quarta-feira, 28 de outubro de 2015

O Mímico e a Cerveja

Hoje experimentei outro jogo proposto pelo site Creativity Games. O nome do jogo é Relationship (Relacionamento) e as regras são simples: dadas duas palavras aleatórias, deve-se criar o maior número possível de relacionamentos entre as duas.

Recebi como desafio as palavras beer (cerveja) e mime (mímico), e até agora consegui elaborar os seguintes relacionamentos:
  • Um mímico pode beber cerveja.
  • Tanto o trabalho de mímico quanto o consumo excessivo de cerveja afetam a fala: o mímico não pode falar e o bêbado fala com voz engrolada.
  • Mímico é uma palavra de três sílabas e cerveja também.
  • É possível contratar um mímico para se apresentar em festas. Em festas é comum servir-se cerveja.

Ufa! Foi o que deu pra fazer, mas, convenhamos, não foi uma dupla muito fácil, essa, né?

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

The Life of a Mary Sue

Escrevi no sábado um post sobre "A Sociedade Cinderela", um livro cuja sinopse poderia tê-lo levado a ser bom ou ruim e ousadamente optou por uma terceira e inovadora alternativa: ser tão ruim que me levou a vir para o blog falar mal dele.

Em retrospecto, se eu tivesse pesquisado um pouco sobre a autora antes de comprar o livro, saberia que ela afirma escrever estórias que gostaria que fossem baseadas na sua própria vida. Levando-se em conta que as estórias em questão se passam no segundo grau, uma afirmação dessas imediatamente dispara um alerta Mary Sue no meu cérebro. Para quem não está com o inglês em dia ou ficou com preguiça de ler o artigo (uma pena, porque TV Tropes é um site ótimo), Mary Sue é um nome genérico usado para designar um personagem (normalmente uma adolescente ou jovem na casa dos 20 anos) que é basicamente um avatar da autora, a qual está menos preocupada em entreter os leitores e mais em colocar no papel suas próprias fantasias. Fantasias essas que geralmente incluem "todos os garotos se apaixonam por mim". Escrever estórias sobre Mary Sues é comum e até apropriado quando se é adolescente. Geralmente, sob forma de fanfiction, essas estórias são basicamente uma verbalização do sonhar acordado que é parte inerente do processo mental do adolescente. Quem nunca sonhou em ser um personagem do seu seriado, livro ou filme preferido? E, como claro que ninguém sonha em ser figurante no seu próprio filme, esses sonhos geralmente incluem ser o novo e recém-descoberto talento da equipe, a garota nova por quem o galã se apaixona, aquela pessoa incrível, fantástica e extraordinária que é tudo o que você sonha ser, mas não pode porque "eu sou muito alto(a), muito baixo(a), muito gordo(a), muito magro(a), meu cabelo é horrível, minha mãe não me deixa fazer nada e ninguém nunca vai gostar de mim". Existe uma versão masculina da Mary Sue conhecida como Gary Stu (ou Marty Stu) que é menos conhecida porque os meninos geralmente escrevem menos fanfiction que as meninas (se eles fantasiam menos ou não, só fazendo uma enquete pra saber).

Enfim, a Mary Sue como parte de uma fantasia é super normal, colocada no papel como um exercício de imaginação e treino para escritos com mais conteúdo no futuro é saudável também, compartilhada com as amigas é divertido e também não faz mal a ninguém. Quando essas fantasias são colocadas na Internet para um bando de desconhecidos ler, desconhecidos esses que não te conhecem e não estão nem aí para os seus sonhos e paixonites adolescentes, a coisa já fica mais complicada. As pessoas leem a sua estória esperando ser entretidas e Mary Sues não entretêm ninguém além da autora e de outras pessoas que têm aquela mesma fantasia e, portanto, conseguem se colocar no lugar da Mary Sue e ler a estória como se fosse a sua própria.

Até os defeitos da Mary Sue são milimetricamente calculados para contarem a seu favor. Se ela é marrenta, é porque teve uma história de vida difícil, mas isso não a quebrou, só a deixou mais forte. Se ela é desajeitada (atualmente está na moda escrever sobre mulheres desajeitadas: vide Bella Steele / Anastasia Swan), o galã acha isso adorável e está sempre resgatando-a. Se é insegura, é porque pessoas malvadas estão sempre sabotando-a e colocando-a pra baixo, mas ela logo descobrirá o seu valor (geralmente com a ajuda de uma fada-madrinha amiga e/ou do príncipe encantado homem que enxerga além das suas inseguranças e percebe a mulher incrível que ela é). E aí todo mundo que duvidou dela um dia vai ver só! Ha!

