domingo, 25 de janeiro de 2015

Quatro Comerciais Que Eu Ainda Não Entendi

O princípio básico da propaganda é razoavelmente simples: você tem um produto ou uma ideia para vender e precisa convencer as pessoas a comprá-lo ou, se já estão comprando, convencê-las a comprar mais.

"Não seja ridículo: é claro que você não tem cintos demais."
© Azulex | Dreamstime.com - Color Leather Belts Photo

No entanto, vários obstáculos podem se interpor entre você e o seu sonho de conceber e elaborar a campanha de marketing perfeita: o seu produto pode ter defeitos que nem a melhor das campanhas publicitárias pode disfarçar, outras campanhas melhores podem ser lançadas na mesma época do lançamento da sua, a sua verba pode não ser suficiente para pagar as locações e efeitos especiais caríssimos que você tem em mente... Ou talvez falte na sua equipe de criação aquele elemento fundamental em toda equipe: a pessoa que levanta a mão, interrompe a reunião e pergunta: "Sou só eu que estou achando que isso não está fazendo nenhum sentido?"

Porta dos Fundos na Fox

"Porta dos Fundos", para aqueles que estiveram sem acesso à Internet nos últimos dois anos, é uma produtora de vídeos de esquetes humorísticos que começou sua vida na Internet, tem seu próprio canal no YouTube e, recentemente, assinou um contrato com a Fox para exibir seus esquetes também na TV a cabo.

Eu, pessoalmente, não gosto de todos os esquetes deles, mas achei a maioria dos que eu vi engraçadíssimos. Até as chamadas do programa na Fox costumam ser muito engraçadas. Quanto ao programa em si, ainda não assisti. Por que não? Vejamos...


Pra quem não pode ou não quis tocar o vídeo, não faz mal: eu conto. O vídeo basicamente lista todos os motivos pelos quais eu não vou assistir na TV o que já está disponível na Internet:

"Os vídeos que fizeram sucesso na Internet e que você podia assistir a qualquer hora e em qualquer lugar vieram pra sua televisão; agora você só vai poder assisti-los no sofá da sala, no horário que a gente quiser, e você não vai poder mais rir sozinho ou compartilhar com os amigos, mas vai passar pelo constrangimento enquanto sua avó passa pela sala."

Eu disse que as chamadas do programa na Fox costumam ser muito engraçadas, né? Pois é, os links que eu coloquei no texto foram as chamadas número 1, 2 e 4. E esse vídeo aí de cima, acredite se quiser, não foi feito pela concorrência ou por um fã frustrado com as limitações da nova mídia escolhida. Essa é a chamada número 3 do programa "Porta nos Fundos" exibido pela Fox e explica de forma bem clara todos os motivos pelos quais eu não assisto o programa.

Eu entendo (e acho excelente) a estratégia de apontar as próprias falhas antes que outro o faça. Passa uma imagem de honestidade e autocrítica essencial para estabelecer uma relação de confiança com o público. Mas, no caso da chamada do programa, ficou faltando a segunda parte dessa estratégia: dizer por que, mesmo com todos esses pontos negativos, eu deveria assistir o programa. Se era só para deixar o programa marcado na mente das pessoas, eles já tinham três chamadas muito engraçadas fazendo isso. Então, o objetivo era... ser mencionado no meu blog? Uau, tenho certeza de que isso vai contribuir de forma significativa para aumentar a audiência deles.

Mitsubishi L200 Triton 2015

A L200 Triton da Mitsubishi é uma picape que, de acordo com o fabricante, pode andar até 1.000 Km sem precisar reabastecer. Se essa afirmação é verdadeira ou não, eu não sei, mas esta é a propaganda que eles usaram para divulgar esse fato:



O casal está sentado na varanda de casa quando o namorado da filha chega de carro para buscá-la. Os pais da moça aparentemente estão vendo o carro dele (uma picape L200 Triton) pela primeira vez, porque o pai se vira para a mãe e diz, apontando para o carro: "Não era você que queria um bom partido para nossa filha?". Ah, entendi, ter um carro desses não é pra qualquer um: se o cara pode bancar um Mitsubishi L200 Triton, é um bom partido. O tema da mãe que anseia ver a filha casada com um bom partido (e o conceito de que "cheio da grana" é sinônimo de "bom partido") é meio anos 50, mas vá lá. Propaganda retrô.

Sobre imagens do carro passando por diversos cenários, sempre em movimento, o locutor anuncia os méritos do carro ("mais autonomia, maior tanque da categoria, ou seja, anda muito tempo sem precisar abastecer"). Sobem os créditos, vamos para o próximo comercial... opa, peraí, o comercial não acabou. O casal está voltando, meses depois, pelo visto, já que, embora os dois ainda estejam vestindo as mesmas roupas de quando saíram, a moça está visivelmente grávida. Agora é a vez da mãe virar para o pai e dizer, com um sorriso irônico: "Não era você que queria um netinho... vovô?"

