MMORPGs - Faz de Conta Para Gente Grande

O primeiro MMORPG (Massively Multiplayer Online Role-Playing Game) que eu joguei foi Neverwinter Nights. Comecei jogando offline as campanhas oficiais, depois descobri o Neverwinter Vault e comecei a baixar novas campanhas criadas por outros jogadores: apesar de nessa época eu ainda baixar só jogos para um jogador só, essa possibilidade de baixar mundos e campanhas criadas por outros jogadores já foi um divisor de águas por tornar o jogo basicamente infinito: a quantidade de campanhas disponíveis online hoje garante alguns milhares de horas de jogo.

O passo seguinte foi montar uma rede doméstica para baixar campanhas criadas para dois jogadores e jogar com meu irmão. Este foi um novo marco, pois a cooperação com outra pessoa é muito mais rica do que a proporcionada pela AI dos NPCs (Non-Player Characters são personagens controlados pelo jogo, que podem ser aliados, apenas amigáveis, neutros ou mesmo hostis). Neste momento o jogo deixa de ser apenas um jogo e se torna uma brincadeira, quando um adulto pode virar pra outro e dizer “Faz de conta que eu sou uma bruxa e você é um elfo e a gente está procurando um tesouro guardado pelo dragão.”

Finalmente, cheguei ao fantástico mundo dos servidores de jogo online e a experiência passou de Multiplayer para Massively MultiPlayer. É o momento em que a brincadeira sai de casa e chega no play, e um play do tamanho do mundo (literalmente). Joguei Neverwinter Nights por uns cinco ou seis anos antes de resolver experimentar o tal de World of Warcraft do qual todo mundo falava.

Os dois jogos tem suas vantagens e desvantagens, na minha opinião. Em Neverwinter Nights, por exemplo, um personagem pode bloquear o caminho do outro, mas em WoW, um simplesmente atravessa o outro, o que é meio tosco. Em compensação, em Neverwinter Nights às vezes o personagem esbarra em uma barreira invisível que impede que ele entre por dentro de uma floresta sem ser por uma das trilhas projetadas pela pessoa que criou aquele mundo ou pule em um precipício, porque sim e pronto. Em WoW  isso nunca acontece. Quer sair nadando mar adentro até chegar do outro lado da baía? Vai em frente, só torce pra conseguir chegar do outro lado antes que a fadiga faça com que você se afogue. Quer pular do alto do despenhadeiro? Dependendo da altura do despenhadeiro e do seu vigor físico você vai: (a) aterrisar em segurança lá embaixo, (b) se machucar ou (c) morrer. Quer mergulhar no lago para ver o que tem lá no fundo? Lembre-se apenas de voltar à superfície antes que seu fôlego acabe.

As limitações em termos do quanto você pode carregar em Neverwinter Nights são mais coerentes, já que, além da quantidade de itens, o jogo leva em conta também o peso de cada item e a força física do personagem. Já em WoW, não importa se você é um orc carregando uma maçã, uma poção de cura e um pergaminho ou um gnomo carregando uma espada, um machado de guerra e um martelo: você está carregando três itens e pronto.

Na questão das armas, WoW tem uma coisa interessante que é o desgaste das armas e da armadura em combate: ocasionalmente seu equipamento precisa ser restaurado, sob o risco de se tornar inútil. Em compensação, falha em uma coisa tão simples como o controle de munição: ao contrário de Neverwinter Nights, onde você tem que estar sempre comprando mais munição pra substituir a que gasta, em WoW, toda arma de longo alcance (arco, besta, carabina etc) vem com munição infinita e nunca precisa ser recarregada.

Enfim, nenhum dos dois jogos é perfeito, mas ambos são divertidos para adultos que querem dar um tempo nessa coisa de ser gente grande e voltar ao tempo em que podiam ser guerreiros ou magos, zumbis ou anões, e passar uma ou duas horas explorando cavernas, matando monstros e descobrindo tesouros. Gosto muito.