segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Cuide Bem dos Seus Copos

Há algum tempo eu vi no Facebook, essa grande ferramenta de disseminação de informação útil mas também de muita asneira, uma estorinha que era mais ou menos assim:

— Pega esse copo e joga no chão.
— Tá.
— O que aconteceu?
— O copo quebrou.
— Agora pede desculpa e vê se ele fica inteiro de novo.

Vamos por partes. Em primeiro lugar, é importante lembrar que nem todo copo é uma frágil taça de cristal que se quebra só de soprar uma brisa um pouco mais forte perto dela. Nem sempre o copo quebra quando cai no chão. Ele às vezes rola pra debaixo do sofá, fica sujo (especialmente se for esquecido lá embaixo por muito tempo), mas não quebra assim, fácil. Inclusive, ao contrário dos copos de verdade, os melhores copos metafóricos são aqueles que não quebram fácil.

Claro que não dá pra simplesmente dizer pro outro "Seu copo está ali, ó, debaixo da mesa; pega lá". De quem jogou o copo no chão (ou deixou cair por falta de cuidado) espera-se que, no mínimo, pegue o copo, dê uma lavadinha nele e devolva para o dono dizendo "desculpe por ter jogado seu copo no chão". Simples assim. Gentil assim.

Mas isso não quer dizer que copos não se quebrem. Mesmo os copos mais resistentes se quebram, se você se empenhar o bastante. E aí, faz o quê? Pede desculpa? Claro, ué. Que pergunta besta. Mas o copo não vai voltar a ficar inteiro! Vai, se você colar os pedaços. Ah, mas não vai ser mais a mesma coisa! Vem cá, deixa eu te explicar uma coisa: o copo já não é o mesmo desde o instante em que foi tirado da embalagem. O mero ato de pegar o copo, ou de enchê-lo de água, ou de beber água nele, ou de lavá-lo, secá-lo, guardar de volta no armário, cada um desses pequenos gestos corriqueiros alterou o copo de alguma forma, mesmo que seja de uma maneira que não se nota a olho nu. O fato é que o copo está sempre mudando, e você está sempre mudando, e o mundo à sua volta está sempre mudando, então não se trata de avaliar se o copo ainda é o mesmo que era antes de cair no chão (não é), mas sim se você quer esse copo, não do jeito que ele era quando você bebeu água nele pela primeira vez, ou na semana passada, mas sim como ele é agora.

Pode ser que, seja porque o estrago foi muito grande ou porque esse copo já foi derrubado e consertado vezes demais, um dos dois chegue à conclusão que isso não é mais um copo, ou pelo menos não um copo que ele queira ter. Por outro lado, pode ser que ele se torne até um copo melhor, não por ter sido quebrado, mas pelo carinho e atenção necessários para consertá-lo. De um modo ou de outro, o importante é que o copo seja avaliado pelo que ele é hoje, não pelo que foi um dia ou pelo conceito do que um copo perfeito deveria ser.

Eu já tinha pensado em escrever este post há muito tempo atrás. O que me impulsionou a finalmente escrevê-lo, por incrível que pareça, foi um episódio do meu podcast de horror/humor preferido, Welcome to Night Vale, que terminou com as seguintes palavras surpreendentemente sensatas para um podcast de horror/humor:

We will never be the same again. But here’s a little secret for you: no one is ever the same thing again after anything. You are never the same twice, and much of your unhappiness comes from trying to pretend that you are. Accept that you are different each day, and do so joyfully, recognizing it for the gift it is. Work within the desires and goals of the person you are currently, until you aren’t that person anymore, and everything changes once again.

Nós nunca mais seremos os mesmos outra vez. Mas eis aqui um pequeno segredo para você: ninguém é mais o mesmo depois de nada. Você nunca é o mesmo duas vezes, e muito da sua infelicidade vem de tentar fingir que é. Aceite o fato de que você é diferente a cada dia, e faça-o com alegria, reconhecendo isso como o presente que é. Aja de acordo com os desejos e objetivos da pessoa que você é neste momento, até a hora em que você não for mais essa pessoa e tudo mudar de novo.

