quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Improváveis e Necessárias Alianças

Na semana passada, assisti "Uma Longa Queda". Estava listado no catálogo de filmes da Net como comédia, mas, em primeiro lugar, eu já tinha assistido o trailer e sabia que não era uma comédia e, em segundo lugar, alguém ainda leva a sério alguma coisa que a Net diz?

"Sua ligação é muito importante para nós."
(Image courtesy of David Castillo Dominici at FreeDigitalPhotos.net)

Assim, assisti "Uma Longa Queda" e gostei muito do filme. É a estória de quatro pessoas que nunca tinham se visto antes até o dia em que os quatro resolvem, por motivos diferentes, se matar. O problema é que todos os quatro escolhem a mesma forma de suicídio: se jogar do alto de um prédio. Do mesmo prédio. No mesmo dia (31 de dezembro) e no mesmo horário. Os primeiros a chegar ainda tentam seguir a programação original, se organizando na base do "quem chegou primeiro", "quem vai na frente", mas depois de algum tempo, sem conseguir um mínimo de privacidade nesse momento que já seria bastante difícil mesmo em circunstâncias menos tumultuadas, os quatro acabam desistindo e descendo de lá pelas vias tradicionais, mesmo. Não vou entrar em detalhes sobre o resto do filme para não estragar para quem quiser assistir, mas a partir daí a vida dos quatro acaba se esbarrando várias outras vezes e se entrelaçando, algumas vezes de livre e espontânea vontade e outras, a contragosto. Nem tudo que está quebrado na vida de cada um pode ser consertado e o filme não termina com um "e viveram felizes para sempre", mas com uma (mais realista) nota de esperança.

Este filme me lembrou, de certa forma, um outro filme que eu assisti há muitos (muitos!) anos atrás: "Grand Canyon – Ansiedade de Uma Geração" conta a estória de um grupo bastante heterogêneo de pessoas que vive em Los Angeles. Alguns já se conhecem quando o filme começa, outros não, uns são mais felizes que outros, mas todos têm em comum uns com os outros e com os personagens de "Uma Longa Queda" uma qualidade muito humana que os torna bastante críveis, fáceis de reconhecer e de se identificar com eles. São pessoas boas que às vezes fazem coisas ruins, pessoas inteligentes que ocasionalmente tomam decisões idiotas e, principalmente, são pessoas que sabem que a vida nem sempre é simples e nem sempre é fácil, as regras do jogo às vezes não são claras, não tem savepoint e não dá pra pausar o jogo. Em suma, que ser adulto é fogo.

E às vezes ninguém te conta qual é a senha do WiFi.
(Image courtesy of stockimage at FreeDigitalPhotos.net)

Assim como acontece em "Uma Longa Queda", ainda que por motivos distintos, a vida dos personagens de "Grand Canyon – Ansiedade de Uma Geração" se esbarra e se cruza de diferentes formas e em diferentes momentos ao longo do filme. E o que diferencia esses encontros de tantos outros encontros ao longo da vida é que, de repente, essas pessoas se reconhecem. Se reconhecem não no sentido de já terem se encontrado antes, mas no sentido de perceber, de alguma forma, um possível aliado na pessoa à sua frente, nesse jogo confuso em que o adversário muitas vezes usa uma camisa da mesma cor da nossa e só é reconhecido ao jogar a bola direto na nossa cara.

Basicamente isto, mas todos os jogadores usam camisas da mesma cor, dois terços deles sabem qual é o seu joelho fraco e pelo menos dois carregam um estilete escondido. E o juiz às vezes está distraído atualizando seu status no Facebook.
(Image courtesy of pal2iyawit at FreeDigitalPhotos.net)

Existe muita gente ruim no mundo, mas também existe muita gente boa. A questão é que este é um mundo muito, muito grande e as pessoas boas acabam ficando meio dispersas por aí. Por isso é importante não perdê-las de vista uma vez que as encontremos. As pessoas que têm valores semelhantes aos nossos, as pessoas que nos fazem as perguntas difíceis, as pessoas que nos incentivam a sermos, nós mesmos, pessoas melhores.

A gente as encontra por aí. Esbarra com elas e às vezes tem a sorte de reconhecê-las antes que cada um siga o seu caminho e os dois se percam novamente na multidão. A gente mora no apartamento em frente ao delas, trabalha com elas, namora com elas, estuda com elas. E uma parte da gente — a parte mais esperta da gente — reconhece essas pessoas e sabe que mesmo mudando de emprego, terminando o namoro ou se mudando para Timbuktu, a gente não deveria se permitir perder essas pessoas. E que um aliado não é necessariamente uma pessoa que desembainha sua espada e vai lutar ombro a ombro com você no campo de batalha; pode ser simplesmente alguém que está por perto lutando suas próprias batalhas, mas que, se preciso, vai dividir um cantil de água com você, bater nas suas costas e dizer "Vai lá, acaba com eles."

"No fim do dia a gente se encontra aqui de novo, combinado? Se eu sobreviver, o chope é por minha conta hoje."
(Image courtesy of Colin Broug at FreeImages)

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Os Vinte Centavos e as Provas do Enem

Antes de mais nada, quero deixar bem claro que, embora este post comece falando da eleição presidencial de 2014, ele não é sobre política. Dito isso, informo também que meu candidato não ganhou a eleição: concluam daí o que quiserem (ou não concluam nada, já que, como eu disse, este post não é sobre política).

É sobre pandas.
Bom, não é, mas poderia ser, né?
(Image courtesy of Emz452 at FreeImages)

A questão é que, quando o último voto foi registrado no Acre e os resultados foram divulgados, eu fiquei, claro, bem decepcionada. Mas antes mesmo que eu tivesse tempo de acabar de processar a decepção com o resultado, me decepcionei com outra coisa e é sobre isso que eu vou falar hoje.

Menos de uma hora depois de os resultados terem sido divulgados, começaram a pipocar na minha linha do tempo os posts de revolta. Muita gente postando e compartilhando mensagens de uma virulência que me chocou, voltadas especificamente contra quem participou das manifestações de 2013 e que, segundo os autores dessas mensagens de ódio, o fez só de palhaçada, para fazer baderna, já que, quando chegaram as eleições, votou não pela mudança e sim pela permanência no poder do mesmo governo contra o qual tinha protestado um ano antes.

