Eu tenho conta no Facebook. "Grande coisa," diria um leitor impaciente, "todo mundo tem!". Ao que eu responderia: todo mundo, não. Conheço gente que não tem. E não estou me referindo só à minha mãe (até porque a minha mãe tem conta no Facebook), mas a gente da minha idade e até mais jovem do que eu que nunca teve conta no Facebook, ou que teve conta e a excluiu.
Quem não tem conta no Facebook (ou tinha e não tem mais) o faz por vários motivos e eu não vou discutir todos. Não acho que alguém precise ter conta no Facebook assim como não acho que alguém precise ter carro. Mas não entendo gente que diz que não tem conta no Facebook porque "prefere a vida real", assim como não entenderia alguém que dissesse que não tem carro porque não quer ser uma dessas pessoas que pega o carro até para ir à padaria da esquina. É uma coisa assim que... não sei nem como explicar isso sem soar idiota, mas o carro não tem consumação mínima. O porteiro do prédio não vai proibir você de sair a pé pela portaria só porque o seu carro está na garagem com o tanque cheio: quem decide a quais lugares ir de carro, de ônibus, táxi, carona ou a pé é você.
"Não! Sério???" (Image courtesy of stockimages @ FreeDigitalPhotos.net) |
Claro, tem gente que usa o carro até pra ir a lugares onde daria para chegar mais rápido a pé, mas essa gente tem problemas dos quais a dependência do carro é só um sintoma. E com o Facebook é a mesma coisa: a vida real não desaparece num passe de mágica só porque você abriu uma conta no Facebook ou – horror dos horrores! – instalou o aplicativo no celular.
Algumas pessoas realmente se comportam como se tivesse acontecido exatamente isso, mas, novamente, o problema não é o Facebook, e sim – surpresa! – elas próprias. Um dia desses vou escrever um post sobre essa gente que te chama pra almoçar e pega o celular pra checar o Facebook assim que se senta à mesa, que atrapalha o caminho de todo mundo andando devagar, com os olhos fixos na tela do celular, que acessa o Facebook de cinco em cinco minutos, no trabalho, no cinema, no trânsito.
Mas este post aqui é sobre o outro pessoal: o pessoal que acha que não existe um ponto de equilíbrio e julga todo mundo que tem conta no Facebook por aquelas (infelizmente, muitas) pessoas que perderam a noção. Como se o fato de alguém acessar o Facebook para mandar um recado ou curtir o post de um amigo impedisse essa pessoa de se encontrar com esse mesmo amigo para tomar um chope na sexta-feira. E como se muitos chopes de sexta-feira não fossem marcados através do Facebook.
Interação olho no olho, ao vivo e a cores, é melhor? Claro que é! Não precisa ser um sábio guru sem conta no Facebook para perceber isso. Mas nem sempre dá para estar com as pessoas de quem a gente gosta ao vivo e a cores, pelo menos não com a frequência com que se gostaria. Tem gente que mora longe. Tem gente que acabou de ter filho. Tem gente que está trabalhando até tarde todo dia e chegando em casa morta de cansaço, querendo só jantar, banho e cama. Tem gente que a gente até encontra toda semana, mas gosta tanto que queria encontrar todo dia. E, nessas horas, um post de duas linhas, uma foto compartilhada, um curtir o post alheio, embora não cheguem aos pés da interação presencial, em carne e osso, é melhor do que nada. E, se quando surge a oportunidade, não se promove o encontro cara a cara, é porque nunca houve a intenção mesmo, com ou sem Facebook.
Há algum tempo, uma dessas pessoas que têm essa visão preto e branco de "Redes Sociais x Vida Real" me contou um caso para ilustrar seu ponto de vista. Viajando a trabalho com um colega, ambos se hospedaram no mesmo hotel; após o jantar, o colega, ao invés de continuar de papo no restaurante, preferiu se recolher a seu quarto, com mais uma ou duas cervejas e seu notebook. Essa pessoa que me contava o caso então "resgatou" o colega, fazendo-o desligar o micro e descer para o bar, para beber e bater papo com "pessoas reais". E eu, ouvindo essa história, só conseguia pensar: "Já te ocorreu que talvez ele não tenha problemas em se relacionar com as pessoas e apenas não estivesse com vontade de beber com você, especificamente?"