E cuide bem dos seus copos.

© Angelfff | Dreamstime.com - White Cup With A Pink Braid Photo

domingo, 15 de novembro de 2015

Jess na Festa do Pijama

Voltando ao livro "A Sociedade Cinderela", o capítulo 1 terminou com Jess recebendo um convite misterioso para comparecer a um lugar chamado Moinho às 19h, usando o broche que foi entregue junto com o convite.

No capítulo 2, Jess vai ao Moinho (que, no fim das contas, é uma lanchonete) na hora marcada, usando o broche. Apesar de o local estar cheio, ela consegue mais uma vez dar de cara com Lexy e sua gangue lá dentro. Depois de mais algumas alfinetadas sobre o fato de que Jess não tem amigos, Lexy "acidentalmente" derruba seu café quente no peito dela. Essa cena tem dupla finalidade: ela não apenas deixa claro que Lexy é a Garota Popular Malvada (para aqueles leitores mais distraídos que já tiverem esquecido dessa informação importante que só foi repetida meia dúzia de vezes no capítulo anterior), mas também é a deixa para que entrem em cena Sarah Jane e Kyra, as co-capitãs da equipe de líderes de torcida e Garotas Populares do Bem. Sarah Jane e Kyra são pessoas tão incríveis, mas tão incríveis, que apesar de serem as "garotas mais bonitas e populares da escola", são "pessoas tranquilas, não divas". Bonitas, populares e não são do mal? Alguém dá um Prêmio Nobel da Paz para essas duas.

Antes de prosseguir, eu queria só fazer um comentário sobre "o cabelo louro brilhante e as maçãs do rosto salientes de Sarah Jane em um formidável contraste com o cabelo castanho e a pele perfeita de Kyra". O que são maçãs do rosto salientes? Isso deve ser uma coisa positiva porque protagonistas frequentemente tem maçãs do rosto salientes, mas eu não faço a menor ideia do que seja isso. Se alguém souber explicar, cartas para a redação, por favor.

Voltando à estória, Sarah Jane e suas maçãs do rosto salientes resgatam Jess e a levam para o banheiro feminino para limpar a sujeira e aplicar toalhas de papel molhadas com água fria sobre a pele queimada. Alguns minutos depois, Kyra se junta a elas, anunciando que Lexy e sua gangue foram embora em três SUVs, o que aparentemente é muito sério, mas ninguém explica por quê então vamos deixar pra lá.

Sem explicar o convite, nem o broche, nem nada (na verdade, sem nem dizer explicitamente que foram elas que mandaram o convite), Sarah Jane e Kyra informam a Jess que ela vai participar de uma festa no pijama na casa de Cassandra, uma ex-aluna e ex-líder de torcida da escola delas. E Jess vai porque, ora, por que não? Até algumas horas atrás essas pessoas mal falavam com você e agora estão te colocando no carro e te levando para passar a noite na casa de uma pessoa que você não conhece. Normal, né?

Elas fazem uma rápida parada na casa de Jess para que ela pegue suas coisas e avise à mãe que vai passar a noite na casa de uma completa estranha cujos pais podem ou não estar presentes, mas tudo bem porque algumas líderes de torcida vão estar lá, então, hum... esporte é vida? Enfim, aprendemos também que a mãe de Jess era uma importante auditora que parou de trabalhar para ficar em casa agora que está grávida de gêmeos e que Jess tem um certo ciúme disso porque a mãe não apenas nunca largou o trabalho para ficar com ela como também a deixou se virar sozinha desde os 12 anos de idade.

Jess promete voltar para casa a tempo de ajudar a mãe a pintar o quarto dos gêmeos no dia seguinte, joga algumas roupas na sua bolsa, inclusive "o que quer que estivesse limpo na gaveta de lingerie", o que... ECA! Meu armário era um caos quando eu tinha 16 anos e continua sendo até hoje, mas eu nunca tive roupa suja dentro da gaveta de lingerie.