Eu só estive em um dos protestos, e já escrevi aqui no blog sobre a experiência. Não vou entrar agora no mérito da validade dos protestos, da intenção e do caráter dos participantes ou do comportamento da polícia. Neste momento o que eu quero falar é do fato de que a primeira reação de muitas pessoas (pior: de muitas pessoas na minha lista de amigos) foi colocar a culpa do resultado das eleições em pessoas cujo voto elas nem sabem qual foi, mais especificamente acusando essas pessoas de terem votado na situação depois de terem ido para as ruas protestar contra o governo. Peraí, que matemática é essa? 34.897.211 pessoas votaram no Aécio Neves no segundo turno. Quase 35 milhões de pessoas votaram pela não reeleição da atual presidente e ainda assim pessoas que, repito, não têm como saber o voto de ninguém a não ser o seu próprio, "sabem" que entre esses votos não estão os das muito menos que 35 milhões de pessoas que estavam nos protestos de 2013. Os "baderneiros" dos protestos votaram todos na situação, enquanto que os que ficaram em casa compartilhando mensagens no Facebook, esses sim, votaram na oposição.

"Votou na Dilma, sim, que eu sei! E também estaciona na vaga de deficientes, sai mais cedo de fininho e deixa a conta do bar pros outros pagarem e passa com o carro em cima da poça pra jogar água nos pedestres!"
© Ximagination | Dreamstime.com - Angry Woman With Laptop Photo

Isso foi há mais ou menos um mês atrás. Eu pensei bastante sobre isso, cheguei a considerar a ideia de postar algum comentário no Facebook mesmo, mas, francamente, a decepção foi tão grande que eu acabei desanimando: só queria ocultar esses posts da minha linha do tempo e esquecer que eles tinham um dia existido.

Até que, na semana passada, chegou a época dos exames do Enem e o fenômeno se repetiu, com menos agressividade mas com a mesma intolerância e lógica distorcida. Na verdade, no caso do Enem isso acontece todo ano, mas neste ano me chamou mais a atenção por causa da proximidade com o incidente das eleições. Todo ano é assim: no instante em que os portões se fecham, os meios de comunicação começam a publicar fotos, vídeos e entrevistas com candidatos que foram barrados no exame por chegarem atrasados e, na esteira dessas histórias, vêm as críticas comparando esses casos com a quantidade de jovens e adolescentes que pernoitam na fila para garantir o ingresso ou o melhor lugar em shows. E eu, mesmo concordando que para um evento do porte do Enem se sai de casa com antecedência, para prevenir atrasos devido a engarrafamento, pneu furado e todo tipo de imprevisto, ainda assim pergunto: essa gente, por acaso, sabe se aquele garoto batendo boca com o fiscal do outro lado do portão fechado ao menos comprou ingresso para o show da Miley Cyrus? O que essa menina se descabelando e implorando pra entrar no local da prova tem em comum com as que acamparam na fila do show do Justin Bieber além da faixa etária? Essa gente que é tão rápida no gatilho na hora de fazer pouco do choro alheio, seja ele justificado ou não, sabe alguma coisa — qualquer coisa — sobre essas pessoas além do fato de que elas se atrasaram e perdereram a prova do Enem?

"Só isso, não. Eu sei também que elas... hum... ficaram chateadas por terem perdido a prova?"
(Image courtesy of Ambro at FreeDigitalPhotos.net)

Eu sei que, no caso da eleição, foi uma reação no calor do momento e da qual algumas pessoas podem ter se arrependido mais tarde. Sei que, teve, sim, gente que foi aos protestos de 2013 só de oba-oba. Sei que é bem capaz de ter tido mesmo gente que saiu de casa com cinco horas de antecedência pro show mas, no dia da prova do Enem, chegou da balada às seis horas da manhã e ainda foi tirar um soninho antes da prova. Mesmo assim, esses posts me deixaram muito triste, pois o que eles me dizem sobre as pessoas que os fizeram não é nada bom.

O que eu enxergo nestes casos é o seguinte: na eleição presidencial, a frustração com a derrota ativou uma resposta automática de acionar o Comando de Caça aos Culpados que algumas pessoas talvez nem desconfiassem que tinham. No Enem, acho que foi mais um impulso de dizer "bem feito" ou "eu teria feito melhor" para quem quebrou a cara, especialmente se a pessoa quebrou a cara com estilo, de uma maneira extravagante que pode ser imortalizada em vídeo e ridicularizada. Nos dois casos, para muita gente acredito que houve também o "fator Facebook": vi uma coisa na minha linha do tempo, achei bem bolada e o mouse já está deslizando automaticamente na direção do botão de "Compartilhar" em uma tentativa de pegar uma carona nos "Curtis" do post.

É possível que as pessoas que escreveram e/ou compartilharam esses posts tenham mudado de ideia a respeito deles mais tarde; talvez até os tenham excluído do Facebook, não sei. Eu sei que eu constantemente faço e digo coisas das quais me arrependo.

Constantemente, MESMO. Eu sou uma anta.
(Image courtesy of Stuart Mile at FreeDigitalPhotos.net)

E até que seria bom se tudo que é dito da forma errada ou na hora errada pudesse ser excluído tão facilmente quanto um post no Facebook. Mas não dá, por isso a gente precisa pensar antes de agir, de falar e até de postar no Facebook. Ser adulto não é fácil. É possível expressar um pensamento correto da forma errada. Uma piada pode ser ao mesmo tempo engraçada e ofensiva. E preferir perder o amigo a perder a piada é coisa de gente que não entende nem de amizade, nem de piada.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Três Palavras Que Não Existem e/ou São Usadas de Forma Errada

Todo mundo gosta de causar uma boa impressão. É natural e saudável. E se expressar bem, demonstrando fluência e um bom vocabulário, é uma forma de causar uma boa impressão. Quando você usa uma palavra de forma incorreta, no entanto, com um sentido que ela nunca teve, acaba ficando menos parecido com o Rui Barbosa e mais com o Odorico Paraguaçu.

"Quando você disse que ele tinha escrito 'esquerda comunista, marronzista e badernenta' no e-mail, juro que achei que você estivesse me zoando!"
(Image courtesy of David Castillo Dominici at FreeDigitalPhotos.net)

Simplório
simplório
sim.pló.rio
adj (de simples) Diz-se do indivíduo muito crédulo, ingênuo ou papalvo, que se deixa enganar ou ludibriar com facilidade.

Ou seja, se a documentação do sistema, o manual do usuário ou a descrição do processo estão simplórios, joga essa porcaria fora antes que o estrago seja pior. Se por outro lado, o documento for só um esboço, estiver pouco detalhado, resumido ou incompleto, aí realmente dá pra quebrar o galho enquanto a versão definitiva não fica pronta. Só não dá essa tarefa pra gente simplória, porque é assim que a maioria dos problemas começa.

