Há alguns anos atrás, eu trabalhava em uma empresa em que o pessoal da limpeza era... pouco entusiasmado. É, vamos dizer assim: pouco entusiasmado.
"O que? Aquela sujeirinha ali? Que bobagem, mal se nota!" (Image courtesy of zole4 at FreeDigitalPhotos.net) |
Um belo dia, todos no escritório receberam por e-mail o aviso de que naquele fim de semana seria feita a detetização do local, com as instruções de sempre: deixar as gavetas destrancadas, levar para casa objetos de uso pessoal etc.
Na segunda-feira de manhã, ao chegar para o trabalho, o que é que eu encontro na baia que dividia com outras duas analistas? Uma barata daquelas enormes, cascudas. Ou melhor, o cadáver da barata, de pernas pro ar no chão da baia. Bem, pensamos nós, a barata deve ter rastejado pra fora do seu esconderijo depois que o pessoal da limpeza passou hoje de manhã, envenenada mas ainda viva, e veio morrer bem aqui no meio da nossa baia. Com três mulheres na baia, claro que nenhuma de nós chegou nem perto da barata e deixamos para o pessoal da limpeza recolher no dia seguinte.
Só que o dia seguinte chegou e a barata ainda estava ali. Assim como ainda estava dois dias depois, e depois, e... Infelizmente, não me lembro quantos dias exatamente a barata passou ali, mas foi tempo suficiente para que se considerasse a ideia de solicitar a confecção de um crachá para a pobre que, ali, anônima, não tinha quem lhe reclamasse o corpo nem providenciasse um enterro digno. E, assim foi que, mesmo sem crachá, a barata foi promovida da sua condição de indigente e passou a ser carinhosamente chamada de Cláudia Wanderléia.
Cláudia Wanderléia já era funcionária póstuma de uma agência governamental há alguns dias quando, duas baias à esquerda, apareceu Michele Letícia. Ao contrário de Cláudia, Michele chegou lá viva, talvez com o intuito de prestar suas homenagens à colega falecida, mas cometeu o erro fatal de dar as caras em uma baia cujos ocupantes eram, em sua maioria, homens e, portanto, menos propensos a fugir de barata. E assim terminou a curta carreira de Michele Letícia no funcionalismo público, morta na flor da idade e desovada sem a menor cerimônia.
Enquanto isso, indiferente a toda essa confusão, Cláudia Wanderléia permanecia lá na minha baia, intocada pelo pessoal da limpeza que, acredito eu, varria o chão em torno da falecida sempre desviando respeitosamente dela para não perturbar o seu descanso eterno.
"A senhora me desculpe, viu, Dona Cláudia? Se eu estiver incomodando, é só avisar." (Image courtesy of aopsan at FreeDigitalPhotos.net) |
Até que um dia, ao chegar no trabalho, percebi que havia alguma coisa diferente. Faltava alguma coisa. Olhei em volta, procurei, e... Pois é: Cláudia Wanderléia se fora. Não sei se o pessoal da limpeza finalmente a levou ou se os parentes enlutados vieram buscar o corpo, mas o fato é que Cláudia Wanderléia partiu tão discretamente quanto chegou.
Nessa mesma época, a impressora que ficava na minha baia começou a se comportar de forma mais errática do que o habitual (ou seja, errática PRA CARAMBA). Várias hipóteses foram levantadas, mas até hoje não temos certeza de qual das duas falecidas passou um tempo assombrando a impressora. Eu, pessoalmente, acredito que era o fantasma de Michele Letícia, pois foi a que morreu de morte violenta, mas isso é só um palpite.
"Não notei nada fora do normal, não. Por que?" (Image courtesy of zirconicusso at FreeDigitalPhotos.net) |
Por que eu estou contando tudo isso agora? Por que, no início da semana, chegando em casa do trabalho, ao sair do elevador me deparei com um objeto inusitado no parapeito da escada. Parece a tampa de um squeeze.
Vi e não dei muita confiança: se tem dono, daqui a pouco ele busca e, se não tem, amanhã o zelador joga fora. Foi o que eu pensei no início da semana. Os dias se passaram, porém, sem que nada acontecesse. Na sexta cheguei do trabalho e encontrei ainda a mesma tampa, no mesmo lugar.
A conclusão é óbvia, né?
GENTE, CLÁUDIA WANDERLÉIA REENCARNOU COMO TAMPA DE SQUEEZE!!!!!
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