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domingo, 25 de janeiro de 2015

Fenômenos Paranormais 2

Depois de ter assistido Fenômenos Paranormais, descobri que existe um Fenômenos Paranormais 2. O primeiro filme tem seus altos e baixos, mas, no geral, gostei dele, por isso resolvi assistir o segundo para ver no que deu. Como os roteiristas são os mesmos do primeiro filme mas desta vez eles deram a direção para o John Poliquin, já sabemos de quem vai ser a culpa se o segundo filme não prestar (brincadeirinha, John: eu já assisti os primeiros dez minutos de filme e nenhum diretor conseguiria salvar esse desastre).

Depois dez minutos de "comédia" universitária ao estilo American Pie, dois universitários (Alex e Trevor) que têm um vlog sobre filmes de terror começam a receber mensagens e vídeos que dão a entender que o primeiro filme não foi ficção, e sim um documentário feito com gravações reais da equipe que passou a noite no hospício assombrado do primeiro filme e desapareceu lá. Ou seja, Bruxa de Blair e Bruxa de Blair 2.

Meia hora de falação depois, a pessoa que está enviando as mensagens revela que mora no Canadá, perto do hospício onde tudo teria acontecido (O primeiro filme se passou no Canadá? Sério?), e marca um encontro com eles para contar o que sabe. E assim, os cinco gênios (os dois amigos donos do vlog e mais três) viajam para um país estrangeiro para invadir um edifício interditado às três da madrugada e se encontrar com alguém que eles nunca viram na vida, cujo nome não sabem qual é, e que só conhecem através de mensagens enviadas pela Internet sob o pseudônimo DeathAwaits (A morte espera). Afinal, se você não puder confiar em pessoas que te mandam mensagens anônimas pela Internet, vai confiar em quem, né?

Informação adicional para quem não assistiu o primeiro filme ou não se lembra: "Death Awaits" era a frase que os integrantes da equipe de filmagem do primeiro filme encontraram pichada na porta do hospício ao chegar lá.

E assim, depois de quarenta excruciantes minutos de filme, Alex, Trevor, Jennifer, Tessa e Jared finalmente estão dentro do hospício, filmando uma abertura bem parecida com a que a equipe do filme original filmou antes de ser massacrada pelos espíritos do lugar, e me ocorre agora que, se Alex e cia. estão tão convencidos de que o primeiro filme foi real e de que as cinco outras pessoas que tentaram fazer a mesma coisa que eles estão fazendo ali foram mortas de maneira horrível, por que é que eles acham que com eles vai ficar tudo bem?

Jennifer anuncia para a câmera que o prédio é imenso e é super fácil alguém se perder ali, por isso eles trouxeram bastões fluorescentes para marcar o caminho (bastões estes que os espíritos malignos não vão tirar do lugar, porque, afinal de contas, eles são malignos mas têm espírito esportivo), um aparelho de GPS (que vai ser super útil quando o prédio começar a mudar como no primeiro filme, com corredores e salas novas brotando do nada) e umas, sei lá, sirenes? Um negócio que faz um barulho danado para eles poderem se achar caso algum deles se perca do grupo. Aparentemente, o combinado, então, é nunca se separar do grupo e cada um sempre carregar uma dessas sirenes consigo só por precaução. Vamos ver quanto tempo vai demorar e quem vai ser o primeiro a desrespeitar uma dessas duas regras. Eu aposto na própria Jennifer.

Às 3h25, DeathAwaits ainda não deu as caras e eles já brincaram de Ghost Hunters por quase meia hora quando encontram um tabuleiro Ouija, que usam para tentar se comunicar com os espíritos do local. O primeiro a responder é, imaginem só, DeathAwaits, que é, na verdade, um dos espíritos aprisionados no hospício. Isso explica porque, mesmo depois de tanta troca de mensagens, ele ainda não mandou uma solicitação de amizade no Facebook.

Os cinco ainda estão processando essa informação quando a mesa sobre a qual está o tabuleiro Ouija voa longe e se choca contra a parede. Todos começam a gritar ao mesmo tempo e saem correndo procurando a saída e, embora nessa hora ninguém se lembre de procurar pelos bastões fluorescentes ou de consultar o GPS, ponto para eles por pelo menos permanecerem todos juntos. Eles se trancam em uma sala qualquer, mas a porta é arrombada e por ela entra... o mesmo segurança que já tinha expulsado os cinco do terreno do hospício mais cedo naquele mesmo dia e que está, compreensivelmente, uma fera.

Enquanto Alex e Trevor discutem com o segurança porque não querem ir embora antes de recolher todo o material de filmagem que espalharam pelo local, eles escutam um barulho vindo do andar de cima e o segurança, obviamente não acreditando quando eles dizem que não há mais ninguém com eles, sobe para investigar. Sem levar bastões fluorescentes, nem o GPS nem uma sirene. Francamente.

Assim que o segurança sobe as escadas, os cinco começam a discutir entre si porque o Alex está preocupado em não ir embora sem o equipamento de filmagem, que pertence à universidade, os outros quatro estão preocupados em fugir dali para não serem presos por invasão de propriedade e, pelo visto, ninguém está mais preocupado com o fato de que os espíritos malignos já mataram cinco pessoas ali e uma mesa acabou de sair voando sozinha porque, afinal de contas, prioridades, né, gente?

No meio da discussão, eles ouvem tiros vindos lá de cima e, enquanto eu ou você a essa altura do campeonato já teríamos cruzado a fronteira de volta para os Estados Unidos e estaríamos em casa, na cama, com as cobertas puxadas até a cabeça, os cinco sobem para ver o que aconteceu. Esse pessoal de filme de terror é sempre assim: não pode ver um tumulto que já tem que ir lá dar palpite. No andar de cima, eles encontram a lanterna do segurança caída no chão e todos voltam a insistir com o Alex pra darem o fora dali, mas ele não apenas se recusa a ir embora sem o equipamento de filmagem como ainda convence os outros a se dividirem em dois grupos para recolher as coisas mais rápido. Não sei quem levou o GPS, mas não estou vendo ninguém marcar o caminho com os bastões fluorescentes. Ou seja, a estratégia pra ninguém se perder só durou vinte minutos.

