Mais um exercício feito com o gerador aleatório de palavras:
- rib (costela)
- help (ajuda)
- mess (confusão)
Esta é uma obra de ficção: qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
8h30 (Metrô, Estação Cinelândia)
— Não é possível! — reclamou Maurício. — A gente já está parado aqui há uns dez minutos, pelo menos!
— Olha pelo lado bom: quem sabe a gente chega atrasado e perde a reunião do Horácio? — Carla passou para o ombro esquerdo a bolsa pesada e massageou o ombro direito fazendo uma careta de dor.
— Nem me lembra disso, — Maurício suspirou. — Já basta a reunião de condomínio que eu tive ontem. Acredita que eu estou há dois meses tentando fazer o condomínio pagar pela infiltração no meu banheiro? O barbará da minha coluna...
— Ah, finalmente! — Carla exclamou aliviada quando o metrô começou a se movimentar novamente. — Achei que a gente ia ter que descer aqui e ir a pé!
— É... — Maurício concordou com um sorriso amarelo. Ele chegou a abrir a boca para recomeçar a contar a história do vazamento no barbará e a infiltração no seu banheiro, mas acabou deixando pra lá. Era uma história comprida e eles já iam saltar na próxima estação, mesmo...
10h00 (bebedouro em frente à sala de reunião)
— Até que não demorou muito, — André comentou, enchendo seu copo de água. — Pros padrões do Horácio, — ele acrescentou com um sorriso malicioso após se certificar que o gerente não estava mais por perto.
— Graças a Deus! — Maurício amassou o copo que tinha acabado de esvaziar e jogou-o no lixo.
— Ei, — André lembrou, — no sábado vai ter futebol, você vai?
— Desta vez não vai dar, tenho que ficar em casa esperando o camarada que vai pintar meu banheiro. Uma encheção de saco, — Maurício continuou enquanto os dois prosseguiam pelo corredor de volta às suas mesas. — O barbará da minha coluna estava com um vazamento e...
— O seu pintor é bom? — André perguntou. — Trabalha direitinho, deixa tudo arrumado depois?
— Acho que sim, — disse Maurício. — Foi a Paula que me indicou.
— Me dá o telefone dele, — pediu André. — Preciso mandar pintar o quarto das crianças e o último que eu contratei até pintava bem, mas não cobriu os móveis direito, pingou tinta no sofá, a Vânia deu um ataque, uma confusão só!
— Dou sim, — disse Maurício. — Não sei se tenho o telefone dele aqui comigo, mas em casa eu tenho com certeza, amanhã te dou.
— Show, — André sorriu, dando-lhe um tapa nas costas. — Obrigado!
— Tudo bem, — Maurício ainda hesitou, parado na frente da mesa do colega, mas o outro já estava se sentando, estendendo a mão para o telefone que tocava, por isso ele acabou só acenando com a cabeça e voltando para sua própria mesa.
12:05 (elevador)
— Desce!
Maurício apertou o botão para impedir que as portas do elevador se fechassem, dando tempo à colega de apressar o passo e entrar no elevador junto com ele.
— Obrigada, — Juliana agradeceu com um sorriso enquanto as portas do elevador se fechavam e ele começava o lento trajeto rumo ao térreo. — Que milagre, conseguir lugar nesse elevador! Normalmente eu subo até o décimo-quinto andar para depois descer.
— E vai piorar, — comentou Maurício. — O administrador do condomínio subiu no elevador junto comigo hoje de manhã: ele falou que vão trocar o outro elevador, por isso vamos passar algum tempo com um elevador só.
— Ah, que ótimo, — Juliana suspirou. — É porque não é ele que usa a porcaria desses elevadores todo santo dia! No meu prédio é a mesma coisa, — ela continuou, irritada. — Quem administra o condomínio é uma empresa: é verdade que eles são bastante corretos com a questão de custos, mas, para conseguir os melhores preços, sacrificam os moradores, criando soluções totalmente inconvenientes para nós que estamos ali todos os dias.
— Pimenta nos olhos dos outros, né?
— Exatamente! — Juliana concordou enfaticamente, dando um passo atrás quando as portas do elevador se abriram no sétimo andar e mais duas pessoas entraram.