"A documentação ainda está assim, meio simplória, mas já é um começo, né?"
(Original image courtesy of Idea go at FreeDigitalPhotos.net)

Acertividade

Assertividade, assim mesmo com "ss", é a característica de quem é assertivo, positivo, firme na sua afirmação. "Acertividade"... não existe. "Acertivo" também não existe. Existe acerto, é verdade, mas parou por aí. Uma coisa pode estar certa, correta, exata, verdadeira, mas nunca estará "acertiva" e, portanto, nunca terá uma "acertividade" que possa ser verificada. Ou seja, só de tentar avaliar a "acertividade" de alguma coisa, você já está, por definição, errado.

"Zero pra você."
(Image courtesy of patrisyu at FreeDigitalPhotos.net)

Meiados

"Meiados" também não existe, sinto muito: a palavra que você está procurando é meados, sem o "i". Se a data a que você está se referindo cai lá pelo dia 15, é em meados do mês, e não em "meiados".

"Mas," alguém poderia argumentar, "meio tem 'i', e 'meiado' vem de meio, então...". Então, nada. Ceia tem "i" e cear não tem. Eu também não entendo a maioria dessas regras, mas você pode procurar um linguista, se quiser, e perguntar: tenho certeza que ele vai ter o maior prazer em explicar.

"Magia."
(Image courtesy of marcolm at FreeDigitalPhotos.net)

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Não é Nada

O povo adora compartilhar isso no Facebook: n expressões que as mulheres usam e o que elas realmente querem dizer. E cada vez que uma dessas pérolas dá as caras na minha linha do tempo me bate aquela vergonha alheia, aquela raiva de mulher que faz esse tipo de joguinho e dá má fama à categoria, e de homem que deixa esse tipo de mulher se criar, que se estressa mas depois ri e sacode a cabeça: "Mulher é tudo doida."

Eu juro que não sei que vida é essa que esse povo leva que é tão descomplicada e sem estresse que eles aparentemente ficam entediados e precisam criar complicação onde não tem. Tanta coisa mais divertida pode ser feita no tempo que um perde dizendo o que não sente enquanto o outro tenta decodificar pra descobrir qual era a verdadeira intenção por trás da frase. Gente, se vocês não conseguem pensar em nada mais legal pra fazer com o tempo que economizariam dizendo as coisas de forma direta, você estão fazendo isso MUITO errado.

Bom, não era bem a isso que eu me referia, mas... enfim, ainda é mais divertido do que esses joguinhos.
(Image courtesy of imagerymagestic at FreeDigitalPhotos.net)

Não é nada.

Você está irritada. Com ele, com você mesma, com a vida, não importa. Você está chateada e dá pra perceber, e o namorado vira pra você pergunta: "O que foi?". Nesse momento, você tem duas opções, e preste atenção porque são só duas mesmo. A primeira — e mais eficiente no sentido de resolver o problema que está te irritando — é dizer "Estou irritada / ofendida / magoada / <escolha o seu estresse> com tal ou qual coisa que você fez ou deixou de fazer." Essa estratégia tem várias vantagens, a primeira e mais óbvia sendo o fato de que pode ser que ele não tenha feito ou deixado de fazer de propósito. Na verdade, o mais provável é que não tenha mesmo, porque, se ele faz de propósito coisas que te irritam, minha filha, o que é que você ainda está fazendo ao lado desse psicopata?

"AMOR, ACORDA! ESTÁ NA HORA DE VOCÊ FAZER O MEU CAFÉ DA MANHÃ!"
(Image courtesy of imagerymagestic at FreeDigitalPhotos.net)

Bom, fora essa pessoa que eu espero que tenha parado de ler o blog pra ir terminar com o psicopata, o resto de nós que somos normais pode muito bem explicar para o namorado o que foi que ele fez ou deixou de fazer que nos irritou. Se ele vai mudar de atitude por causa disso? Não sei. Pode ser que sim. Pode ser que ele tenha seus motivos e você é que precise entender. Pode ser que ele não só não mude como ainda se ofenda porque você ficou irritada pelo que ele considera uma trivialidade. O fato é que, ao dizer claramente o que foi que ele fez ou deixou de fazer, você estará economizando um tempo precioso que, caso contrário, seria gasto com ele tentando descobrir, por tentativa e erro, como te desemburrar.

Um tempo que — não custa repetir — poderia ser melhor empregado.
(Image courtesy of stockimages at FreeDigitalPhotos.net)

E ainda há outro motivo muito importante para optar pelo diálogo franco ao invés da estratégia do "não é nada". Na qualidade de pessoa que já esteve do outro lado desse jogo (sim, eles também sabem jogar o jogo do "não é nada"), eu posso garantir que é uma sensação horrível. Você sabe que alguma coisa não está bem, você desconfia que é por sua causa, mas você não faz a menor ideia do que foi que você fez. Você está preso naquela situação ruim e não sabe como sair dela porque, repito, você não sabe o que está acontecendo e ninguém te conta. Não é uma situação na qual você queira colocar uma pessoa de quem você gosta. Se é, sinto muito te dizer, mas a psicopata aqui é você.

"Ah, amor, desculpa: acho que apaguei a sua tese de doutorado. É, o backup também. Oops."
(Image courtesy of marin at FreeDigitalPhotos.net)

A outra opção também aceitável é dizer "não é nada com você, não: foi uma coisa muito chata que aconteceu no trabalho / na reunião de condomínio / no aniversário da minha avó / <escolha o seu problema>, mas eu não estou com vontade de conversar sobre isso agora". E não é preciso dizer que essa resposta só vale se realmente não é nada com ele, né? Como assim, precisa? Ai, ai... Tá bom, então: só vale dizer para o namorado que o problema não é com ele se o problema realmente não for com ele. Está claro, agora? Muito bem.

Você é quem sabe.

Tudo bem, eu sei que homem às vezes é que nem criança e faz uma pergunta cuja resposta já sabe na esperança de que, sei lá, você esteja distraída e dê a resposta que ele quer ouvir. Mas isso não é desculpa pra responder "você é quem sabe" deixando implícita a ameaça, aquele "faz diferente do que eu quero pra você ver o que te acontece". Essa resposta é cretina por dois motivos: primeiro porque ele pode até estar sendo infantil, mas ele não é uma criança e você não é a mãe dele pra ficar fazendo ameaça nem pra colocar ele de castigo se ele não fizer as coisas do jeito que você acha correto. E se você (ou ele) tem alguma dúvida a esse respeito, a sua relação tem problemas bem mais sérios do que seja o que for que ele está querendo fazer e você não quer.

O segundo motivo pelo qual usar essa resposta como arma é uma coisa horrível de se fazer é que às vezes ele realmente não sabe o que você prefere e está tendo consideração o suficiente por você para perguntar. E aí dizer "você é quem sabe" só para preparar uma armadilha e induzi-lo a fazer a escolha "errada" é coisa de quem não tem nada melhor para fazer da vida.