E, como já virou zona mesmo, por que não dividir os dois grupos em grupos ainda menores? Corta para o Jared entrando em uma sala e gritando por cima do ombro: "Tessa, achei a sala!" e a voz da Tessa, vinda de algum lugar lá atrás, perguntando "Onde?". Tchau, Jared.

Antes de continuar, parênteses rápido pra dizer que um dos motivos pelos quais o Alex está tão decidido a não sair dali sem o equipamento de filmagem é que ele pertence à universidade e custa, segundo o próprio Alex, pelo menos US$ 50 mil. E eu pergunto: quantas câmeras com visão noturna e sensor de calor essa universidade tem que pode emprestar meia dúzia delas pra qualquer estudante que resolve fazer um documentário independente em outro país? Estou começando a desconfiar que o motivo de o Alex estar tão obstinado é que ele roubou esse equipamento da universidade e está querendo devolver antes que deem falta. Fecha parênteses.

Enquanto eu estava aqui divagando sobre preços de câmeras e a integridade moral do Alex, uma janela às costas do Jared se abriu com um ruído sinistro. Ele se vira para alguém que a câmera não mostra, pergunta "o que você está fazendo aqui?" e, em resposta, é atirado pela janela. Não pela janela aberta, e sim por outra que estava fechada, pra fazer bastante barulho e a Tessa finalmente chegar, ver a vidraça quebrada e entrar em pânico.

Alex, Trevor e Jennifer vêm correndo quando ela toca a sirene, pegam a câmera que o Jared tinha ido lá para buscar, assistem o que aconteceu e finalmente se lembram dos espíritos malignos que foram o motivo de eles terem ido para lá e resolvem cair fora dali, com ou sem equipamento de filmagem.

Aparentemente, enquanto eu não estava olhando alguém usou alguns dos bastões fluorescentes para marcar o caminho, porque eles seguem os bastões e as placas de saída pelo corredor até chegar a uma parede. Porque o prédio, mais uma vez, se modificou para impedir que eles escapassem. Exatamente como aconteceu no primeiro filme. A diferença é que daquela vez foi legal porque ninguém sabia que aquilo ia acontecer, ao passo que dessa vez todo mundo sabia, inclusive esses idiotas que estão aqui justamente porque assistiram o filme.

E assim, na falta de coisa melhor pra fazer, os quatro começam a vagar a esmo pelo prédio até que chegam na ala infantil, onde encontram a pequena Kaitlin. Jennifer se aproxima dela toda delicada, perguntando o que aconteceu e o que ela está fazendo ali, porque pode ser mesmo que aquela seja só uma doce menininha perdida naquele hospício abandonado às quatro horas da madrugada, e Kaitlin faz aquela famosa pergunta que qualquer conhecedor de estórias de terror conhece e teme: "Você quer brincar comigo?". E, como nada de bom jamais aconteceu depois que uma criancinha disse essa frase em um filme de terror, Kaitlin faz aquela que pra mim vai ser sempre a "cara de 'O Grito'" (ou de O Grito), todo mundo sai correndo e, na confusão, a Tessa fica pra trás, uma parede surge onde não havia nenhuma e ela se separa do grupo. E morre.

Alex, Trevor e Jennifer circulam mais por ali até que encontram o tal segurança preso a uma maca e recebendo choques. O Alex desliga a máquina e tenta soltar as amarras, mas, antes que ele consiga, a máquina se liga de novo sozinha, os choques recomeçam e de repente o segurança começa a pegar fogo, o que... é possível, eu acho? Sei lá. Apesar dos sustos ocasionais, o filme está meio chato.

Depois de zanzar mais um pouco, os três encontram uma janela que, apesar de fechada com uma tela de metal, está com uma ponta da tela meio solta e por isso eles resolvem arrombá-la para tentar sair dali. Eles conseguem arrancar a grade, mas pelo visto o edifício se modificou de novo para atrapalhar a vida deles, pois pela janela entra o que é ou a manifestação corpórea de um dos espíritos malignos ou um paciente que foi deixado para trás e não come nada desde que o hospício foi abandonado.

Sai todo mundo correndo de novo e, na sorte, encontram a escada que leva ao andar debaixo. Nessa hora o espírito maligno responsável por modificar o prédio em momentos estratégicos para impedir que eles escapassem tinha ido ao banheiro e não voltou a tempo de mudar a porta de lugar ou de criar um corredor extra, por isso todos conseguem passar pela porta e sair do prédio. Quer dizer, todos menos a criatura que os estava perseguindo: essa virou pó quando tentou cruzar a porta. O que me leva a perguntar: se DeathAwaits também está morto e os mortos não podem sair do prédio, como é que ele conseguiu mandar aquelas mensagens para o Alex? Será que algum dos que morreram no primeiro filme deixou um notebook ou um celular para DeathAwaits poder usar? Se dentro do hospício não pega sinal de celular (tanto o pessoal do primeiro filme quanto o pessoal do Alex já tentou pedir socorro e não tinha sinal), de quem será o WiFi que DeathAwaits está roubando pra mandar essas mensagens e vídeos pro Alex? Fazer filme de terror no século XXI é coisa séria, gente.

Lá fora, eles passam batido pelo corpo do Jared (que tinha sido jogado pela janela, lembram?), entram no carro e saem dali, voltando para o hotel onde estavam hospedados. A Jennifer quer chamar alguém, avisar a polícia, qualquer coisa assim, mas é voto vencido porque o Alex e o Trevor só querem dar o fora dali e telefonar pra avisar depois que já estiverem a uma distância segura (de preferência do outro lado da fronteira).

Os três entram no elevador (com uma camareira parada na outra ponta do corredor olhando para eles de forma absolutamente normal, mas mesmo assim dando um toque sinistro à cena), o elevador desce e, quando as portas se abrem... eles estão de volta ao porão do hospício. Não faz o menor sentido com o resto do filme, mas é bacana. Interessante também é que a cena deles dentro do elevador é filmada pela câmera de segurança do elevador do hotel, enquanto que o que eles veem à sua frente quando a porta se abre é filmado pelas câmeras que o Alex e o Trevor ainda estão carregando. Tudo bem que já era pra eles terem desligado as câmeras a essa altura do campeonato, mas, ainda assim ficou legal.