— Lá no meu prédio, temos um síndico que também é morador, — Maurício disse. — Então quando se trata de alguma questão que afeta todos os moradores, ele até que se mexe rápido. Mas agora eu estou com uma infiltração no meu banheiro por causa de...
— Ah, infiltração é um pesadelo! — Juliana exclamou. — No ano passado tive esse problema por causa do apartamento de cima: demorei pra perceber porque a infiltração começou atrás dos armários da cozinha, foi um horror.
— Essa do meu apartamento é por causa de um vazamento no barbará...
As portas se abriram no térreo e Juliana o interrompeu, já saindo do elevador:
— Preciso correr, tenho que passar no banco. Você está indo no almoço da Bárbara?
— Vou, — Maurício disse, apontando para um grupo de colegas que estava na frente do prédio, esperando pelos retardatários. — Você não vai?
— Ah, não, — disse Juliana, — já falei com ela de manhã. Vocês vão naquele lugar da costela no bafo: lá é muito caro, este mês não estou podendo. Bom, vou indo, — ela prosseguiu, se afastando. — Bom almoço pra vocês!
— Pra você também, — disse Maurício, indo se juntar aos colegas.
16:40 (copa)
— Ainda tem café? — Maurício perguntou sem muita esperança ao entrar na copa.
— Você deu sorte, — disse Olavo. — Está no fim, mas acho que ainda dá para um copo. Não está muito bom, não, — ele avisou enquanto o colega se servia. — A Dona Vera saiu mais cedo hoje: foi a Helô que fez esse café.
— Serve, — disse Maurício, colocando açúcar no seu café. — Estou com uma daquelas dores de cabeça de falta de cafeína.
— Sei como é, — Olavo concordou com a cabeça.
Os dois rapazes tomaram seu café em silêncio, cada um pensando nos seus próprios assuntos, até que Olavo se lembrou:
— A sua gerência já migrou pro sistema novo, né?
— Desde o mês passado.
— E você está conseguindo importar as planilhas normalmente?
— No começo foi meio enrolado, — Maurício disse, jogando no lixo o copo que acabara de usar. Mas agora acho que eu já peguei o jeito da coisa. Por que, você está precisando de ajuda?
— Acho que estou ficando velho, — riu Olavo. — Você tem tempo de ver o que estou fazendo pra me mostrar o que estou fazendo de errado?
— Claro. Eu vou só responder uns e-mails e depois passo na sua mesa.
Os dois lançaram olhares pouco animados na direção da porta, mas nenhum dos dois se levantou.
— Dá meia-noite, mas não dá seis horas, — Olavo suspirou.
— Quando eu penso que ainda vou chegar em casa e ter que bater na porta do síndico pra tentar resolver o problema da infiltração... — Maurício se lamentou. — Contei pra você, né, do vazamento no barbará da minha coluna? Deu infiltração no meu banheiro e... — ele parou de falar quando foi interrompido pelo toque do celular do colega.
— Fala, meu camarada! — Olavo saudou após ver o nome no display do celular. — Acredita que ainda não tive tempo de ligar pro advogado? Eu sei, eu sei... Mas é fogo, né!
Maurício se levantou e esticou as costas enquanto Olavo continuava a ligação que, aparentemente, ainda ia demorar um pouco, e saiu da copa com um aceno para o colega.
19h30 (casa)
Maurício levantou os olhos do seu prato e ponderou a ideia que lhe ocorrera. Era esquisito, mas...
"Dane-se," ele concluiu, dando de ombros. "Estou na minha casa, faço o que eu bem entender."
— Estou começando a achar que eu vou ter que resolver esse problema com o condomínio na justiça. É um absurdo essa omissão deles depois que já foi dado o laudo de que a infiltração foi causada pelo vazamento no barbará.
Ele comeu mais uma garfada de macarrão e prosseguiu, gesticulando com o garfo em direção à cadeira vazia do outro lado da mesa:
— Tenho que me lembrar de pedir ao pintor um recibo depois do serviço, para poder comprovar diante do juiz a despesa que tive por conta desse vazamento.
Maurício prosseguiu falando para a sala vazia, contando a sua conversa com o síndico mais cedo e falando sobre o seu sentimento de frustração ao lidar com uma pessoa assim. Não era a mesma coisa que falar com um ouvinte solidário e interessado, mas pelo menos ele se sentia melhor contando sua história até o fim sem ser interrompido.
