quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Levando Caixote

Levar caixote. Não sei se em outras cidades se usa essa expressão. Provavelmente não, mas não vou pesquisar agora. Levar caixote, pra quem não sabe, é ser derrubado pela onda, e geralmente envolve muita areia no cabelo e muita água do mar goela abaixo.

A onda vem. Às vezes você quer furar a onda. Às vezes você quer pular a onda. Às vezes você olha pra ela e já sabe que aquilo não vai dar certo, mas sabe também que não vai dar tempo de sair do caminho dela a tempo, então você fica onde está e entrega pra Deus. Seja qual for o motivo, o fato é que a onda vem e você está lá e às vezes você fura a onda e sai bonito do outro lado, às vezes você pula a onda e é quase como voar e às vezes, bom, às vezes você leva um caixote.

E que fique claro pra quem nunca levou um caixote na vida que é impossível levar um caixote com dignidade. Não importa se a onda é mais forte do que você ou se te pegou desprevenido, o fato é que ela veio com tudo e vai te jogar pra tudo quanto é lado e esfregar muito a sua cara na areia antes de você conseguir ficar em pé de novo. Talvez o mais humilhante seja o fato de que a onda nem está fazendo isso de propósito, nem tem nada contra você: ela simplesmente está passando e não está nem aí se você se meteu no caminho dela sem saber o que estava fazendo.

A vida às vezes também dá caixote na gente. Igualzinho à onda. Não importa se o seu objetivo é surfar, furar onda, pular onda ou molhar o pé na beirinha: se você entrou no mar, é fato que, mais cedo ou mais tarde, vai levar um caixote. Talvez mais de uma vez. Talvez muitas vezes. Provavelmente muitas vezes.

Nem por isso a gente deixa de entrar na água. Em primeiro lugar, porque quando a onda colabora e a gente não faz nenhuma bobagem e dá tudo certo é bom demais. Em segundo lugar porque a praia é a combinação da areia e do mar e ninguém vai querer viver só metade da praia. Ou da vida.

Mas, com o tempo, a gente aprende a avaliar melhor as ondas. A reconhecer aquela que dá pra furar, aquela que dá pra pular e aquela da qual dá pra correr. Aprende até a reconhecer aquela que vai dar um caixote, mesmo, e não há nada que a gente possa fazer a respeito. E aprende o que eu considero a lição mais importante (e mais difícil) de todas: a não lutar contra o caixote. A gente faz tudo o que pode pra evitar o caixote, mas se a onda já te pegou e está te sacudindo de um lado pro outro feito um cachorro brincando com uma bola de borracha, assume o caixote, procura não engolir muita água e espera a onda passar.

Porque ela vai passar. Como eu disse, a onda não tem nada contra você: ela está só passando e você estava no caminho. E se você conseguir não entrar em pânico nem se afogar nesse meio tempo, ela vai passar e depois vai ser mais fácil se situar e saber qual lado é pra cima e qual lado é pra baixo, colocar os pés no chão e a cabeça pra fora d'água.

E aí você tira o cabelo da cara, se certifica de que não perdeu nenhuma peça de roupa enquanto era levado aos trambolhões pelo caixote e olha pra frente de novo porque lá vem outra onda e essa é capaz de dar pra furar.

(By kovik @ FreeImages)

Nenhum comentário:

Postar um comentário