Eles saem do elevador, compreensivelmente surtados e, depois de uma passagem de tempo de duração não especificada, há um novo tumulto, gritaria, a câmera com sensor de calor detectando um monte de espíritos à volta deles, e de repente aparece um homem esquelético, com barba e cabelo desgrenhados e roupas esfarrapadas que os chama para segui-lo por uma passagem que parece um duto de ventilação. O Trevor fica para trás, dá de cara com outra mulher com cara de "O Grito" e ela avança nele, mas depois disso a cena corta para ele chegando no esconderijo para onde o barbudo levou o Alex e a Jennifer, então, sei lá. Vai ver ela só queria bater um papinho.

Mesmo com a barba, o cabelo, a sujeira, a magreza e a cara de maluco, o Alex consegue reconhecer no barbudo o Sean Rogerson, um dos atores que fez o filme original. Ele interpretou o Lance, que terminou o filme olhando para a câmera e anunciando que finalmente estava curado e podia ir para a casa, depois de ser operado pelos "médicos" do hospício.

E aqui vou abrir outro parêntese para dizer que Sean Rogerson é mesmo o nome desse ator: o cara está interpretando a si mesmo em um filme sobre como ele entrou em um hospício abandonado para fazer um filme no qual interpretava um apresentador que entrou em um hospício abandonado para fazer um documentário. Mais meta, impossível. Fecha parênteses.

Depois de uma cena absolutamente nojenta do Sean/Lance comendo um rato vivo, igual ao primeiro filme (sério, gente, isso é algum fetiche dos roteiristas?), o Alex pede que eles os ajude a sair dali, porque claro que ele sabe como sair e passou os últimos anos naquele lugar só de farra. E aí acontece a melhor cena do filme, em que o Alex explica que, não, eles não são pacientes e sim estudantes de cinema que invadiram o prédio e o Sean pergunta (em nome de toda a audiência) "Por que vocês fariam uma coisa dessas?". Quando o cara louco, sujo e esfarrapado que come ratos vivos te faz essa pergunta está na hora de você rever todas as decisões que já tomou e que te trouxeram até esse ponto na sua vida.

O Alex explica, então, que eles estão ali porque queriam descobrir a verdade sobre o filme do Sean. Ah, bom, agora que você explicou dessa maneira lógica e racional...

Quando o Sean não sabe de que filme eles estão falando, o Alex pega um tablet e mostra a ele um trecho do filme, no qual o Sean reconhece a atriz Ashleigh Gryzko, que interpretou a Sasha no primeiro filme, e diz que "eles" a levaram, Quando o Alex o pressiona para que ele os ajude a sair dali, no entanto, o Sean diz que as chaves estão com o Kenny, o que é esquisito porque o zelador do prédio no primeiro filme realmente se chamava Kenny Sandoval, mas esse era o nome do personagem, e não do ator (Bob Rathie). Pode ser uma pisada de bola dos roteiristas ou pode ser que o Sean já esteja confundindo o filme com a realidade.

Enfim, o Sean obviamente não é de grande ajuda, mas enquanto ninguém tem uma ideia melhor Alex, Trevor e Jennifer vão ficando por lá, cada vez mais desanimados. Sem dizer nada, o Sean pega uma tesoura e começa a cortar o próprio cabelo e barba até ficar razoavelmente parecido com o que era na época do primeiro filme. O Trevor resmunga que não confia nele, a Jennifer muito sensatamente pergunta quem deixou o doido pegar uma tesoura, mas o Alex garante que ele não é perigoso e o Alex até agora tem se revelado um excelente líder que nunca mete seus amigos em roubada, então acho que está tudo bem.

O Sean guia os três até uma porta vermelha fechada com correntes e, apesar de ser uma porta cenográfica no meio da sala, que não leva a lugar nenhum, ele garante que, se eles puderem atravessá-la, conseguirão sair dali. O Trevor diz que eles tinham uma bolsa de ferramentas com um alicate que poderiam usar para cortar a corrente, mas a perderam. Pela descrição que ele faz do local em que eles perderam a bolsa, o Sean conclui que foi na sala de hidroterapia e os quatro saem em busca da sala, que o Sean garante que sabe como achar porque ele tem uma planta do prédio (que deve ser mágica, né, já que o prédio fica mudando o tempo todo...). Enfim, muitas paredes falsas, cômodos que desaparecem e reaparecem e salas que giram depois, eles finalmente chegam à tal sala, encontram a bolsa e... deitam pra dormir já que, pra que a pressa, né?

No meio da noite, enquanto todos dormem, uma das câmeras sai flutuando no ar, filma cada um deles dormindo durante o sono sem nenhum motivo aparente e depois volta pro lugar. Bu. Nossa, fiquei tão impressionada. Logo em seguida, o Trevor acorda, pega essa mesma câmera e vai para um cômodo afastado dos outros pra gravar uma mensagem de despedida para o caso de ele morrer e a câmera ser encontrada. E eu até poderia reclamar por ele estar se separando do grupo sem levar bastões fosforescentes, sirene ou GPS, mas já passamos do ponto em que isso é relevante.

Antes que o Trevor termine de gravar a mensagem, o Sean chega e o mata, ao mesmo tempo pedindo perdão e explicando que "ele" o obrigou a fazer isso. Em seguida ele vai embora, seguido pela câmera que começa a flutuar de novo.

Corta para Alex e Jennifer encontrando o corpo do Trevor e descobrindo que, apesar de ter levado todo o equipamento deles, o Sean deixou o mapa que os dois agora pretendem usar para retornar à porta vermelha antes dele. Não sei se eles ainda acreditam nessa história da porta vermelha ou se simplesmente precisam de alguma coisa pra fazer.