Sério, gente: de quantas sugestões mais vocês precisam?
(Image courtesy of stockimages at FreeDigitalPhotos.net)

A única situação em que "você é quem sabe" é uma resposta aceitável é quando realmente não faz diferença e qualquer coisa que ele escolha está boa pra você. Caso contrário, fala logo o que você quer e para de esperar que ele leia a sua mente.

Esquece.

Se você diz "esquece" e depois se irrita porque ele esqueceu o assunto mesmo, procure ajuda profissional, porque o seu caso é sério. Que tipo de pessoa consegue, com uma frase de uma única palavra, dizer o contrário do que pretendia? Só diga "esquece" se for pra esquecer mesmo; caso contrário diga "vamos dar um tempo nesse assunto e conversar mais sobre isso outra hora, com mais calma", diga "em casa a gente conversa", diga "não vamos discutir isso agora, na frente dos seus amigos", recite a letra inteira e sem cortes de "Faroeste Caboclo", se quiser, só não diga "esquece", não se depois você vai voltar ao assunto quando ele menos esperar e com fúria redobrada. Ou se vai ficar de cara amarrada pelo resto na noite e, quando ele perguntar qual o problema, você vai responder "não é nada".

Se você não vai fazer isso pelo bem do seu namorado e da sua relação, faça isso por todas nós, mulheres normais e (razoavelmente) equilibradas que não aguentamos mais levar a fama por causa da sua esquizofrenia.

E, acredite, nós não temos a mesma paciência que o seu namorado tem com você.
(Image courtesy of marin at FreeDigitalPhotos.net)

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Zombies, Run!

Depois de concluir — em Moscou, pra ser bem cosmopolita — meu treinamento de corrida de 5 Km, passei do aplicativo Zombies, Run! 5K para Zombies, Run! (versão completa). Este, ao contrário da versão 5K, não é um programa de treinamento, mas um jogo mesmo. Segue a mesma história básica do mundo assolado por zumbis em que cada cidadela/fortaleza tem uma equipe de corredores encarregados de sair periodicamente da cidade e vasculhar os arredores em busca de mantimentos, remédios, armas, munição e o que mais puder ser útil para a sobrevivência.

Em missões que duram de trinta minutos a uma hora, dependendo de como o jogo for configurado, o jogador corre usando fones de ouvido e com o GPS do celular ativado enquanto o aplicativo vai marcando o tempo e a distância percorrida e informando os itens que vão sendo encontrados e recolhidos (ao melhor estilo videogame, sem parar nem diminuir o ritmo, em uma única corrida o jogador pode recolher várias latas de mantimentos, armas, garrafas de água, cobertores etc sem ser afetado pelo peso dessa tralha toda).

"Eu? Tô ótimo! Super confortável. Por que?"
(Image courtesy of stockimages at FreeDigitalPhotos.net)

Com o modo "Chases" (perseguições) ativado, de tempos em tempos a música é interrompida pelo temido alerta "Warning: zombies at one hundred meters" (Aviso: zumbis a  cem metros). Nesta hora, é preciso acelerar e aumentar em 20% a velocidade para escapar dos zumbis. Se o jogador conseguir manter esse pique por um minuto, é informado que deixou os zumbis para trás e pode reduzir a velocidade novamente; caso contrário, deixará cair alguns dos itens que está carregando e os zumbis vão se distrair e parar de persegui-lo. Mas esses itens vão fazer falta depois que a corrida terminar, na hora de ampliar a  cidade, construir mais prédios ou fazer melhorias nos prédios existentes. A minha cidade já tem um alojamento, um depósito de armas, uma central de comunicações e uma área de jogos. Atualmente estou juntando material para ampliar a cidade e, assim, ter espaço para um hospital.

Abel Town (https://www.zombiesrungame.com/RaquelPS/base/)

Na semana passada, o mecanismo que controla os portões da cidade emperrou com os portões abertos, tornando impossível fechar os portões enquanto ele não fosse consertado. Todos os corredores da cidade foram convocados a sair e atrair a atenção de qualquer zumbi que se aproximasse da cidade, mantendo-os afastados dos portões. A  Corredora Número 8 e eu (que sou a Número 5, substituindo a Cinco original que morreu um pouco antes da minha chegada na cidade) corremos juntas, e assim eu fiquei sabendo que até agora não descobriram quem comandou o ataque ao helicóptero que me levava para a cidade (o helicóptero foi derrubado por fogo inimigo e só eu sobrevivi) e que nem todo mundo na cidade confia em mim. Como disse a Número 8, eu poderia até mesmo ser a própria pessoa que derrubou o helicóptero me passando por uma sobrevivente, já que ninguém em Abel Town me conhece e o pessoal da minha cidade de origem se recusa a enviar mais gente enquanto não tiverem certeza de que não vai haver mais ataques.

Junto com a música que toca entre um diálogo e outro, essa estória ajuda a distrair do esforço da corrida, já que o objetivo do jogo, além de aprimorar e defender a cidade, é desvendar esse e outros mistérios. Além dos suprimentos, durante a corrida às vezes eu "recolho" também jornais, folhetos e documentos que posso ler depois para ir aprendendo mais sobre a estória do jogo.

E, assim, entre perseguições, mistérios, uma espécie de Simcity pós-apocalíptica e música, tenho feito uma coisa que nunca na vida achei que faria (e muito menos que curtiria): correr 5 Km três vezes por semana.

Eu e esse povo super do bem.
© Moori | Dreamstime.com - Scary Bloody Zombies Waiting For A Prey Photo

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Santa Mariana, PR

Como eu previ no post do dia 10, o projeto "Santa Rosa de Calamuchita" deu uma desacelerada enquanto eu estava na Rússia, mas eu não pretendia mesmo me preocupar com o peso durante a viagem, por isso não fiquei aborrecida.

Mas já estou de volta no Rio de Janeiro e já retornei ao ritmo normal, e hoje, finalmente, terminei de atravessar o estado de São Paulo e cheguei ao Paraná: acabo de sair da cidade de Santa Mariana e peguei a BR–369 rumo à fronteira com o Paraguai.

É uma pena que esses marcos de 100 Km estejam quase sempre localizados na estrada, por isso as fotos acabam ficando muito parecidas. Cheguei a pensar em substituir as fotos das rodovias por fotos das cidades mais próximas, mas depois decidi que isso seria uma trapaça nas regras deste jogo maluco que eu inventei pra me distrair durante a dieta, por isso ficam as fotos da estrada mesmo, torcendo para o próximo marco ser dentro de uma cidade.

