sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Coisas Que as Pessoas Nos Dizem

Quando eu fiz 15 anos ganhei do meu tio um livro chamado "O Valor das Pequenas Coisas". Não me lembro de muita coisa do livro, mas ainda sei praticamente de cabeça um trecho que citava o livro "O Profeta", do poeta libanês Khalil Gibran. Não confiando 100% na minha memória e com preguiça de ir lá fora pegar uma escada para procurar o livro no alto do armário, copio também o texto original, disponível no site http://leb.net/gibran/main.html (pra minha sorte, esse foi um dos livros que ele escreveu originalmente em inglês).
"You have been told also life is darkness, and in your weariness you echo what was said by the weary.
And I say that life is indeed darkness save when there is urge,
And all urge is blind save when there is knowledge,
And all knowledge is vain save when there is work,
And all work is empty save when there is love;
And when you work with love you bind yourself to yourself, and to one another, and to God."
"Disseram-vos também que a vida é escuridão e, no vosso cansaço, repetis aquilo que os cansados vos disseram.
E eu digo que a vida realmente é escuridão a não ser que haja impulso,
E todo impulso é cego a não ser que haja conhecimento,
E todo conhecimento é vão a não ser que haja trabalho,
E todo trabalho é vazio a não ser que haja amor;
Pois quando trabalhais com amor, vós vos unis a vós mesmos, e uns aos outros e a Deus."
De todas as verdades colocadas de forma tão bonita pelo poeta nesse trecho, a que mais me toca é essa primeira linha: "Disseram-vos também que a vida é escuridão e, no vosso cansaço, repetis aquilo que os cansados vos disseram." A vida pode não ser sempre escuridão, mas também não é sempre um domingo de sol; é natural ficar cansado, exausto, mesmo, às vezes. E, quanto mais cansados estamos, mais vulneráveis ficamos à propaganda negativa, e nos pegamos repetindo o que dizem aquelas pessoas que, por ignorância ou por mesquinharia, estão mais interessadas na escuridão do que na luz.

Eu acredito que isso seja, em parte pelo menos, uma forma de auto-justificativa. Se todas as empresas pagam mal e exploram seus funcionários, faz sentido eu estar há dez anos nesse emprego que odeio. Se todos os casamentos são infelizes, não há motivo para eu me esforçar pra melhorar o meu. Se as pessoas que fazem aquilo que me falta coragem ou força de vontade para fazer são extremistas, fanáticas, criadoras de caso, a minha covardia se torna jogo de cintura e a minha acomodação se torna sensatez.

E que haja pessoas que se escondam por trás dessas falácias e as chamem de realismo e de bom senso já é ruim o suficiente, mas o pior é que às vezes, no nosso cansaço, repetimos o que os cansados nos disseram. E acreditamos que somos exagerados, que fazemos tempestade em copo d'água, que nossas expectativas são pouco realistas.

O Oswaldo Montenegro tem uma música chamada "Vagalume" que é... meio sem pé nem cabeça, como a maioria das músicas dele, mas que tem um verso do qual eu gosto muito, que diz que "meus amigos separados me falaram que o amor anda mal". É, pode ser. Mas meus amigos bem casados me falaram que o amor vai muito bem, obrigado. Que dá um trabalho que só Deus sabe, mas vale a pena.

Falar, sempre vai ter quem fale. Alguns vão falar coisas que vale a pena ponderar, outros vão fazer de tudo pra arrastar todo mundo para o mesmo buraco em que eles estão, outros ainda vão falar qualquer bobagem só pelo prazer de escutar a própria voz. E a gente vai se esforçando, apesar do cansaço, para distinguir uns dos outros e para escutar quem tem que ser escutado e ignorar quem tem que ser ignorado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário