segunda-feira, 17 de agosto de 2015

E Você, de que Lado Está?

Desde a passeata de 17/06/2013, ainda na época da Operação Pare o Aumento!, eu não fui a mais nenhuma das manifestações. Não fui por vários motivos e nenhum deles inclui uma mudança de opinião sobre o atual governo. O fato é que não fui, respeito quem foi e respeito também quem não foi: cada um teve os seus motivos e não vou assumir que não são bons motivos sem saber quais são.

Ontem, porém, quebrei esse jejum de protestos aos participar desse mais recente que ocorreu em Copacabana. E, apesar de ter ficado feliz por ter ido e satisfeita com o que vi, continuo respeitando quem não foi, assumindo, até prova em contrário, que seus motivos foram justos.

Até prova em contrário.

Tem gente que faz questão de dar prova em contrário.

Voltando à época da Operação Pare o Aumento!, eu me lembro do deboche de algumas pessoas que se davam ao trabalho de postar no Facebook gracinhas como "Vem pra rua? Ah, mas tá tão frio hoje, que preguiça..." Gente, posta que não acredita nas manifestações populares, posta que queria ir mas ficou com receio dos tumultos, posta até que é a favor do aumento da passagem, mas não posta isso. Que papelão.

Aí vieram as eleições. Já postei sobre isso também: assim que os resultados foram divulgados, foi um tal de gente que não tinha ido às manifestações colocando a culpa da derrota em quem tinha ido e acusando esse povo de ter votado a favor do governo. Gente, de novo: ninguém tem obrigação de ir às manifestações, cada um faz o seu protesto e luta pela mudança do jeito que considera mais correto, eficiente e que está a seu alcance. Mas nada justifica falar mal de quem protestou de forma diferente de você e acusar as pessoas de terem votado a favor do governo como se você tivesse como saber em quem elas votaram. Isso é coisa de quem queria ir à manifestação, ficou com medinho e acabou ficando com raiva de quem foi. Isso é recalque. E recalque é uma cor que não fica bem em ninguém.

Daí começou a onda dos panelaços. Quando é anunciado algum pronunciamento do governo, é certo começarem a convocar as pessoas a ficarem na janela de casa batendo panela, fazendo barulho para demonstrar seus descontentamento. Eu nunca participei de um panelaço. Acho que o panelaço é pouco eficiente enquanto manifestação: a força da manifestação está nos números e fica difícil avaliar se a barulheira está tão alta porque são quinhentos mil manifestantes ou se é só porque trinta panelas batendo já fazem um escândalo monstro mesmo. E aí eu considero que a relação custo-benefício fica prejudicada, porque o panelaço incomoda muito: imagina o que é, pra quem tem uma criança pequena dormindo, uma pessoa doente descansando, um cachorro desses que entram em desespero quando estouram os fogos do reveillon, se começam trinta vizinhos a bater panela bem ao lado da sua janela.

Mesmo assim, eu nunca fui para o Facebook debochar do panelaço. Nunca postei "Aqui em casa não teve panelaço: teve panela cheia de comida." Porque — e presta atenção porque essa parte é importante e cai na prova —, por mais que eu não ache que o panelaço seja a solução, eu vou ficar muito, mas muito feliz se algum dia constatar que estava errada. Se, por causa de um panelaço, um projeto de lei necessário for aprovado ou um projeto nocivo for derrubado, se um corrupto for para cadeia, for deposto ou mesmo renunciar, eu vou comemorar. Se isso acontecer, vou adorar ficar com cara de tacho por não ter botado fé e não ter participado dos panelaços. Vou agradecer aos meus amigos que bateram panela por eles não terem desistido e, no próximo panelaço, vou estar na janela com as maiores panelas que encontrar aqui em casa fazendo barulho junto com eles.

Porque eu adoro estar com a razão. Mas adoro muito mais ver o país melhorar.

Finalmente, as manifestações de Copacabana. Pelo que eu li, essa de domingo nem foi a maior de todas, mas, por algum motivo (talvez pelo efeito cumulativo), parece ter sido a que mais incomodou, porque eu recebi mais links para artigos e vídeos debochando dela do que vinha recebendo das outras. E que as pessoas que são a favor do governo e acham que a situação do país nunca foi melhor compartilhem esses links eu entendo. Não gosto, mas entendo. Mas e o povo que não concorda com essa visão? O que ganham com isso as pessoas que não querem que as investigações acabem em pizza, que querem ver os corruptos na cadeia ou, pelo menos, afastados dos seus cargos? Ou melhor, o que essas pessoas ganham com isso além de alguns "curtis", "compartilhamentos" e "re-tweets"?

"Ah, mas eu não acho que essas manifestações vão dar em nada, mesmo." Certo, isso é o que você acha: mas é isso que você quer? Ou você não percebe que, ao divulgar a foto de algum sem noção com um cartaz idiota (tirada em um ângulo conveniente para não mostrar as pessoas próximas que carregavam faixas e cartazes muito mais coerentes) está contribuindo para desmoralizar as manifestações? Não seria bom se as manifestações surtissem efeito? Você não precisa participar delas se não acredita que vão surtir, mas por que contribuir ativamente para isso?

"Ah, mas derrubar a Dilma não vai resolver magicamente todos os problemas do país." Em primeiro lugar, embora o slogan "Fora, Dilma" ainda seja uma parte significativa dos protestos, não é preciso estar lá para saber que as manifestações são sobre muito mais do que isso. Pode ser que o impeachment seja apenas um dentre os passos necessários, e é verdade que um passo não é uma caminhada, mas é verdade também que uma caminhada não se faz sem os passos. Ou pode ser que o impeachment não se faça necessário (ou não seja constitucional neste caso: há regras para isso e eu admito que não sou entendida no assunto): ainda assim, se a presidente não cair mas as atuais investigações não acabarem em pizza, já considero uma vitória como há muito tempo não se vê neste país.

Finalmente, para quem não se lembra: quando as manifestações da Operação Pare o Aumento! começaram, dois dos tópicos mais atacados eram o aumento da passagem e a PEC-37. O aumento das passagens foi suspenso e a PEC-37, derrubada no Congresso.

Citando o sempre atual Renato Russo na música 1965:
"Quando querem transformar dignidade em doença
Quando querem transformar inteligência em traição
Quando querem transformar estupidez em recompensa
Quando querem transformar esperança em maldição
É o bem contra o mal: e você, de que lado está?"


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