Há algum tempo, garimpando a seção de promoções de e-books da Amazon, me deparei com "A Sociedade Cinderela", de Kay Cassidy.
"Aos 16 dezesseis anos, Jess Parker se acostumou a ser invisível. Depois de mudar de escola várias vezes por conta do trabalho do pai, ela se conformou com o status de eterna garota nova. Mas agora Jess tem a chance de uma vida: um convite para participar da Sociedade Cinderela, um clube secreto das garotas mais populares da escola, onde makeovers fazem parte do pacote. Mas há mais a (sic) ser uma Cindy que apenas reinventar o visual. E Jess está prestes a descobrir."
Sempre fico com um pé atrás ao me deparar com livros cujos protagonistas são adolescentes, mas já li livros bastante bons como
Os Mentirosos,
Por Isso a Gente Acabou e
A Lista Negra, que mostram que é possível escrever de forma inteligente do ponto de vista de um adolescente. Assim, como eu estava procurando alguma coisa leve para ler e esse estava bem baratinho (R$ 4,50), resolvi arriscar.
Pois é.
"A Sociedade Cinderela" é... Não. Talvez seja mais fácil explicar o que o livro não é. Lendo a sinopse, eu imaginei que o tal "a mais" que há em ser uma Cindy seria alguma coisa mais sinistra, como um culto ou algum tipo de atividade criminosa. Achei que podia ser um suspense psicológico, com a garota nova primeiro dividida entre a vontade de se enturmar e a sensação de que o tal clube não era tão bom quanto ela pensava, e depois ficando cada vez mais enrolada à medida que ia se envolvendo mais, com medo das represálias caso saísse do clube. Bom, não é. As Cindies são do bem e a Sociedade Cinderela visa formar líderes para tornar o mundo um lugar melhor. Já ficou bem menos interessante, mas eu já tinha comprado o livro mesmo, então resolvi continuar lendo. O problema é que eu já li um terço do livro e até agora, tudo que as tais Cindies fizeram para formar líderes e tornar o mundo um lugar melhor foi fazer compras, ir ao salão de beleza e dar festas.
Eu podia parar de ler o livro, é verdade. Mas, puxa vida, eu paguei por ele! Ele me deve alguma diversão. E, já que essa diversão claramente não virá da leitura do livro, eu mesma terei que providenciá-la, aqui mesmo neste blog. Só não garanto que eu vá ter paciência de ir até o fim do livro como os heroicos donos do blog "
Bad Books, Good Times", nos quais me inspirei e aos quais serei sempre grata por terem lido e comentado "Cinquenta Tons de Cinza" por mim para eu poder falar mal do livro sem ter precisado ler nenhuma página dele. Não garanto, mas vou tentar.
Assim, depois dessa introdução épica, vamos ao primeiro capítulo. Se, ao fim da leitura, alguém estiver pensando, "ah, não é tão ruim assim, só mais um exemplar bobinho de
literatura YA", saiba que eu também passei por essa fase: aproveite, porque ela não dura muito.
O livro começa com a Protagonista Jess terminando uma prova de álgebra. O que, me ocorre agora, é meio esquisito, já que é o último dia de aula. Que escola aplica uma prova no último tempo do último dia de aula do ano letivo? Na faculdade, sim, isso é normal, mas eu não me lembro disso no segundo grau. Por sinal, ainda se chama segundo grau? Científico? Ensino médio? Sei lá, foi há muito tempo e o Ministério da Educação fica mudando esses nomes com o intuito específico, eu sei, de me confundir e fazer com que os meus sobrinhos riam quando eu falo o nome errado.
Mas eu divago. Enfim, o sinal toca, Jess termina a prova e é a última a sair da sala, sozinha porque ela foi transferida no meio do semestre e não tem amigos nessa escola. E, apesar da sua afirmação dramática de que tudo o que quer é "acabar aquele ano detestável sem atrair mais atenção negativa dos meus colegas na Mt. Sterling High por ser a 'garota nova'", nesse ponto o livro ainda conta com a minha boa vontade, já que eu também já tive 16 anos um dia e me lembro bem do drama.
O professor elogia Jess pelo seu desempenho no semestre e ela agradece e sai para o corredor, onde reina aquele típico rebuliço de último dia de aula. Antes que ela possa chegar ao seu armário, é interceptada por Lexy, a Garota Popular Malvada que odeia Jess porque ela conquistou uma vaga na equipe de líderes de torcida quando a própria Lexy não conseguiu. Lexy e sua turma param para provocar Jess e Lexy aproveita para revelar que, oooooh! foi ela que espalhou na escola o boato de que Jess queria mesmo é ser líder de torcida na escola rival porque acha a equipe da Mt. Sterling High uma droga.
A ponteiro da boa vontade já estava se aproximando perigosamente da área vermelha do mostrador a essa altura do campeonato, mas por enquanto eu ainda estava achando o livro só bobinho e inofensivo. Neste momento entra em cena Ryan, o Interesse Romântico Inatingível da Protagonista: alto, musculoso, com cabelo perfeito (não entendo a tara que esse povo que escreve
fanfiction romance YA tem com cabelo de homem) e o maxilar bem-definido de Jack Gyllenhaal (quem?), tem bom coração e... é irmão da Garota Popular Malvada!
Jess observa Ryan passando por ela no corredor e lamenta não ser alta e loura ao invés de ter "1,60 m com carinha de menina, sardas e um esfregão castanho e sem brilho como cabelo". E, novamente, eu deixei passar porque também já tive 16 anos e também já passei pela fase do meu-cabelo-é-horrível-nunca-mais-vou-sair-de-casa, mas... o livro não está colaborando com todos esses personagenzinhos clichê.
Então, vejamos... Nos primeiros 2% do livro (o Kindle não tem páginas, mas marca o progresso da leitura), já tivemos a cena em que o professor elogia a Protagonista estudiosa que preferia ser popular, a cena em que a Garota Popular Malvada atormenta a Protagonista, a cena em que o Interesse Romântico Inatingível da Protagonista passa por ela sem notar seu olhar apaixonado, o que está faltando? Claro, a cena em que a Protagonista paga mico bem na frente do seu Interesse Romântico Inatingível. Chegando na porta, Ryan se vira e grita de longe "bom verão pra você", Jess pensa que ele está falando com ela e responde, e claro que ele estava falando com alguém que estava atrás dela. Quem nunca?
O capítulo ainda não acabou, mas este post já está bem comprido, então vou parar por aqui. Provavelmente ainda haverá outros posts porque, como eu previa, escrever sobre o livro está sendo mais interessante do que lê-lo.
Eu sou mesmo uma pessoa muito interessante.