Saindo de Santa Mariana e pegando a BR–369

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Regras, Exceções e Preconceitos

Esta história aconteceu há muito tempo atrás, no tempo em que eu ainda era programadora. Logo no início do projeto, houve uma reunião de levantamento de requisitos à qual comparecemos eu, a gerente do projeto e duas representantes da área usuária. Eu e a gerente do projeto, como trabalhávamos no mesmo andar, fomos juntas até a sala de reunião e lá nos encontramos com uma das representantes da área usuária, que nos disse que a outra estava um pouco atrasada mas já estava chegando. E assim, ficamos as três esperando e, claro, puxando assunto, já que isso foi antes da época em que todo mundo tinha Internet no celular para ter um pretexto para não falar com os outros.

"Esse barulho? Ah, é: tem umas outras pessoas aqui. É, elas estão comigo... eu acho."
(Image courtesy of Ambro at FreeDigitalPhotos.net)

Conversa vai, conversa vem, a representante da área usuária contou que tinha se mudado para o Rio recentemente, pois era de Natal e sempre tinha morado lá. Coincidentemente, tanto eu quanto a gerente do projeto tínhamos estado recentemente em Natal em nossas respectivas férias. Eu disse que tinha adorado a cidade, achado o povo muito acolhedor e simpático (achei mesmo) e a gerente do projeto concordou, dizendo que a cidade era linda, "cheia de gente bonita, nem parece...". E aí ela empacou. Claro. Como dizer, na cara de uma nordestina, que o povo da cidade dela é tão bonito que nem parece nordestino? Porque ficou óbvio, para todas as pessoas na sala, que era exatamente aquilo que ela ia dizer antes de se tocar e engasgar no meio da frase, com aquele ar de pânico de um paraquedista que acabou de perceber que, na pressa de sair de casa, pegou a mochila errada.

"É... Pessoal? Nenhum de vocês por acaso trouxe um para-quedas a mais que possa me emprestar, trouxe?"
(By SKYDIVER1973 (Own work) [Public domain], via Wikimedia Commons)

Se eu tivesse pensado em alguma forma de ajudar, juro que tinha ajudado. Mesmo sendo bem-feito ela estar naquele aperto pra aprender a não falar bobagem, ainda assim eu teria ajudado. Mas, convenhamos, como é que se conserta uma situação dessas? E mais: como é que se conserta uma situação dessas mantendo, ao mesmo tempo, uma distância segura, sem correr o risco de ficar também associada àquela gafe fenomenal? É como ver alguém levando um choque: você quer ajudar, mas não quer encostar na pessoa pra não levar choque também.

"Nem vem! Da próxima vez, pensa antes de abrir a boca."

Enfim, o fato é que eu não consegui pensar em uma forma de salvar a situação, ela muito menos, e assim a frase ficou no ar, inacabada mesmo e causando aquele climão bonito na sala. E eu fiquei (e ainda fico) pensando nessas ideias de jerico que as pessoas têm e às quais são tão apegadas que, mesmo quando confrontadas com evidência em contrário, a sua reação não é dizer "Quem diria! Eu estava enganado a respeito dos membros desse grupo: nem todos têm essa característica!", e sim "Puxa, essa pessoa faz parte desse grupo, mas nem parece! Parece até que faz parte daquele outro grupo."

"Mas... você come hambúrguer! Tem certeza que você é japonesa?"
Ryanking999 | Dreamstime.com - Woman Loves Hamburger Photo)

A famigerada expressão "preto de alma branca" é um bom exemplo desse tipo de pensamento tosco. Outra muito usada por gente bem intencionada mas que não para pra pensar no que está dizendo é "ela é mais macho que muito homem", para se referir a uma mulher que é prática, determinada, não tem frescura. Pois essas, aparentemente, são características inerentemente masculinas, consequência da presença de um cromossomo Y e não de uma boa criação, auto-estima e caráter.

Dá pra entender alguém ter um conceito equivocado a respeito dos membros de um determinado sexo, religião, grupo étnico, nacionalidade, profissão etc se, durante toda sua vida, essa pessoa só conheceu membros desse grupo que se enquadravam nesse padrão. Quer dizer, dá pra entender mais ou menos, porque quem entende um mínimo de estatística (ou de bom senso) sabe que os doze advogados que você conheceu ao longo da sua vida não podem ser considerados uma amostra representativa dos mais de 120.000 advogados no estado do Rio de Janeiro, que dirá da classe como um todo. Sério, povo, para e faz as contas: se você conhece 12 advogados desonestos no estado do Rio, você não conhece nem 0,01% da categoria. Imagine comprar um pacote com 200 caixas de fósforo, o primeiro fósforo não acender e você jogar todas as 200 caixas fora. Pois é. É a mesma proporção.

"Infelizmente, este ano vamos ter que jogar fora toda a produção." "Por que?" "Aquele saco ali do fundo, tá vendo? Está estragado."
(Image courtesy of Sailom at FreeDigitalPhotos.net)

Não faz lá muito sentido, né? Mas ainda consegue fazer mais sentido do que considerar qualquer pessoa que não se encaixe no seu (pre)conceito não como uma exceção que prova que a regra não é assim tão universal e sim como um produto fora da especificação, um ser híbrido que pertence a um determinado grupo mas tem características de outro. E não enxergar (ou não querer enxergar, porque mudar de opinião dá um trabaaaalho!...) o quão ofensivo é você dizer a uma pessoa que as qualidades que ela tem, as tem apesar de ser nordestino / negro / mulher / <insira aqui o seu preconceito>. Isso, sim, é coisa não de homem, mulher, preto, branco, médico, argentino, paulista ou evangélico, e sim de gente meio ameba.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Canitar, SP

Por um erro de cálculo, eu achei que a minha próxima parada no trajeto rumo a Santa Rosa de Calamuchita fosse ser em Ourinhos, mas, na verdade, a marca dos 8 Kg eliminados me deixou um pouco atrás, ainda na Rodovia Raposo Tavares, passando pela entrada para a cidade de Canitar.

Rodovia Raposo Tavares (entrada para Canitar)

Canitar é uma cidadezinha minúscula no interior de São Paulo, com — acreditem! — menos que 5.000 habitantes, de acordo com o IBGE. Ela fica perto da fronteira com o Paraná e é a minha última parada no estado de São Paulo: quando eu chegar a 900 Km de distância do Rio de Janeiro, já estarei no Paraná. Depois disso, Paraguai!

