No ano passado, eu escrevi um post sobre três frases de efeito bastante usadas que, se a gente parar e analisar com calma, já não parecem tão brilhantes assim. Dando continuidade àquele post, eis mais duas frases que não resistem a uma avaliação mais crítica:
É melhor se arrepender do que você fez do que se arrepender do que não fez.
Pra começo de conversa, a ideia é fazer coisas das quais a gente NÃO se arrependa, porque arrependimento é justamente o desejo de não ter feito aquilo que fizemos. Se você está satisfeito com o desfecho dos acontecimentos e acha que o preço pago valeu a pena, você não está arrependido.
E, sim, ocasionalmente a gente faz coisas das quais acha que não vai se arrepender e no fim acaba se arrependendo assim mesmo quando as coisas não saem como esperado, mas o objetivo não era esse. A gente achou que ia ser legal, mas calculou errado e quebrou a cara. Acontece.
O problema é quando esses "cálculos", ao invés de consistirem em estimar (1) quais as chances de dar errado, (2) qual será o estrago se der errado e (3) qual será a perda se você não arriscar, se limitam a essa frase idiota.
"Bom, a gente pode passar o resto da vida se perguntando que gosto tem... ou descobrir que gosto tem agora e não precisar se preocupar mais com o resto da vida." (vectorole @ FreeDigitalPhotos) |
O arrependimento por ter se arriscado pode, sim, ser muito pior do que o arrependimento por não ter tentado. Ou não. Não existe receita de bolo: você precisa pensar antes de fazer as coisas. Bem-vindo à vida adulta.
Você aprende mais com seus erros do que com seus acertos.
Ah, essa mania que o pessoal tem de valorizar o erro... Acho que essa galera ficava assistindo Caverna do Dragão, via o Mestre dos Magos aparecer pra dar meia dica em forma de charada e sumir atrás de uma pedra e achava o máximo, sem nunca ter parado pra questionar o por quê de ele não dizer logo: "Então, pessoal, o caminho é por ali: sempre em frente, virando a esquerda na terceira pedra e dali direto até chegar em casa."
Aceitar o erro e aprender com ele não significa achar que o erro vale mais do que o acerto. Apreciar a viagem não significa perder o foco no objetivo final, seja ele passar no vestibular, salvar seu casamento, descobrir a cura do câncer, bater o recorde mundial de cem metros rasos, conseguir o emprego dos seus sonhos ou qualquer outra coisa que o seu coração almeje. Cada erro pode (e deve) te ensinar muitas coisas e tudo que você aprende te deixa mais perto do seu objetivo, mas... o acerto te mostra de forma direta qual é o caminho para o seu objetivo, ou, pelo menos, te aponta a direção certa.
Imagine um labirinto, cheio de encruzilhadas e becos sem saída. De uma encruzilhada saem dez caminhos possíveis: um deles é o caminho mais curto que leva ao seu objetivo, dois também chegam lá mas demoram um pouco mais e outros sete são becos sem saída. Quando você pega um dos caminhos errados, por mais interessante e rico em novas descobertas que ele seja, no fim das contas você continua não sabendo qual é o caminho que te deixa mais perto do seu objetivo: você descobriu que aquele é o caminho errado, mas continua sem saber qual dos outros é o certo! Quando, pelo contrário, você, por cálculo ou por pura sorte, pega o caminho certo, ele pode até te levar a uma nova encruzilhada, mas, pelo menos, já te levou até mais perto do seu objetivo. E, voltando ao dicionário: objetivo é aquilo que você quer atingir. Se você não tem um objetivo, você está só passeando. E tudo bem passear, mas, se você está só passeando, não existe caminho certo ou errado, então aprecia a vista e para de falar bobagem.
Ah, mas às vezes o erro te mostra alguma coisa que você não estava procurando e que se mostra mais valiosa do que o que era o seu objetivo inicial. É, a vida é cheia de surpresas, e algumas são bem legais. Às vezes também coisas boas acontecem sem razão aparente, quando você nem está procurando. Às vezes uma pessoa faz alguma coisa com a intenção de te prejudicar e o tiro sai pela culatra, e você acaba ficando em situação melhor do que antes. E às vezes o caminho certo, embora leve ao seu objetivo, se mostra uma vitória de Pirro (se você não sabe o que vitória de Pirro, já expliquei em outro post). Às vezes um monte de coisas acontece. E, adivinha só, todas essas coisas podem acontecer tanto no caminho errado quanto no caminho certo, e o caminho certo continua com a vantagem de que, no fim das contas, ele ainda é o que te deixa mais perto do seu objetivo.
Novamente, se você no momento não tem um objetivo específico, ou mesmo se tem mas não está com pressa, divirta-se batendo perna pelo labirinto, espiando debaixo de cada pedra e tirando os sapatos pra molhar os pés no riacho. E, se você encontrar com o Mestre dos Magos pelas suas andanças, chama ele pra conversar e depois larga ele falando sozinho no meio da frase pra ele ver como é bom.
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