terça-feira, 23 de julho de 2013

Mensagem Para Você

De vez em quando eu invento umas modas. Este blog é uma delas. Um livro que eu comecei a escrever este ano é outra. Meu álbum "Do lado de fora do Jardim Zoológico" no Facebook. Minha conta no Instagram. A mais recente é o álbum intitulado "Mensagem Para Você", composto somente de fotos de caixas de correio. Não sei dizer bem o motivo de eu ter escolhido este tema. Eu gosto muito de andar, bater perna a esmo, descobrindo ruas e caminhos. Outra das minhas invenções de moda, eu acho. E nessas minhas andanças, observo as coisas: não sei por quê, comecei a reparar nas caixas de correio. Os diferentes modelos, tamanhos e cores. E assim surgiu este álbum, da conjunção de vários hobbies meus: caminhadas, fotografia, coleções.

Para evitar complicações, eu procuro enquadrar a caixa de correio de modo a não fotografar nada que possa identificar a casa ou edifício, e só fotografo caixas que possam ser vistas do lado de fora do prédio (por exemplo, se a caixa estiver atrás da grade do prédio, eu não fotografo). Também já deixei de fotografar algumas caixas bem diferentes e interessantes que estavam posicionadas de maneira tal que poderia dar a impressão que eu estava fotografando o interior do prédio.

O resultado não são imagens para mudar a sua vida, mas é divertido procurar novas caixas para minha coleção. Além disso, eu passei a reparar mais nos detalhes e na beleza de algumas dessas caixas, e qualquer atividade que traga mais beleza para a vida já vale a pena só por isso.


segunda-feira, 22 de julho de 2013

O Tempo e a Nossa Percepção


Minha Mãe É Uma Peça

Hoje (ontem, porque já passa de meia-noite: eu sempre acabo postando depois de meia-noite) saí de casa com a intenção de assistir "Meu Malvado Favorito 2". Como eu queria assistir com som original, fui ao site AdoroCinema descobrir onde está passando a versão legendada.

Abre parênteses para falar da minha profunda aversão a filmes dublados. A interpretação de um ator não é composta só de gestos e expressões faciais: o tom de voz também é super importante e, em um filme dublado não apenas se perde parte da interpretação dos atores, mas, pior ainda, cada personagem vira uma composição dos gestos e expressões faciais de um ator com a entonação de outro ator, que, ao invés de interpretar o personagem X, precisa interpretar o ator Y interpretando o personagem X.

No caso de animações, esse problema não existe, e eu até assisto versões dubladas algumas vezes, apesar de saber que vou perder algumas piadas, já que a tradução muitas vezes é péssima. E nem adianta colocar a culpa nas limitações de ter que encaixar o texto no tempo do filme. Tem tradutor que é ruim mesmo: já peguei erros de tradução grosseiros em legendas, mas pelo menos eu tinha o som original para comparar e saber qual era o texto correto. Quando o filme é em outro idioma que não o inglês ou o espanhol, não tem jeito, fico refém do tradutor, mas, tendo a opção de escutar o som original, sempre dou preferência.

Outro problema é quando o filme é uma sequência e eu já assisti o filme anterior com o som original: aí fica impossível eu me concentrar escutando aquela voz "errada" saindo da boca de um personagem conhecido. Isso se torna um problema mesmo quando a versão que eu escutei primeiro foi a versão dublada: eu desisti de assistir às temporadas mais recentes d'Os Simpsons depois que o dublador do Homer por quase vinte temporadas foi substituído.

Por último, mas de modo algum menos importante: gente, é o STEVE CARELL! Sou fã desse homem demais da conta, de jeito nenhum que eu ia perder o Gru interpretado por ele!

Fecha parênteses.

Enfim, no AdoroCinema os filmes dublados estão indicados como tal, por isso, eu, boba que sou, acreditei que, se não estava indicado que era dublado, era legendado.


Acreditei e me dei mal. Nos cinemas mais próximos da minha casa só tinha versão dublada, mas em Botafogo tinha a versão legendada (ou pelo menos era o que eu pensava). Cheguei na bilheteria do Espaço Itaú de Cinema toda toda só pra descobrir que só estava passando a versão dublada. Pelo menos descobri antes de comprar o ingresso que, para a versão 3D, deve ser caro pra caramba...