Enquanto isso, o Sean está zanzando pelos corredores, incorporando alternadamente diferentes personagens do filme original, dando risadas maníacas e basicamente surtando em grande estilo. Finalmente, ele chega à porta vermelha, corta as correntes com o alicate e atravessa a porta quase chorando de alívio. E sai do outro lado da sala do mesmo jeito, porque continua sendo uma mera porta cenográfica no meio da sala e que não leva a lugar nenhum. O Sean fica furioso porque "alguém" mentiu para ele. Segundo ele, "alguém" prometeu que um deles sairia pela porta vermelha e, aparentemente, ao matar o Trevor ele teria garantido que esse um seria ele. Em resposta, o tal "alguém" faz aparecer na parede as palavras "traga os outros", e eu não tenho ideia de quem sejam esses outros que ele precisa trazer, mas o Sean argumenta que não tem como fazer isso já que "alguém" não o deixa sair dali, então não devem ser o Alex e a Jennifer, já que esses já estão no prédio. Né? Eu acho.

Mais parênteses. Vou chamar o "alguém" de DeathAwaits até prova em contrário pra não ficar usando aspas o tempo todo e porque o blog é meu e eu resolvi que sim. Fecha parênteses.

DeathAwaits responde, então, escrevendo na parede que o Sean precisa pegar as fitas e aí eu já não sei mais nada, porque se os outros que o Sean tem que trazer não forem o Alex e a Jennifer, então as fitas em questão também não devem ser as que eles estão gravando. Por outro lado, se não são essas fitas, quais podem ser, então? Não sei quanto a vocês, mas eu desisto: quando o Sean pegar as tais fitas, sejam elas quais forem, eu descubro.

E aí a sala toda treme e aparece escrito, em letras garrafais: "Termine o filme". E lá se vai o Sean pegar as fitas, terminar o filme ou, sei lá, achar mais um rato pra comer.

Corta para o Alex e a Jennifer chegando no centro cirúrgico. Eles estão lá dentro quando chega a equipe cirúrgica e dois se escondem dentro de um armário, de onde eles espiam umas cenas confusas, alternando entre filme colorido e preto e branco, do que parece ser uma lobotomia. De repente, do nada, o médico está segurando um bebê, tem um pentagrama desenhado no teto, uma enfermeira com cara de "O Grito" e os dois saem correndo de dentro do armário e corredor afora. Sinto muito, mas é tudo muito confuso: já assisti a cena duas vezes e não entendi nada.

Depois de muito correr, os dois chegam na porta vermelha e encontram o Sean cercado de câmeras flutuantes e exigindo que eles entreguem as suas câmeras para que ele possa terminar o filme e, assim, conseguir sair dali. E eu resolvi que vou ignorar a parte sobre DeathAwaits querendo que ele "trouxesse os outros" e ele argumentando que não podia fazer isso porque não podia sair dali, porque esse filme já gastou mais tempo de processamento do meu cérebro do que a estória merece.

O Alex diz ao Sean que não vai entregar câmera nenhuma porque, se só quem terminar o filme sai dali, quem vai terminar e sair é ele. Na verdade, não: ele diz para o Sean não ser idiota porque ele não tem equipamento de edição ali e não conseguiria terminar filme nenhum com as gravações daquele monte de câmeras. Ou melhor, ele diz que as câmeras são a única fonte de luz de que eles dispõem naquele breu e ele não vai entregá-las para o Sean nem para ninguém. Não, gente, também não é isso: o Alex diz que não vai deixar o Sean terminar o filme porque o filme é dele, e não do Sean. Sério, é isso que ele diz. Isso é que é ser comprometido com a sua arte.

Os dois saem no braço, e, de repente, um vortex se abre na parede e suga o Sean, que se vai aos gritos de "Você prometeu! Você prometeu! Mentiroso!". Quando o vortex finalmente se fecha, o Alex diz para a Jennifer que descobriu como sair dali: ele vai terminar o filme e ela vai ser a estrela. Jennifer, eu até diria pra você dar o fora daí agora, mas ao longo de todo o filme você demonstrou tão pouca iniciativa e espírito independente que, francamente, a quinze minutos do fim do filme, é meio tarde demais pra virar protagonista, amiga. Mais sorte no próximo filme.

E, assim, o Alex mata a Jennifer a golpes de câmera e promete para DeathAwaits que vai fazer o filme e que ele será um sucesso. E como aparentemente tudo o que DeathAwaits queria eram os seus quinze minutos de fama e em 2011 ainda não tinha Big Brother no Canadá, o Alex atravessa a porta vermelha e vai parar em um terreno ao ar livre, de dia.

Quase um mês depois, um carro de polícia para o Alex andando no meio de uma rodovia em Los Angeles, à noite. Na legenda diz que hoje é dia 05/12, mas na câmera da viatura diz que é 04/12, mas vamos deixar isso pra lá que o filme já está no fim e é tarde pra ser coerente. De qualquer modo, na última imagem gravada pela câmera do elevador do hotel estava marcando 04/11, de modo que ou o tempo passa diferente dentro daquele hospício ou o Alex veio andando desde o Canadá e está vagando por aí há um mês carregando uma sacola com todas aquelas câmeras que ele trouxe de lá. Vamos apostar no tempo passando de forma diferente, porque ele não está nem com uma sombra de barba por fazer.

Os policiais mandam o Alex parar e, apesar de ele obedecer, e de eles serem dois policiais fortes e armados contra um rapaz magrelo e com ar desnorteado, eles pedem reforços pelo rádio, jogam o Alex sobre o capô da viatura e um deles o algema enquanto o outro mantém a arma apontada o tempo todo para o elemento perigosíssimo que só está pedindo para que eles não tomem suas câmeras, já que ele ainda precisa terminar o filme.

Aparentemente, depois de jogar o Alex na viatura, os policiais pelo menos voltaram pra buscar a sacola com as câmeras que ficou jogada no chão enquanto eles o agarravam e algemavam, já que na próxima (e última) cena ele está dando uma entrevista sobre "Fenômenos Paranormais 2". E eu espero que os policiais pelo menos tenham esperado o reforço que pediram pelo rádio chegar pra explicar que eles dominaram o elemento sem esperar pelos reforços e em menos de trinta segundos, e para pedir desculpas por tê-los feito perder a viagem.

