Comprei um Kindle. Confesso que por muito tempo tive má vontade com o Kindle em particular e com o conceito de ebook de forma genérica. Hoje percebo que essa implicância se devia em grande parte a uma gente que não gosta de ler e que começou a anunciar o fim do livro de papel desde o lançamento do primeiro ebook com uma inexplicável satisfação, como se isso fosse alguma espécie de vitória sobre o povo que adora ler; e assim, de forma igualmente irracional, não aderir aos ebooks se tornou para mim meio que uma questão de honra.
Se esse raciocínio parece não fazer muito sentido, não é sem motivo: é porque não faz sentido nenhum mesmo. Livros são livros em qualquer formato, idioma, tamanho ou cor. E assim, aproveitando um momento em que estou fazendo uma faxina em hábitos e conceitos e descartando várias coisas que não fazem sentido, aproveitei e comprei logo um Kindle.
Ele é mais pesado do que um pocket book, mais leve do que uma edição de capa dura e menor do que qualquer um dos dois. É melhor de se ler em lugares onde a iluminação não é muito boa ou mesmo no escuro, já que tem luz própria (mas não cansa a vista como a tela de um tablet). Não tem todos os livros existentes, já que se restringe aos disponíveis na loja da Amazon (precisei comprar "Em Busca de um Mundo Perdido" em papel), mas, por outro lado, não depende de estoque físico nem de prazos de entrega e fretes cobrados por lojas online. Como os custos são menores, os preços constumam ser mais em conta e há muitos livros gratuitos disponíveis. Acabo de comprar "Memorial de Maria Moura" por R$ 5,50; o Buscapé não encontrou por menos de R$ 13,41.
O Kindle pede um tratamento um tanto mais cuidadoso do que eu normalmente dispensaria a um livro. É bem mais caro que um livro e, pior, pode ser confundido com um tablet, por isso eu não o tiro da bolsa em qualquer lugar. Também é mais frágil: embora eu não ande por aí jogando livros no chão nem os deixe na chuva, no caso do Kindle há uma preocupação maior em não deixá-lo em qualquer lugar onde coisas pesadas possam ser largadas em cima dele, mãozinhas infantis curiosas possam alcançá-lo, respingos de água possam atingi-lo. Isso, no entanto, não tem me impedido de viajar com ele na mochila, usá-lo no metrô e (ocasionalmente) no ônibus nem de tê-lo ao lado do prato enquanto como. Até agora ele sobreviveu e está muito bem de saúde.
E, por falar em viajar, o Kindle é uma coisa ótima de se levar em uma viagem, especialmente em viagens longas, daquelas nas quais seria bom ter mais de um livro à mão mas é necessário restringir a bagagem por questões de peso e espaço. E, se por acaso bater a vontade de ler um outro livro que ainda não tenha sido comprado, é só procurar o ponto de acesso a WiFi mais próximo e comprar e baixar o livro desejado.
Há um lado psicológico que requer uma certa adaptação (pelo menos pra mim, requereu). Justamente por ser menor e mais leve que a maioria dos livros, no começo me dava uma sensação de "cadê o resto do livro?". Eu me sentia como se o livro estivesse nas mãos de outra pessoa que só me entregava uma página de cada vez e sempre tomava de volta a página que eu tinha acabado de ler. Agora já superamos essa fase, meu Kindle e eu, mas no começo me dava um certo nervoso.
A parte à qual eu ainda não me adaptei completamente são as anotações. Nunca fui da turma que considera que escrever em um livro é estragá-lo. Gosto de escrever, sublinhar, destacar com marca-texto e gosto de ler livros que têm a marca dos leitores anteriores. Embora o Kindle tenha as funcionalidades necessárias para destacar trechos dos livros e incluir anotações, ainda não me acostumei a sentir a mesma intimidade que me proporcionava o ato de escrever minhas anotações meio tortas no pé da página. Não sei muito bem explicar o motivo, e ainda estou esperando que essa sensação passe assim como passou o meu estranhamento inicial com o formato. Tenho que me lembrar que eu e o livro de papel tínhamos uma relação longa e feliz que já durava mais de três décadas e que o Kindle precisa de tempo para que eu possa descobrir todas as suas qualidades e defeitos.
