sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Folding Stories

Folding Story é um site onde as pessoas escrevem estórias colaborativas. É como naquela brincadeira em que uma pessoa escreve uma frase em uma folha de papel e passa o papel para outra pessoa escrever a frase seguinte e continuar a estória, sempre dobrando a folha para que quem escreve a continuação não possa ler o que foi escrito antes e a estória acabe completamente sem pé nem cabeça.

E, assim, acabam saindo pérolas como esta:

When you wait for the cable guy, you get bored. When you get bored, you start staring out of windows. When you stare out of windows, you see things you shouldn't see. When you see things you shouldn't see, you have really bad guys wanting to kill you. When you have really bad guys wanting to kill you, you dress up like a woman and move to Brazil. When you dress up like a woman & move to Brazil, you must dress in skimpy clothes & dance the samba. When you dress in skimpy clothes & dance the samba, you'll attract bad guys. When you attract bad guys, you get into unhealthy relationships. When you get into unhealthy relationships, you overeat to compensate. When you overeat to compensate, you lose self-confidence and end up facedown in the gutter with no pants on. When you end up facedown in the gutter with no pants on, you may be filmed on live TV. When you're filmed on live TV, you will be called the bottomless coffee server. When you serve bottomless coffee, your customers get overheated. When your customers are too hot, you might get fired. When you get fired, you won't be able to afford coffee anymore, regardless of its bottomless properties. So, to avoid getting fired, at 3:00 every day you slap a "No More Coffee" sign on the windows and break out the dandelion tea, a tepid mix of soaking roots which went for thirty cents per cup. The world was drying up out there, the population slowly turning to puddles of sweat and tears. "What do you mean 'no caffeine'?" A mob of irate customers torched the cafe. Herbal scented smoke and fire enveloped it, leaving behind singed tea bags. By the time the firemen arrived, there was nothing left of the cafe and everyone had fled the scene. Everyone except for one man, who just stood there staring angrily at the ruins.

Cada estória é escrita por dez colaboradores, que têm três minutos cada um para escrever até 180 caracteres. Cada um enxerga somente o que o último escreveu e continua desse ponto, se esforçando (ou não) para manter alguma coerência com o resto da estória. Há quem escreva frases inteiras e há quem pare no meio de uma frase e deixe o próximo se virar pra terminar.

É uma distração leve, divertida e que me ajuda quando eu estou batendo cabeça com algum texto que empacou ou algum defeito no código que estou desenvolvendo, ou quando não consigo parar de pensar em alguma coisa que está me atormentando, algum problema que não dá pra resolver agora ou cuja solução não depende de mim. Nessas horas, nada como ler "I whistled Dixie down aisle 13, cheerfully oblivious to the fatal flaw in my Saturday afternoon gardening plans." e completar com "I didn't know then that the garden was haunted by a vengeful ghost and that today of all days was the 100th anniversary of his grisly death. No way I could". Se vira aí, próximo colaborador!

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

E Você, de que Lado Está?

Desde a passeata de 17/06/2013, ainda na época da Operação Pare o Aumento!, eu não fui a mais nenhuma das manifestações. Não fui por vários motivos e nenhum deles inclui uma mudança de opinião sobre o atual governo. O fato é que não fui, respeito quem foi e respeito também quem não foi: cada um teve os seus motivos e não vou assumir que não são bons motivos sem saber quais são.

Ontem, porém, quebrei esse jejum de protestos aos participar desse mais recente que ocorreu em Copacabana. E, apesar de ter ficado feliz por ter ido e satisfeita com o que vi, continuo respeitando quem não foi, assumindo, até prova em contrário, que seus motivos foram justos.

Até prova em contrário.

Tem gente que faz questão de dar prova em contrário.

Voltando à época da Operação Pare o Aumento!, eu me lembro do deboche de algumas pessoas que se davam ao trabalho de postar no Facebook gracinhas como "Vem pra rua? Ah, mas tá tão frio hoje, que preguiça..." Gente, posta que não acredita nas manifestações populares, posta que queria ir mas ficou com receio dos tumultos, posta até que é a favor do aumento da passagem, mas não posta isso. Que papelão.