O filme termina com a entrevista, que acontece em outubro de 2012, ou seja, um ano depois do início do filme e dez meses depois de o Alex ser parado pelos policiais, e ele dá a entrevista junto com o Jerry Hartfield, produtor do primeiro filme. O Jerry diz que o Alex é um rapaz brilhante e um diretor de futuro que apareceu no escritório dele com seu filme, "Fenômenos Paranormais 2", enfatizando que se trata de uma ficção é que é tudo montagem e eu fico imaginando como é que ele convenceu as famílias e amigos mais próximos da Jennifer, Trevor, Tessa, Jared e do segurança, cuja morte foi filmada e exibida no filme (a morte da Jennifer está passando em um telão ao fundo durante a entrevista) a não contar para ninguém que eles nunca mais foram vistos nem deram notícias. No início do filme, fala-se de indenizações astronômicas e acordos de confidencialidade para as famílias dos cinco atores do primeiro filme, de como o estúdio quase foi à falência daquela vez. A bilheteria desses dois filmes deve ter sido maior que a de todos os filmes do Harry Potter juntos.

Resumo da ópera: depois do primeiro "Fenômenos Paranormais", achei esse cheio de furos e meio chato. A parte mais divertida do filme foi escrever este post. Essa coisa meta de filme dentro do filme dentro do filme dentro do etc etc etc até que era uma boa ideia, mas no fim acabou ficando uma confusão só. No fim, eu acabei voltando para o começo do filme e fui revendo umas partes, pausando e fazendo anotações pra tentar entender esse rolo (spoiler alert: não consegui) e o que eu concluí foi o seguinte:

"Fenômenos Paranormais" foi um filme sobre a equipe de uma série de TV de mesmo nome que foi fazer um documentário picareta em um hospício com fama de assombrado, mas o hospício era assombrado mesmo e nenhum deles nunca mais foi visto. Faziam parte do elenco do filme:

AtorPersonagemProfissão
Ben WilkinsonJerry HartfieldProdutor da série "Fenômenos Paranormais"
Sean RogersonLance PrestonApresentador da série
Ashleigh GryzkoSasha ParkerEspecialista em ocultismo
Merwin MondesirT. C. GibsonOperador de câmera
Juan RiedingerMatt WhiteResponsável técnico
Mackenzie GrayHouston GrayMédium
Bob RathieKenny SandavolZelador do prédio

Até aqui, tudo bem, né? Todo mundo acompanhando? Beleza.

Daí vem "Fenômenos Paranormais 2". No universo em que este filme se passa, "Fenômenos Paranormais" foi um filme lançado no cinema como sendo de ficção. Ou seja, Jerry, Lance, Sasha etc não existem: são apenas personagens interpretados por Ben, Sean, Ashleigh etc. Só que Alex e Trevor começaram a receber pistas de que o "Fenômenos Paranormais" aconteceu de verdade e resolveram investigar. O que eles concluiram foi que Sean, Ashleigh, Merwin, Juan e Mackenzie entraram no hospício para fazer um filme sobre um documentário sobre fantasmas que deu errado, mas, infelizmente para eles, os fantasmas eram muito reais, e mataram Ashleigh, Merwin, Juan e Mackenzie e aprisionaram Sean.

Evidência a favor disso: quando Alex e Trevor começaram a investigar, eles tentaram entrevistar a mãe do Sean, não do Lance. Quando eles estavam filmando o local em que o personagem T.C. morreu no primeiro filme, o Alex se referiu a ele pelo nome do ator, Merwin Mondesir. Quando o Sean viu uma cena do filme em que a Ashleigh apareceu, ele a identificou como Ashleigh e não como Sasha.

Evidência contra: quando o Sean se referiu ao zelador do prédio, ele se referiu a ele como Kenny, que era o nome do personagem e não do ator. O produtor do filme "Fenômenos Paranormais", que apareceu no início do segundo filme e de novo no fim dando entrevista junto com o Sean, se chamava Jerry Hartfield (nome do personagem no primeiro filme), e não Ben Wilkinson (nome do ator).

Assim, a teoria número 1 (a estória de "Fenômenos Paranormais" aconteceu de verdade e todos aqueles personagens eram pessoas reais, membros da equipe de filmagem do documentário que morreu lá dentro) caiu por terra no instante em que todo mundo começou a se referir aos cinco pelos nomes dos atores, e não dos personagens.

A teoria número 2 ("Fenômenos Paranormais" foi um filme que deu errado, todas aquelas pessoas eram atores e os cinco que entraram no hospício morreram/desapareceram durante as filmagens) também foi pro vinagre quando se viu que, embora os cinco personagens que entraram no hospício fossem atores, e não pessoas reais, os demais (o zelador, o produtor) eram reais, sim. O apresentador Lance Preston era só o ator Sean Rogerson interpretando um personagem, mas o produtor Jerry Hartfield era ele mesmo.

O mais perto que cheguei de uma solução foi uma teoria número 3 segundo a qual os cinco dentro do hospício eram atores interpretando personagens e o resto da equipe era de verdade. Nesse ponto eu fiquei de saco cheio e resolvi acabar de assistir o filme logo. Se alguém tiver uma teoria melhor, cartas para a redação.

terça-feira, 5 de março de 2013

Fenômenos Paranormais

Os motivos que me levam a escrever no blog enquanto assisto um filme de terror são os mesmos motivos pelos quais eu gosto de ter companhia nesses momentos. Se o filme é ruim, eu gosto de ter alguém com quem comentar as barbeiragens; se é bom, a companhia de outra pessoa (ou, na sua falta, o blog) me mantém ancorada na realidade, me lembrando que, por mais assustadora que a história seja, é só uma fantasia. Pronto, falei: não acredito em fantasmas, monstros e afins.

E o blog ainda tem uma vantagem extra: alternando o olhar entre a tela da TV e a do notebook, eu acabo me assustando menos se o diretor resolve usar o velho truque do rosto que surge de repente na tela. Ha ha, se ferrou, eu nem estava olhando quando o monstro apareceu na janela!

O filme da vez é Fenômenos Paranormais, sobre as desventuras da equipe de filmagem do reality show de mesmo nome. A cada episódio a equipe passava uma noite em um local supostamente assombrado, registrando qualquer atividade sobrenatural que ocorresse. Tudo ia bem, segundo o produtor executivo (o filme abre com uma entrevista com ele), até o episódio 6, "O Hospício Assombrado". História clássica do hospício abandonado onde, anos depois, as pessoas alegam que ainda escutam passos e risadas maníacas pelos corredores desertos. O diretor, como é de praxe nessas histórias, fazia cirurgias experimentais com os pacientes e, eventualmente, foi assassinado por seis deles que fugiram de suas celas e o atacaram na sua sala. O produtor termina a entrevista garantindo ao público que o que eles vão assistir é a gravação original, editada só o necessário para caber no tempo do programa.