E, se publicar sua estorinha de Mary Sue na Internet pro mundo inteiro ver já é ruim, publicar seu livro de Mary Sue é pior, muito pior. Porque as pessoas vão gastar o suado dinheirinho delas para comprar o seu livro antes de descobrir do que se trata. Porque a editora quer mais é que muita gente compre o livro, por isso vai fazer uma campanha de marketing para divulgá-lo. E aí mais gente inocente vai ler. Porque, se muitas aspirantes a Mary Sue lerem o seu livro, e fizerem bastante estardalhaço, ele pode até virar um filme e aí nunca mais a gente vai parar de ouvir falar de uma bobagem que era para ter ficado só entre você e as suas melhores amigas. E, finalmente, porque toda adolescente é cabeça de vento assim mesmo e isso não é vergonha nenhuma, mas a adolescência termina aos 19 anos e você já está meio grandinha pra isso, né, amiga? Vai sonhar com uma vida de verdade, com pessoas de verdade e deixa as fantasias adolescentes para a próxima geração.

Bom, este post era para ser sobre o livro, mas acabou sendo sobre a anatomia da Mary Sue. Então, vou encerrá-lo com a melodia imortal de "The Life of a Mary Sue", cantada pela muito talentosa Skittle Sama.

domingo, 25 de outubro de 2015

Uma Dessas Coisas Não É Como as Outras

Já falei neste blog de um site chamado Creativity Games, ao qual eu recorro às vezes para usar o gerador de palavras aleatório deles para criar desafios para mim mesma. Hoje eu resolvi fazer um outro exercício proposto por eles, chamado Odd One Out (numa tradução bem livre, seria "Uma Dessas Coisas Não É Como as Outras"). O desafio é, dadas quatro palavras aleatórias, encontrar aquela que está fora do padrão (qualquer padrão que você invente, desde que somente uma esteja fora do padrão). E depois repetir o exercício o maior número de vezes possível.

Meu primeiro desafio é com as seguintes palavras:
  • cupboard (guarda-louça)
  • tower (torre)
  • monster (monstro)
  • benefit (benefício)

Obs. Como uma palavra em inglês pode ter vários significados em português, escolhi um significado e me ative a ele.

Padrão: Todas são substantivos concretos.
Uma dessas coisas não é como as outras: benefício

Padrão: Todas são substantivos simples.
Uma dessas coisas não é como as outras: guarda-louça

Padrão: Todas existem no mundo real.
Uma dessas coisas não é como as outras: monstro

Padrão: Nenhuma delas tem a letra I.
Uma dessas coisas não é como as outras: benefício
(eu poderia fazer isso com várias outras letras, claro, mas, depois da primeira, perde a graça)

Padrão: Nenhuma delas é um ser vivo.
Uma dessas coisas não é como as outras: monstro

Editado em 27/10/2015 para incluir:

Padrão: Todas são palavras do gênero masculino. 
Uma dessas coisas não é como as outras: torre

Editado em 28/10/2015 para incluir:

Padrão: Todas têm um adjetivo que deriva delas. 
Uma dessas coisas não é como as outras: guarda-louça
(benéfico, monstruoso e, sim, torreante é uma palavra que existe de verdade)

Editado em 09/11/2015 para incluir:

Padrão: Todas são palavras com um número ímpar de caracteres.
Uma dessas coisas não é como as outras: guarda-louça

Ainda volto neste post nem que seja só para encontrar uma regra para excluir a palavra "torre", mas, por enquanto, é só. 

sábado, 24 de outubro de 2015

A Sociedade Cinderela

Há algum tempo, garimpando a seção de promoções de e-books da Amazon, me deparei com "A Sociedade Cinderela", de Kay Cassidy.

"Aos 16 dezesseis anos, Jess Parker se acostumou a ser invisível. Depois de mudar de escola várias vezes por conta do trabalho do pai, ela se conformou com o status de eterna garota nova. Mas agora Jess tem a chance de uma vida: um convite para participar da Sociedade Cinderela, um clube secreto das garotas mais populares da escola, onde makeovers fazem parte do pacote. Mas há mais a (sic) ser uma Cindy que apenas reinventar o visual. E Jess está prestes a descobrir."

Sempre fico com um pé atrás ao me deparar com livros cujos protagonistas são adolescentes, mas já li livros bastante bons como Os MentirososPor Isso a Gente Acabou e A Lista Negra, que mostram que é possível escrever de forma inteligente do ponto de vista de um adolescente. Assim, como eu estava procurando alguma coisa leve para ler e esse estava bem baratinho (R$ 4,50), resolvi arriscar.

"SE DEU MAL!"
© Oneblink | Dreamstime.com - Friends Laughing
Pois é.

