segunda-feira, 26 de outubro de 2015

The Life of a Mary Sue

Escrevi no sábado um post sobre "A Sociedade Cinderela", um livro cuja sinopse poderia tê-lo levado a ser bom ou ruim e ousadamente optou por uma terceira e inovadora alternativa: ser tão ruim que me levou a vir para o blog falar mal dele.

Em retrospecto, se eu tivesse pesquisado um pouco sobre a autora antes de comprar o livro, saberia que ela afirma escrever estórias que gostaria que fossem baseadas na sua própria vida. Levando-se em conta que as estórias em questão se passam no segundo grau, uma afirmação dessas imediatamente dispara um alerta Mary Sue no meu cérebro. Para quem não está com o inglês em dia ou ficou com preguiça de ler o artigo (uma pena, porque TV Tropes é um site ótimo), Mary Sue é um nome genérico usado para designar um personagem (normalmente uma adolescente ou jovem na casa dos 20 anos) que é basicamente um avatar da autora, a qual está menos preocupada em entreter os leitores e mais em colocar no papel suas próprias fantasias. Fantasias essas que geralmente incluem "todos os garotos se apaixonam por mim". Escrever estórias sobre Mary Sues é comum e até apropriado quando se é adolescente. Geralmente, sob forma de fanfiction, essas estórias são basicamente uma verbalização do sonhar acordado que é parte inerente do processo mental do adolescente. Quem nunca sonhou em ser um personagem do seu seriado, livro ou filme preferido? E, como claro que ninguém sonha em ser figurante no seu próprio filme, esses sonhos geralmente incluem ser o novo e recém-descoberto talento da equipe, a garota nova por quem o galã se apaixona, aquela pessoa incrível, fantástica e extraordinária que é tudo o que você sonha ser, mas não pode porque "eu sou muito alto(a), muito baixo(a), muito gordo(a), muito magro(a), meu cabelo é horrível, minha mãe não me deixa fazer nada e ninguém nunca vai gostar de mim". Existe uma versão masculina da Mary Sue conhecida como Gary Stu (ou Marty Stu) que é menos conhecida porque os meninos geralmente escrevem menos fanfiction que as meninas (se eles fantasiam menos ou não, só fazendo uma enquete pra saber).

Enfim, a Mary Sue como parte de uma fantasia é super normal, colocada no papel como um exercício de imaginação e treino para escritos com mais conteúdo no futuro é saudável também, compartilhada com as amigas é divertido e também não faz mal a ninguém. Quando essas fantasias são colocadas na Internet para um bando de desconhecidos ler, desconhecidos esses que não te conhecem e não estão nem aí para os seus sonhos e paixonites adolescentes, a coisa já fica mais complicada. As pessoas leem a sua estória esperando ser entretidas e Mary Sues não entretêm ninguém além da autora e de outras pessoas que têm aquela mesma fantasia e, portanto, conseguem se colocar no lugar da Mary Sue e ler a estória como se fosse a sua própria.

Até os defeitos da Mary Sue são milimetricamente calculados para contarem a seu favor. Se ela é marrenta, é porque teve uma história de vida difícil, mas isso não a quebrou, só a deixou mais forte. Se ela é desajeitada (atualmente está na moda escrever sobre mulheres desajeitadas: vide Bella Steele / Anastasia Swan), o galã acha isso adorável e está sempre resgatando-a. Se é insegura, é porque pessoas malvadas estão sempre sabotando-a e colocando-a pra baixo, mas ela logo descobrirá o seu valor (geralmente com a ajuda de uma fada-madrinha amiga e/ou do príncipe encantado homem que enxerga além das suas inseguranças e percebe a mulher incrível que ela é). E aí todo mundo que duvidou dela um dia vai ver só! Ha!

E, se publicar sua estorinha de Mary Sue na Internet pro mundo inteiro ver já é ruim, publicar seu livro de Mary Sue é pior, muito pior. Porque as pessoas vão gastar o suado dinheirinho delas para comprar o seu livro antes de descobrir do que se trata. Porque a editora quer mais é que muita gente compre o livro, por isso vai fazer uma campanha de marketing para divulgá-lo. E aí mais gente inocente vai ler. Porque, se muitas aspirantes a Mary Sue lerem o seu livro, e fizerem bastante estardalhaço, ele pode até virar um filme e aí nunca mais a gente vai parar de ouvir falar de uma bobagem que era para ter ficado só entre você e as suas melhores amigas. E, finalmente, porque toda adolescente é cabeça de vento assim mesmo e isso não é vergonha nenhuma, mas a adolescência termina aos 19 anos e você já está meio grandinha pra isso, né, amiga? Vai sonhar com uma vida de verdade, com pessoas de verdade e deixa as fantasias adolescentes para a próxima geração.

Bom, este post era para ser sobre o livro, mas acabou sendo sobre a anatomia da Mary Sue. Então, vou encerrá-lo com a melodia imortal de "The Life of a Mary Sue", cantada pela muito talentosa Skittle Sama.

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