Cassandra mora em uma mansão, é ainda mais bonita do que Sarah Jane e Kyra e é — atenção para mais uma reviravolta da trama — irmã de Ryan e Lexy!

"Oooooooooh!"
© Creatista | Dreamstime.com - Screaming Man In Drag Photo

Ao perceber isso, Jess entra em pânico e conclui que tudo aquilo foi mais um plano maquiavélico de Lexy para humilhá-la na sua casa. E eu até poderia acusá-la de estar sendo paranoica, mas, considerando que a Lexy já conseguiu encontrá-la e atormentá-la quatro vezes só hoje no período entre o término das aulas e as 19h, eu também já estou começando a desconfiar que a Lexy está obcecada pela Jess.

Jess começa a tentar arrumar um jeito de cair fora dali discretamente. Ela se vira para pegar sua bolsa e dá um baita encontrão em (vamos ver quem adivinha):

(a) Lexy.
(b) Ryan.
(c) a empregada que vinha entrando carregando uma bandeja de bebida.
(d) ninguém; Jess pega suas coisas e sai rapidamente dali sem dar vexame.

A resposta certa, claro, é Ryan. Ryan, que só estava ali para buscar o seu iPod, já que a festa do pijama é no estilo Clube da Luluzinha, sorri para Jess, faz uma piada sobre eles estarem sempre se esbarrando e vai embora. Depois que ele sai, Cassandra garante a Jess que Lexy não vai estar presente naquela noite, pois ela, ao contrário de Jess, não recebeu um convite e um broche. Bom, mas ela mora aqui, né, Cassandra? Mesmo que ela tenha planos de passar a noite fora, sempre pode mudar de ideia e resolver voltar pra casa.

De qualquer modo, Jess se deixa convencer e vai se unir a Sarah Jane, Kyra e as demais convidadas, concluindo que é "a hora de encontrar [seu] destino."

E é isso. Fim do capítulo. Dez por cento do livro já se foi.

Resumo do capítulo 2:
  • A mãe de Jess era uma Mulher Super Focada Na Carreira e Sem Tempo Para a Família até ficar grávida dos gêmeos e largar o emprego para ficar em casa com eles.
  • Sarah Jane e Kyra são Garotas Populares do Bem que parecem estrelas de cinema, mas não agem como divas.
  • Cassandra é uma Garota Popular do Bem Sênior, já que ela já terminou o ensino médio (eu pesquisei e aprendi que esse é o nome correto: não se diz mais segundo grau), é ainda mais bonita que Sarah Jane e Kyra e mora em uma mansão.
  • Jess compareceu ao Moinho na hora marcada usando o broche que recebeu com seu convite misterioso.
  • Jess foi humilhada por Lexy, a Garota Popular Malvada (pela quarta vez).
  • Sarah Jane e Kyra ajudaram Jess e a levaram a uma festa do pijama na casa de Cassandra.
  • Jess deu um encontrão em Ryan, seu Interesse Romântico Inatingível (pela segunda vez).
  • A Garota Popular do Bem Sênior, a Garota Popular Malvada e o Interesse Romântico Inatingível da Protagonista são irmãos!!!! Conflito!!!

sábado, 14 de novembro de 2015

The One With the Body Double

Que a Internet vicia, todo mundo sabe. Você começa com um objetivo bem específico: enviar um e-mail, fazer uma compra, descobrir o telefone de um restaurante, o autor de determinada frase ou a letra de uma música. E às vezes — às vezes! — até consegue alcançar o seu objetivo inicial antes que seus olhos caiam sobre o título de uma matéria ou a propaganda de um produto que chama sua atenção e você clica no link, só de curiosidade. Danou-se. O link é uma praga: pior que o Facebook, o YouTube, o Instagram e o Tumblr combinados, quando se trata de fazer um ser humano desperdiçar seu tempo na Internet. Você clica no link, vai para outra página e nessa página também tem um monte de links e você vai clicando, clicando, se afastando cada vez mais do seu objetivo original... E quando vê ainda não baixou o programa do Imposto de Renda e está assistindo um vídeo com uma montagem de clips da Disney e outros desenhos dublados no idioma da estória original de cada um (Ficou curioso, né? Pode clicar no link e ir lá assistir, mas lembra de voltar pro blog depois).