"A Sociedade Cinderela" é... Não. Talvez seja mais fácil explicar o que o livro não é. Lendo a sinopse, eu imaginei que o tal "a mais" que há em ser uma Cindy seria alguma coisa mais sinistra, como um culto ou algum tipo de atividade criminosa. Achei que podia ser um suspense psicológico, com a garota nova primeiro dividida entre a vontade de se enturmar e a sensação de que o tal clube não era tão bom quanto ela pensava, e depois ficando cada vez mais enrolada à medida que ia se envolvendo mais, com medo das represálias caso saísse do clube. Bom, não é. As Cindies são do bem e a Sociedade Cinderela visa formar líderes para tornar o mundo um lugar melhor. Já ficou bem menos interessante, mas eu já tinha comprado o livro mesmo, então resolvi continuar lendo. O problema é que eu já li um terço do livro e até agora, tudo que as tais Cindies fizeram para formar líderes e tornar o mundo um lugar melhor foi fazer compras, ir ao salão de beleza e dar festas.

"Que cor vai ser, amiga? Vermelho-Acaba-Com-a-Fome-no-Mundo ou Rosa-Paz-no-Oriente-Médio?"
Vadimgozhda | Dreamstime.com - Manicure

Eu podia parar de ler o livro, é verdade. Mas, puxa vida, eu paguei por ele! Ele me deve alguma diversão. E, já que essa diversão claramente não virá da leitura do livro, eu mesma terei que providenciá-la, aqui mesmo neste blog. Só não garanto que eu vá ter paciência de ir até o fim do livro como os heroicos donos do blog "Bad Books, Good Times", nos quais me inspirei e aos quais serei sempre grata por terem lido e comentado "Cinquenta Tons de Cinza" por mim para eu poder falar mal do livro sem ter precisado ler nenhuma página dele. Não garanto, mas vou tentar.

Assim, depois dessa introdução épica, vamos ao primeiro capítulo. Se, ao fim da leitura, alguém estiver pensando, "ah, não é tão ruim assim, só mais um exemplar bobinho de literatura YA", saiba que eu também passei por essa fase: aproveite, porque ela não dura muito.

O livro começa com a Protagonista Jess terminando uma prova de álgebra. O que, me ocorre agora, é meio esquisito, já que é o último dia de aula. Que escola aplica uma prova no último tempo do último dia de aula do ano letivo? Na faculdade, sim, isso é normal, mas eu não me lembro disso no segundo grau. Por sinal, ainda se chama segundo grau? Científico? Ensino médio? Sei lá, foi há muito tempo e o Ministério da Educação fica mudando esses nomes com o intuito específico, eu sei, de me confundir e fazer com que os meus sobrinhos riam quando eu falo o nome errado.

Mas eu divago. Enfim, o sinal toca, Jess termina a prova e é a última a sair da sala, sozinha porque ela foi transferida no meio do semestre e não tem amigos nessa escola. E, apesar da sua afirmação dramática de que tudo o que quer é "acabar aquele ano detestável sem atrair mais atenção negativa dos meus colegas na Mt. Sterling High por ser a 'garota nova'", nesse ponto o livro ainda conta com a minha boa vontade, já que eu também já tive 16 anos um dia e me lembro bem do drama.

O professor elogia Jess pelo seu desempenho no semestre e ela agradece e sai para o corredor, onde reina aquele típico rebuliço de último dia de aula. Antes que ela possa chegar ao seu armário, é interceptada por Lexy, a Garota Popular Malvada que odeia Jess porque ela conquistou uma vaga na equipe de líderes de torcida quando a própria Lexy não conseguiu. Lexy e sua turma param para provocar Jess e Lexy aproveita para revelar que, oooooh! foi ela que espalhou na escola o boato de que Jess queria mesmo é ser líder de torcida na escola rival porque acha a equipe da Mt. Sterling High uma droga.

"Oooooooooh!"
© Creatista | Dreamstime.com - Screaming Man In Drag Photo

A ponteiro da boa vontade já estava se aproximando perigosamente da área vermelha do mostrador a essa altura do campeonato, mas por enquanto eu ainda estava achando o livro só bobinho e inofensivo. Neste momento entra em cena Ryan, o Interesse Romântico Inatingível da Protagonista: alto, musculoso, com cabelo perfeito (não entendo a tara que esse povo que escreve fanfiction romance YA tem com cabelo de homem) e o maxilar bem-definido de Jack Gyllenhaal (quem?), tem bom coração e... é irmão da Garota Popular Malvada!