— Não é possível! — reclamou Maurício. — A gente já está parado aqui há uns dez minutos, pelo menos!
— Olha pelo lado bom: quem sabe a gente chega atrasado e perde a reunião do Horácio? — Carla passou para o ombro esquerdo a bolsa pesada e massageou o ombro direito fazendo uma careta de dor.
— Nem me lembra disso, — Maurício suspirou. — Já basta a reunião de condomínio que eu tive ontem. Acredita que eu estou há dois meses tentando fazer o condomínio pagar pela infiltração no meu banheiro? O barbará da minha coluna...
— Ah, finalmente! — Carla exclamou aliviada quando o metrô começou a se movimentar novamente. — Achei que a gente ia ter que descer aqui e ir a pé!
— É... — Maurício concordou com um sorriso amarelo. Ele chegou a abrir a boca para recomeçar a contar a história do vazamento no barbará e a infiltração no seu banheiro, mas acabou deixando pra lá. Era uma história comprida e eles já iam saltar na próxima estação, mesmo...
10h00 (bebedouro em frente à sala de reunião)
— Até que não demorou muito, — André comentou, enchendo seu copo de água. — Pros padrões do Horácio, — ele acrescentou com um sorriso malicioso após se certificar que o gerente não estava mais por perto.
— Graças a Deus! — Maurício amassou o copo que tinha acabado de esvaziar e jogou-o no lixo.
— Ei, — André lembrou, — no sábado vai ter futebol, você vai?
— Desta vez não vai dar, tenho que ficar em casa esperando o camarada que vai pintar meu banheiro. Uma encheção de saco, — Maurício continuou enquanto os dois prosseguiam pelo corredor de volta às suas mesas. — O barbará da minha coluna estava com um vazamento e...
— O seu pintor é bom? — André perguntou. — Trabalha direitinho, deixa tudo arrumado depois?
— Acho que sim, — disse Maurício. — Foi a Paula que me indicou.
— Me dá o telefone dele, — pediu André. — Preciso mandar pintar o quarto das crianças e o último que eu contratei até pintava bem, mas não cobriu os móveis direito, pingou tinta no sofá, a Vânia deu um ataque, uma confusão só!
— Dou sim, — disse Maurício. — Não sei se tenho o telefone dele aqui comigo, mas em casa eu tenho com certeza, amanhã te dou.
— Show, — André sorriu, dando-lhe um tapa nas costas. — Obrigado!
— Tudo bem, — Maurício ainda hesitou, parado na frente da mesa do colega, mas o outro já estava se sentando, estendendo a mão para o telefone que tocava, por isso ele acabou só acenando com a cabeça e voltando para sua própria mesa.
12:05 (elevador)
— Desce!
Maurício apertou o botão para impedir que as portas do elevador se fechassem, dando tempo à colega de apressar o passo e entrar no elevador junto com ele.
— Obrigada, — Juliana agradeceu com um sorriso enquanto as portas do elevador se fechavam e ele começava o lento trajeto rumo ao térreo. — Que milagre, conseguir lugar nesse elevador! Normalmente eu subo até o décimo-quinto andar para depois descer.
— E vai piorar, — comentou Maurício. — O administrador do condomínio subiu no elevador junto comigo hoje de manhã: ele falou que vão trocar o outro elevador, por isso vamos passar algum tempo com um elevador só.
— Ah, que ótimo, — Juliana suspirou. — É porque não é ele que usa a porcaria desses elevadores todo santo dia! No meu prédio é a mesma coisa, — ela continuou, irritada. — Quem administra o condomínio é uma empresa: é verdade que eles são bastante corretos com a questão de custos, mas, para conseguir os melhores preços, sacrificam os moradores, criando soluções totalmente inconvenientes para nós que estamos ali todos os dias.
— Pimenta nos olhos dos outros, né?
— Exatamente! — Juliana concordou enfaticamente, dando um passo atrás quando as portas do elevador se abriram no sétimo andar e mais duas pessoas entraram.
— Lá no meu prédio, temos um síndico que também é morador, — Maurício disse. — Então quando se trata de alguma questão que afeta todos os moradores, ele até que se mexe rápido. Mas agora eu estou com uma infiltração no meu banheiro por causa de...