E aí, como o título desse post indica, fui assistir "Minha Mãe É Uma Peça". E tenho a dizer que... detestei o filme. Pronto, falei! Todo mundo que me falou desse filme elogiou, as críticas têm sido favoráveis, o elenco é de primeira linha, todos talentosos e engraçados, mas eu só assisti até o fim pra poder reclamar sem ninguém me dizer que eu parei de assistir justamente quando ia começar a melhor parte.

Achei a D. Hermínia (a mãe do título) uma pessoa horrível, mal-educada, inconveniente e, principalmente, uma péssima mãe, do tipo que humilha os filhos em público, fala mal do pai e da madrasta e só se "comunica" com gritos e xingamentos. Ah, mas é uma comédia, alguns argumentarão. É verdade, e eu não tenho problema nenhum com personagens cômicos que, na vida real, seriam pessoas horríveis. Assisti a todos os episódios de "Seinfeld", uma série em que os quatro protagonistas são tão egoístas que no episódio final são presos após terem testemunhado um assalto e, além de não terem ajudado nem chamado a polícia, ainda terem filmado tudo enquanto riam e debochavam da vítima. Existe, no entanto, uma diferença crucial entre George Constanza empurrando crianças e derrubando velhinhas quando as velas de um bolo de aniversário infantil provocam um princípio de incêndio e a D. Hermínia gritando com a filha adolescente no supermercado, dizendo que ela esbarrou e derrubou os produtos de uma prateleira porque é gorda demais. A diferença é que ninguém espera que a gente simpatize com o George. Ele é um ser humano horrível e um idiota e o público se acaba de rir com os seus esquemas e as suas tramoias que sempre dão errado no fim. A D. Hermínia passa o filme todo ofendendo e agredindo verbalmente a família, o ex-marido e os vizinhos em flashbacks que remontam à infância dos filhos, e se espera que o público perdoe tudo porque, faltando quinze minutos para acabar o filme, ela dá uma entrevista emocionada dizendo que mãe sofre muito e tudo o que faz é por amor, e nos valorizem porque nós não estaremos aqui para sempre.

Apesar do inegável talento dos atores e de algumas piadas boas, o filme não me fez sair do cinema com a alma lavada de riso como acontece com boas comédias, mas com vontade de sair logo dali e me afastar daquela história e daquela gente e com mais vontade do que nunca de passar duas horas com Gru, Margo, Edith e Agnes.

sábado, 20 de julho de 2013

Desistir É Preciso

"The One with Phoebe's Cookies" é um episódio da sétima temporada de Friends no qual, entre outras coisas que acontecem, Rachel tenta ensinar Joey a velejar. A coisa não dá certo, em parte por causa da imaturidade e total falta de concentração dele, mas também por causa da falta de paciência dela. À medida que a aula avança, ela vai ficando cada vez mais irritada e ele, mais frustrado, até que ele finalmente perde a paciência e diz que desiste de aprender a velejar. Rachel, indignada, exclama "Você não pode desistir! Um Green jamais desiste!", e Joey replica "Eu não sou um Green, eu sou um Tribianni! Tribiannis desistem!". Nesta hora, Rachel (que é, ela sim, uma Green) cai em si e percebe que estava agindo como seu pai agiu quando a ensinou a velejar, pede desculpas a Joey, os dois fazem as pazes e tudo acaba bem.

Quem não assistiu esse episódio, deveria assistir (esse e todos os outros episódios de Friends), porque ele é muito engraçado. Podem ir, o blog ainda vai estar aqui quando vocês terminarem. Para os que já assistiram ou são teimosos e não vão assistir (azar de vocês), o tema deste post é o seguinte: para muitas pessoas, a palavra "desistir" é sinônimo de fraqueza. Falar em desistir se tornou tabu, coisa de gente acomodada, fracassada. Vencedores não desistem. Vale lembrar, no entanto, que "Insista, não desista." era um antigo slogan da Loteria Federal. Jogo a dinheiro é um bom exemplo de como às vezes desistir é a opção mais sensata. Troque o que sobrou das suas fichas por dinheiro, assuma o prejuízo e volte para casa enquanto você ainda tem dinheiro para o táxi. Às vezes a gente perde. Ponto. Não confunda perseverança com teimosia cega.