"Oooooooooh, de novo!"
© Creatista | Dreamstime.com - Screaming Man In Drag Photo

Jess observa Ryan passando por ela no corredor e lamenta não ser alta e loura ao invés de ter "1,60 m com carinha de menina, sardas e um esfregão castanho e sem brilho como cabelo". E, novamente, eu deixei passar porque também já tive 16 anos e também já passei pela fase do meu-cabelo-é-horrível-nunca-mais-vou-sair-de-casa, mas... o livro não está colaborando com todos esses personagenzinhos clichê.

Então, vejamos... Nos primeiros 2% do livro (o Kindle não tem páginas, mas marca o progresso da leitura), já tivemos a cena em que o professor elogia a Protagonista estudiosa que preferia ser popular, a cena em que a Garota Popular Malvada atormenta a Protagonista, a cena em que o Interesse Romântico Inatingível da Protagonista passa por ela sem notar seu olhar apaixonado, o que está faltando? Claro, a cena em que a Protagonista paga mico bem na frente do seu Interesse Romântico Inatingível. Chegando na porta, Ryan se vira e grita de longe "bom verão pra você", Jess pensa que ele está falando com ela e responde, e claro que ele estava falando com alguém que estava atrás dela. Quem nunca?

O capítulo ainda não acabou, mas este post já está bem comprido, então vou parar por aqui. Provavelmente ainda haverá outros posts porque, como eu previa, escrever sobre o livro está sendo mais interessante do que lê-lo.

Eu sou mesmo uma pessoa muito interessante.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Não

Há dias em que eu tenho vontade de colocar um status no Facebook assim:

Não.

Só isso. Não. Sem direito a explicações: não adianta perguntar "não o quê?", "o que aconteceu?", "está tudo bem?", que eu não respondo. Obviamente, eu não faço isso, porque uma das coisas que me deixam de saco cheio no Facebook e me dão vontade de postar "Não" é justamente esse povo que fica postando frases do tipo "eu odeio minha vida", "gente falsa me tira do sério", "eu e minha mania de dar segundas chances aos outros", e por aí vai. Frases que não esclarecem nada e só servem para chamar a atenção dos amigos do Facebook e angariar simpatia.

Não. Quem quer contar a história, pedir ajuda, conselho ou simplesmente desabafar é você. Eu já tenho os meus próprios problemas. Tenho tempo pra te escutar, se você quiser falar, mas não pra ficar te perguntando e insistindo até você resolver contar. Não.

Outra coisa: gente que posta ou compartilha mensagens dizendo que o problema do Brasil não são os políticos, é você. Você que joga lixo na rua, que fura fila, que quer ser sustentado pelo Bolsa Família, que... Peraí! Como assim, eu? Eu não faço nada disso, me deixa em paz! Concordo que  o problema do Brasil é quem, político ou não, faz essas e outras coisas desonestas, mas vá se entender com essas pessoas, e não postar uma mensagem que vai aparecer na minha linha do tempo com um dedo apontado pra mim dizendo que o problema do Brasil sou eu. Não.

Uma outra implicância minha é de cunho mais pessoal. Tenho duas amigas que trabalham hoje em uma empresa na qual eu já trabalhei há alguns anos atrás e da qual tenho péssimas lembranças. Essas amigas às vezes compartilham posts da empresa anunciando oportunidades de emprego, o que eu acho uma coisa super legal de se fazer, especialmente nesse momento de crise do mercado de trabalho, e longe de mim querer que elas deixem de fazer isso. Mas, no meu caso, em particular... Esses posts sempre começam com "Trabalhe na <nome da empresa>". Não. Decididamente, não.

O que mais? Gente que acha que "liberdade de expressão" significa "mil maneiras de você concordar comigo". Gente que sobe na mesa, bate panela, queima colchão quando alguém ataca o seu partido político, a sua religião, o seu time de futebol... e aí é um tal de atacar o partido político, a religião e o time de futebol dos outros que sai de baixo. Porque todo mundo tem direito à sua opinião... desde que a opinião não seja que eu estou errado. Não. Não é assim que funciona. Não.

E tem também a gente que quer sair matando. Os políticos corruptos, os criminosos, os menores de idade, os maiores de idade, os religiosos, os terroristas, os moradores da favela, os que invadiram, os viciados em drogas, os policiais, os militares, os comunistas, os petistas, os da extrema esquerda, os da extrema direita... Sem entrar no mérito de quem é bom e quem é ruim, o que eu acho impressionante e assustador é como tem gente que ainda acha que matar outro ser humano (geralmente, vários outros seres humanos) é um gesto que resolve problemas e que não tem consequências morais, sociais ou espirituais. E olha que eu sou uma pessoa que frequentemente sente vontade de resolver as coisas através da violência física. Mas mesmo eu, que não sou lá essas coisas em termos de bom senso, sei que não é por aí. Então, não. Chega, povo. Não.

Original image by thesuccess @ morgueFile)