Essa introdução toda é para dizer que eu não faço a menor ideia do que tinha vindo fazer na Internet no dia em que, depois de muitos links, cheguei a um artigo que contava que pelo menos duas vezes, em "Friends", a câmera acidentalmente enquadrou as dublês que estavam no lugar das atrizes Jennifer Aniston e Courteney Cox e ninguém notou (eu, pelo menos, não notei).

Não me perguntem o motivo de elas precisarem de dublês nessas cenas: considerando o tanto que cada uma ganhava por episódio, seria de se imaginar que elas poderiam estar presentes durante a cena inteira, né? Bom, mas o fato é que eu fui correndo no Netflix conferir e achei o máximo ver que é verdade mesmo e eu nunca tinha notado. E, como a grande alegria deste blog é o fato de que eu posso colocar aqui todas as bobagens que eu quiser, capturei um screenshot das telas pra provar. Quem ainda tiver dúvida, pode clicar nas imagens para ampliar.

Temporada 8, episódio 5: "The One with Rachel's Date"

Durante a cena de Phoebe e Monica no Central Perk, a câmera se aproxima da Lisa Kudrow, mas ainda dá para ver quando a Courteney Cox é substituída por uma dublê com penteado completamente diferente do dela.

Lisa Kudrow e Courteney Cox
Lisa Kudrow e dublê da Courteney Cox

Temporada 9, episódio 15: "The One With The Mugging"

Durante a cena de Joey, Rachel e Monica no apartamento de Monica e Chandler, o Joey está falando com a Rachel. Quando ele se vira para a Mônica (que a câmera não está mostrando nessa hora, mas está sentada à mesa), a Jennifer Aniston foi substituída por uma dublê que tem cabelo escuro e estava usando uma camisa completamente diferente da dela.

Matt LeBlanc e Jennifer Aniston
Matt LeBlanc e pessoa que só tem em comum com a Jennifer Aniston o branco dos olhos

I'll be there for you.
(Or, if I can't be bothered to be, my body double will. Whatever.)

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Pony, Brian, Poppy e Jess

Depois daquele primeiro capítulo de "A Sociedade Cinderela" em que não aconteceu praticamente nada, fiquei me perguntando se eu estaria sendo injusta e pegando pesado demais com o livro só porque ele é ruim pra caramba não gostei dele. Assim, peguei aleatoriamente outros livros na minha estante para ver se o primeiro capítulo tinha mais substância. Eis os resultados:

