Eu pretendia escrever sobre outra coisa hoje, mas aí fiz a bobagem de abrir o Facebook antes e descobri que uma pessoa indiretamente ligada a mim registrou o filho recém-nascido com o nome de um personagem de um desenho animado japonês. O resultado é que agora não consigo pensar em outra coisa. Vontade de acreditar em reencarnação só pra poder desejar que uma criatura dessas, na próxima encarnação, seja registrada como Mickey Mouse.
Não pensem que eu não percebo a ironia de um blog chamado "Uma Rosa Com Qualquer Outro Nome" se estressar por causa de um nome. A questão é que o blog me pertence e um filho... bom, isso pode ser um choque para algumas pessoas, mas um filho, mesmo um filho recém-nascido, é um ser humano distinto dos pais e não uma peça de decoração.
Eu não colocaria um nome estrangeiro em filho meu, nem mesmo um nome já popularizado no Brasil e com uma grafia razoavelmente intuitiva como William, Pablo, Giovanna etc, mas até aí é só uma questão pessoal sobre a qual eu não tenho opiniões fortes. Afinal de contas, mesmo eu, que tenho um nome todo escrito de acordo com as regras de ortografia da língua portuguesa, já estou acostumada a me apresentar às recepcionistas dos médicos como "Raquel com Q, Peres com S", então os Williams e as Giovannas também podem se acostumar a lembrar às pessoas das suas respectivas letras duplas e ninguém precisa sofrer por causa disso.
Nome estrangeiro exótico já começa a me deixar bolada. "Ah, mas a minha avó era italiana!" Tá bom, querida, chama a criança de Paola ou de Raffaela, olha que lindo! Tenho certeza que a vovó Marguerita ia preferir ficar sem a homenagem a ser culpada por todo o bullying que a bisneta vai sofrer no colégio.
Homenagem a figura histórica já cruza a fronteira que separa os municípios de "Gosto Não Se Discute" e "Perdeu a Noção". O homenageado na maioria das vezes já morreu ou, mesmo se ainda está vivo, dificilmente vai ficar sabendo que no interior de São Paulo vive uma pessoa que leva o seu nome, muitas vezes escrito errado. E lá se vai o pobre Cheguevara da Silva, que nem compartilha a admiração que os pais têm pelo seu quase homônimo, suportando todo tipo de piada e olhares tortos pela vida afora, só para que seus pais possam se orgulhar de serem pessoas profundas e engajadas.
Já um quarto tipo de pai não só cruzou a fronteira como já fixou residência na cidade de "Perdeu a Noção". A pessoa que escolhe o nome do seu filho em homenagem a um "famoso", seja ele cantor, ator, ex-BBB ou jogador de futebol, já transferiu o título de eleitor para "Perdeu a Noção". Começa pelo fato de que homenagem pra gente cujo trabalho você admira é comprar o CD, ir a jogo, assistir o filme. Dinheiro em caixa é a melhor homenagem. Se você quiser ser muito, mas muito exagerado, leva um cartaz escrito "Fulano, eu te amo" pro show e chega. Pelo menos, paga esse mico sozinho: não arrasta uma criança inocente com você pra lama, porque isso não se faz com ninguém, muito menos com um filho. O seu descontrole emocional na hora em que seu ídolo sobe no palco é passageiro (pelo menos, se ninguém filmar e colocar no YouTube): o nome da pequena Rita Lee Aparecida é pra sempre. Se ainda assim você não estiver convencido, pense nisto: você gostaria de ser uma criança brasileira chamada João Hulk no dia seguinte ao famoso 7 x 1 contra a Alemanha?
Finalmente, chegamos ao caso que inspirou o post de hoje. A pessoa que dá a seu filho o nome de um personagem de desenho animado cruzou a fronteira e passou direto por "Perdeu a Noção" a uns 50 Km/h acima do limite de velocidade, só parando quando chegou ao município de "Chamem o Conselho Tutelar". Personagem de desenho animado a gente coloca no papel de parede do computador, em cima da mesa do trabalho, na foto de capa do Facebook, no avatar, na camiseta. A gente não tatua, não coloca em nada que seja permanente e, principalmente, A GENTE NÃO. COLOCA. NO NOME. ALHEIO. Seu filho vai ter muita oportunidade de fazer coisas constrangedoras mais tarde: ele não precisa que você comece a adiantar o serviço pra ele.