Oi? Como assim? A mesma mãe que estava tão preocupada em se certificar que a filha conseguisse um bom partido agora está rindo da cara de tacho do pai porque, Ha-ha! Sua filha está grávida! Não vem ao caso discutir se é ou não motivo de zombaria o fato de que a filha solteira de alguém está grávida: a questão é que, se é pra zombar de alguém por causa das escolhas da filha dele, convém certificar-se antes de que ela não seja sua filha também. Caso contrário, é como aquela cena clássica em que um irmão xinga a mãe do outro.

Fora o fato de que, se eles passaram meses na estrada com uma única muda de roupa cada um, está na hora de rever esse conceito de bom partido, hem, minha senhora? Essa criança deve ter sido concebida no banco de trás do carro.

Campari – Festa do Vermelho

Eu nunca bebi Campari na vida, portanto não posso atestar se a bebida é boa ou não. Mas não faz mal, porque quem concebeu a campanha "Festa do Vermelho" acha que o sabor da bebida não é um fator decisivo na hora da compra. O importante, mesmo, é a sua cor e capacidade de instigar o vandalismo em quem a bebe.



Então, vejamos: o rapaz, que obviamente não sabe ler ou não é bom em seguir instruções, está na fila para entrar na "Festa do Vermelho" vestindo uma camisa branca e calça jeans. A moça, mais esperta (ou menos daltônica) do que ele, passa por ele, as mãos dos dois se roçam e rola uma química. Ela entra na festa (furando a fila, diga-se de passagem) e quando ele tenta segui-la é barrado na porta, já que, como está escrito em letras grandes e luminosas na entrada, esta é a Festa do Vermelho. Todas as pessoas na festa (e na fila) estão vestindo pelo menos uma peça de roupa vermelha, menos o nosso amigo que faltou à aula na pré-escola no dia em que a tia ensinou o nome das cores. Ou isso ou o cara tomando conta da porta não quis acreditar quando ele garantiu que estava de cueca vermelha.

Ele, então, dá de ombros e faz uma cara assim de "fazer o quê, né?" para a candidata a peguete, mas ela, moça decidida e batalhadora que não tem medo de lutar pelo que quer, passa a mão no copo de Campari mais próximo e joga a bebida na camisa dele, deixando uma mancha vermelha enorme que eu du-vi-do que vá sair. O rapaz pensa, "bom, a camisa eu já perdi, mesmo: pelo menos vou dar uns pegas nessa doida garota pra noite não ser um prejuízo total". E entra atrás dela, já que agora, tecnicamente, ele está vestindo uma camisa vermelha.

E até aí eu até ainda estava acompanhando a estorinha, por mais boba que fosse. O problema é que o resto das mulheres na festa vê o que ela fez e começa também a jogar Campari na roupa de todos os homens na festa. Dos homens, que, repito, já estão de camisa vermelha. Ou seja, essas loucas não têm a menor ideia de por que a outra fez aquilo: elas apenas viram uma mulher jogando um copo inteiro de Campari na camisa branca de um cara e pensaram "Que máximo! Também vou fazer isso!".

Quando, no fim da propaganda, o locutor apenas recita o slogan do produto "Campari: só ele é assim", deve ser porque os advogados da companhia recomendaram que cortassem a parte em que ele acrescentava "deixa o mulherio enlouquecido e mais predisposto a fazer bobagem".

Mitsubishi Pajero Dakar 2015

Oi, Mitsubishi! Vocês por aqui de novo? Quem foi que contratou essa empresa de publicidade que atende vocês, hem? Sai muito caro rescindir esse contrato?



Esta singela propaganda da Pajero Dakar começa com diversos objetos caindo no chão e se espatifando: um candelabro de cristal, um vaso de porcelana, um piano de cauda. O locutor anuncia: "Luxo não é nada sem resistência" e a próxima cena é uma Pajero Dakar caindo de uns dois metros de altura e ficando intacto (externamente, pelo menos).

Em primeiro lugar, eu quero dizer que entendi que a ideia não é dizer que a Pajero Dakar é resistente porque ela resiste a uma queda que destruiria um vaso de porcelana. Isso seria idiota demais até pra ser zoado. Mas mesmo assim a propaganda não funciona pra mim, porque o slogan "luxo não é nada sem resistência" não se aplica aos objetos que eles mostraram: candelabros, vasos e pianos não são feitos para serem resistentes a quedas. Ao comprar um candelabro, as pessoas levam em consideração muitas coisas e luxo pode ou não ser uma delas, mas resistência a quedas certamente não é. Ou seja, para alguns artigos, luxo sem resistência é, sim, muita coisa.

Se você quer anunciar para o mundo o quanto o seu carro luxuoso é melhor do que outros carros luxuosos porque ele é mais resistente do que eles, mostre cenas de destruição com outros carros, e não com coisas que podem ser destruídas por uma faxineira descuidada ou uma criança de sete anos jogando futebol dentro de casa.

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