Título: Vidas Sem Rumo
Autor: Susan E. Hinton
No primeiro capítulo: O protagonista e narrador Pony apresenta a si mesmo, a seus irmãos mais velhos Soda e Darry e ao resto da turma da qual ele, com 14 anos, é o membro mais novo. Além de apresentar os principais traços da aparência e da personalidade de cada um dos membros da turma, Pony define a sua estrutura familiar (pai e mãe mortos em um acidente de carro, deixando Darry, com 20 anos, responsável pelos irmãos mais novos) e a sua situação social como greasers (moradores do lado Leste, a parte pobre da cidade), em eterna luta contra os socs (moradores do lado Oeste, a parte rica). Pony sai do cinema e está quase chegando em casa quando é atacado por quatro socs, que lhe dão uma surra até que os irmãos mais velhos e os amigos chegam para salvá-lo. Depois que os agressores são postos para correr e a poeira assenta, Darry dá uma bronca em Pony por estar andando sozinho pela rua e Soda interfere em sua defesa. Enquanto os garotos fazem planos para a noite seguinte, um deles comenta que terminou com a namorada, o que leva Pony a refletir sobre as diferenças entre as garotas com as quais greasers e socs andam.
"Quando saí do escuro do cinema para a claridade da rua, só tinha duas coisas na cabeça: Paul Newman e descolar uma carona para casa. Estava querendo ser parecido com o Paul Newman — ele tem um ar durão e eu, não —, mas acho até que não sou feio. Meu cabelo é castanho claro, quase ruivo, os olhos são cinza-esverdeados. Eu queria que fossem mais cinzentos, porque detesto quase todos os caras de olhos verdes que conheço, mas não tenho outra saída senão me contentar com o que tenho. Meu cabelo é mais comprido do que o de um monte de caras, com corte reto atrás e comprido na frente e dos lados, mas sou greaser e quase ninguém no bairro dá bola pra essa história de cortar o cabelo. E, na verdade, fico muito melhor de cabelo comprido.
Foi uma longa caminhada até em casa, além do mais, sem companhia, mas em geral vou sozinho mesmo, sem nenhuma razão especial; é que gosto de assistir filmes sossegado, assim posso entrar neles e vivê-los com os atores. Quando vejo um filme com alguém acho meio chato, assim como quando uma pessoa lê o livro da gente por cima do nosso ombro. Nisso sou diferente. Quer dizer, meu irmão Soda, que vem depois do mais velho e tem 16 para 17 anos, nunca curte livro nenhum; e meu irmão mais velho, Darrel, que a gente chama de Darry, passa o tempo todo trampando, um trampo puxado, nunca se liga em histórias nem em fazer um desenho, por isso é que não sou como eles. E ninguém da nossa roda se amarra em cinema e nem em livros como eu. Teve um tempo em que eu me achava a única pessoa no mundo que curtia isso. Por isso fazia esses lances sozinho. Soda pelo menos tenta entender, coisa que Darry não faz. Mas Soda é diferente de todo mundo; ele entende praticamente tudo. Por exemplo, ele não vive me enchendo como Darry nem me trata como se eu tivesse seis anos em vez de 14. Jamais gostei tanto de uma pessoa no mundo como gosto de Soda, nem mesmo da mamãe e do papai. Ele está sempre numa boa, rindo, e Darry é duro, firme, é difícil fazê-lo rir. Mas é que Darry já passou por muitos lances em seus 20 anos de idade, cresceu muito depressa. Sodapop não vai crescer nunca. Sei lá o que é melhor. Um dia desses eu descubro."

Autor: Sophie Kinsella
No primeiro capítulo: A protagonista e narradora Poppy está revirando todo o salão de festas do hotel em busca do seu anel de noivado, perdido quando ela tirou o anel do dedo para mostrar para as amigas minutos antes de o alarme de incêndio tocar e o salão ser evacuado às pressas. Na confusão, uma amiga achou que o anel estivesse com a outra e quando, já do lado de fora, Poppy pediu o anel de volta, nenhuma delas estava com ele. Ela recebe uma mensagem de texto no celular, mas a recepção dentro do hotel está ruim e ela vai para a rua tentar conseguir um sinal melhor; nesse momento, seu celular é roubado, complicando ainda mais sua vida. Depois de ter pedido a todos os funcionários do hotel que avisem se o anel for encontrado, Poppy agora precisa de outro número de telefone de contato para substituir o celular perdido. Ela não quer dar o telefone de casa, para não correr o risco de que o seu noivo atenda e descubra que ela perdeu o anel que está na família dele há três gerações, e no seu trabalho ninguém vai atender o telefone fora do horário comercial. Quando ela não sabe mais o que fazer, seu olhar bate em uma lixeira no saguão do hotel e ela nota que alguém jogou um celular lá dentro.
"Foco. Preciso de foco. Não é um terremoto, nem ataque de um atirador enlouquecido, nem um acidente nuclear, é? Na escala de desastres, não é um dos maiores. Não é dos maiores. Um dia espero que eu me lembre deste momento, ria e pense: 'Ha, ha, como fui boba em me preocupar...' 
Para, Poppy. Nem tenta. Não estou rindo. Na verdade, estou passando mal. Ando às cegas pelo salão do hotel, com o coração disparado, procurando sem sucesso no tapete estampado azul, atrás de cadeiras douradas, debaixo de guardanapos de papel usados, em lugares onde ele nem poderia estar."