Às vezes se desiste também porque se chega à conclusão que a vitória, se e quando alcançada, seria uma vitória de Pirro. Esse termo ("vitória de Pirro") se refere a duas batalhas que o exército grego venceu contra os romanos no século III a.C., ao fim das quais o exército grego, apesar de vitorioso, tinha sofrido baixas tão graves que o Rei Pirro afirmou que outra vitória daquelas seria a sua ruína. Às vezes desistir significa simplesmente que a pessoa chegou à conclusão que a energia necessária para vencer aquela batalha pode ser melhor empregada em outras causas. Saiba escolher as suas batalhas. Independente do que os livros de auto-ajuda, os seminários de crescimento pessoal e as mensagens compartilhadas no Facebook digam, você não vai ganhar 100% das batalhas, então dê-se o direito de guardar suas forças para aquelas que valem a pena.

Por último, mas não menos importante, às vezes as pessoas desistem simplesmente porque mudam de ideia. Aquilo que há seis meses atrás era essencial de repente deixou de ser. As pessoas mudam, novos objetivos surgem, prioridades mudam, rotas alternativas se apresentam, e não é vergonha nenhuma desistir de um objetivo porque surgiu uma possibilidade melhor ou mais simples ou mais acessível. A vida não é uma competição: ninguém está anotando os pontos e atribuindo pontuação mais alta aos objetivos mais difíceis.

Há motivos para lutar e motivos para desistir. O que quer que você esteja fazendo, certifique-se de que seja pelos motivos certos.

(Yarik Mishin @ stock.xchng)

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Três Frases de Efeito Que a Gente Devia Parar de Usar

Certas frases caem no gosto popular porque são maneiras simples, diretas e geralmente espirituosas de dizer alguma coisa. Às vezes fazem referência a filmes, músicas, eventos ou, nos tempos atuais, a memes. Às vezes rimam. Às vezes são engraçadas. Às vezes até são verdadeiras.

O problema é quando a frase soa tão bem que a gente deixa de prestar atenção no significado dela. E aí se vê dizendo coisas como:

Se você quiser alguma coisa bem feita, faça você mesmo.

Esse é um ditado popular bastante antigo. Quando dito na primeira pessoa do singular ("se eu quiser alguma coisa bem feita, tenho que fazer eu mesmo(a)"), significa que ninguém faz nada direito, só eu. É meio ofensivo para com a pessoa com quem eu estou falando, mas, sei lá, vai que seja verdade: pode estar sendo dito no contexto de uma bronca, quando a outra pessoa acabou de entregar um produto bem mal-acabado, um serviço bem porco.

A versão mais comum, no entanto, é "se você quiser alguma coisa bem feita, faça você mesmo". Ou seja, se eu digo isso, estou dizendo que ninguém faz nada direito, nem eu! Pior, a fase implica que quando a pessoa (eu inclusive) é o "você" da frase, aquele que quer a coisa bem feita, ela faz. O problema é quando outra pessoa é o "você": aí dane-se, se quiser bem-feito faça você mesmo! Ou seja, não é incompetência, é má vontade mesmo.

"Ah, melhor não, eu provavelmente iria fazer errado, mesmo..."
(markyjay @ stock.xchng)

Então... é isso que você quer sair anunciando por aí? É esse o tipo de pessoa que você é? Se é, parabéns pela sinceridade, mas talvez seja um bom momento pra rever os seus valores.

O chato é uma pessoa que, se você pergunta "Tudo bem?", te responde.

O autor dessa frase é o Oswaldo Montenegro, mas ela caiu na boca do povo e hoje mesmo quem nunca escutou Bandolins repete. Eu acho essa frase deprimente. Sei que existe gente que fala demais, que aluga o ouvido alheio, que se recusa a ir embora não importa quantas dicas o outro dê para indicar que está ocupado demais para conversar naquele momento. Mas me parece que, se você não quer ou não pode parar para escutar uma pessoa, não deveria perguntar "Tudo bem?" só para parecer simpático; dê só um bom dia / boa tarde / boa noite básico e vá cuidar da sua vida. Ah, mas e se mesmo assim a pessoa for atrás de você pra contar cada detalhe excruciante da vida dela? Aí já são outros quinhentos. O que me incomoda é essa frase especificamente, que dá a entender que, se alguém faz uma pergunta em cuja resposta não está interessado, o inconveniente é o outro que acreditou e respondeu. Se não queria saber, por que perguntou?