Pronto, falei.
Não pensem que eu não percebo a ironia de um blog chamado "Uma Rosa Com Qualquer Outro Nome" se estressar por causa de um nome. A questão é que o blog me pertence e um filho... bom, isso pode ser um choque para algumas pessoas, mas um filho, mesmo um filho recém-nascido, é um ser humano distinto dos pais e não uma peça de decoração.
Eu não colocaria um nome estrangeiro em filho meu, nem mesmo um nome já popularizado no Brasil e com uma grafia razoavelmente intuitiva como William, Pablo, Giovanna etc, mas até aí é só uma questão pessoal sobre a qual eu não tenho opiniões fortes. Afinal de contas, mesmo eu, que tenho um nome todo escrito de acordo com as regras de ortografia da língua portuguesa, já estou acostumada a me apresentar às recepcionistas dos médicos como "Raquel com Q, Peres com S", então os Williams e as Giovannas também podem se acostumar a lembrar às pessoas das suas respectivas letras duplas e ninguém precisa sofrer por causa disso.
Nome estrangeiro exótico já começa a me deixar bolada. "Ah, mas a minha avó era italiana!" Tá bom, querida, chama a criança de Paola ou de Raffaela, olha que lindo! Tenho certeza que a vovó Marguerita ia preferir ficar sem a homenagem a ser culpada por todo o bullying que a bisneta vai sofrer no colégio.
Homenagem a figura histórica já cruza a fronteira que separa os municípios de "Gosto Não Se Discute" e "Perdeu a Noção". O homenageado na maioria das vezes já morreu ou, mesmo se ainda está vivo, dificilmente vai ficar sabendo que no interior de São Paulo vive uma pessoa que leva o seu nome, muitas vezes escrito errado. E lá se vai o pobre Cheguevara da Silva, que nem compartilha a admiração que os pais têm pelo seu quase homônimo, suportando todo tipo de piada e olhares tortos pela vida afora, só para que seus pais possam se orgulhar de serem pessoas profundas e engajadas.
Já um quarto tipo de pai não só cruzou a fronteira como já fixou residência na cidade de "Perdeu a Noção". A pessoa que escolhe o nome do seu filho em homenagem a um "famoso", seja ele cantor, ator, ex-BBB ou jogador de futebol, já transferiu o título de eleitor para "Perdeu a Noção". Começa pelo fato de que homenagem pra gente cujo trabalho você admira é comprar o CD, ir a jogo, assistir o filme. Dinheiro em caixa é a melhor homenagem. Se você quiser ser muito, mas muito exagerado, leva um cartaz escrito "Fulano, eu te amo" pro show e chega. Pelo menos, paga esse mico sozinho: não arrasta uma criança inocente com você pra lama, porque isso não se faz com ninguém, muito menos com um filho. O seu descontrole emocional na hora em que seu ídolo sobe no palco é passageiro (pelo menos, se ninguém filmar e colocar no YouTube): o nome da pequena Rita Lee Aparecida é pra sempre. Se ainda assim você não estiver convencido, pense nisto: você gostaria de ser uma criança brasileira chamada João Hulk no dia seguinte ao famoso 7 x 1 contra a Alemanha?
Finalmente, chegamos ao caso que inspirou o post de hoje. A pessoa que dá a seu filho o nome de um personagem de desenho animado cruzou a fronteira e passou direto por "Perdeu a Noção" a uns 50 Km/h acima do limite de velocidade, só parando quando chegou ao município de "Chamem o Conselho Tutelar". Personagem de desenho animado a gente coloca no papel de parede do computador, em cima da mesa do trabalho, na foto de capa do Facebook, no avatar, na camiseta. A gente não tatua, não coloca em nada que seja permanente e, principalmente, A GENTE NÃO. COLOCA. NO NOME. ALHEIO. Seu filho vai ter muita oportunidade de fazer coisas constrangedoras mais tarde: ele não precisa que você comece a adiantar o serviço pra ele.
Pronto, falei.
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