Aí vieram as eleições. Já postei sobre isso também: assim que os resultados foram divulgados, foi um tal de gente que não tinha ido às manifestações colocando a culpa da derrota em quem tinha ido e acusando esse povo de ter votado a favor do governo. Gente, de novo: ninguém tem obrigação de ir às manifestações, cada um faz o seu protesto e luta pela mudança do jeito que considera mais correto, eficiente e que está a seu alcance. Mas nada justifica falar mal de quem protestou de forma diferente de você e acusar as pessoas de terem votado a favor do governo como se você tivesse como saber em quem elas votaram. Isso é coisa de quem queria ir à manifestação, ficou com medinho e acabou ficando com raiva de quem foi. Isso é recalque. E recalque é uma cor que não fica bem em ninguém.

Daí começou a onda dos panelaços. Quando é anunciado algum pronunciamento do governo, é certo começarem a convocar as pessoas a ficarem na janela de casa batendo panela, fazendo barulho para demonstrar seus descontentamento. Eu nunca participei de um panelaço. Acho que o panelaço é pouco eficiente enquanto manifestação: a força da manifestação está nos números e fica difícil avaliar se a barulheira está tão alta porque são quinhentos mil manifestantes ou se é só porque trinta panelas batendo já fazem um escândalo monstro mesmo. E aí eu considero que a relação custo-benefício fica prejudicada, porque o panelaço incomoda muito: imagina o que é, pra quem tem uma criança pequena dormindo, uma pessoa doente descansando, um cachorro desses que entram em desespero quando estouram os fogos do reveillon, se começam trinta vizinhos a bater panela bem ao lado da sua janela.

Mesmo assim, eu nunca fui para o Facebook debochar do panelaço. Nunca postei "Aqui em casa não teve panelaço: teve panela cheia de comida." Porque — e presta atenção porque essa parte é importante e cai na prova —, por mais que eu não ache que o panelaço seja a solução, eu vou ficar muito, mas muito feliz se algum dia constatar que estava errada. Se, por causa de um panelaço, um projeto de lei necessário for aprovado ou um projeto nocivo for derrubado, se um corrupto for para cadeia, for deposto ou mesmo renunciar, eu vou comemorar. Se isso acontecer, vou adorar ficar com cara de tacho por não ter botado fé e não ter participado dos panelaços. Vou agradecer aos meus amigos que bateram panela por eles não terem desistido e, no próximo panelaço, vou estar na janela com as maiores panelas que encontrar aqui em casa fazendo barulho junto com eles.

Porque eu adoro estar com a razão. Mas adoro muito mais ver o país melhorar.

Finalmente, as manifestações de Copacabana. Pelo que eu li, essa de domingo nem foi a maior de todas, mas, por algum motivo (talvez pelo efeito cumulativo), parece ter sido a que mais incomodou, porque eu recebi mais links para artigos e vídeos debochando dela do que vinha recebendo das outras. E que as pessoas que são a favor do governo e acham que a situação do país nunca foi melhor compartilhem esses links eu entendo. Não gosto, mas entendo. Mas e o povo que não concorda com essa visão? O que ganham com isso as pessoas que não querem que as investigações acabem em pizza, que querem ver os corruptos na cadeia ou, pelo menos, afastados dos seus cargos? Ou melhor, o que essas pessoas ganham com isso além de alguns "curtis", "compartilhamentos" e "re-tweets"?

"Ah, mas eu não acho que essas manifestações vão dar em nada, mesmo." Certo, isso é o que você acha: mas é isso que você quer? Ou você não percebe que, ao divulgar a foto de algum sem noção com um cartaz idiota (tirada em um ângulo conveniente para não mostrar as pessoas próximas que carregavam faixas e cartazes muito mais coerentes) está contribuindo para desmoralizar as manifestações? Não seria bom se as manifestações surtissem efeito? Você não precisa participar delas se não acredita que vão surtir, mas por que contribuir ativamente para isso?

"Ah, mas derrubar a Dilma não vai resolver magicamente todos os problemas do país." Em primeiro lugar, embora o slogan "Fora, Dilma" ainda seja uma parte significativa dos protestos, não é preciso estar lá para saber que as manifestações são sobre muito mais do que isso. Pode ser que o impeachment seja apenas um dentre os passos necessários, e é verdade que um passo não é uma caminhada, mas é verdade também que uma caminhada não se faz sem os passos. Ou pode ser que o impeachment não se faça necessário (ou não seja constitucional neste caso: há regras para isso e eu admito que não sou entendida no assunto): ainda assim, se a presidente não cair mas as atuais investigações não acabarem em pizza, já considero uma vitória como há muito tempo não se vê neste país.

