terça-feira, 20 de novembro de 2012

Flashes de Uma Psicose

Estou assistindo "Flashes de Uma Psicose". Obviamente, os primeiros 15 minutos de filme não foram muito promissores, ou eu não estaria escrevendo no blog enquanto assisto. Dizem que, se os personagens de filmes de terror tivessem bom senso, os filmes acabariam em 10 minutos e não teriam a menor graça, mas a protagonista deste filme em particular acordou de manhã e pensou: "Eu vou viver um filme de terror e nada nem ninguém vai me impedir.". Dá até pra imaginar ela conferindo os itens na lista de preparativos. Viajar sozinha para um local isolado para terminar de escrever um roteiro... Confere. Mansão deserta oferecida por um conhecido... Confere. Pedir para a amiga que veio junto levar o carro de volta com ela e ficar sem nenhum meio de locomoção na mansão deserta no meio do nada... Confere. Eu prefiro acreditar que ela está fazendo de propósito porque faz muito mais sentido.

Apesar do nome, o filme aparentemente é de suspense sobrenatural e não psicológico, pois já apareceu o tradicional rosto sinistro no espelho do banheiro na hora em que a protagonista (Alice, não porque eu me importe, mas porque é mais curto pra digitar) vira as costas. Aparentemente também tem um ex violento que acaba de sair da prisão envolvido, então mais cedo ou mais tarde ele vai dar um jeito de aparecer (e morrer).

Como a Alice está realmente decidida a protagonizar um filme de terror, ela percebe um movimento na casa teoricamente deserta, encontra um rastro de pegadas molhadas e faz o que qualquer pessoa sensata faria: segue as pegadas até o sótão. Chegando lá, ela não encontra o dono das pegadas, mas começa a explorar o sótão e esquece completamente das pegadas molhadas na casa onde em tese só está ela (e, possivelmente, o ex violento recém-saído da prisão). Óbvio.

E, sério, vultos vistos de relance e pegadas molhadas são coisas tão comuns em casas velhas quanto madeira estalando e janelas batendo com o vento, porque a Alice desce do sótão pra assistir umas fitas que achou no sótão (gravadas pelo morador anterior, aparentemente, filmando o dia a dia dele com a esposa), aproveita o embalo pra rever umas fitas dela mesma com a amiga (que aparentemente também é namorada) e se prepara pra passar mais uma noite na mansão deserta na qual aparecem pegadas molhadas sem explicação aparente.

Aos poucos (beeeeeeeem aos poucos) ela começa a perceber que tem alguma coisa errada. Quando escuta um barulho no meio da noite e encontra a banheira transbordando, com o ralo tampado e a torneira aberta no banheiro da mansão deserta na qual aparecem pegadas molhadas sem explicação, ela faz uma cara preocupada, fecha a torneira e tira a tampa do ralo. Quando sai do banheiro e encontra o notebook ligado com "HE WON'T LET ME LEAVE" escrito na tela toda em um cômodo da mansão deserta na qual aparecem pegadas molhadas e a banheira se enche sozinha, ela faz uma cara ligeiramente mais preocupada e tenta destravar a tela do notebook. Quando escuta um piano sendo tocado no cômodo ao lado, ela vai investigar o outro cômodo da mansão deserta na qual aparecem pegadas molhadas, a banheira se enche sozinha e mensagens assustadoras aparecem na tela do notebook. Chegando lá, a música pára sozinha e Alice, começando a parecer assustada, abaixa a tampa do piano e se vira quando vê de relance, pelo espelho, um vulto atrás dela.

Ela pega o telefone e liga para a amiga/namorada/eu devia ter anotado o nome. E aí vem o diálogo mais fantástico que já aconteceu em uma mansão deserta na qual aparecem pegadas molhadas, a banheira se enche sozinha, mensagens assustadoras aparecem na tela do notebook, o piano toca sozinho e vultos aparecem no espelho.

