Certas frases caem no gosto popular porque são maneiras simples, diretas e geralmente espirituosas de dizer alguma coisa. Às vezes fazem referência a filmes, músicas, eventos ou, nos tempos atuais, a memes. Às vezes rimam. Às vezes são engraçadas. Às vezes até são verdadeiras.
O problema é quando a frase soa tão bem que a gente deixa de prestar atenção no significado dela. E aí se vê dizendo coisas como:
O problema é quando a frase soa tão bem que a gente deixa de prestar atenção no significado dela. E aí se vê dizendo coisas como:
Se você quiser alguma coisa bem feita, faça você mesmo.
Esse é um ditado popular bastante antigo. Quando dito na primeira pessoa do singular ("se eu quiser alguma coisa bem feita, tenho que fazer eu mesmo(a)"), significa que ninguém faz nada direito, só eu. É meio ofensivo para com a pessoa com quem eu estou falando, mas, sei lá, vai que seja verdade: pode estar sendo dito no contexto de uma bronca, quando a outra pessoa acabou de entregar um produto bem mal-acabado, um serviço bem porco.
A versão mais comum, no entanto, é "se você quiser alguma coisa bem feita, faça você mesmo". Ou seja, se eu digo isso, estou dizendo que ninguém faz nada direito, nem eu! Pior, a fase implica que quando a pessoa (eu inclusive) é o "você" da frase, aquele que quer a coisa bem feita, ela faz. O problema é quando outra pessoa é o "você": aí dane-se, se quiser bem-feito faça você mesmo! Ou seja, não é incompetência, é má vontade mesmo.
"Ah, melhor não, eu provavelmente iria fazer errado, mesmo..." (markyjay @ stock.xchng) |
Então... é isso que você quer sair anunciando por aí? É esse o tipo de pessoa que você é? Se é, parabéns pela sinceridade, mas talvez seja um bom momento pra rever os seus valores.
O chato é uma pessoa que, se você pergunta "Tudo bem?", te responde.
O autor dessa frase é o Oswaldo Montenegro, mas ela caiu na boca do povo e hoje mesmo quem nunca escutou Bandolins repete. Eu acho essa frase deprimente. Sei que existe gente que fala demais, que aluga o ouvido alheio, que se recusa a ir embora não importa quantas dicas o outro dê para indicar que está ocupado demais para conversar naquele momento. Mas me parece que, se você não quer ou não pode parar para escutar uma pessoa, não deveria perguntar "Tudo bem?" só para parecer simpático; dê só um bom dia / boa tarde / boa noite básico e vá cuidar da sua vida. Ah, mas e se mesmo assim a pessoa for atrás de você pra contar cada detalhe excruciante da vida dela? Aí já são outros quinhentos. O que me incomoda é essa frase especificamente, que dá a entender que, se alguém faz uma pergunta em cuja resposta não está interessado, o inconveniente é o outro que acreditou e respondeu. Se não queria saber, por que perguntou?
"Não, não, você entendeu errado: o objetivo era EU me sentir bem comigo mesma, e não você." (David Castillo Dominici @ FreeDigitalPhotos.net) |
O monólogo em que o Oswaldo Montenegro apresenta esta frase faz parte da introdução da música "O Chato", e nele ele argumenta que "Tudo bem?" não é uma pergunta. Conversa fiada. "Bom dia" não é uma pergunta. "Oi" não é uma pergunta. "Tudo bem?" é uma pergunta. E se você perguntou o que não queria saber, não coloque a culpa nos outros depois.
Onde há fumaça, há fogo.
Esta pérola anda de mãos dadas com "O povo aumenta, mas não inventa", e é de uma cara de pau que chega a ser chocante. Sério? O povo não inventa? O povo é composto de 100% de gente digna e honesta que nunca, jamais inventaria uma história falsa para desmoralizar alguém de quem não gosta ou para ficar melhor na fita do que a concorrência?
Além de isso não ser verdade e qualquer pessoa com mais de dez anos de idade saber disso, existe o fato de que muitas vezes o povo não apenas aumenta, mas distorce de tal forma a história original que o resultado final não tem senão uma tênue semelhança com ela.
Quando eu vejo alguém usar essa frase, o que eu escuto é "Ah, mas falar mal dos outros é tão divertido! Se eu for agir como um adulto responsável vai perder toda a graça!"
Onde há fumaça pode até haver fogo, mas você já está crescidinho o suficiente para saber que fogo pode ser tanto um incêndio criminoso quanto uma fogueira com um grupo de bandeirantes em volta assando marshmallows. Pelo menos assuma que você não tem a menor ideia se o que está dizendo é verdade ou não, mas adora falar mal dos outros.
Esta pérola anda de mãos dadas com "O povo aumenta, mas não inventa", e é de uma cara de pau que chega a ser chocante. Sério? O povo não inventa? O povo é composto de 100% de gente digna e honesta que nunca, jamais inventaria uma história falsa para desmoralizar alguém de quem não gosta ou para ficar melhor na fita do que a concorrência?
Além de isso não ser verdade e qualquer pessoa com mais de dez anos de idade saber disso, existe o fato de que muitas vezes o povo não apenas aumenta, mas distorce de tal forma a história original que o resultado final não tem senão uma tênue semelhança com ela.
"É claro que eles estão tendo um caso! Você não ouviu ele dizer 'Saúde!' quando ela espirrou?" (Stuart Miles @ FreeDigitalPhotos.net) |
Quando eu vejo alguém usar essa frase, o que eu escuto é "Ah, mas falar mal dos outros é tão divertido! Se eu for agir como um adulto responsável vai perder toda a graça!"
Onde há fumaça pode até haver fogo, mas você já está crescidinho o suficiente para saber que fogo pode ser tanto um incêndio criminoso quanto uma fogueira com um grupo de bandeirantes em volta assando marshmallows. Pelo menos assuma que você não tem a menor ideia se o que está dizendo é verdade ou não, mas adora falar mal dos outros.
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