Autor: Robert Kirkman e Jay Bonansinga
No primeiro capítulo: O protagonista Brian está escondido dentro de um armário com a sobrinha de 7 anos enquanto, do lado de fora, seu irmão mais novo Philip e dois amigos dele estão acabando com os zumbis que um dia foram a família de seis pessoas que morava na casa em que eles entraram para se esconder. Enquanto Philip, Bobby e Nick dão cabo dos zumbis, Brian cobre os ouvidos da sobrinha com as mãos para que ela não tenha que escutar o barulho dos golpes e das cabeças sendo rachadas, e o narrador descreve os quatro personagens, a forma como o apocalipse zumbi afetou cada um e a dinâmica do grupo, do qual Philip é o líder. Quando eles finalmente terminam, Brian sai com a menina de dentro do armário e começa a ajudar os outros a fazer a limpeza do local, que eles pretendem usar como abrigo temporário. Enquanto trabalham, ele reflete sobre a situação atual e a progressão dos eventos que os levaram até ali. Enquanto os outros estão no quintal colocando para fora os corpos dos zumbis eliminados, Brian encontra uma fotografia no andar de cima e chama todos para dentro de casa para mostrar-lhes a fotografia, onde se vê que a família que morava naquela casa era composta não só dos seis membros que eles acabam de eliminar, mas de sete.
"Um pensamento passa pela cabeça de Brian Blake enquanto ele se encolhe na escuridão bolorenta, o terror sufocando o peito e a dor latejante nos joelhos: se ele tivesse um segundo par de mãos, poderia pelo menos cobrir os próprios ouvidos e talvez bloquear o som das cabeças humanas sendo partidas. Infelizmente, as únicas mãos que Brian possui estão ocupadas no momento, cobrindo os ouvidos de uma menininha ao seu lado no armário.
Ela tem 7 anos e está tremendo nos braços dele, se encolhendo a cada vez que ouve os sons intermitentes de PÉIM-GAHHH-TUM do lado de fora. Então vem o silêncio, interrompido apenas pelo som grudento de botas sobre o chão de cerâmica ensanguentado e uma enxurrada de sussurros raivosos no vestíbulo."

Autor: Kay Cassidy
No primeiro capítulo: A protagonista e narradora Jess termina e entrega sua prova de álgebra e vai para o seu armário recolher suas coisas antes das férias de verão. Ela é humilhada por Lexy, que tem raiva dela porque considera que Jess roubou sua vaga na equipe de líderes de torcida, e em seguida morre de vergonha quando mete os pés pelas mãos bem na frente de Ryan, de quem ela gosta mas que mal sabe que ela existe. Depois de pegar suas coisas no armário, Jess sai do prédio da escola e morre de vergonha quando mete os pés pelas mãos bem na frente de Ryan, e em seguida é humilhada por Lexy. Sua colega Heather tenta oferecer sua solidariedade, mas Jess a dispensa. Quando Heather também é perseguida por Lexy e Jess tenta ajudar, é a vez de Heather dispensar a sua solidariedade. Em uma reviravolta inesperada, Jess é humilhada por Lexy e em seguida morre de vergonha quando percebe que meteu os pés pelas mãos bem na frente de Ryan. E Jess recebe um convite misterioso e um broche.
"Todos em volta estavam ou escrevendo furiosamente para terminar a prova final de álgebra, sussurrando até que o Sr. Norman lhes lançasse um olhar irritado ou trocando mensagens de texto em celulares discretamente enfiados nos bolsos das calças e nas bolsas Prada. E quanto a mim? Meu maior esforço era para parecer invisível. Rezando para acabar aquele ano detestável sem atrair mais atenção negativa na Mt. Sterling High por ser a 'garota nova'. 
Finalmente, o último sinal tocou, e o restante da turma correu para a porta buscando ansiosamente um verão de liberdade. Em apenas dois segundos, só sobramos eu e o Sr. Norman recolhendo nossas coisas."

