segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O Imenso Espaço Que a Ausência Ocupa

Outro dia, zapeando em busca de alguma coisa para ver na televisão, passei por "Amigas Com Dinheiro", um filme que eu já tinha visto há algum tempo atrás e do qual, francamente, nem gostei. Mas, como às vezes acontece com filmes ruins, há uma cena em particular nesse filme da qual eu gostei tanto que nunca esqueci.

A estória do filme gira em torno de quatro amigas, das quais três são casadas e uma, solteira. Uma das amigas, escritora, é casada com um também escritor e ambos trabalham em casa, compartilhando um escritório; todos os dias, os dois se sentam diante de seus respectivos computadores, um de frente para o outro, e vão trabalhando cada um em seu livro. E, ocasionalmente, um dos dois para, ergue os olhos do monitor e lê para o outro algo que acabou de escrever, pedindo uma opinião.

Lá pela metade do filme, esse casal se separa e o marido sai de casa. Ela está, então, sozinha no escritório um dia, trabalhando no seu computador como sempre, e de repente para de digitar e volta o olhar na direção da outra escrivaninha, que agora está vazia. E, embora na cena toda nenhuma palavra seja dita, fica claro que ela, por um brevíssimo instante, esqueceu que o marido não estava mais ali e o procurou com os olhos do outro lado da sala para lhe mostrar o que tinha escrito, como era hábito na sua parceria.

Da lembrança desta cena, minha mente saltou para outra cena de outro filme, "Terra dos Sonhos", este, sim, um filme do qual eu gostei muito. Ele conta a estória de uma família irlandesa de quatro pessoas (pai, mãe e duas filhas) que se muda para Nova York após a morte do terceiro filho. 

Nessa cena da qual eu me lembrei, o pai está brincando com as filhas, se fazendo de monstro e perseguindo as meninas pela casa, de olhos vendados. No auge da brincadeira, no entanto, ele estaca de repente no meio de uma frase e, aturdido, meio que senta, meio que cai no chão da sala. As meninas ficam confusas, a esposa corre até ele e tira a venda dos seus olhos e ele diz pra ela, baixinho para as filhas não ouvirem: "Eu estava procurando pelo Frankie."

Neste momento em que o pai baixou a guarda e estava brincando com as filhas, jogando o que era claramente um jogo inventado e particular deles, a mão se estendeu automaticamente e buscou a criança que deveria estar ali, que até algum tempo atrás estaria ali.

Porque a perda tem essa característica cruel de, em alguns casos, acontecer mais de uma vez. Mesmo quando a razão já aceitou e processou o fato de que a outra pessoa não está mais ali, outras partes da gente às vezes demoram mais para se ajustar a essa nova ordem das coisas. E aí, de repente, a mão se estende, o olhar procura, o nome errado vem aos lábios e por um segundo a pessoa ausente está não de volta, e sim presente como se nunca tivesse partido. E essa "presença não presente" dura só um instante, só o exato tempo suficiente para ser perdida novamente no instante seguinte, quando a mão agarra o vazio e a razão diz "Ah, é mesmo".

E que atire a primeira pedra quem nunca riu sozinho pensando no momento em que ia dizer "você não vai acreditar no que me aconteceu hoje", só pra lembrar que a pessoa que iria entender por que exatamente era tão interessante o que aconteceu hoje já não estava mais ao alcance.

© Dundja | Dreamstime.com - Missing Photo

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