"Não, não, você entendeu errado: o objetivo era EU me sentir bem comigo mesma, e não você."
(David Castillo Dominici @ FreeDigitalPhotos.net)

O monólogo em que o Oswaldo Montenegro apresenta esta frase faz parte da introdução da música "O Chato", e nele ele argumenta que "Tudo bem?" não é uma pergunta. Conversa fiada. "Bom dia" não é uma pergunta. "Oi" não é uma pergunta. "Tudo bem?" é uma pergunta. E se você perguntou o que não queria saber, não coloque a culpa nos outros depois.

Onde há fumaça, há fogo.

Esta pérola anda de mãos dadas com "O povo aumenta, mas não inventa", e é de uma cara de pau que chega a ser chocante. Sério? O povo não inventa? O povo é composto de 100% de gente digna e honesta que nunca, jamais inventaria uma história falsa para desmoralizar alguém de quem não gosta ou para ficar melhor na fita do que a concorrência?

Além de isso não ser verdade e qualquer pessoa com mais de dez anos de idade saber disso, existe o fato de que muitas vezes o povo não apenas aumenta, mas distorce de tal forma a história original que o resultado final não tem senão uma tênue semelhança com ela.

"É claro que eles estão tendo um caso! Você não ouviu ele dizer  'Saúde!' quando ela espirrou?"
(Stuart Miles @ FreeDigitalPhotos.net)

Quando eu vejo alguém usar essa frase, o que eu escuto é "Ah, mas falar mal dos outros é tão divertido! Se eu for agir como um adulto responsável vai perder toda a graça!"

Onde há fumaça pode até haver fogo, mas você já está crescidinho o suficiente para saber que fogo pode ser tanto um incêndio criminoso quanto uma fogueira com um grupo de bandeirantes em volta assando marshmallows. Pelo menos assuma que você não tem a menor ideia se o que está dizendo é verdade ou não, mas adora falar mal dos outros.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Bazar Tem Quem Queira

Hoje começa uma parceria entre este blog e o Bazar Tem Quem Queira, iniciativa de uma amiga cujo dia aparentemente tem 36 horas, já que ela consegue ter um emprego em tempo integral, manter um bazar virtual e um blog, organizar bazares "presenciais" periódicos, escrever um livro, colaborar de vez em quanto em outros sites de moda e ainda ter uma vida social. Ufa! Já fiquei cansada só de falar.

O site é uma graça, tem um layout super clean e fácil de usar, está sempre fazendo sorteios e promoções e as compras podem ser feitas no próprio site ou pelo Mercado Livre, através de depósito bancário, PayPal ou PagSeguro.

Nove entre dez mulheres (e alguns homens) se identificam com aquela imagem clássica da mulher parada diante de um guarda-roupa cheio, exclamando: "Não tenho nada para vestir!". Quem já passou por isso entende que é possível ter um monte de roupas e de repente odiar todas elas. E se substituir o guarda-roupa todo de uma tacada só não é possível, vender aquilo que não usa mais e comprar peças novas pelo mesmo preço é uma ótima alternativa.


sábado, 13 de julho de 2013

Cinco Principais Causas de Morte no Mundo


Os dados divulgados pela OMS mencionam ingestão de leite com manga como uma das cinco principais causas de morte? Não, claro que não. Ainda assim, tecnicamente o que o gráfico diz é verdade: se somarmos a quantidade de mortes por ingestão de leite com manga com a quantidade de mortes por doença cardíaca isquêmica, a quantidade de 7,25 milhões de mortes não se altera e continua correspondendo a 32% das mortes no mundo.

Moral da história: não adianta decorar números se você não souber do que está falando.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Diálogos Possíveis

Mais um exercício feito com o gerador aleatório de palavras:

  • rib (costela)
  • help (ajuda)
  • mess (confusão)

Esta é uma obra de ficção: qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.