Finalmente, para quem não se lembra: quando as manifestações da Operação Pare o Aumento! começaram, dois dos tópicos mais atacados eram o aumento da passagem e a PEC-37. O aumento das passagens foi suspenso e a PEC-37, derrubada no Congresso.

Citando o sempre atual Renato Russo na música 1965:
"Quando querem transformar dignidade em doença
Quando querem transformar inteligência em traição
Quando querem transformar estupidez em recompensa
Quando querem transformar esperança em maldição
É o bem contra o mal: e você, de que lado está?"


sábado, 1 de agosto de 2015

E Quando Chega a Noite e Eu Não Consigo Dormir

Post sobre insônia às quatro da manhã só pode ter sido escrito por uma pessoa que não está conseguindo dormir. Assim, espero que ninguém esteja lendo este post de madrugada achando que vai ler alguma dica útil pra ajudar a curar a própria insônia: se eu soubesse, já tinha usado essa estratégia eu mesma e estaria dormindo agora ao invés de escrevendo no blog.

O título deste post é um verso da música "A Noite", música essa que não é só sobre insônia, mas tem esses versos que são perfeitos: "E quando chega a noite e eu não consigo dormir, / Meu coração acelera e eu sozinha aqui." Embora a solidão de que a música fala se refira à distância da pessoa amada, esses versos valem para qualquer tipo de insônia, por qualquer motivo: insônia é uma coisa terrivelmente solitária. Mesmo sabendo que há um monte de gente que também está acordada nesse mesmo instante, por opção ou por insônia também, para o infeliz que não consegue dormir a sensação é de que o mundo inteiro está dormindo, menos ele. No silêncio da madrugada, todas aquelas janelas escuras nos prédios em frente escarnecem do insone, jogando na cara dele que neste exato momento todo mundo está aconchegado debaixo das cobertas, dormindo a sono solto. Todo mundo, menos você.

Felizmente, eu não perco o sono com frequência, mas, mesmo assim, já escutei minha cota de conselhos inúteis a esse respeito.

Já que você não consegue dormir, mesmo, aproveite para fazer alguma coisa útil

Eu não quero fazer alguma coisa útil. Eu não quero estudar, não quero arrumar meu armário, não quero responder meus e-mails nem trabalhar. Eu quero dormir. Se eu quisesse fazer qualquer coisa que não fosse dormir, eu não estaria com insônia, estaria sem vontade de dormir. E estaria feliz da vida fazendo aquilo que quero fazer ao invés de tentar dormir.

Você só pensa que não está com sono, mas tente fazer outra coisa pra ver como vai ficar batendo cabeça

Meu sobrinho de dois anos faz isso: ele fica rabugento e irritado quando está com sono, e aí não dorme porque está rabugento e irritado e não entende que o que ele está sentindo é sono, e vai passar se ele fechar os olhos e dormir. Ao contrário do que pensa a pessoa que dá esse conselho, eu sei o que é sono e sei que se eu dormir isso passa: eu apenas não estou conseguindo dormir.

O que você precisa é levantar bem cedo e não dormir mais: assim, quando chegar a noite, vai conseguir dormir bem

A besta fera dos infernos que fala uma coisa dessas obviamente acha que o insone é um desocupado, desses que passam o dia inteiro jogados no sofá assistindo maratona de série ou jogando videogame e, à noite, não sentem sono, claro, já que não fizeram nada pra gastar energia durante o dia. Essas pessoas não têm dificuldade pra dormir, e qualquer problema que elas não têm é porque não existe. Você só precisa erguer a cabeça, respirar fundo e ir à luta, e seu dia será uma animada montagem de músicas dos anos 80 que terminará com você deitando a cabeça no travesseiro no fim do dia com um suspiro cansado mas feliz, e dormindo o sono dos justos. #sqn

E agora, já tendo desabafado, vou tentar novamente dormir, já que, ao contrário do que pensam uns e outros, tenho mais o que fazer amanhã.

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