sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A Possessão do Sr. Cave

Quando alguém fala em livro 3D,  usualmente está se referindo àqueles livros que têm uma dobradura entre cada duas páginas montada de forma que, quando o livro é aberto, a dobradura se arma, tornando-se uma figura tridimensional. Essa definição faz sentido para livros de figuras, em que observar as figuras é parte essencial da experiência da leitura. No caso de livros sem figuras, o que eu chamo de "experiência 3D" é quando o leitor se sente não como um observador, mas como um personagem da trama.

Esta semana eu li "A Possessão do Sr. Cave", de Matt Haig. Passei a história toda tentando decidir se estava lendo uma história sobrenatural ou o drama de um homem escorregando lentamente em direção à loucura e confesso que mesmo depois de terminar o livro ainda não tenho 100% de certeza (tendendo para a segunda opção). Por outro lado, talvez tenha sido essa mesma a intenção do autor. Eu me lembro de quando assisti "Uma Mente Brilhante" e, lá pela metade do filme, no ponto em que fica claro que o personagem do Russell Crowe está sofrendo alucinações mas ainda não está claro para o público o que é alucinação e o que é real, alguém que estava sentado perto de mim no cinema resmungou: "Já não sei mais o que é de verdade e o que não é!" Eu achei aquilo genial, porque eu estava com a mesma sensação e acredito que essa tenha sido a intenção do diretor: fazer o público experimentar um pouco do que o personagem, esquizofrênico, estava sentindo.

No caso de "A Possessão do Sr. Cave", quando certas atitudes e comentários do personagem principal me fizeram começar a questionar a sua sanidade, eu comecei também a rever mentalmente todos os acontecimentos prévios, enxergando-os sob outra luz e me perguntando se as coisas tinham mesmo acontecido da forma como o personagem tinha narrado (o livro é narrado na primeira pessoa) ou se ele estava enxergando os atos e palavras dos outros personagens de forma tendenciosa, influenciado pelo seu próprio sofrimento e culpa.

Se a intenção era me deixar confusa, Matt Haig fez um excelente trabalho. Bom o suficiente para eu estar procurando outros livros seus para ver se ele é capaz de continuar me deixando intrigada.

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