quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Gerente, Não Faça Isso

Hoje estou inaugurando um novo marcador aqui no blog: "Gerente, Não Faça Isso". E, quando eu digo gerente, quero dizer gerente de projeto, coordenador, gestor do contrato, líder de produto, supervisor, enfim, qualquer cargo em que se presume que o indivíduo irá assumir a responsabilidade de liderar a equipe rumo a um objetivo, seja ele a entrega de um projeto ou o cumprimento das metas mensais de vendas.

Enquanto algumas pessoas (que aqui eu vou chamar sempre de gerentes para simplificar) desempenham essa função de forma competente e digna e ganham o respeito daqueles que gerenciam, há também outros tristes arremedos de gerente que envergonham a categoria. E há também aqueles que não são 100% do primeiro caso nem 100% do segundo, mas que de vez em quando pisam na bola com os dois pés e depois ainda sapateiam em cima dela.

Hum... Gol?
© Singburi | Dreamstime.com - Old Deflated Soccer Ball, Old Deflated Football On The Green Grass Photo

Uma vez eu fui a uma reunião na empresa do cliente, acompanhando o gerente do projeto. A reunião era sobre dois projetos nos quais eu estava atuando como analista de negócio, mas a fase de levantamento de requisitos de ambos já estava encerrada. Não me lembro mais em que fase o primeiro projeto estava, mas o segundo já estava terminando a fase de testes. Também não me lembro dos detalhes do que foi dito na reunião porque isso foi há alguns anos atrás, mas me lembro que o segundo projeto estava atrasado e o gerente do projeto estava sendo questionado por isso. A data de entrega do projeto estava prevista para dali a poucos dias e, pelo atraso com que tinham sido alcançados os marcos anteriores do projeto, já estava claro para todos que a entrega final também ia atrasar.

E aí visualizem a cena. A sala de reunião toda elegante no prédio chiquerésimo do cliente empresa privada cheio da grana, sexta maior instituição na sua área de atuação no país. Do lado de lá, dois ou três clientes colocando pressão. Do lado de cá, eu e o arquiteto de software quietinhos, só assistindo enquanto o gerente do projeto, provavelmente já suando dentro do seu terno apesar do ar condicionado, discorre sobre variáveis, incógnitas e imprevistos.

Um dos clientes pergunta então ao gerente do projeto qual é a data oficial, prevista no cronograma, para a entrega final do projeto. E ele, na lata: "Não sei."

Eu vou repetir para ter certeza de que todo mundo entendeu. Ele não diz: "Peraí, deixa eu consultar o meu notebook / tablet / celular / agenda / versão impressa do cronograma / recibo da farmácia no verso do qual eu anotei essa informação antes de vir pra reunião". Ele não diz: "Aquela data já foi pro vinagre, mesmo: eu vou te dizer a nova data de entrega prevista no cronograma replanejado". Ele não diz: "Nossa, me deu um branco agora! Que coisa, eu tinha essa informação na ponta da língua." Ele diz: "Não sei." E ainda completa: "Pra te dar essa informação exata eu teria que consultar o meu computador, lá na empresa," fazendo aquela cara de que esquisito é o cliente querer saber a data exata assim, de pronto.

O termo "vergonha alheia" ainda não tinha se tornado tão popular naquela época, mas descreve com perfeição o que eu senti naquele momento. A reunião era exclusivamente sobre isso: sobre a entrega do projeto. Que o gerente do projeto não sabia quando ia ser, nem achou que seria relevante abrir o cronograma e conferir essa informação antes de ir para a reunião.

Gerente, não faça isso. Pelo menos, não em reunião na qual eu estou presente.

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