A primeira coisa que me chamou a atenção foi a má qualidade da filmagem "profissional", que lembra mais um vídeo doméstico: a câmera balança pra caramba mesmo quando a pessoa sendo filmada está parada em pé na frente da câmera, e o zoom vai e volta e no processo às vezes deixa de fora o alto da cabeça ou parte do rosto da pessoa. Não sei se é proposital, pra mostrar que o filme está sendo gravado com câmeras na mão, e não em um estúdio. Seja como for, é irritante.

Antes de anoitecer, a equipe entrevista várias pessoas (o zelador, o líder da equipe que fez uma obra de manutenção no prédio, adolescentes que invadiam só de farra) e o apresentador do programa (Lance Preston) conclui que o que eles têm ali é uma "assombração inteligente", e não uma "assombração residual". Estes são termos reais que os estudiosos de fenômenos sobrenaturais usam, então quem quiser saber o que significam pode ir procurar no Google. Por que? Porque o blog é meu e eu só posto o que eu quiser. Ha!

Daí tem uma cena hilária em que eles vão entrevistar o jardineiro e o cara diz que não, nunca viu nada de estranho por ali, não, senhor. O Lance pede pra parar a gravação, mas só uma  das câmeras é desligada para que a outra possa filmar ele pedindo para o cara inventar qualquer coisa. Quando isso não funciona, ele pergunta para o outro câmera se eles ainda tem alguma verba sobrando e, aparentemente, eles tem, porque ele dá vinte dólares na mão do jardineiro, repete a pergunta sem interromper a tomada, ainda filmado pela mesma câmera que gravou a mutreta toda, e dessa vez o jardineiro recita, bem direitinho: "É, eu vi um fantasma. Bem ali. Foi muito assustador."

Eu até posso acreditar na decisão da emissora de não cortar essa cena para tornar o filme mais realista e fazer o contraste entre a atitude cínica deles no início e o que quer que tenha acontecido depois, mas não me convence que uma equipe com o mínimo de bom senso teria registrado em filme esta cena. Nem essa, nem a cena seguinte, em que um "médium" (Houston Grey) chamado para avaliar o local faz toda uma mise-en-scène sobre quão carregado é o lugar e quão perigoso é o que eles estão fazendo só pra depois ele e o Lance caírem na gargalhada assim que a cena é cortada. Mesmo assim, pontos extras para os roteiristas por terem evitado o clichê de ter o único personagem hispânico do filme (o jardineiro Javier Ortega) se desmanchando em exclamações em espanhol, sinais da cruz e medalhinhas de Nossa Senhora de Guadalupe diante de "los malos espíritus".

Depois de terminarem de gravar as entrevistas, eles ficam fazendo hora por ali até anoitecer e posicionam câmeras fixas em locais estratégicos (que bom, algumas cenas sem câmera chacoalhando). As câmeras têm visão noturna porque... o prédio tem tomadas para ligar o equipamento deles mas não tem lâmpadas? Não me perguntem, foi o zelador quem disse isso.

Uma central foi montada no saguão do prédio e o "mago da tecnologia" (sic) Matt White explica para o público como funciona esse complexo sistema de dez câmeras fixas, um notebook com o dobro do tamanho do meu, um monitor menor que o do meu desktop e um HD de backup. Eles mostra também alguns aparelhos de uso mais específico e, novamente, para quem estiver curioso: Google. Medidor EMF, campo magnético, termômetro infravermelho, FVE, contador Geiger, está tudo lá. Podem ir, o blog ainda vai estar aqui quando vocês terminarem de ler.

Eles se despedem do zelador e, para aumentar o suspense, este tranca a porta pelo lado de fora até a manhã do dia seguinte. Comentário sensato (e, obviamente, ignorado) de um dos membros da equipe: "E se eu precisar de alguma coisa no meu carro?". É, produção, alguma coisa tipo, o próprio carro pra levar alguém da equipe que está passando mal pro hospital. Então, vejamos: o cara teve duas linhas de diálogo em 25 minutos de filme e fez um comentário sensato sobre a segurança deles que foi solenemente ignorado pelos outros. Alguém tem dúvida de que ele não chega vivo ao final da primeira hora de filme?

Temos então uma tomada em que o Lance faz um discurso de abertura tipo "let the games begin" enquanto outros três membros da equipe fazem pose de durões junto com ele. Bom, é mais ou menos isso: o Houston faz pose de durão, o Matt faz cara de perdido e a única mulher da equipe (Sasha Parker) faz umas caras e bocas hilárias que parecem o meu afilhado de 7 anos fazendo pose de durão. Enfim, o Lance anuncia que:
  • O prédio, por ser um hospício, foi feito para não deixar ninguém sair e eles estão trancados lá até o zelador vir abrir as portas às 6 horas da manhã do dia seguinte.
  • Eles estarão trabalhando na escuridão total com dez câmeras fixas e três câmeras de mão com visão noturna.
E lá se vão eles, corredores adentro, "procurando" por sinais de atividade paranormal. Como agora estão filmando material que vai ao ar, eles entram nos personagens e agem como se levassem aquilo tudo super a sério. E o tempo passa e até as duas e pouco da manhã nada acontece além do teatrinho da equipe.

Mas eis que adivinha quem, com meros 30 minutos de filme, está circulando sozinho pelos corredores quando encontra uma cadeira de rodas atravessada no meio do caminho? Ponto pra quem disse que é o TC, o mesmo camarada que comentou antes que não era uma boa ideia a porta ficar trancada pelo lado de fora! O celular dele toca, ele coloca a câmera no chão porque... precisa das duas mãos livres pra falar no celular? Sei lá, mas é conveniente porque a câmera fica apontada para a cadeira de rodas e para os pés dele enquanto ele anda pra lá e pra cá no corredor e, enquanto ele está de costas para a cadeira, ela se desloca um pouquinho para frente. Pelo que dá pra entender do lado do TC na conversa, a pessoa que ligou está dizendo que a filha dele está chorando e chamando por ele; e aí, porque o TC é muito profissional e leva a sério o seu papel de cara que morre em filme de terror, ele pede à pessoa que ligou para dar o telefone para a criança e a conforta explicando para ela que monstros não existem e, se existissem, não iriam à casa deles porque ele botaria todos pra correr. É, TC, foi um prazer conhecer você, melhor sorte no próximo filme.