Amiga/namorada/eu devia ter anotado o nome: "Alô?"
Alice: "Sou eu."
Amiga (etc): "Alice, são 4 da madrugada, eu achei que alguém tivesse morrido!..."
Alice: "Eu precisava ouvir a sua voz."
Amiga (etc): "Há alguma coisa errada?"
Alice: "Eu não sei."

Eu não sei. Eu não sei. Eu não sei.

Alice, querida. Você está (teoricamente) sozinha em uma mansão no meio do nada. Você encontrou uma trilha de pegadas molhadas indo até o sótão. A banheira se encheu sozinha no meio da noite. O piano começou a tocar sozinho. Você tem visto vultos pela casa. Está escrito "ELE NÃO ME DEIXA IR EMBORA" em toda a tela do seu notebook em letras que escorrem tela abaixo como se tivessem sido escritas com sangue. Leia meus lábios: Tem. Alguma coisa. Errada.

Daí ela fica sentada no chão, chorando no telefone com a Becky (isso estava ficando chato, então eu procurei o nome no IMDB) que tem alguém na casa, que alguém morreu ali e tem toda essa energia negativa, essa tristeza, blá blá blá, e sair da casa que é bom, nada.

A Becky não acredita nela (bom, são 4 horas da madrugada e a mulher está falando sobre fantasmas, não dá pra culpá-la) mas dá um conselho sensato: ligar para um táxi e sair de lá. Ainda acrescenta que a Alice pode ir pra casa dela, o que é bastante generoso pra alguém que foi acordada às quatro horas da madrugada por uma maluca que parou de tomar seus remédios e agora está falando sobre fantasmas.

Claro que a Alice não faz isso e diz que vai tomar o remédio e trabalhar no roteiro. De repente ela não está mais com medo, toma o remédio e assiste mais uma fitas com a Lucy (a esposa do morador anterior), e a gravação se mistura com um flashback (já que ele está filmando, mas também aparece na cena). Não sei o quanto a Alice vê, mas a audiência vê o suficiente pra perceber que o marido (David) é obcecado por ela e ela tem medo dele. E ela está grávida (geralmente as mulheres estão grávidas nesses filmes).

Mais fitas (trabalhar no roteiro que é bom, nada, né, Alice?), marido filma esposa dormindo, marido controla os telefonemas da esposa, pesadelos, o telefone que toca mas não tem ninguém na linha quando a Alice atende (provavelmente o ex recém saído da prisão que ainda vai aparecer pros seus 5 minutos de cena).

E aí, claro, a cena climática em que a mulher burra que quer abandonar o marido de quem tem medo tenta sair de mala e cuia ao invés de sair de fininho e mandar alguém buscar as coisas dela depois. A fita acaba na hora em que o David avança pra cima da Lucy e a Alice vai pro sótão pra... procurar a próxima fita? Claro que não, isso seria idiota: ela vai vestir a roupa e as jóias da Lucy e colocar a maquiagem dela. Aparentemente as duas têm muito em comum: maridos ciumentos e violentos que as afogaram grávidas na banheira (bom, o marido da Alice só tentou, mas ela perdeu o bebê em consequência disso, então acho que é parecido o suficiente) e o hábito de tomar péssimas decisões em momentos de crise.

A Alice acha a última fita, já que o David muito convenientemente gravou o assassinato, o enterro do corpo no quintal e o seu próprio suicídio, o que torna um pouco estranho o fato de que 3 anos depois ele e a Lucy ainda são considerados desaparecidos. Imagino que, quando a mãe do David registrou os desaparecimentos, a polícia veio até a casa, tocou a campainha, esperou um pouco, deu de ombros e disse: "É, parece que eles desapareceram mesmo.".

A Alice vai até o local onde o corpo da Lucy está enterrado (mas, felizmente, não desenterra o corpo, eca!) e recebe um telefonema do ex que só quer pedir perdão e dizer que vai deixá-la em paz. De onde está a Alice vê uma silhueta passar pela janela dentro da casa e acusa o ex de ainda a estar perseguindo, mas ele garante que está na casa da mãe em outra cidade e ela acredita porque, puxa vida, o cara pediu perdão, né? Não é como se ele alguma vez tivesse demonstrado sinais de instabilidade e comportamento violento e... ah, é.