Quando o Facebook (ou qualquer outra rede social) começa a impedir que você se relacione com as pessoas face a face, você tem um problema. Quando, por outro lado, ele é uma alternativa ou uma distração nos momentos em que você não pode ou não está com vontade de se deslocar fisicamente até onde as pessoas estão, você tem, pelo contrário, uma solução.
Como em tudo na vida, a resposta às vezes é mais simples do que parece. Se você acha que não está interagindo pessoalmente com seus amigos e família com tanta frequência quanto gostaria, comece a procurá-los mais antes de sair tecendo altas teses sociológicas sobre os males do Facebook, do Twitter, do e-mail, da televisão ou do forno de micro-ondas. A solução talvez seja um simples telefonema. Ou uma mensagem enviada através do Facebook Messenger.
"Eu devia ter lido os Termos de Serviço antes de selecionar 'Aceito'." (Image courtesy of African_fi @ FreeImages) |
Algumas pessoas realmente se comportam como se tivesse acontecido exatamente isso, mas, novamente, o problema não é o Facebook, e sim – surpresa! – elas próprias. Um dia desses vou escrever um post sobre essa gente que te chama pra almoçar e pega o celular pra checar o Facebook assim que se senta à mesa, que atrapalha o caminho de todo mundo andando devagar, com os olhos fixos na tela do celular, que acessa o Facebook de cinco em cinco minutos, no trabalho, no cinema, no trânsito.
Mas este post aqui é sobre o outro pessoal: o pessoal que acha que não existe um ponto de equilíbrio e julga todo mundo que tem conta no Facebook por aquelas (infelizmente, muitas) pessoas que perderam a noção. Como se o fato de alguém acessar o Facebook para mandar um recado ou curtir o post de um amigo impedisse essa pessoa de se encontrar com esse mesmo amigo para tomar um chope na sexta-feira. E como se muitos chopes de sexta-feira não fossem marcados através do Facebook.
Interação olho no olho, ao vivo e a cores, é melhor? Claro que é! Não precisa ser um sábio guru sem conta no Facebook para perceber isso. Mas nem sempre dá para estar com as pessoas de quem a gente gosta ao vivo e a cores, pelo menos não com a frequência com que se gostaria. Tem gente que mora longe. Tem gente que acabou de ter filho. Tem gente que está trabalhando até tarde todo dia e chegando em casa morta de cansaço, querendo só jantar, banho e cama. Tem gente que a gente até encontra toda semana, mas gosta tanto que queria encontrar todo dia. E, nessas horas, um post de duas linhas, uma foto compartilhada, um curtir o post alheio, embora não cheguem aos pés da interação presencial, em carne e osso, é melhor do que nada. E, se quando surge a oportunidade, não se promove o encontro cara a cara, é porque nunca houve a intenção mesmo, com ou sem Facebook.
Há algum tempo, uma dessas pessoas que têm essa visão preto e branco de "Redes Sociais x Vida Real" me contou um caso para ilustrar seu ponto de vista. Viajando a trabalho com um colega, ambos se hospedaram no mesmo hotel; após o jantar, o colega, ao invés de continuar de papo no restaurante, preferiu se recolher a seu quarto, com mais uma ou duas cervejas e seu notebook. Essa pessoa que me contava o caso então "resgatou" o colega, fazendo-o desligar o micro e descer para o bar, para beber e bater papo com "pessoas reais". E eu, ouvindo essa história, só conseguia pensar: "Já te ocorreu que talvez ele não tenha problemas em se relacionar com as pessoas e apenas não estivesse com vontade de beber com você, especificamente?"
Quando o Facebook (ou qualquer outra rede social) começa a impedir que você se relacione com as pessoas face a face, você tem um problema. Quando, por outro lado, ele é uma alternativa ou uma distração nos momentos em que você não pode ou não está com vontade de se deslocar fisicamente até onde as pessoas estão, você tem, pelo contrário, uma solução.
Como em tudo na vida, a resposta às vezes é mais simples do que parece. Se você acha que não está interagindo pessoalmente com seus amigos e família com tanta frequência quanto gostaria, comece a procurá-los mais antes de sair tecendo altas teses sociológicas sobre os males do Facebook, do Twitter, do e-mail, da televisão ou do forno de micro-ondas. A solução talvez seja um simples telefonema. Ou uma mensagem enviada através do Facebook Messenger.
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