O TC desliga o telefone, não nota que a cadeira se mexeu, entra por uma porta e quase morre do coração quando a porta bate bem atrás dele. Ele chama os outros pelo celular e o Lance, o Houston e a Sasha vão encontrar com ele. Nessa altura eles ainda estão animados com as possibilidades que isso apresenta em termos de audiência: eles estão tentando chamar de volta o que quer que tenha batido a porta quando escutam um estrondo e encontram uma maca virada, com as rodas ainda girando. Em seguida alguém mexe no cabelo da Sasha, que toma a única atitude sensata em uma situação dessas: dá um ataque e exige voltar para o saguão. O Houston a leva até lá, deixa-a com o Matt e volta para filmar mais um pouco junto com o Lance e o TC. Depois de mais algum sustos, os três resolvem voltar, se perdem, se estressam uns com os outros, mas, finalmente, conseguem voltar para o saguão.

Já são quase quatro horas da madrugada e está todo mundo a um passo de surtar, de modo que o Lance manda o coitado do Matt recolher as dez câmeras que estão espalhadas pelo prédio, dando uma desculpa esfarrapada de que precisa dos outros três no saguão naquele momento, e claro que o Matt não volta e eles acabam indo atrás dele. Menos o Houston, que arruma um pretexto pra fica esperando no saguão (o pretexto consistindo, basicamente, em "eu preciso ficar aqui").

Quando eles encontram um monte de material de filmagem espalhado pelo corredor, o Lance, que não aprendeu nada até agora, decide que eles devem se separar pra procurar o Matt: ele e a Sasha vão para um lado, o TC vai para o outro, e claro que alguém ou alguma coisa empurra o TC escada abaixo. Para minha surpresa, ainda não foi dessa vez que o TC encerrou sua participação: ele se machuca bastante, mas consegue chamar por ajuda e os outros dois o levam de volta para o saguão.

Chegando lá, o Lance tenta ligar para o zelador para ele vir buscá-los mais cedo e, claro, nenhum celular tem sinal. E aqui eu quero abrir um parênteses para dizer que os roteiristas do século 21 tem toda a minha solidariedade e eu entendo que, agora que todo mundo tem celular, ficou extremamente complicado escrever histórias cuja trama gira em torno do fato de uma pessoa ou grupo de pessoas estar isolada do resto do mundo. Mas, gente, precisamos de soluções melhores do que "todos os celulares ficaram sem sinal de uma hora para outra e sem motivo aparente". Isso já virou até piada na Internet.

No desespero, o Lance e o TC arrombam a porta a golpes de maca, e aí acontece uma coisa realmente legal (e "legal", no caso, quer dizer "legal porque não é comigo"): do outro da porta, ao invés dos jardins, só tem mais do interior do prédio. Eles começam a achar que arrombaram a porta errada quando a Sasha mostra que a porta que eles acabaram de arrombar tem a mesma inscrição "A morte aguarda" pichada pelo lado de fora que eles viram na porta de entrada do prédio quando chegaram. Eles vêm ali perto uma porta com uma placa de saída de emergência, arrombam essa também e veem que ela vai dar ainda dentro do prédio: é como se, a cada porta que eles abrissem, brotassem mais corredores e salas no prédio, de modo que eles nunca chegam na saída de verdade. Muito legal: vou até desculpar o clichê do celular.

Além disso, o Lance aponta o fato de que já são 8h34 e o sol ainda não nasceu do lado de fora: pelas janelas (com grades reforçadas como o Lance comentou no início da gravação) só se vê a escuridão total.

Quase quinze horas depois do início das filmagens, são 13h12 no celular do Lance e eles ainda estão lá. E ainda é noite do lado de fora. Às 20h estão todos dormindo no chão do saguão (menos o Matt, eu acho) quando o refletor que ficava lá para o Matt poder trabalhar cai sozinho e acorda todo mundo. O Lance aproveita para mostrar que os sanduíches e frutas que eles tinham em uma bolsa térmica estão estragados e cobertos de vermes. A água, diz ele, continua bebível.

Nova passagem de tempo e, vinte e três horas depois do início das filmagens, o TC se lembra de ter visto uma escada de incêndio que eles podem tentar acessar pelo telhado. Do Matt, aparentemente eles desistiram de vez, mesmo... O prédio, no entanto, aparentemente vai mudando e se adaptando à medida que eles se movimentam, porque eles continuam encontrando paredes sólidas onde deveria haver portas, além da ocasional cama que levita e voa pra cima deles.

Naturalmente, depois dessa excursão malograda, eles não conseguem mais achar o caminho de volta para o saguão (não que fosse adiantar muito agora que a porta de saída não está mais lá) e acabam parando em um canto qualquer pra descansar e dormir em turnos. A vigilância não impede, no entanto, que a palavra "Hello" seja gravada a unhadas nas costas da Sasha.

Depois de escutar o Matt pelo rádio em algum lugar dizendo que está congelando (aquela coisa de que a temperatura cai quando fantasmas estão presentes), eles resolvem ir procurá-lo, apesar do argumento novamente muito lógico do TC de que eles não tem como saber se realmente é o Matt no rádio. Novamente, ninguém responde ao TC e lá se vão todos procurar o Matt. Coitado do TC, ser a voz da razão em um filme de terror não é fácil. Por outro lado, apesar das minhas previsões pessimistas, ele está se aguentando bem e já chegou ao fim da primeira hora de filme.