Não sei como será o ritmo da próxima semana, já que na segunda-feira embarco para São Petersburgo (ao contrário da minha viagem para Santa Rosa de Calamuchita, esta não é uma metáfora: realmente vou passar alguns dias na Rússia). Por um lado, isso quer dizer que não vou correr por uns tempos e que não vai ter dieta nesse período, também. Por outro, prevejo muita bateção de perna pelas ruas de Moscou e São Petersburgo, já que, convenhamos, viajar pra conhecer hotel é dose, né?

Já habilitei o meu celular para uso no exterior e adquiri um pacote de dados internacional, mas a intenção principal é mesmo manter a família atualizada e ciente que ainda estou viva. Se eu tiver tempo e disposição, atualizo o blog enquanto estiver lá: se não tiver, fica pra quando eu voltar.

Pelo Direito de Usar Luto

Atualmente não se usa mais luto. Ninguém se veste de preto (ou de branco: ouvi dizer que em certas culturas a cor do luto é o branco) quando morre uma pessoa querida. Sofre-se, é verdade, do mesmo jeito: a cor da roupa não faz ninguém sofrer nem mais, nem menos. Mas não se usa luto, não se veste nenhuma roupa ou cor específica para demonstrar exteriormente a dor interior.

E, embora a dor da perda seja, sem dúvida, algo interno e que independe de manifestações externas, me peguei recentemente pensando que não seria uma ideia assim tão ruim vestir luto e, assim, indicar ao resto do mundo que algo valioso foi perdido. Deveria-se poder usar luto não só pela morte de uma pessoa querida, mas por qualquer perda. Pelo fim do casamento, pela promoção que não saiu, pela amizade que não era tão sólida quanto parecia, pelo projeto que fracassou, pela pessoa que não quis ou não pôde retribuir o afeto, por tudo o que foi perdido e por tudo o que parecia que poderia ser conquistado mas acabou se revelando inacessível.

Sem necessidade de maiores explicações, o traje de luto já é informação suficiente para evitar comentários bem-intencionados mas nem sempre bem-vindos do tipo "Nossa, você está tão quieto(a) hoje!", "Por que você está tão sério(a)?", "Está chateado(a) com alguma coisa?". O traje de luto funcionaria como um letreiro luminoso sobre a cabeça do enlutado: "Não, esta pessoa não está com raiva de você. Ela não está achando a comida ruim, não ficou ofendida com o tom do e-mail nem achou a piada sem graça. Ela apenas está de luto. Deixa ela em paz. Ou então oferece chocolate."

Uma pessoa chateada pode ser animada com uma piada, uma happy hour, uma boa notícia. Uma pessoa de luto já tem problemas suficientes sem precisar fingir que está se divertindo para que as pessoas bem-intencionadas parem de perguntar se está tudo bem. Imagina estar com uma perna quebrada e ficarem perguntando todo dia: "E agora? Você já sarou? Se eu fizer uma massagem, ajuda?". As pessoas não fazem isso, e sabe por quê? Porque você está usando uma bota imobilizadora enorme que deixa bem claro que não, você não vai jogar futebol hoje e não se trata de corpo mole.

O luto não é uma forma de negociação, para as pessoas se sentirem mal por você e te darem o que você quer: vestir luto é uma forma de admitir a derrota, de reconhecer que é "game over" e que o que foi perdido não vai voltar. O luto é final.

Ao mesmo tempo, o luto é passageiro. Ele pode durar dias, semanas ou meses, mas um dia ele passa. E, nesse dia, basta despir o véu, tirar do armário aquela blusa vermelha e sair para a rua, novamente sem precisar explicar nada para ninguém. Sem alarde e sem grandes manifestações.

Eu acho que a gente devia vestir luto sempre que fosse necessário. Sem explicações, porque cada um sabe de si e sabe onde dói. Não importa se um é demitido e segue em frente sem se abalar e o outro quebra um copo e senta no chão e chora. O luto é democrático: todo mundo já sabe, só de olhar para você, que não importa o que aconteceu, importa é que te deixou sem chão. Talvez você conte para as pessoas mais próximas o que aconteceu. Talvez, mais cedo ou mais tarde, todo mundo acabe sabendo de qualquer jeito. Ou talvez você guarde tudo a sete chaves e nunca, jamais conte pra ninguém. De uma forma ou de outra, todo mundo deveria poder passar pelo seu período de luto sempre que necessário, sem precisar compartilhar mais do que quisesse, mas também sem ficar com o maxilar doendo de tanto sorrir sem vontade.

Pronto, falei.

Image courtesy of Stop2pray @ FreeImages

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Estrada Vicinal Iaras – Cerqueira César

Há alguns posts atrás, eu disse que tinha 226 Km de Rodovia Presidente Castelo Branco para percorrer na minha jornada até Santa Rosa de Calamuchita. Assim, para variar um pouco e não postar tantas fotos da beira da estrada, pulei o marco dos seis quilos e estou celebrando hoje o sétimo quilo eliminado. Mantendo a comparação com a rota Rio de Janeiro – Santa Rosa de Calamuchita, acabei de cruzar a rodovia para entrar à esquerda na Estrada Vicinal Iaras – Cerqueira César.

Essa coisa impressionante aí é a Estrada Vicinal Iaras – Cerqueira César

Com todo o respeito pelos habitantes de Vicinal Iaras e de Cerqueira César, a estrada é tão no meio do nada que nem o Google Street View  tem foto dela. A última foto disponível é essa aí de cima, logo depois de cruzar a Rodovia Presidente Castelo Branco e embicar em direção à Estrada Vicinal Iaras – Cerqueira César. E é bem aí que eu estou nesse momento. Enquanto paisagem, não é exatamente uma visão impressionante, mas representa 23% da meta atingida, o que, convenhamos, não é nada mal.

Essa sou eu, na seta vermelha.

sábado, 27 de setembro de 2014

Filé ao Molho de Palmito

Hoje foi dia de atrasar um pouco a minha chegada em Santa Rosa de Calamuchita: acho que ainda vou passar mais uns dias na Rodovia Castelo Branco... Assim, aviso aos navegantes (e aos caminhantes): esta receita não chega a ser uma receita engordante, mas também não é exatamente uma receita light.

A quantidade que eu fiz deu para três pessoas almoçarem bem. A parte da batata é super óbvia e quem já tem experiência de cozinha pode pular essa explicação, mas eu sei bem o que é não entender nada de cozinha e explico tudo nos mínimos detalhes em benefício de quem nunca pegou numa panela na vida.

Ingredientes:
  • 5 bifes
  • 3 batatas
  • meia cebola
  • 1 tomate
  • meio pote (350g) de palmito
  • 100g de creme de leite
  • 1 colher (sobremesa) de molho inglês
  • sal a gosto
  • pimenta do reino a gosto
  • azeite a gosto
Obs. Como sempre, dou os valores de referência do "a gosto" mais adiante.