Play, por gentileza.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Uma Dessas Coisas Não É Como as Outras #2

Porque eu gostei muito de jogar "Uma Dessas Coisas Não É Como as Outras", peguei mais quatro palavras no site e comecei uma nova rodada.

As palavras desta vez são:
  • factory (fábrica)
  • train (trem)
  • fountain (chafariz)
  • gate (portão)

Padrão: Todas são palavras do gênero masculino.
Uma dessas coisas não é como as outras: fábrica

Padrão: Todas são coisas construídas para ficar a vida inteira no mesmo lugar.
Uma dessas coisas não é como as outras: trem

Padrão: É possível colocar coisas dentro de todas elas.
Uma dessas coisas não é como as outras: portão

Padrão: Todas podem ser trancadas.
Uma dessas coisas não é como as outras: chafariz

domingo, 8 de novembro de 2015

Jess Contra o Armário do Mal

Continuando o post do mês passado sobre o livro "A Sociedade Cinderela", tínhamos deixado a Protagonista Jess procurando por um buraco no chão onde ela pudesse se jogar e desaparecer depois de pagar mico na frente do seu Interesse Romântico Inatingível Ryan.

Depois que Ryan vai embora, Jess finalmente consegue chegar ao seu armário, para onde ela estava indo originalmente. E a porta do armário emperra. Mas emperra mesmo. Emperra tão bem emperrada que Jess demora cinco parágrafos para conseguir abri-la. E aí, lá pelo terceiro parágrafo da Jess tentando, sem sucesso, abrir o armário, já se criou aquela expectativa, né? Será que alguém colocou um bicho morto lá dentro e ela vai levar o maior susto quando finalmente conseguir abrir? Será que ela está tentando abrir o armário errado e vai pagar o segundo mico do dia quando o verdadeiro dono desse armário chegar perguntando o que diabos ela pensa que está fazendo? Será que ela vai desistir e ir pra casa sem pegar as coisas que estão no armário e vai passar um aperto mais tarde pela falta de alguma dessas coisas? Será que alguma alma caridosa vai se aproximar para ajudá-la a abrir o armário? Não, não, não e não. Depois de cinco parágrafos puxando, sacudindo, bufando e chutando o armário, Jess finalmente consegue abri-lo, pega tudo o que está dentro dele e joga dentro da bolsa e vai pra casa. Fim da cena do armário.

Tcharam!
© Andreypopov | Dreamstime.com - Open Lockers In The Room Photo

Ao sair da escola, Jess percebe que seu ônibus está prestes a sair e decide ir andando para casa ao invés de se arriscar a mais uma pagação de mico correndo pela rua para tentar alcançar o ônibus. E decide também voltar para dentro do colégio para comprar um refrigerante antes de ir pra casa; só que, ao dar meia-volta para entrar no colégio de novo, ela dá um encontrão em Ryan, que ainda estava zanzando por lá por algum motivo. E é basicamente a primeira cena dela com Ryan de novo, só que com um mico diferente desta vez. O perfume dele, sua voz sexy, borboletas no estômago, ah-meu-Deus-que-vergonha-ele-deve-me-achar-uma-idiota... Tá bom, Jess, a gente já entendeu. Próxima cena, por favor.

Depois que Ryan vai embora com "sua loura oxigenada sexy da semana" (também conhecida como Pessoa Totalmente Errada Para o Interesse Romântico Inatingível da Protagonista Mas Ele Ainda Não Percebeu), chegam Lexy e sua gangue de Garotas Populares Malvadas para também fazerem uma variação da sua primeira cena: após empurrar Jess, fazendo com que sua bolsa caia no chão, elas passam pisando e chutando seus pertences espalhados pela calçada.