Uma qualidade do Kindle que me é muito preciosa (pena que ainda não esteja disponível para todos os livros) é a funcionalidade "X-Ray", muito útil para quando você está lendo um livro com dezenas de personagens e, a certa altura, para e se pergunta: "Peraí, essa tal de Harriet que está sendo mencionada aqui já apareceu antes no começo da estória, quem era mesmo? É a cunhada dela ou a mãe do noivo da filha?" Ou, de repente, é só comigo que isso acontece, sei lá. Mas acontece.
Finalmente, um dos fatores decisivos na minha decisão de comprar um Kindle foi o esgotamento do espaço físico para armazenamento de livros na minha casa. Só no ano passado, entre vendas para sebos e doações para diversas pessoas físicas e instituições de caridade, me desfiz de mais de trezentos livros e ainda tenho mais do que o dobro disso em casa. E não tenho a menor intenção de parar de comprar livros, num ritmo de dois a três livros por mês, enquanto ainda houver quem os escreva e publique. Só que chega uma hora em que não só começa a faltar espaço para tanto livro como também fica difícil encontrar um livro específico quando se precisa dele para pesquisar ou emprestar ou quando se quer relê-lo. E aí, ter um livro e não ser capaz de encontrá-lo quando desejado é o mesmo que não tê-lo. Pior: é não ter o livro, mas também não ter o espaço que ele ocupa no armário, na estante ou, mais recentemente, nas pilhas no chão do quarto.
E assim, voltando àquela faxina de hábitos e conceitos que mencionei no início do post, chega de "ter sem ter". Gosto de livros, mas amo mesmo as estórias que eles contêm, não importa em que formato venham. E o espaço que os invólucros dessas estórias estão liberando ao sair da minha vida pode acolher as coisas novas que estão entrando.
Então, é isso. Comprei um Kindle.
Se esse raciocínio parece não fazer muito sentido, não é sem motivo: é porque não faz sentido nenhum mesmo. Livros são livros em qualquer formato, idioma, tamanho ou cor. E assim, aproveitando um momento em que estou fazendo uma faxina em hábitos e conceitos e descartando várias coisas que não fazem sentido, aproveitei e comprei logo um Kindle.
Ele é mais pesado do que um pocket book, mais leve do que uma edição de capa dura e menor do que qualquer um dos dois. É melhor de se ler em lugares onde a iluminação não é muito boa ou mesmo no escuro, já que tem luz própria (mas não cansa a vista como a tela de um tablet). Não tem todos os livros existentes, já que se restringe aos disponíveis na loja da Amazon (precisei comprar "Em Busca de um Mundo Perdido" em papel), mas, por outro lado, não depende de estoque físico nem de prazos de entrega e fretes cobrados por lojas online. Como os custos são menores, os preços constumam ser mais em conta e há muitos livros gratuitos disponíveis. Acabo de comprar "Memorial de Maria Moura" por R$ 5,50; o Buscapé não encontrou por menos de R$ 13,41.
Parênteses rápido: Por que esse um centavo no preço??? Fecha parênteses.Não que o livro digital seja mais barato em 100% dos casos: às vezes se encontra uma promoção na livraria e o livro de papel até sai mais barato, mas não vi isso acontecer muitas vezes. Tudo bem que eu não fico pesquisando, mas tenho bastante experiência em comprar livros de papel e sei quanto custam os livros que eu habitualmente compro.