Preparo:
  1. Coloque para ferver em uma panela água suficiente para cobrir as batatas depois de picadas em pedaços.
  2. Enquanto a água esquenta, descasque as batatas.
  3. Pique as batatas em pedaços pequenos.

Batata picada em pedaços pequenos
  1. Quando a água estiver fervendo, coloque as batatas e duas colheres (sobremesa) de sal.
  2. Misture, tampe a panela e deixe a batata cozinhando por uns 20 minutos em fogo baixo.
  3. Depois dos primeiros 10 minutos, prove um pedaço de batata e veja como está de sal. Se achar que precisa, bote um pouco mais de sal e vá provando até ficar ao seu gosto. Não esqueça de anotar quanto usou para quando for repetir a receita!
  4. Enquanto a batata cozinha, aproveite para temperar os bifes: eu usei, para cada bife, meia colher (café) de sal e um tiquinho de pimenta. Infelizmente, no caso da carne, não dá pra ir provando e colocando mais sal: só resta aprender com a experiência e tentar com mais (ou menos) tempero da próxima vez.
Um tiquinho de pimenta (medido na colher de chá).
  1. Depois que a batata estiver pronta, escorra a água, acrescente um fio de azeite, misture e está pronta para servir.
  2. Acabe de temperar os bifes (se ainda não tiver acabado) e deixe de lado enquanto prepara os ingredientes do molho.
  3. Se você for como eu, rale a cebola em um ralador super fino, praticamente pulverizando a danada. Se for menos enjoado que eu, pode só picar ou mesmo cortar a cebola em rodelas (eca!, mas gosto não se discute...).
  4. Pique o tomate em pedaços pequenos (que nem a batata) e tire as sementes.
  5. Pique o palmito em rodelas.
  6. Coloque um pouco de óleo na frigideira para fritar os bifes. Para os inexperientes, é só o suficiente para cobrir todo o fundo da frigideira, lembrando que o óleo não se espalha sozinho, tem que mexer a frigideira para ele se espalhar por todo o o fundo: se você for só colocando óleo na frigideira até ele cobrir todo o fundo, vai ter óleo pra caramba!
  7. Frite os bifes em fogo alto e vá colocando no recipiente em que eles vão ser servidos. O tempo depende da sua preferência de ponto da carne, mas, mesmo para mim que gosto de carne bem passada, é bem rápido. Na dúvida, tire um bife da frigideira, faça um corte no meio e veja se o ponto está bom: se estiver muito mal passado pro seu gosto, é só colocar de volta na frigideira e passar mais um pouco.
  8. Aproveite também para provar um pedaço de um dos bifes prontos e ver como ficou de tempero, para poder compensar no molho, se for preciso.
  9. Depois de passar todos os bifes, coloque a cebola e o tomate na mesma frigideira, junto com o caldo que restou da carne.
  10. Misture até o tomate começar a amolecer e soltar da casca.
  11. Acrescente o creme de leite, o palmito, o molho inglês e meia colher (sobremesa) de sal.
  12. Mexa, prove e vá acrescentando mais sal ou creme de leite se achar que precisa até ficar ao seu gosto. Novamente, não esqueça de anotar quanto usou!
  13. Derrame o molho sobre os bifes e sirva junto com as batatas e, se quiser, arroz branco.
Bom apetite!


sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Fazenda de Expectativas

Anda na moda postar no Facebook que não se deve criar expectativa. Que é melhor se surpreender do que se decepcionar. Que, se for pra criar, que se criem galinhas, porcos, gatos, cachorros, demônios da Tasmânia ou pôneis malditos, mas nunca expectativas. Que, se você se decepciona, a culpa é sua: quem mandou criar expectativa?

"Nada disso teria acontecido se você não tivesse criado a expectativa de que o celular teria sinal."
(Image courtesy of stockimages at FreeDigitalPhotos.net)

Ao que eu digo: crie expectativas, sim. Crie galinhas, crie porcos, crie patos se der na telha, mas não abra mão jamais do seu direito de criar expectativas. Crie uma fazenda inteira de expectativas, se quiser, porque as expectativas são aquilo que nos impulsiona para frente.

É verdade que as expectativas nem sempre se concretizam. Às vezes a gente exagera no otimismo, interpreta errado os sinais, mete os pés pelas mãos e coloca tudo a perder. Bem vindo à vida adulta. A gente erra, aprende e segue em frente. E é verdade que, se não tivéssemos criado expectativas, a decepção teria sido menor. Mas, e quando dá certo? Porque às vezes dá certo, por incrível que pareça e por mais que na hora da derrota pareça que nunca mais vai dar certo. Às vezes dá certo, e o sucesso é mais saboreado quando vem depois de muita expectativa.

É melhor se surpreender do que se decepcionar? Claro que é, mas essa é uma frase idiota: é como dizer que é melhor pagar caro por um produto bom do que pagar caro por um produto ruim, como se não houvesse outras opções além dessas duas. Pagar R$ 30,00 por um chocolate da Copenhagen realmente é melhor do que pagar R$ 30,00 por um pacote de biscoito de maisena, mas bom mesmo é pagar R$ 3,00 por um chocolate da Copenhagen.

Ou R$ 30,00 por dez chocolates da Copenhagen.
(Image courtesy of Nkzs at FreeImages)

Da mesma forma, se surpreender é melhor do que se decepcionar, mas, melhor ainda do que se surpreender é botar a maior fé que alguma coisa vai acontecer, e torcer, e lutar por isso, e fazer tudo o que está ao seu alcance e, no fim... não é que acontece mesmo? Do jeito que você queria e esperava?

Se decepcionar é uma droga, mas não dá pra adivinhar quando a gente vai se decepcionar e quando vai conseguir aquilo que deseja: se fosse assim, a gente alinharia as expectativas com antecedência. Mas a vida não é assim. A gente avalia a situação, pesa os prós e os contras e, se achar que dá pé (ou se não tiver muita certeza de que dá mas quiser muitão que dê), cria a expectativa e corre atrás. Porque, se não criar expectativas, vai fazer o quê? Ficar sentado no sofá da sala assistindo reprise de Lost pra ver se, da segunda vez, a história faz mais sentido? É porque criamos expectativas que corremos atrás, que tentamos consertar o que está quebrado e recuperar o que foi perdido. Porque achamos que dá pé. Que pode rolar. Que, desta vez, vai. E, se não tentarmos, aí é que não vai acontecer mesmo.

Se nem você botar fé nessa relação, nesse emprego, nessa viagem, nesse contrato, como esperar que outra pessoa bote? Se você acha que a possibilidade da vitória não vale o risco de uma decepção, então não vale a pena, ponto. Joga logo a toalha e vai tentar a sorte em outro lugar, com outra pessoa, de outro jeito. Vai para algum lugar onde haja expectativas.