8h30 (Metrô, Estação Cinelândia)

— Não é possível! — reclamou Maurício. — A gente já está parado aqui há uns dez minutos, pelo menos!

— Olha pelo lado bom: quem sabe a gente chega atrasado e perde a reunião do Horácio? — Carla passou para o ombro esquerdo a bolsa pesada e massageou o ombro direito fazendo uma careta de dor.

— Nem me lembra disso, — Maurício suspirou. — Já basta a reunião de condomínio que eu tive ontem. Acredita que eu estou há dois meses tentando fazer o condomínio pagar pela infiltração no meu banheiro? O barbará da minha coluna...

— Ah, finalmente! — Carla exclamou aliviada quando o metrô começou a se movimentar novamente. — Achei que a gente ia ter que descer aqui e ir a pé!

— É... — Maurício concordou com um sorriso amarelo. Ele chegou a abrir a boca para recomeçar a contar a história do vazamento no barbará e a infiltração no seu banheiro, mas acabou deixando pra lá. Era uma história comprida e eles já iam saltar na próxima estação, mesmo...

10h00 (bebedouro em frente à sala de reunião)

— Até que não demorou muito, — André comentou, enchendo seu copo de água. — Pros padrões do Horácio, — ele acrescentou com um sorriso malicioso após se certificar que o gerente não estava mais por perto.

— Graças a Deus! — Maurício amassou o copo que tinha acabado de esvaziar e jogou-o no lixo.

— Ei, — André lembrou, — no sábado vai ter futebol, você vai?

— Desta vez não vai dar, tenho que ficar em casa esperando o camarada que vai pintar meu banheiro. Uma encheção de saco, — Maurício continuou enquanto os dois prosseguiam pelo corredor de volta às suas mesas. — O barbará da minha coluna estava com um vazamento e...

— O seu pintor é bom? — André perguntou. — Trabalha direitinho, deixa tudo arrumado depois?

— Acho que sim, — disse Maurício. — Foi a Paula que me indicou.

— Me dá o telefone dele, — pediu André. — Preciso mandar pintar o quarto das crianças e o último que eu contratei até pintava bem, mas não cobriu os móveis direito, pingou tinta no sofá, a Vânia deu um ataque, uma confusão só!

— Dou sim, — disse Maurício. — Não sei se tenho o telefone dele aqui comigo, mas em casa eu tenho com certeza, amanhã te dou.

— Show, — André sorriu, dando-lhe um tapa nas costas. — Obrigado!

— Tudo bem, — Maurício ainda hesitou, parado na frente da mesa do colega, mas o outro já estava se sentando, estendendo a mão para o telefone que tocava, por isso ele acabou só acenando com a cabeça e voltando para sua própria mesa.

12:05 (elevador)

— Desce!

Maurício apertou o botão para impedir que as portas do elevador se fechassem, dando tempo à colega de apressar o passo e entrar no elevador junto com ele.

— Obrigada, — Juliana agradeceu com um sorriso enquanto as portas do elevador se fechavam e ele começava o lento trajeto rumo ao térreo. — Que milagre, conseguir lugar nesse elevador! Normalmente eu subo até o décimo-quinto andar para depois descer.

— E vai piorar, — comentou Maurício. — O administrador do condomínio subiu no elevador junto comigo hoje de manhã: ele falou que vão trocar o outro elevador, por isso vamos passar algum tempo com um elevador só.

— Ah, que ótimo, — Juliana suspirou. — É porque não é ele que usa a porcaria desses elevadores todo santo dia! No meu prédio é a mesma coisa, — ela continuou, irritada. — Quem administra o condomínio é uma empresa: é verdade que eles são bastante corretos com a questão de custos, mas, para conseguir os melhores preços, sacrificam os moradores, criando soluções totalmente inconvenientes para nós que estamos ali todos os dias.

— Pimenta nos olhos dos outros, né?

— Exatamente! — Juliana concordou enfaticamente, dando um passo atrás quando as portas do elevador se abriram no sétimo andar e mais duas pessoas entraram.

— Lá no meu prédio, temos um síndico que também é morador, — Maurício disse. — Então quando se trata de alguma questão que afeta todos os moradores, ele até que se mexe rápido. Mas agora eu estou com uma infiltração no meu banheiro por causa de...