Depois de andar um pouco à procura do Matt, eles encontram não o próprio, mas a clássica figura da pessoa desconhecida de costas pra eles em um canto da sala. E que fique claro que o fato de ser um artifício comum em filmes de terror não impediu que eu tomasse um susto daqueles na hora em que a mulher se virou para eles e o rosto dela parecia com O Grito, de Edvard Munch. Meu susto só não foi maior do que o susto deles; quando todos saem em disparada, o Houston se separa do resto e, pra azar dos azares, ele é justamente o que não está carregando nenhuma lanterna, câmera ou outra fonte de luz. Eu não fui com a cara do Houston desde a primeira cena, mas ficar perdido em um hospício mal assombrado na escuridão absoluta é algo que não se deseja para ninguém. Depois de tatear pelos corredores e chamar em vão pelos outros, ele não encontra ninguém, mas é encontrado por uma força invisível que o ergue, semi-sufoca, larga no chão, pega de novo e joga longe, e, aparentemente, o TC não só passou da marca de uma hora de filme como também já conseguiu sobreviver a uma pessoa (duas, se o Matt também já tiver morrido).

O Lance, a Sasha e o TC ainda estão no que parece ser um armário grande ou um quarto bem pequeno e cochilam de novo, e aparentemente quem estava encarregado de vigiar desta vez pegou no sono porque, quando eles acordam, todos os três estão usando braceletes de identificação como se fossem pacientes.

Vou abrir outro parênteses aqui para dizer que, caso não tenha ficado claro, estou achando esse filme bem interessante apesar de algumas detalhes dos quais eu não gostei e os quais comentei aqui: as pulseiras foram um toque interessante e a quantidade de sustos baratos do tipo "Bu! Te peguei!" está sendo bem pequena.

Eles finalmente resolvem sair do lugar onde estão escondidos, provavelmente raciocinando que, se conseguiram colocar as pulseiras neles mesmo enquanto estavam fechados no armário/quarto, lá não era grande coisa como esconderijo, mesmo.

No entanto, quando eles começam a escutar gargalhadas e um braço sai por uma porta e agarra a Sasha, eles repensam essa estratégia e saem correndo na direção oposta até que encontram... o Matt! Sentado no chão, vestindo uma bata de hospital e um bracelete de identificação como o deles e aparentemente em estado de choque, recitando o que parecem ser trechos de um prontuário médico. Eles levam o Matt para um quarto e se trancam com ele lá dentro, e ele explica que eles não conseguem sair porque ainda não estão curados, mas para não se preocuparem porque "ele vai ajudar vocês também". Surpreendentemente, essas palavras tranquilizadoras não tranquilizam os demais.

Eles acabam precisando sair correndo do quarto quando começam a brotar do teto e das paredes braços que tentam agarrá-los, e os quatro vão parar em um cômodo com várias banheiras, em uma das quais, segundo o zelador, uma paciente se suicidou cortando os pulsos. Como já estamos na meia hora final de filme, a hora de as coisas acontecerem é agora, por isso uma das banheiras está cheia de sangue. Todos tem o bom senso de se afastar rapidamente da banheira, menos o Matt, que fica parado bem ao lado dela, olhando o sangue. O TC vai até ele para tirá-lo de perto da banheira, e de repente uma mulher emerge da banheira e o puxa para dentro; os outros ainda chegam a virar a banheira, mas depois que todo o sangue é derramado, ela está vazia. Ah, TC! Cheguei a pensar que você ia conseguir chegar até o fim do filme...

Eles partem novamente pelos corredores, com o Lance carregando a câmera que era do TC, até que encontram um elevador. O Lance tem a ideia de descer pelo poço do elevador porque, chegando lá embaixo, eles vão conseguir alcançar um dos outros prédios do complexo, e eu realmente não sei se isso faz algum sentido, mas, como o TC e seu bom senso não estão mais entre nós, ele deixa a Sasha e o Matt ali esperando enquanto sai à procura de alguma coisa que possa usar para abrir as portas do elevador.

Depois de encontrar uma barra que ele acredita que vai servir, o Lance se prepara para voltar quando uma coisa no chão chama a sua atenção. Ele se aproxima, constata que parece ser uma língua humana e... tcharam, segundo momento "Bu!" do filme: o dono da língua está no teto, prestes a pular em cima do Lance!

O Lance foge correndo e tem a presença de espírito de encontrar o caminho de volta até a Sasha e o Matt: ele consegue abrir as portas do elevador e ele e a Sasha estão combinando como farão para fazer o Matt semi-catatônico descer pela escada no poço do elevador quando escutam o sem-língua vindo pelo corredor. Enquanto o Lance e a Sasha lutam para fechar a porta entre eles e o sem-língua, o Matt pega a câmera que a Sasha largou, aponta para o próprio rosto, dá uma risadinha e se joga no poço do elevador. Matt, seu egoísta, precisava levar a câmera com você?

Bom, agora só sobraram o Lance e a Sasha com uma lanterna e uma câmera com visão noturna: eles descem pela escada até o fundo do poço do elevador, passam pelo corpo do Matt e seguem pelos túneis subterrâneos que, claro, também não correspondem mais à planta original e não chegam a lugar nenhum.

Finalmente, depois de passar o dia todo andando (se é que o Lance ainda tem alguma noção de tempo pra avaliar isso), eles se sentam no chão, exaustos, e caem no sono. Enquanto eles dormem, uma espécie de nevoeiro se aproxima, cobre os dois e, quando vai embora, a Sasha sumiu.

As cenas seguintes mostram o Lance desmoronando, alternando riso e lágrimas enquanto explica para a câmera que está economizando a bateria, que está no fim, e que tem andando sempre em frente, sem parar, e pretende continuar assim por quanto tempo for preciso. Depois de uma cena horrenda em que ele mata e come um rato (sério, roteiristas, por que vocês me odeiam?), ele finalmente chega a uma porta que leva uma sala de operações em uso. Um dos médicos se vira na direção do Lance e faz aquela cara de "O Grito": ele tenta fugir, deixa a câmera cair e, enquanto a câmera fica no chão apontada para uns livros de medicina, ouvem-se os gritos de "eu não sou louco!" do Lance enquanto ele aparentemente é arrastado para a mesa de cirurgia, já que a última cena do filme é um Lance lobotomizado anunciando para a câmera que finalmente está curado e pode ir para a casa. E mais pontos para o filme por não ter terminado com um susto.

Avaliação final: gostei do filme. Obrigada pela companhia, voltem sempre.