— Ah, infiltração é um pesadelo! — Juliana exclamou. — No ano passado tive esse problema por causa do apartamento de cima: demorei pra perceber porque a infiltração começou atrás dos armários da cozinha, foi um horror.
— Essa do meu apartamento é por causa de um vazamento no barbará...
As portas se abriram no térreo e Juliana o interrompeu, já saindo do elevador:
— Preciso correr, tenho que passar no banco. Você está indo no almoço da Bárbara?
— Vou, — Maurício disse, apontando para um grupo de colegas que estava na frente do prédio, esperando pelos retardatários. — Você não vai?
— Ah, não, — disse Juliana, — já falei com ela de manhã. Vocês vão naquele lugar da costela no bafo: lá é muito caro, este mês não estou podendo. Bom, vou indo, — ela prosseguiu, se afastando. — Bom almoço pra vocês!
— Pra você também, — disse Maurício, indo se juntar aos colegas.
16:40 (copa)
— Ainda tem café? — Maurício perguntou sem muita esperança ao entrar na copa.
— Você deu sorte, — disse Olavo. — Está no fim, mas acho que ainda dá para um copo. Não está muito bom, não, — ele avisou enquanto o colega se servia. — A Dona Vera saiu mais cedo hoje: foi a Helô que fez esse café.
— Serve, — disse Maurício, colocando açúcar no seu café. — Estou com uma daquelas dores de cabeça de falta de cafeína.
— Sei como é, — Olavo concordou com a cabeça.
Os dois rapazes tomaram seu café em silêncio, cada um pensando nos seus próprios assuntos, até que Olavo se lembrou:
— A sua gerência já migrou pro sistema novo, né?
— Desde o mês passado.
— E você está conseguindo importar as planilhas normalmente?
— No começo foi meio enrolado, — Maurício disse, jogando no lixo o copo que acabara de usar. Mas agora acho que eu já peguei o jeito da coisa. Por que, você está precisando de ajuda?
— Acho que estou ficando velho, — riu Olavo. — Você tem tempo de ver o que estou fazendo pra me mostrar o que estou fazendo de errado?
— Claro. Eu vou só responder uns e-mails e depois passo na sua mesa.
Os dois lançaram olhares pouco animados na direção da porta, mas nenhum dos dois se levantou.
— Dá meia-noite, mas não dá seis horas, — Olavo suspirou.
— Quando eu penso que ainda vou chegar em casa e ter que bater na porta do síndico pra tentar resolver o problema da infiltração... — Maurício se lamentou. — Contei pra você, né, do vazamento no barbará da minha coluna? Deu infiltração no meu banheiro e... — ele parou de falar quando foi interrompido pelo toque do celular do colega.
— Fala, meu camarada! — Olavo saudou após ver o nome no display do celular. — Acredita que ainda não tive tempo de ligar pro advogado? Eu sei, eu sei... Mas é fogo, né!
Maurício se levantou e esticou as costas enquanto Olavo continuava a ligação que, aparentemente, ainda ia demorar um pouco, e saiu da copa com um aceno para o colega.
19h30 (casa)
Maurício levantou os olhos do seu prato e ponderou a ideia que lhe ocorrera. Era esquisito, mas...
"Dane-se," ele concluiu, dando de ombros. "Estou na minha casa, faço o que eu bem entender."
— Estou começando a achar que eu vou ter que resolver esse problema com o condomínio na justiça. É um absurdo essa omissão deles depois que já foi dado o laudo de que a infiltração foi causada pelo vazamento no barbará.
Ele comeu mais uma garfada de macarrão e prosseguiu, gesticulando com o garfo em direção à cadeira vazia do outro lado da mesa:
— Tenho que me lembrar de pedir ao pintor um recibo depois do serviço, para poder comprovar diante do juiz a despesa que tive por conta desse vazamento.
Maurício prosseguiu falando para a sala vazia, contando a sua conversa com o síndico mais cedo e falando sobre o seu sentimento de frustração ao lidar com uma pessoa assim. Não era a mesma coisa que falar com um ouvinte solidário e interessado, mas pelo menos ele se sentia melhor contando sua história até o fim sem ser interrompido.
Alvimann @ morgueFile |
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