— Ah, infiltração é um pesadelo! — Juliana exclamou. — No ano passado tive esse problema por causa do apartamento de cima: demorei pra perceber porque a infiltração começou atrás dos armários da cozinha, foi um horror.

— Essa do meu apartamento é por causa de um vazamento no barbará...

As portas se abriram no térreo e Juliana o interrompeu, já saindo do elevador:

— Preciso correr, tenho que passar no banco. Você está indo no almoço da Bárbara?

— Vou, — Maurício disse, apontando para um grupo de colegas que estava na frente do prédio, esperando pelos retardatários. — Você não vai?

— Ah, não, — disse Juliana, — já falei com ela de manhã. Vocês vão naquele lugar da costela no bafo: lá é muito caro, este mês não estou podendo. Bom, vou indo, — ela prosseguiu, se afastando. — Bom almoço pra vocês!

— Pra você também, — disse Maurício, indo se juntar aos colegas.

16:40 (copa)

— Ainda tem café? — Maurício perguntou sem muita esperança ao entrar na copa.

— Você deu sorte, — disse Olavo. — Está no fim, mas acho que ainda dá para um copo. Não está muito bom, não, — ele avisou enquanto o colega se servia. — A Dona Vera saiu mais cedo hoje: foi a Helô que fez esse café.

— Serve, — disse Maurício, colocando açúcar no seu café. — Estou com uma daquelas dores de cabeça de falta de cafeína.

— Sei como é, — Olavo concordou com a cabeça.

Os dois rapazes tomaram seu café em silêncio, cada um pensando nos seus próprios assuntos, até que Olavo se lembrou:

— A sua gerência já migrou pro sistema novo, né?

— Desde o mês passado.

— E você está conseguindo importar as planilhas normalmente?

— No começo foi meio enrolado, — Maurício disse, jogando no lixo o copo que acabara de usar. Mas agora acho que eu já peguei o jeito da coisa. Por que, você está precisando de ajuda?

— Acho que estou ficando velho, — riu Olavo. — Você tem tempo de ver o que estou fazendo pra me mostrar o que estou fazendo de errado?

— Claro. Eu vou só responder uns e-mails e depois passo na sua mesa.

Os dois lançaram olhares pouco animados na direção da porta, mas nenhum dos dois se levantou.

— Dá meia-noite, mas não dá seis horas, — Olavo suspirou.

— Quando eu penso que ainda vou chegar em casa e ter que bater na porta do síndico pra tentar resolver o problema da infiltração... — Maurício se lamentou. — Contei pra você, né, do vazamento no barbará da minha coluna? Deu infiltração no meu banheiro e... — ele parou de falar quando foi interrompido pelo toque do celular do colega.

— Fala, meu camarada! — Olavo saudou após ver o nome no display do celular. — Acredita que ainda não tive tempo de ligar pro advogado? Eu sei, eu sei... Mas é fogo, né!

Maurício se levantou e esticou as costas enquanto Olavo continuava a ligação que, aparentemente, ainda ia demorar um pouco, e saiu da copa com um aceno para o colega.

19h30 (casa)

Maurício levantou os olhos do seu prato e ponderou a ideia que lhe ocorrera. Era esquisito, mas...

"Dane-se," ele concluiu, dando de ombros. "Estou na minha casa, faço o que eu bem entender."

— Estou começando a achar que eu vou ter que resolver esse problema com o condomínio na justiça. É um absurdo essa omissão deles depois que já foi dado o laudo de que a infiltração foi causada pelo vazamento no barbará.

Ele comeu mais uma garfada de macarrão e prosseguiu, gesticulando com o garfo em direção à cadeira vazia do outro lado da mesa:

— Tenho que me lembrar de pedir ao pintor um recibo depois do serviço, para poder comprovar diante do juiz a despesa que tive por conta desse vazamento.

Maurício prosseguiu falando para a sala vazia, contando a sua conversa com o síndico mais cedo e falando sobre o seu sentimento de frustração ao lidar com uma pessoa assim. Não era a mesma coisa que falar com um ouvinte solidário e interessado, mas pelo menos ele se sentia melhor contando sua história até o fim sem ser interrompido.

Alvimann @ morgueFile