O Kindle pede um tratamento um tanto mais cuidadoso do que eu normalmente dispensaria a um livro. É bem mais caro que um livro e, pior, pode ser confundido com um tablet, por isso eu não o tiro da bolsa em qualquer lugar. Também é mais frágil: embora eu não ande por aí jogando livros no chão nem os deixe na chuva, no caso do Kindle há uma preocupação maior em não deixá-lo em qualquer lugar onde coisas pesadas possam ser largadas em cima dele, mãozinhas infantis curiosas possam alcançá-lo, respingos de água possam atingi-lo. Isso, no entanto, não tem me impedido de viajar com ele na mochila, usá-lo no metrô e (ocasionalmente) no ônibus nem de tê-lo ao lado do prato enquanto como. Até agora ele sobreviveu e está muito bem de saúde.
E, por falar em viajar, o Kindle é uma coisa ótima de se levar em uma viagem, especialmente em viagens longas, daquelas nas quais seria bom ter mais de um livro à mão mas é necessário restringir a bagagem por questões de peso e espaço. E, se por acaso bater a vontade de ler um outro livro que ainda não tenha sido comprado, é só procurar o ponto de acesso a WiFi mais próximo e comprar e baixar o livro desejado.
Há um lado psicológico que requer uma certa adaptação (pelo menos pra mim, requereu). Justamente por ser menor e mais leve que a maioria dos livros, no começo me dava uma sensação de "cadê o resto do livro?". Eu me sentia como se o livro estivesse nas mãos de outra pessoa que só me entregava uma página de cada vez e sempre tomava de volta a página que eu tinha acabado de ler. Agora já superamos essa fase, meu Kindle e eu, mas no começo me dava um certo nervoso.
A parte à qual eu ainda não me adaptei completamente são as anotações. Nunca fui da turma que considera que escrever em um livro é estragá-lo. Gosto de escrever, sublinhar, destacar com marca-texto e gosto de ler livros que têm a marca dos leitores anteriores. Embora o Kindle tenha as funcionalidades necessárias para destacar trechos dos livros e incluir anotações, ainda não me acostumei a sentir a mesma intimidade que me proporcionava o ato de escrever minhas anotações meio tortas no pé da página. Não sei muito bem explicar o motivo, e ainda estou esperando que essa sensação passe assim como passou o meu estranhamento inicial com o formato. Tenho que me lembrar que eu e o livro de papel tínhamos uma relação longa e feliz que já durava mais de três décadas e que o Kindle precisa de tempo para que eu possa descobrir todas as suas qualidades e defeitos.
Uma qualidade do Kindle que me é muito preciosa (pena que ainda não esteja disponível para todos os livros) é a funcionalidade "X-Ray", muito útil para quando você está lendo um livro com dezenas de personagens e, a certa altura, para e se pergunta: "Peraí, essa tal de Harriet que está sendo mencionada aqui já apareceu antes no começo da estória, quem era mesmo? É a cunhada dela ou a mãe do noivo da filha?" Ou, de repente, é só comigo que isso acontece, sei lá. Mas acontece.
Finalmente, um dos fatores decisivos na minha decisão de comprar um Kindle foi o esgotamento do espaço físico para armazenamento de livros na minha casa. Só no ano passado, entre vendas para sebos e doações para diversas pessoas físicas e instituições de caridade, me desfiz de mais de trezentos livros e ainda tenho mais do que o dobro disso em casa. E não tenho a menor intenção de parar de comprar livros, num ritmo de dois a três livros por mês, enquanto ainda houver quem os escreva e publique. Só que chega uma hora em que não só começa a faltar espaço para tanto livro como também fica difícil encontrar um livro específico quando se precisa dele para pesquisar ou emprestar ou quando se quer relê-lo. E aí, ter um livro e não ser capaz de encontrá-lo quando desejado é o mesmo que não tê-lo. Pior: é não ter o livro, mas também não ter o espaço que ele ocupa no armário, na estante ou, mais recentemente, nas pilhas no chão do quarto.
E assim, voltando àquela faxina de hábitos e conceitos que mencionei no início do post, chega de "ter sem ter". Gosto de livros, mas amo mesmo as estórias que eles contêm, não importa em que formato venham. E o espaço que os invólucros dessas estórias estão liberando ao sair da minha vida pode acolher as coisas novas que estão entrando.
Então, é isso. Comprei um Kindle.
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