Eu crio, sim, expectativas. Crio muitas, crio uma fazenda cheia delas, correndo livres pelos prados e é uma coisa linda de se ver. E, se algumas delas às vezes morrem (são criaturinhas frágeis, as expectativas), eu choro e visto luto por elas, mas o tempo passa e quando mesmo se espera (quando menos eu mesma espero) já estou criando outras.

"Quando não houver desejo, quando não restar nem mesmo dor, ainda haverá desejo dentro do seu coração, aonde Deus colocou." (Enquanto Houver Sol - Titãs)
("Mustang Utah 2005 2" by Jaime Jackson. Licensed under CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons)

domingo, 21 de setembro de 2014

Aventuras Num Blog

Neste fim de semana eu montei, a pedidos, um blog para a uma das minhas sobrinhas: Aventuras Num Blog é um espaço para uma pequenina de sete anos publicar as estórias que a sua cabecinha inventa e curtir a sensação de ser uma escritora.

Ela já tinha duas estórias prontas ("Amanhã Eu Te Conto" e "Agora Eu Te Conto") quando surgiu a ideia de criar o blog para compartilhar suas estórias com a família e os amigos, e ela ficou tão entusiasmada com a ideia que eu não tinha como não ajudar. E assim, o blog foi criado, com nome e layout escolhido por ela, e entrou no ar no sábado.

Sou assumidamente uma tia coruja de seis sobrinhos lindos e brilhantes, mas, mesmo olhando para a minha autorazinha com olhos objetivos, acho que não tem como não achar formidável uma criança que gosta de inventar e contar estórias. Sinto uma alegria imensa ao ver meus sobrinhos gostando de criar estórias e de ganhar livros de presente, e acredito que isso se deve, pelo menos em parte, ao fato de que eles estão crescendo cercados de livros e de pessoas que gostam de ler.

Image courtesy of Bluedaisy at FreeImages

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Pé na Estrada: Rodovia Castelo Branco

Mais novidades do projeto "Santa Rosa de Calamuchita": hoje comemoro a minha chegada à Rodovia Presidente Castelo Branco, também conhecida como SP-280, um pouco depois de Barueri.

A Rodovia SP-280 coincide com um trecho da BR-374 e eu agora vou seguir nela por mais 226 Km até chegar à Estrada Vicinal Iaras – Cerqueira César. Ou seja, ainda vão aparecer mais algumas fotos bem parecidas com esta porque rodovia, sabe como é, né? É tudo muito parecido.

Rodovia Presidente Castelo Branco (vindo da Estrada Municipal)

E eu, como estou (além de 5 Kg mais magra)? Estou bastante animada, nada faminta e doida de vontade de comer um x-tudo.

Não, não esse tipo de "tudo".
(Image courtesy of thejazzcat at Stockvault.net)

Às vezes, a sensação que eu tenho é que a gordura está sendo substituída por ar: já estou 5 Kg mais leve, mas tenho a impressão que continuo do mesmo tamanho. A realidade, porém, é bem mais simples: quando uma pessoa passa dos 70 Kg para os 65 Kg, a diferença é gritante, mas, quando passa dos 91 Kg para os 86 Kg... nem tanto.

O lado bom é que, como não estou sofrendo de fome e, bem ou mal, estou enxergando os resultados, nem que seja só na balança (e no mapa), sinto que consigo manter esse ritmo ainda por bastante tempo, até chegar a resultados mais visualmente animadores.

Nunca fui de comer nada no café da manhã, só um copo de leite ou de iogurte e só. Apesar de o meu endocrinologista achar que eu deveria comer mais no café para não sentir fome durante a manhã, não estou fazendo isso, não. Eu ia ter que comer empurrado, contra a vontade, e ainda ia demorar mais para me arrumar de manhã. Prefiro, então, ter na gaveta do trabalho algum lanchinho leve, como frutas secas ou biscoitos de água e sal, pra comer no meio da manhã e garantir que eu não chegue na hora do almoço morrendo de fome e exagere no prato.

O engraçado é que mesmo esse lanchinho da manhã (e o da tarde) foi uma coisa com a qual eu precisei insistir até me acostumar, porque nunca fui muito de beliscar entre as refeições. No começo era complicado: eu comia sem vontade na hora do lanche e depois chegava na hora da refeição e comia o mesmo tanto de sempre. Ou seja, estava comendo até mais do que antes! Mas, aos poucos, fui me acostumando (e meu corpo também, acho) e hoje já sinto falta desses lanchinhos e como menos nas refeições.

Tenho comido bastante no almoço: aquele pratão de salada para garantir o efeito psicológico de olhar para o prato bem cheio, um pouco de carboidrato para "dar sustança" e alguma carne bem gostosa pra acalmar também o lado do cérebro que quer sabor e não só estômago cheio. Depois, à tarde, quando aquele monte de folha enganadora já foi digerido, o lanchinho da tarde impede que eu chegue com fome demais na hora do jantar.

No jantar, ajuda muito o fato de que eu adoro cozinhar, por isso estou sempre pesquisando (ou inventando) receitas para garantir que eu consiga fechar o dia com aquela sensação boa de ter comido uma coisa bem gostosa, mesmo que não engordante.

Outra coisa que tem ajudado também é a água. Eu estava sempre levando chamada dos médicos por não beber água suficiente e, realmente, às vezes passava dia sem beber água nenhuma, só refrigerante ou suco nas refeições. Agora estou me forçando a beber água durante o dia (o velho truque da garrafa de água na mesa do trabalho e do aplicativo no celular para marcar a hora de beber água) e, embora ainda esteja bebendo em média só um litro por dia, já é mais do que eu bebia antes. E, por incrível que pareça, ajuda: contribui para distrair o estômago e fazer a sensação de saciedade durar mais tempo, além de me obrigar a levantar e ir até a copa para encher a garrafa de vez em quando.

E, claro, embora aquele x-tudo por enquanto ainda seja só um sonho distante, de vez quando eu me permito uma extravagância para manter a vontade sob controle. Nunca fiz o que algumas pessoas chamam de "dia do lixo", um dia inteiro fora da dieta, comendo bobagem, mas hoje, por exemplo, comi do doce de banana que minha mãe trouxe de viagem. Faz bem de vez em quando comer alguma coisa deliciosa e nada light, só pra lembrar que a vida não é só dieta e que ser feliz também é bom para a saúde.

Não, desculpa: não é a você que eu estava me referindo.
(Image courtesy of 2happy at Stockvault.net)