Enfim, a Alice chora de alívio e diz "Lucy, estamos livres", mas isso não parece deixar a Lucy muito entusiasmada, porque, sabe como é, morta há 3 anos e coisa e tal. A Alice volta pra casa, assiste o fim da fita do suicídio e descobre que... Surpresa! A mãe do David chegou a tempo de salvá-lo (mas, aparentemente, não de convencê-lo a dar sumiço nas fitas incriminadoras). Nessa hora, o David aparece (Porque ele... passou os últimos 3 anos escondido na casa? Se escondendo quando a faxineira vinha, já que a casa estava impecável quando a Alice chegou?), vê a Alice com as roupas da Lucy e, claro, acha que ela é a Lucy.

A Alice corre pro andar de cima, procura por uma arma que aparentemente ela esperava que estivesse na sua mala (eu poderia fazer uma piada sobre pessoas que demoram pra desfazer as malas, mas no meu caso seria hipocrisia), liga pra Becky pra saber cadê a arma e aparentemente a Becky não fala com ela há uma semana, então as outras conversas por telefone foram delírios da Alice? Mas peraí, ela está na casa há uma semana? Eu dormi durante algumas partes desse filme?

Antes que dê para esclarecer alguma coisa, o David alcança a Alice e a arrasta para o banheiro para afogar a "Lucy" de novo, sempre de câmera na mão, porque a única coisa mais legal do que evidência incriminadora de um homicídio é evidência incriminadora de dois homicídios. Mas na hora H o (fantasma? zumbi?) da Lucy "de verdade" aparece e o David vai recuando até cair por cima do corrimão do corredor e se estabacar lá embaixo, no primeiro andar. E, se fosse a Alice que tivesse empurrado, em qualquer filme de terror ele ainda ia ter forças pra se arrastar atrás dela mais um pouco, talvez aparecer pro susto final antes de a cavalaria chegar, mas mortes causadas por fantasmas e afins são sempre mais eficientes, então ele só fica lá caído e morto enquanto a Lucy volta para o banheiro já sem cara de zumbi e destampa o ralo da banheira para a Alice não se afogar. 

Musiquinha de encerramento, a Becky chega, tira a Alice da banheira, coloca ela na cama e encontra o roteiro (no qual, aparentemente, a Alice teve tempo de trabalhar, afinal de contas), contando toda a história do filme até esse ponto. Desde a chegada da Alice até o David e o fantasma da Lucy. Daí ela sai do quarto, desce a escada e encontra uma câmera no pé da escada e... descobre que a Becky a filmou dormindo do mesmo modo que o David filmava a Lucy. E é isso, acabou o filme. Quer dizer que era mesmo um suspense psicológico então? Tudo aconteceu na imaginação da Alice? E, como ela passou o filme inteiro sozinha (com exceção dos 10 minutos iniciais e dos 10 minutos finais), quer dizer que nada, nada disso aconteceu, nada precisa fazer sentido, porque foi tudo um delírio? E aquele rosto assustador que apareceu  no espelho na hora em que ela não estava olhando foi... foi...

Filme idiota.

4 comentários:

  1. Acabei de assistir esse filme e, bom, vim para a internet procurar um sentido nele. Li o texto e ainda não entendi o sentido... kkk. Enfim, parabéns pela resenha.

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    1. Obrigada. Fico feliz de saber que pelo menos eu não fui a única. :-)

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  2. Eu e minha irmã, acabamos de ver o filme. Diga-se de passagem, amamos filme de terror e suspense, mas esse filme... É... Esse filme... Então né? Não entendemos absolutamente nada.
    Muitas expectativas, todas frustradas kkkkkk. De qualquer forma, adoramos a resenha (:

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    1. Alguns filmes são bons pelo enredo envolvente, outros pelos personagens cativantes e outros... pelas oportunidades de zoação oferecidas. Cada um é bom no que pode, né?

      Fico feliz que tenham gostado. :-)

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