoje, posto hoje um texto de ficção.
Esta é uma obra de ficção: qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
Sinto sua falta. Sinto sua falta quando acordo e lembro que não vou te ver hoje. Sinto sua falta de noite, quando repasso os acontecimentos do dia e nenhum deles inclui você. Sinto sua falta nas pequenas coisas, nas coisas simples que fazíamos juntos, nas coisas que você me mostrou pela primeira vez, nas coisas que eu fazia pelo prazer de ter ver sorrir. Nossa, como eu gostava de te ver sorrir!
 
Sinto sua falta tanto que dói, como um nó duro e gelado no estômago, como uma dor que não passa e que, quando passar, vai levar embora consigo a única coisa que me restou de você. Que me restou de nós dois e do tempo em que nós dois éramos "nós dois" e não eu aqui e você... onde? Sinto falta de saber onde você está, de erguer os olhos e te ver do outro lado da sala, cuidando das suas coisas e, às vezes, erguendo os olhos na mesma hora e sorrindo de volta pra mim.
 
Sinto falta da sua risada que se escutava de longe, da sua indignação com tudo que não era certo, da sua vontade de tornar certo o que estava errado. Sinto falta do seus humores bons e maus, da sua voz, dos seus braços, do seu cheiro, das mil e uma expressões e gestos que eu aprendi a reconhecer e interpretar.
 
Sinto sua falta tanto, tanto, tanto, e sei que é inútil e que nada vai mudar o fato de que nós dois não somos mais e não seremos mais. E sinto sua falta mesmo assim, teimosamente, tristemente, enquanto espero que a dor se gaste e se escoe e finalmente se vá e eu possa, então, recomeçar.
 
Mateusz Stachowski @ stock.xchng