Finalmente, depois que Lexy e sua gangue também vão embora, temos a primeira cena original de hoje (não, a cena do armário não conta!). Enquanto Jess está recolhendo suas coisas, outra aluna se aproxima e começa a ajudá-la. Heather, que, segundo Jess, é a única colega que a trata com cortesia, recolhe alguns objetos do chão, dá um sorriso tímido e puxa assunto; Jess, grata por aquele gesto simpático, retribui o sorriso e... Não. O que acontece é que Jess não quer ser vista na companhia de alguém que é, como ela, uma "leprosa social". Ela não explica o que há de tão terrivelmente errado com Heather, mas, em suas próprias palavras, "uma vez que você resolve ser simpático, se junta a eles e se torna um deles". Assim, ela rapidamente recebe os objetos que Heather catou no chão para ela e agradece sem dar muito assunto nem fazer contato visual. Uau, como é possível que uma pessoa tão simpática como a Jess não tenha nenhum amigo?

Heather, constrangida, se despede educadamente, desejando um ótimo verão para Jess, mas não vai muito longe antes que Lexy e sua gangue a cerquem. Gente, esse povo não vai embora pra casa, não? Daqui a pouco é o Ryan que volta também pra Jess poder passar mais vergonha.

Lexy está ameaçando Heather com alguma coisa não especificada (que, segundo ela, vai dar o que falar por muito tempo) caso esta não concorde com alguma outra coisa também não especificada e dizendo que Heather tem até segunda para decidir. E é nessa hora que Jess, que, como eu, não faz a menor ideia do que elas estão falando, resolve dar uma de amiga solidária e se meter na conversa dizendo que ela e Heather "[estão] nisso juntas". Porque, afinal de contas, se uma pessoa te ajuda a recolher suas coisas que caíram no chão isso é uma clara indicação de que ela não vai se importar de te contar o motivo de estar sendo chantageada e deixar você participar da negociação com o chantagista.

"Obrigada por me ajudar a instalar o anti-vírus! Agora, me dê a sua senha para eu te agradecer respondendo alguns dos seus e-mails por você."
© Wavebreakmediamicro | Dreamstime.com - A Beautiful Business Team Using A Computer Photo

Diga-se a favor da Jess que ela pelo menos tem senso crítico suficiente para reconhecer que estava "impondo [sua] maneira de resolver as coisas como se [Heather] não tivesse escolha". E, quando Heather dispensa a sua ajuda e aproveita para cair fora dali assim que Lexy lhe dá uma chance, Jess até considera que talvez não deva culpá-la por isso. Talvez. Que generoso da sua parte, Jess.

Quando finalmente Lexy vai embora depois de mais alguns insultos, Jess vê... aha, não falei que o Ryan ainda voltava? Ele e a sua Pessoa Totalmente Errada passam por Jess e ela percebe, pela cara dele, que ele assistiu à sua mais recente humilhação. Meu Deus do céu, povo, vai embora de uma vez, senão essa cena não acaba! Se a Lexy voltar pra atormentar mais alguém, eu vou gritar.

Finalmente todos vão embora, Jess abre a bolsa para pegar o dinheiro para aquele refrigerante que ela queria tomar há umas três humilhações atrás e encontra um envelope que ela tinha jogado lá dentro sem perceber junto com o resto do conteúdo do seu armário. Vou pular as décadas que ela gasta decidindo se vai ou não abrir o envelope e pular direto para a parte em que ela encontra lá dentro um broche prateado em forma de sapato de salto alto e um convite para comparecer a um tal de Moinho às 19h daquele mesmo dia, usando o broche.

E assim o capitulo termina, depois de ter gastado 6% do livro repetindo ad nauseam que:
  • Jess é a garota nova e sem amigos
  • Heather é gentil, mas não conta porque também é uma pária.
  • Lexy é a Garota Popular Malvada.
  • Ryan é o Interesse Romântico Inatingível de Jess, e está com uma Pessoa Totalmente Errada.
  • Jess recebeu um convite misterioso.

Pelo menos o capítulo terminou sem a Lexy voltar e eu não precisei gritar.